Devido ao tempo que passou em Corinto, ainda muitos dias depois do incidente diante de Gálio, é possível que Paulo tenha escrito ali a sua segunda carta aos Tessalonicenses. Finalmente despediu-se dos irmãos da igreja formada em Corinto e navegou pelo mar Egeu para Éfeso, intencionando voltar para Antioquia na Síria. Junto com ele foram Priscila e Áquila.
Antes de partir, no porto de Cencréia Paulo rapou a cabeça por causa de um voto que tinha. Não temos mais detalhes ou esclarecimentos sobre o voto, que permanece sem explicação. Provavelmente era algo particular entre ele e o Senhor. Como judeu, embora estivesse liberto dos ditames da lei de Moisés pela graça que recebeu pela fé em Jesus Cristo, Paulo continuava a observar certas cerimônias do judaismo, mas nunca as impôs aos gentios.
Eventualmente uma igreja se estabeleceu em Cencréia, pois em sua epístola aos Romanos (cap.16:1,2) Paulo recomenda com palavras elogiosas uma crente chamada Febe originária da igreja nessa cidade, que fora de grande auxílio para muita gente, inclusive para ele.
Apenas de passagem por Éfeso antes de embarcar novamente, Paulo teve a oportunidade de ir à sinagoga para debater com os judeus. Eles se interessaram, e pediram que ficasse por mais algum tempo. Ele negou, pois precisava seguir viagem, mas prometeu voltar se fosse a vontade de Deus.
A expressão “se Deus quiser” era comum entre os judeus, e entre os gentios, assim como é no mundo hoje. Paulo a usou novamente em 1 Coríntios 4:19, e 16:7. Tiago até recomendou que disséssemos : "Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo” porque não sabemos o quesucederá amanhã (cap. 4:14,15). Não é uma mantra para ser repetida segundo uma prescrição ritualística tendo em vista uma finalidade mágica a fim de se ter boa sorte, mas o fazemos por reconhecer que estamos nas mãos de Deus, e Ele age por Sua soberana vontade.
O navio levou Paulo até Cesaréia, de onde subiu até Jerusalém, saudou a igreja e desceu até Antioquia, completando assim a sua segunda viagem missionária. O versículo 23 nos informa sobre o início da terceira viagem, cujo relato prossegue no capítulo seguinte.
Mas Priscila e Áquila ficaram em Éfeso, onde frequentavam a sinagoga, e podiam testemunhar da sua fé.
Estavam ali quando apareceu um judeu de Alexandria, capital do Egito ao norte da África, chamado Apolo. Convém saber que essa cidade, fundada por Alexandre o Grande em 332 a.C., tinha a esta altura uma importante colônia de judeus – cerca de um terço da população – bem como uma grande universidade e uma extensa biblioteca.
Apolo seria undubitavelmente um homem intelectual respeitável, muito bem informado sobre as correntes ideológicas daquele tempo e, melhor ainda, não só um profundo conhecedor das Escrituras, mas já estava instruido no “caminho do Senhor”, podendo assim falar e ensinar “com precisão as coisas concernentes a Jesus”.
Embora fosse um poderoso e zeloso pregador, Apolo era ainda um pouco deficiente no conhecimento da fé cristã. Tinha sido educado aparentemente bem no ministério de João Batista e sabia como João havia chamado a nação de Israel ao arrependimento em preparação para a vinda do Messias.
Sabia também que Jesus de Nazaré era o Messias das muitas profecias que ele, grande estudioso, conhecia muito bem, soubera da sua morte sacrificial conforme as Escrituras prometiam, e possivelmente também da Sua ressurreição e ascenção: a notícia já havia se espalhado pelo mundo judeu, embora poucos acreditassem nela.
Aparentemente ele nada sabia sobre o batismo cristão e algumas outras doutrinas cristãs básicas. Quando Priscila e Áquila o ouviram falar na sinagoga, perceberam a lacuna em seu conhecimento, e o levaram com eles para expor com mais precisão o caminho de Deus.
O fato que este grande mestre se dispôs a ser ensinado por um simples fabricante de tendas é um atestado da abertura da sua mente para novos conhecimentos, e a sua aceitação dos fatos que lhe foram expostos é uma prova que o Evangelho é perfeitamente condizente com o ensino do Velho Testamento. Ele nunca os teria aceito se assim não fosse.
Em seguida, Apolo se dispôs a ir à Acaia: fica ao sul de Corinto, onde estavam Cencréia e Esparta. Priscila e Áquila vieram de Corinto, e decerto eram bem conhecidos na região, logo eram as pessoas mais apropriadas para lhe fornecer cartas de recomendação aos irmãos dali.
Sem dúvida escreveram uma carta expondo a experiência que tiveram com ele, e elogiando a sua capacidade intelectual e o seu conhecimento. Apolo ficou em Corinto, como vemos no início do capítulo seguinte.
Ao chegar, Apolo “auxiliou muito os que pela graça haviam crido”: sendo poderoso nas Escrituras (ainda limitadas ao Velho Testamento) ele “refutava vigorosamente os judeus em debate público”, pois era capaz de provar irrefutavelmente que “Jesus é o Cristo”, ou seja, o Messias prometido por Deus em tantas profecias.
18 Paulo, tendo ficado ali ainda muitos dias, despediu-se dos irmãos e navegou para a Síria, e com ele Priscila e Áquila, havendo rapado a cabeça em Cencréia, porque tinha voto.
19 E eles chegaram a Éfeso, onde Paulo os deixou; e tendo entrado na sinagoga, discutia com os judeus.
20 Estes rogavam que ficasse por mais algum tempo, mas ele não anuiu,
21 antes se despediu deles, dizendo: Se Deus quiser, de novo voltarei a vós; e navegou de Éfeso.
22 Tendo chegado a Cesaréia, subiu a Jerusalém e saudou a igreja, e desceu a Antioquia.
23 E, tendo demorado ali algum tempo, partiu, passando sucessivamente pela região da Galácia e da Frígia, fortalecendo a todos os discípulos.
24 Ora, chegou a Éfeso certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras.
25 Era ele instruído no caminho do Senhor e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão as coisas concernentes a Jesus, conhecendo entretanto somente o batismo de João.
26 Ele começou a falar ousadamente na sinagoga: mas quando Priscila e Áqüila o ouviram, levaram-no consigo e lhe expuseram com mais precisão o caminho de Deus.
27 Querendo ele passar à Acáia, os irmãos o animaram e escreveram aos discípulos que o recebessem; e tendo ele chegado, auxiliou muito aos que pela graça haviam crido.
28 Pois com grande poder refutava publicamente os judeus, demonstrando pelas escrituras que Jesus era o Cristo.
Atos capítulo 18, versículos 18 a 28