O servo e apóstolo Simão Pedro (pedra da audição) - como Paulo também chamou-se (Romanos 1:1; Tito 1:1) - escreveu esta carta alguns anos depois da que chamamos de “primeira” (capítulo 3.1). Era agora de idade avançada e não esperava viver por muito mais tempo (o capítulo 1.14 - ver João 21.18-19).
É endereçada a todos aqueles que alcançaram a mesma fé que Pedro ou qualquer dos apóstolos, pela justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo. A fé obtida é chamada aqui “preciosa” e neste contexto significa o conjunto de verdades que chamamos de Evangelho. Em sua primeira carta Pedro disse que a realidade da nossa fé é muito mais preciosa do que o ouro que perece (1 Pedro 1:7). Nunca devemos menosprezá-la.
Nossa fé foi obtida com a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus: uma pessoa somente. Em sua carta precedente Pedro mencionou o Deus e Pai (1:3), outra Pessoa da trindade. A gramática grega é uniforme e inevitavelmente requer que só uma pessoa seja compreendida em cada caso. Pedro tinha ouvido Tomé chamar Jesus de Deus (João 20:28) e ele mesmo o tinha chamado previamente de filho de Deus (Mateus 16:16). A justiça de Cristo é passada para nós quando confiamos nEle como nosso Salvador. Ele não só tira o nosso pecado, mas nos acrescenta a Sua justiça, e assim nos dá uma posição diante de Deus.
Após a graça de Deus vem a paz: Deus nos salva pela graça quando confiamos simplesmente em Cristo, sem qualquer mérito de nossa parte. Uma vez tendo a graça de Deus, podemos também ter a paz de Deus (Romanos 5:1 ). A graça e a paz de Deus são multiplicadas na medida em que crescemos no conhecimento de Deus e de nosso Senhor Jesus (mencionados separadamente aqui).
Seu poder divino preparou tudo o que era necessário para a nossa vida em Cristo e a piedade da nossa vida para Ele. Deu-nos todas as coisas que precisamos para viver uma vida plena, com o conhecimento dEle que nos chamou à glória e à virtude. É somente com o conhecimento de Cristo que podemos realmente aprender a viver e a crescer para sermos pessoas mais piedosas. Fomos chamados para ser como Cristo, “chamados à glória”, e “chamados à virtude”: isto significa a coragem para primar na vida e alcançar a perfeição, sobre nossos próprios pés, declarando a nossa posição, abertamente ao lado de Deus.
Não somente é preciosa a fé que nos foi concedida, mas também as promessas que nos são feitas são preciosas e grandíssimas. Por exemplo, o descanso da redenção: “todo ... o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37); e “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28); o resto do compromisso com Cristo: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.” (Mateus 11:29); a certeza de comunhão com Deus para sempre “vós que credes no nome do Filho de Deus... tendes a vida eterna” (1 João 5:13). Todas estas promessas maravilhosas vêm com um conhecimento do Jesus Cristo e pela fé nEle.
Quando nascemos de novo, recebemos a natureza de Deus: a vida cristã não é uma pequena série de “faça e não faça” mas somos participantes da natureza divina, a natureza de Deus, e queremos as coisas de Deus.
Escapamos da corrupção que está no mundo por causa da luxúria: a corrupção do mundo é a que está dentro de nós. Um pouco mais tarde estaremos lendo dos crentes de faz-de-conta que escaparam à poluição do mundo. A poluição do mundo está no exterior. A natureza velha não é mudada limpando o meio-ambiente.
Os religiosos passam por um programa de anti-poluição aos domingos. Participam num pequeno ritual, lavam-se um pouco, tirando um pouco disto e um pouco daquilo. É possível ser muito religioso externamente, e ainda ser tão corrupto como qualquer um. Para escapar à corrupção do mundo, precisamos adquirir uma natureza nova, mediante a qual somos participantes da natureza divina. Então podemos compreender a Deus quando nos fala com Sua Palavra e o Espírito de Deus abre o nosso entendimento.
Isto é somente o começo. A vida cristã é coisa séria, envolve um crescimento constante e exige toda nossa aplicação. Esta carta termina com a tremenda advertência: “crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (capítulo 3:18).
Nos versículos 5 a 7 temos uma lista dos diferentes atributos que devem caraterizar o nosso crescimento. A “fé” é a fé da salvação, aquela que nos dá a remissão dos pecados, nos investiu com a justiça de Cristo e nos forneceu uma natureza divina como já vimos.
Àquela deve ser acrescentada, primeiro de tudo, a “virtude.” Quando isto foi escrito, caraterizava a mais fina varonilidade: força, valentia, coragem, e excelência. Estas são as qualidades que devem também caraterizar nossa vida. É preciso ter “virtude” para resistir à tentação e testemunhr de Cristo.
À virtude (ou à coragem) devemos juntar a ciência. A palavra grega traduzida “ciência” significa “conhecer a Deus em Sua salvação.” Indica o crescimento enquanto que no versículo 2 significa “conhecimento superior”. Paulo, escrevendo aos crentes de Colosso, também disse que orava para que pudessem ter este conhecimento superior. O conhecimento superior é o objetivo porque o Espírito Santo confirma a palavra de Deus em nossos corações e vidas e a faz muito real para nós. Crescemos para conhecer a Deus melhor, Sua palavra e Sua vontade.
Adicionar à ciência o domínio próprio. Como crentes, devemos ser controlados em cada área de nossas vidas. Nenhum fanatismo, explosões de raiva ou indulgência em satisfazer seus próprios desejos.
Acrescentar ao domínio próprio a perseverança. Isto é ser capaz de suportar as provações que aparecem. É construída sobre a ciência e a virtude, e é a paciência em circunstâncias difíceis, e no trabalho do Senhor.
Juntar à perseverança a piedade. A palavra “piedade” implica em dependência de Deus, uma vida de devoção, reverência, e temor de Deus, levando-O a sério. É agir como Seus filhos, participantes da natureza divina. É desejar ser como Ele é, embora nunca chegando à perfeição neste mundo. É admirar a Deus acima de todos, e porisso louvar e adorar somente a Ele.
Depois da piedade vem a fraternidade. Isso é amor fraterno, ou seja, aos que são crentes como nós, irmãos em Cristo, a quem devemos amar por causa dos laços que nos unem por termos um mesmo Pai, e um mesmo Senhor e Salvador. É uma alegria fazer parte desta família, e um privilégio desfrutar da fraternidade que nos proporciona, tendo comunhão com eles e ajudando-nos uns aos outros.
Acrescentar à fraternidade o amor. Já que “fraternidade” é especificamente para outros crentes, trata-se do amor de maneira geral, ou caridade, que devemos a todos (Romanos 13.8). Significa que devemos amar o pecador como o Deus o ama. Deus ama-o tanto que providenciou a sua redenção, mas odeia o seu pecado e vai julgá-lo se não se converter a Cristo. Amar um pecador não significa descer ao seu nível e participar no seu pecado. Ao invés disso, devemos amá-lo levando-lhe o Evangelho. A maneira de revelarmos o nosso amor aos que estão fora da fé é importar-nos o suficiente com eles para tentar ganhá-los a Cristo.
Nossas vidas devem ser caraterizadas pelo fruto do Espírito, que é fé, coragem, conhecimento, domínio próprio, paciência, piedade, amor aos irmãos, bem como aos perdidos. Estas qualidades no caráter do crente honram a Deus e evidenciam a realidade da nossa profissão da fé.
Por outro lado, aqueles que descuidadamente não crescem nestas coisas terminam sem saber eles mesmos se foram realmente salvos.
1 Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo:
2 Graça e paz vos sejam multiplicadas no pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor;
3 visto como o seu divino poder nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude;
4 pelas quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo.
5 E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência,
6 e à ciência o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade,
7 e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor.
8 Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
9 Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, vendo somente o que está perto, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados.
Segunda carta de Pedro, capítulo 1, versículos 1 a 9