Conforme o capítulo 11, versículo 32, "Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos". Nos capítulos anteriores, vimos que essa misericórdia se expressa pela salvação pela graça, mediante a fé no Senhor Jesus Cristo. Essa salvação consiste na justificação do nosso pecado, em nossa santificação com o poder do Espirito Santo, e na gloria que virá a ser revelada em nós no futuro. O resto de Romanos determina como nós, que assim fomos justificados pela graça, devemos nos comportar em nossa vida quotidiana em relação aos nossos irmãos em Cristo, à sociedade em que vivemos, aos nossos inimigos, às autoridades e também aos nossos irmãos mais fracos.
Em vista da misericórdia de Deus para conosco, cumpre-nos (rogo vos), literalmente, oferecer-lhe a parte física de nosso ser (os nossos corpos: as nossas mentes são o assunto do versículo seguinte). Embora Paulo tivesse a autoridade de apóstolo para comandar, ele aqui roga com amor (Filemom 8 e 9). Uma ordem dada com altivez é obedecida com ressentimento, mas um pedido feito com amor produz alegria em seu atendimento.
O verbo grego traduzido “apresentar” é a mesma palavra usada para a consagração dos primeiros filhos no templo (Lucas 2:22,23), e também foi usada com respeito aos membros do crente (capítulo 6:13). Denota um ato da livre vontade do ofertante, já que ele tem autoridade sobre o seu próprio corpo e resolve o que vai fazer com ele dentro das suas limitações, exercendo o livre arbítrio.
A apresentação do corpo a Deus denota não só o propósito de evitar a prática de atos pecaminosos com, ou contra, o nosso corpo, mas também glorificar a Deus com ele (1 Coríntios 6:20), em seu uso para as boas obras e com a disposição de passar por sofrimentos físicos para a glória de Deus se isto vier a ser requerido de nós. É esse o significado de “apresentai... os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça” (capítulo 6:13) .
É nisto que consiste um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus:
É vivo – Neste mundo Deus usa nossos corpos vivos: cérebro, olhos, ouvidos, boca, mãos, pés, etc., e, por extensão, todas as nossas vidas para a Sua glória neste mundo. É um compromisso total em sacrifício de louvor, em contraste com os sacrifícios propiciatórios de animais mortos feitos antes da morte de Cristo.
É santo - nossos corpos devem ser dedicados para a obra, louvor e glória de Deus (portanto, conservemo-los bem cuidados, saudáveis tanto quanto possível, e livres de vícios); eles não devem ser usados para o mal.
É agradável a Deus - Deus se agrada desse sacrifício que fazemos para Ele. O principal objetivo do crente nesta vida, é ser agradável a Deus. Nada tem a ver com o preço da sua salvação, que é gratuita, mas um dia terá a sua recompensa que está em proporção direta com a sua fidelidade ao Senhor. Paulo declarou que queria ser bem agradável ao Senhor, estivesse presente ou ausente do corpo (2 Coríntios 5:9).
O culto racional (no original grego significa “serviço prestado pela razão”), é a dedicação total do nosso corpo em sincero reconhecimento pelo que Ele fez por nós, dando assim uma demonstração lógica e razoável dele. É lógica e razoável pois tendo o Filho de Deus entregue o Seu corpo santo à morte por nós, o mínimo que podemos fazer daqui em diante é viver por e para Ele. Isaac Watts expressou-se assim em um hino de louvor “O amor tão incrível, tão divino de Cristo demanda o meu coração, a minha vida, tudo que é meu”.
Tudo o que é nosso inclui conhecimentos, talentos, habilidades, tempo, trabalho, posses, e tudo o mais que consideramos “nosso”. Davi, o modesto pastor de ovelhas, arriscou a sua vida e fez uso da sua habilidade para vencer o gigante Golias que ameaçava o nome do SENHOR e o Seu povo. Usou seu talento poético e musical para escrever salmos que ainda lemos e muitos cantam até hoje. Paulo abriu mão de uma carreira nobre e rendosa a serviço do templo para dedicar tudo o que tinha a serviço do Evangelho de Cristo (Romanos 15:16).
Poucos de nós temos as qualidades e as oportunidades que eles tiveram, mas nem por isso deixemos de usar e aproveitar as de que dispomos como nosso particular culto racional, além do sacrifício de louvor de nossos lábios (Hebreus 13:15) e dos nossos bens (Hebreus 13:16).
Assim, não devemos nos adaptar aos padrões, práticas e costumes do mundo que nos rodeia (ele é dirigido pelo diabo - Efésios 2:2-3), mas sim nos modificar com a renovação da nossa mente, descobrindo qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, para andarmos nela.
O nosso Deus deve ser servido em espírito e com o entendimento. Ele não impõe sobre nós algo difícil de entender ou irracional, mas só o que é totalmente agradável aos princípios da correta razão.
Não existe ritual ou cerimônia religiosa “cristã” no Evangelho de Cristo: como o Senhor Jesus ensinou: “a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:23-24).
O culto segundo o Evangelho é feito em espírito e em verdade, isto é conforme a Sua Palavra que nos foi dada, a Bíblia, esta é espiritual e estamos todos aptos a dar esse culto mediante a oração e os hinos e cânticos espirituais de louvor e adoração.
A Palavra de Deus não rejeita a exteriorização do nosso amor a Deus em santa adoração com nosso corpo (cântico de hinos acompanhado com música tocada por instrumentos, etc), mas deve ser reverente, trazendo glória a Ele e não ao artista, e só se estiver de acordo com a Sua palavra escrita.
Além disso, duas “ordenanças” foram introduzidas com o Evangelho de Cristo: o batismo dos que se convertem a Cristo, e a Ceia do Senhor para a qual são convidados todos os que são Seus. Não são rituais, pois em si próprias elas não têm consequências físicas ou espirituais para os que as obedecem.
Deus nos trata como Seus filhos adotivos, aptos para nos encher do Espírito Santo, e portanto somos seres racionais. Deus nos trata assim, e é da mesma forma que devemos nos conduzir em Sua presença.
1 Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos capítulo 12:1 a 2