Deus concedeu ao apóstolo Paulo a graça de ser ministro de Cristo Jesus entre os gentios (Romanos 15:15, Gálatas 2:9); é no exercício desse ministério, que ele nos instrui com a autoridade de Cristo, os vários mandamentos que encontramos em seguida.
Primeiro ele nos exorta a sermos modestos, e que nunca tenhamos um conceito próprio mais alto do que é necessário, mas que sejamos sábios com respeito à nossa própria importância, assim como Deus proporcionou uma medida de fé para cada um.
Há uma tendência humana para ser ambicioso, de lutar para alcançar posições de mais alta importância. Algumas posições na igreja são ambicionadas por dar relevância aos que as ocupam, e não é raro encontrar quem não queira servir em posições mais humildes porque considera que é digno de posições melhores. Criam-se cargos com nomes importantes para satisfazer o amor próprio de quem vai ocupá-los. Há quem até recuse participar de um trabalho, se não for o presidente... Ao adotar essa atitude, estão desobedecendo a este mandamento.
É necessário reconhecer que cada um de nós é destinado a ocupar um lugar próprio dentro da casa de Deus, e devemos nos contentar com esse lugar escolhido para nós, para melhor desenvolver nossos dons espirituais e otimizar o nosso serviço a Deus. A fé é dom de Deus, que a distribue segundo a Sua vontade, e de nada nos aproveita invejarmos os que receberam mais do que nós.
Como exemplo Paulo usa o corpo humano, que tem muitas partes mas cada uma tem uma função específica para a qual foi destinada, e todo o funcionamento do corpo, seu bem-estar e saúde, dependem na execução correta da função de cada parte.
Assim também na igreja há unidade, pois é como um só corpo, também diversidade, pois somos muitos e individualmente diferentes, mas ainda assim interdependentes, sendo membros uns dos outros.
Os dons que nos foram dados (a palavra “dons” vem de uma palavra grega cuja origem é traduzida como “graça”) não devem e nem podem ser usados de forma egoista apenas para o nosso proveito pessoal, mas para benefício do corpo inteiro da igreja. Nenhum dom é auto-suficiente nem desnecessário. Ao nos compenetrarmos disso estaremos habilitados a pensar sobriamente a respeito da nossa própria importância.
Deus dá à igreja homens, que por sua vez receberam d’Ele dons de profecia, mestrado, etc. e cada membro da igreja recebe pelo menos um dom e uma função a preencher com ele. Esses dons são diferentes, mas isso não quer dizer que alguns não receberam nenhum. Cada membro deve usar o dom que tem para o bom funcionamento da igreja. Ao ser usado, a sua efetividade como bênção para os outros e a sua construtividade para a igreja será verificada, e mediante essa prova o Espírito Santo dá a Sua confirmação.
A “profecia” aqui não se refere a predições sobre o futuro, mas à transmissão de qualquer mensagem de Deus, baseada em Sua Palavra. A profecia se faz “segundo a medida da fé”: a palavra “fé” abrange o conjunto das doutrinas, ensinamentos e revelações encontradas na Palavra de Deus, ou seja, a fé evangélica. Não se refere à sua fé particular, mas simplesmente à “fé”, que é de todos. Assim, o profeta transmite a mensagem de Deus que encontra em Sua Palavra na medida em que a conhece (antes de ser completada a "fé" com os Livros do Novo Testamento, havia profetas nas igrejas para instruí-las como lemos em Romanos 10:8, Colossenses 2:7, Tito 1:9, Efésios 2:20).
O “ministério” tem um sentido amplo de “serviço” para o Senhor. Não tem o sentido restrito de “ministrar a Palavra”, muito menos o exercício de uma profissão de clérigo como é usual em várias denominações.
O dom de ministério vai desde a limpeza e a preparação do recinto para as reuniões, a distribuição de hinários, o recebimento e o acolhimento de visitantes, até a visitação, a pregação do Evangelho dentro de um recinto ou ao ar livre, a efetuação de batismos, e muitos outros mais. Todos os que exercitam o ministério, seja qual for o serviço, devem fazê-lo com “dedicação”, “como ao Senhor, e não aos homens” (Efésios 6:7, Colossenses 3:23). Pedro também manda: “se alguém ministra, ministre segundo a força que Deus concede; para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertencem a glória e o domínio para todo o sempre. Amém” (1 Pedro 4:11b).
Em todas as formas de serviço cristão, assim como em outras atividades na vida, há muitas tarefas que alguns acham detestáveis. É escusado dizer que tentamos evitar esse trabalho. Em Colossenses 3:23 aprendemos que o mais humilde serviço, o de escravo, pode ser dignificado e glorificado por ser feito ao Senhor. Neste sentido não há diferença entre trabalho “secular” ou “sagrado”. Tudo é sagrado! As recompensas no céu não serão concedidas pela preeminência ou pelos aparentes sucessos: não serão tanto pelos talentos recebidos ou oportunidades aproveitadas mas sim pela fidelidade demonstrada ao Senhor. Os crentes mais obscuros se sairão muito bem naquele dia, se tiverem cumprido seus deveres fielmente ao Senhor.
Em seguida, são destacados alguns destes serviços:
“ensinar”: um mestre, além de se dedicar ao aprendizado mais profundo da Bíblia, e a conhecer a carência dos seus alunos, faz-se capaz de explicar a palavra de Deus e a aplicá-la ao coração dos seus ouvintes. Paulo aqui manda “esmere-se em fazê-lo”, também traduzido como “haja dedicação ao ensino” em outra versão. Pedro também manda “Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus” (1 Pedro 4:11ª)
- “exortar”: isso é estimular, animar e persuadir alguém, um grupo de pessoas ou uma igreja a desistir de toda a forma de mal e avançar para novas realizações em santidade e em serviço para Cristo. Infelizmente alguns que não teem esse dom fazem o contrário e, pensando que estão exortando, desanimam seus ouvintes com seguidas repreensões e palavras duras sobre o seu comportamento, sem a compaixão esperada de um servo de Deus nem indicar o caminho certo a seguir para chegar a um alvo louvável. Isto exige “dedicação”.
- “repartir”: trata-se aqui de dinheiro e bens materiais. O cristão não deve apegar-se às coisas deste mundo, mas lembrar que tudo o que ele tem pertence a Deus. A generosidade é o dom divino que leva uma pessoa a se conscientizar das necessidades dos seus irmãos e se envolver para ajudar a atendê-las. Deve agir como um mordomo, usando tudo que possui da melhor forma possivel para a glória do seu Senhor (Lucas 16:1-12). Assim, deve contribuir para a obra do Senhor “com liberalidade”.
- “presidir”: este é o dom de liderança, especialmente o que é exercido pelos que participam da direção (presbitério) de uma igreja, mas também dos empreendimentos em que estiverem envolvidos para a glória de Deus, seja dentro dela, ou em colaboração com outras igrejas e com outros irmãos. Sugerimos a Escola Dominical, a pregação e ensino do Evangelho coordenados mediante literatura, rádio, televisão, internet e outras atividades coletivas que requerem liderança. Este serviço a Deus deve ser feito "com cuidado”, com zelo e nunca deve ser negligenciado.
- “exercer misericórdia”: misericórdia é um dos maravilhosos atributos de Deus, sendo Ele “riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou” (Efésios 2:4), e “segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pedro 1:3). Gerados de novo, passamos a ser os filhos espirituais de Deus que nos gerou e, como tal, o Senhor ensinou: “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lucas 6:36). Mas nossa velha natureza, egocêntrica, quer justiça para si, e é vingativa quando não recebe o que considera que lhe é devido. Este dom deve ser exercido “com alegria”, mesmo quando for penoso e exigir humildade e sacrifício próprio.
3 Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
4 Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação,
5 assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.
6 De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7 se é ministério, seja com dedicação; se é ensinar, esmere-se em fazê-lo;
8 ou o que exorta, use esse dom com dedicação; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria.
Romanos capítulo 12:3 a 8