No capítulo anterior temos a exortação para que o crente não pratique as ações claramente declaradas pecaminosas, imorais nas Escrituras como o assassínio, o adultério, o roubo, a mentira e a cobiça. Agora temos uma advertência para que não se condene os irmãos cujos escrúpulos os levam a considerar pecado outras ações questionáveis, que não são expressamente proibidas nas Escrituras e portanto são de importância secundária.
Encontramos em seguida três princípios básicos a seguir:
O crente muito escrupuloso deve ser aceito em comunhão: "O que é fraco na fé" não significa fraqueza no conhecimento das grandes verdades do Evangelho — os fatos da fé — mas na aplicação prática do que é a vontade de Deus em seu comportamento. Ele é fraco porque vacila e hesita sobre questões de conduta, não interpretando corretamente como proceder. Não obstante, deve ser recebido em comunhão na igreja com os braços abertos se for um crente em Jesus Cristo. A comunhão não deve ser perturbada por discussões sobre coisas questionáveis. Embora certas coisas não sejam expressamente condenadas na Escritura, alguns crentes se separam delas. Se querem fazer isso, a responsabilidade é deles, mas não é motivo para separar os irmãos. A Bíblia de Referência Scofield tem uma nota muito útil sobre este versículo — "A Igreja não tem autoridade para decidir questões de liberdade pessoal em coisas não expressamente proibidas nas Escrituras".
A tolerância deve ser mútua: As diferenças de comportamento no que se refere ao que “convém” e o que “edifica” (1 Coríntios 10:23) podem ser grandes, e é preciso ter em mente uma opinião clara (à luz do próprio conhecimento da Palavra de Deus) sobre qual deve ser o comportamento adequado. Temos aqui um primeiro exemplo, em que a divergência diz respeito ao alimento. Dentro das igrejas em Roma havia convertidos judeus e gentios, vindo de culturas muito diferentes.
Os judeus estavam acostumados às restrições especificadas na lei de Moisés sobre que carne podiam comer. Os gentios estavam livres dessas restrições, comendo de tudo, inclusive as carnes que haviam sido sacrificadas aos ídolos. O mais “fraco”, mais escrupuloso, comia só legumes. O mais “forte” seguia o mandamento que encontramos em Gênesis 9:3 “Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento, bem como a erva verde”. Isto foi confirmado em 1 Timóteo 4:4: “pois todas as coisas criadas por Deus são boas, e nada deve ser rejeitado se é recebido com ações de graça”. Podemos imaginar as discussões que havia sobre este assunto. O “forte” não deve desprezar seu irmão “fraco”, nem o “fraco” julgar como pecador o “forte”, pois Deus acolheu ambos em sua família, independentemente do que comem.
Cada crente é um servo do Senhor, e o que faz, faz para o Senhor, pois é dele, e para Ele vive ou morre. Ele não tem direito de tomar o lugar do seu Mestre e julgar seus companheiros de trabalho. Cada um será firmado na fé porque o Mestre é poderoso para fazê-lo. Temos em seguida outro exemplo, que é a observância de dias especiais no calendário. Alguns judeus cristãos, por exemplo, ainda observavam religiosamente os “sábados”, que eram dias de descanso cerimoniais, por ocasião das suas festas e o último dia de cada semana. Os outros crentes não faziam distinção, considerando todos os dias iguais, todos eram consagrados ao serviço do Senhor. Segundo este terceiro princípio, não é importante nem há obrigatoriedade em fazer diferença entre os dias. Mas quem o faz por sua própria conta, convicto em sua mente que é a vontade do Senhor, que o faça pois ao obedecer à sua consciência o fará para o Senhor.
O senhorio de Cristo entra em todos os aspectos da vida do crente. Ele não vive para si mesmo, mas para o Senhor. Não morre para si, mas para o Senhor. É verdade que o que faz e diz pode afetar outros, mas não é esse o pensamento aqui. Paulo está realçando que o Senhor deve ser o objetivo e o objeto da vida de Seu povo.
Tudo o que crente faz na vida está sujeito à análise e à aprovação de Cristo. O crente examina tudo em função do que seria aceitável na presença de Cristo. Mesmo ao morrer, aspira glorificar o Senhor em sua partida para estar com Ele. Portanto é d’Ele na vida ou na morte.
Uma das razões porque Cristo morreu e voltou para viver de novo é para que pudesse ser Senhor, tanto de mortos como de vivos. Assim o crente tem um Senhor vivo e atuante tanto durante a sua vida, como depois da morte quando deixa seu corpo físico e passa a viver em alma e espírito na Sua presença.
Em consequência, o crente muito escrupuloso percebe que não cabe fazer julgamento sobre o comportamento dos outros, e o crente que se sente livre verificará a inutilidade de desprezar os que ainda se prendem a costumes restritivos. Pois cada um dará conta de si próprio no tribunal de Cristo.
Este tribunal tem a ver com o serviço do crente, não seus pecados (1 Coríntios 3:11-15). É um processo de revisão e recompensa e não deve ser confundido com o julgamento das nações dos gentios (Mateus 25:31-46) ou o julgamento do grande trono branco (Apocalipse 20:11-15). Este último é o julgamento final de todos os mortos ímpios.
A certeza de seu comparecimento perante o tribunal de Cristo é reforçada mediante citação de Isaías 45:23, onde o Senhor faz uma forte afirmação que todo joelho deve se dobrar diante d’Ele em reconhecimento da Sua autoridade suprema. Todos darão conta de si mesmos, não dos seus irmãos, a Deus. Cai por terra a falsa doutrina da intercessão dos “santos”.
Em vez de julgar seus companheiros nestas matérias de indiferença moral, os crentes deveriam tomar a decisão de nunca fazer algo para impedir um irmão em seu progresso espiritual. Nenhuma destas questões não essenciais é tão importante ao ponto de justificar fazê-lo tropeçar ou cair.
Paulo declara agora a sua certeza que nenhum alimento é impuro (espiritualmente). No entanto é impuro para aquele que assim o considera. Se, portanto, um irmão “forte” come algo que o “fraco” considera impuro, este tropeça em sua fé por causa do irmão “forte”. O irmão “forte” peca por faltar em seu amor para com o “fraco”, e será censurado por isto. Deve evitar a censura deixando de comer aquele alimento, pois assim serve a Cristo tornando-se agradável a Deus e aceito aos homens. Sua abstinência daquilo que sabe não ser pecado, respeitando os escrúpulos do seu irmão, contribui para a paz e a edificação mútua e evita a destruição da obra de Deus.
Os “fortes”, portanto, devem suportar as debilidades dos mais fracos restringindo sua própria liberdade, não agradando a si mesmos, mas agradando ao próximo no que é bom para edificação. Cristo também não se agradou a Si mesmo: sobre Ele caíram as injúrias dos que ultrajavam a Deus (Ele sofreu para que nós pudéssemos ser salvos).
Porque a Escritura é omissa sobre muitas coisas em nossa sociedade contemporânea, recebemos estas grandes orientações, que são três princípios de separação:
Certeza: Tudo o que fazemos deve ser feito com entusiasmo, porque estamos convencidos em nossas próprias mentes que é o que Deus quer que façamos.
Consciência. Nossa conduta deve ser tal que não nos causa remorso recordar dela.
Consideração. Devemos mostrar consideração para os sentimentos e preconceitos dos crentes fracos.
Deus é um Deus de paciência e consolação - que Ele nos conceda o mesmo sentimento uns pelos outros, segundo Cristo Jesus, para que concordemos entre nós em glorificar juntos ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e nos acolhamos uns aos outros assim como Cristo nos acolheu para a glória de Deus.
Cristo ministrou aos judeus para confirmar as promessas feitas aos seus antepassados, e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia, cumprindo assim várias profecias do Velho Testamento.
Existem quatro referências à “boca” em Romanos, formando um esboço biográfico de uma "alma bem salva". No início, sua boca estava cheia de maldição e amargura (capítulo 3:14). Em seguida, sua boca foi calada, e ele foi trazido culpado perante o juízo (capítulo 3:19). Depois ele confessou com a sua boca a Jesus como Senhor (capítulo 10:9). E finalmente sua boca está ativamente glorificando ao Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo (capítulo 15:6).
Paulo deseja que o Deus da esperança nos encha de todo o gozo e paz em nosso crer, para que sejamos ricos de esperança no poder do Espírito Santo.
1 Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas.
2 Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes.
3 O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.
4 Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar.
5 Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo.
6 Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.
7 Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si.
8 Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.
9 Foi para isto que morreu Cristo e tornou a viver; para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos.
10 Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo.
11 Porque está escrito: Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus.
12 De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.
13 Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão.
14 Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda.
15 Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.
16 Não seja, pois, blasfemado o vosso bem;
17 porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.
18 Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens.
19 Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros.
20 Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo.
21 Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.
22 Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.
23 Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.
1 Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos.
2 Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação.
3 Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam.
4 Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança.
5 Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus,
6 para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
7 Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus.
8 Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais;
9 e para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto, eu te louvarei entre os gentios e cantarei ao teu nome.
10 E outra vez diz: Alegrai-vos, gentios, com o seu povo.
11 E outra vez: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e celebrai-o todos os povos.
12 E outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, e, naquele que se levantar para reger os gentios, os gentios esperarão.
13 Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo.
Romanos capítulo 14:1 a 15:13