O Autor:
Paulo, o autor desta carta, se apresenta como:
Servo de Jesus Cristo – “servo” aqui vem do grego “doulos” que se traduz melhor como “escravo”, tanto literal como simbolicamente, de forma voluntária ou involuntária, sempre implicando uma sujeição absoluta.
Chamado por Ele para ser apóstolo – “chamado” vem do grego “cletos”, nomeado para um cargo, neste caso, o de apóstolo.
Separado para o Evangelho de Deus – indica que foi tirado do meio em que se encontrava para a finalidade especial de proclamar o Evangelho (boas notícias) de Deus, que as Escrituras (o Velho Testamento) haviam previsto, aos gentios (v.5).
Paulo explica que essas boas notícias de Deus, já previstas, dizem respeito ao Filho de Deus (portanto divino), Jesus Cristo “nosso Senhor”: no versículo 4 e 5 Paulo usa a primeira pessoa do plural, mas decerto refere-se a si próprio. Cristo nasceu fisicamente da descendência do rei Davi através da sua mãe, Maria, portanto legalmente tinha direito ao trono de Israel. Era o Filho de Deus antes de vir ao mundo (2 Coríntios 8:9; Filipenses 2:6), provou que era durante a Sua vida, mas foi a Sua ressurreição dos mortos que definitivamente identificou Jesus como Deus o Filho: confirmou Suas próprias declarações nesse sentido e a Sua profecia que ressuscitaria após três dias. Foi o selo de Deus dado “com poder” (1 Coríntios 15, 2 Coríntios 13:4). A ressurreição de Cristo é o milagre dos milagres e por si só provou que era quem afirmava ser.
Foi através de Jesus Cristo que Paulo recebeu a “graça” (favor que não merecia) e o apostolado (o exercício de uma delegação pessoal de Cristo) para a obediência que vem da fé, entre todas as nações, ou seja os gentios. Os romanos estavam entre eles, e também foram chamados por Deus para ser de Jesus Cristo assim como fora o judeu Paulo. A iniciativa portanto fora de Deus, não de Paulo.
Os destinatários:
A carta foi dirigida a todos os crentes em Roma – havia várias igrejas, reunidas em locais diferentes, e a carta circularia entre elas. Eventualmente foram tiradas cópias que foram enviadas às igrejas em outros locais, assim como se fez com as outras epístolas encontradas na Bíblia, porque eram inspiradas pelo Espírito Santo e eram de interesse geral para todos os crentes, assim como são ainda hoje.
Paulo caracteristicamente lhes desejou:
“graça” (grego “caris”), palavra que inclui benefício, favor, dom e liberalidade que é o significado aqui (também inclui agradecimento, como no versículo seguinte); não se trata da salvação pois, sendo crentes já a tinham, mas a graça pela qual Deus fornece o que é preciso para a vida cristã e para Seu serviço.
e “paz”, uma saudação comum entre os judeus (“chalom”) e indica cessação de hostilidade, conflitos, inquietações, e um estado de calma e sossego . No contexto das igrejas em Roma, é uma combinação especialmente adequada, pois consistiam de gregos (todos os gentios) e judeus, que se juntaram na comunhão de Cristo, formando um novo “homem” como Paulo declarou em outra epístola (Efésios 2:14,15). Não se trata tanto de paz com Deus, pois já tinham sido justificados pela fé, mas a paz de Deus reinando em seus corações no ambiente turbulento em que viviam.
Ao dizer “da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” Paulo está inferindo a divindade do Senhor Jesus e a Sua igualdade com o Pai.
Note-se que Paulo dá graças a Deus mediante Jesus Cristo (nosso mediador) – assim como devem também ser feitos nossos pedidos a Deus em nome dEle. Embora Roma fosse a capital do império e muito do que acontecia ali era noticiado por aquela parte do mundo, não é apropriado entender literalmente a expressão “declarada em todo o mundo”. Trata-se de uma hipérbole, muito usada ainda hoje, por exemplo: “Todo o mundo sabe...”. Paulo tinha o bom hábito de, sempre que fosse possível, fazer algum elogio logo no início aos que recebiam as suas cartas.
Paulo servia a Deus no Evangelho do Seu Filho em seu espírito: não era mediante um ritualismo fatigante, ou declamações litúrgicas repetidas rotineiramente. Era um serviço voluntário, dedicado e incansável, regado com orações calorosas e confiantes, e impulsionado por quem amava o Senhor Jesus acima de todas as coisas. Sua paixão era proclamar as boas notícias sobre o Filho de Deus.
Paulo mencionava os romanos incessantemente em suas orações, suplicando que pela vontade de Deus afinal se oferecesse boa ocasião para ir visitá-los (pouco imaginava a esta altura que a resposta seria ir como prisioneiro para ser julgado no tribunal de César!). O propósito da sua visita seria lhes “comunicar algum dom espiritual”. Não se tratava de um dom do Espírito Santo, pois isto só Ele o dá, segundo a Sua soberana vontade. O dom espiritual a que Paulo se refere se limitava ao que ele próprio podia dar, na área de ensino e experiência, para o seu fortalecimento na fé cristã. Seria também proveitoso para ele próprio, pois seria estimulado pela fé encontrada neles.
Muitas vezes ele propôs ir ter com eles, com o objetivo de “conseguir algum fruto” entre eles como entre os demais gentios também, mas foi impedido de assim fazer. Ele esclareceu nos dois versículos seguintes que agora ele se referia à pregação Evangelho e às conversões dela resultantes. Por causa do encargo que lhe havia sido confiado pelo Senhor, ele tinha a obrigação diante de todos os gentios, seja qual fosse a sua cultura ou instrução, de anunciar o Evangelho e por isto estava pronto a anunciá-lo também em Roma.
O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele crê. Paulo não se envergonhava do Evangelho de Cristo, sabendo que é poder e sabedoria de Deus, embora fosse um embaraço (escândalo ou “pedra de tropeço”), para os judeus e loucura para os gentios (1 Coríntios 1:23). É poder para redimir o pecador e revesti-lo da justiça de Jesus Cristo, e sabedoria na maneira em que a salvação é administrada, primeiro aos judeus e também aos gregos (os gentios).
A ordem dada aos apóstolos de pregar primeiro aos judeus depois aos gentios foi cumprida fielmente durante o período relatado no livro de Atos. Embora haja ainda uma permanente obrigação diante de Deus de pregar o Evangelho aos judeus, não temos mais que obedecer a essa ordem pessoalmente. Deus promove o evangelismo entre os judeus e os gentios de maneira igual, e a mensagem e o tempo determinado são os mesmos para todos.
A justiça de Deus é revelada no Evangelho. A palavra “justiça” é usada com significados diferentes no Novo Testamento, e vamos considerar em seguida três deles:
Descreve a característica de Deus mediante a qual tudo o que Ele faz é correto, justo, certo e é coerente com todos os seus outros atributos. Quando se diz que Deus é justo, entendemos que não há mal, desonestidade, ou falsidade nele.
Diz respeito ao estado de perfeição que Deus provê aos que creem no Seu Filho (2 Coríntios 5:21). Os que não são em si mesmos justos são tratados como se o fossem porque Deus os vê em toda a perfeição de Cristo. A Sua justiça lhes é atribuída.
No versículo 17 a palavra “justiça” reúne esses três significados, mas prevalecendo o último. A justiça de Deus se revela no Evangelho. Primeiro nos informa que a justiça de Deus requer a punição pelos pecados, que é a morte. Em seguida declara que o amor de Deus satisfez a Sua justiça ao enviar o Seu Filho para morrer como substituto pelos pecadores, pagando a penalidade por completo. Finalmente, porque as Suas justas exigências foram cumpridas Deus pode salvar, agindo com justiça, todos aqueles que recorrerem à obra de Cristo.
A expressão “de fé em fé” pode significar: (1) A partir da fidelidade de Deus para a nossa fé; (2) de um grau de fé para outro; ou (3) de fé do princípio ao fim. O último é o significado mais provável. A justiça de Deus não é atribuída em função de obras ou merecimento daqueles que a procuram. É revelada no princípio da fé apenas. Isto concorda perfeitamente com o decreto divino em Habacuque 2:4: “o justo pela sua fé viverá”, que também pode ser entendido como “O justificado pela fé viverá”.
1 Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus,
2 o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras,
3 acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,
4 declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, —Jesus Cristo, nosso Senhor,
5 pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome,
6 entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo.
7 A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
8 ¶ Primeiramente, dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.
9 Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós,
10 pedindo sempre em minhas orações que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco.
11 Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados,
12 isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, tanto vossa como minha.
13 Não quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco (mas até agora tenho sido impedido) para também ter entre vós algum fruto, como também entre os demais gentios.
14 Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.
15 E assim, quanto está em mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma.
16 ¶ Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego.
17 Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.
Romanos 1 versículos 1 a 17