Paulo fez uma declaração começando com algo como um juramento tríplice:
A sua declaração era que tinha uma tristeza profunda, e incessante dor no coração. Tão grande era o sofrimento, que o levava ao ponto de "quase desejar" (e¯uchome¯n) até "ser maldito" (anathema) de Cristo (e assim sacrificar sua própria salvação) por amor de seus compatriotas consanguineos judeus. Com isto ele respondia a algum suposto crítico que dissesse que ele havia rejeitado o seu povo, e que era um vira-casaca por ter se tornado cristão. Essa mesma crítica é muitas vezes dirigida aos que se convertem a Cristo, provindos de culturas presas, tradicionalmente, a uma determinada religião.
Os israelitas foram privilegiados: adotados por Deus, Este lhes deu "glória" (a glória de Deus, capítulo 3:23), alianças, legislação, o culto (do templo) e as promessas; deles são os patriarcas (Abraão, Isaque, Jacó) e deles descende fisicamente o Cristo que é Senhor de tudo, Deus bendito para todo o sempre. É uma clara declaração da divindade de Cristo, seguindo a menção da Sua humanidade (Atos 20:28, Tito 2:13).
Nós, os gentíos, devemos muito aos privilegiados judeus: o conhecimento do verdadeiro Deus, nosso Criador, vem através deles, bem como deles provem o nosso Salvador, e o Evangelho que nos veio por ter sido disseminado pelos apóstolos judeus.
Paulo declara agora que a Palavra de Deus não havia falhado (em relação às promessas de bênçãos eternas aos descendentes de Abraão), mas que "nem todos os que são de Israel (fisicamente descendentes) são israelitas (herdeiros das promessas)". O propósito de Deus (eleição) sempre foi fazer distinção entre os que eram fisicamente descendentes, abençoando uns e não outros.
Temos os seguintes exemplos:
1) Abraão teve dois filhos, mas somente Isaque (o filho da promessa, gerado de Sara) foi destinado por Deus a ser o herdeiro. Só os "filhos da promessa" são filhos de Deus.
2) Isaque teve filhos gêmeos mas somente Jacó (o mais novo) foi escolhido por Deus, antes de nascer, para ser o herdeiro. Foi uma escolha em que um foi escolhido e o outro não. Como nenhum dos dois havia nascido ainda, a escolha não podia ter sido feita em função de ações que revelassem o seu caráter, mas apenas pela sabedoria e presciência de Deus. Deus não foi injusto ao fazer essa escolha tão cedo, mas exerceu a Sua soberania para fazer o que quisesse.
Deus escolhe a quem quer favorecer, e determina o lugar de cada um sem ter que dar satisfação a ninguém. Ele disse a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericordia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão" (Êxodo 33:19). Foi Ele quem levantou Faraó no Egito, para mostrar o Seu poder para libertar o povo e para ser conhecido em toda a terra. Não temos o direito de criticar a Sua decisão, pois Ele é o onisciente Criador de tudo e age com suprema justiça.
Em virtude da escolha preliminar que Deus faz, há quem se aproveite dessa situação para se desculpar de más ações, com o argumento que Ele não devia se queixar, porque ninguém pode resistir à Sua vontade. O homem seria apenas um instrumento nas mãos de Deus para desenvolver os Seus propósitos, e não pode ser culpado pelas ações que seguem esse propósito divino. Nada pode fazer ou dizer para mudar seu destino.
Paulo repreende a insolência daquele que ousa pensar ou falar dessa forma. A criatura mortal, mergulhada no pecado, ignorância e fraqueza não está em condições de replicar a Deus e por em dúvida a sabedoria e justiça dos Seus caminhos. Usando como figura o oleiro e o barro do qual faz o objeto da sua preferência, demonstra a soberania de Deus para fazer o que quiser da sua criatura.
O oleiro usa o barro para fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso: tem todo o direito de fazer isto, ninguém pode se queixar. O barro é como a humanidade inutilizada em seu pecado, destinada à perdição eterna, sem qualquer valor. Deus, em Sua misericórdia, mediante a Sua graça pega alguns pecadores, os que se arrependem e confiam na obra redentora do Seu Filho, purifica-os do seu pecado, e os conforma à imagem do Seu Filho. Ninguém pode se queixar disto, pois tem todo o direito de fazê-lo.
Deus não está destinando os demais ao inferno. Estão já condenados à perdição por causa do seu próprio pecado, desobediência e rebelião, e não por algum decreto arbitrário da parte de Deus. Deus ainda suporta com muita paciência os malfeitores, ou vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de:
Alguém já disse "a soberania de Deus nunca é exercida na condenação de homens que deviam ser salvos, mas, ao contrário, resulta na salvação dos que deviam se perder."
Deus já havia anunciado através do profeta Oséias (1:9-10) que pessoas que não eram do povo de Israel seriam chamadas Seu povo, e filhos do Deus vivo. Através do profeta Isaías (10:22-23) Ele avisou que por mais que cresça o número dos filhos de Israel, somente o remanescente será salvo: isto vai se cumprir cabalmente, e em breve. Como ainda profetizou Isaías (1:9), se o Senhor dos Exércitos não tivesse preservado a descendência dos judeus, eles já teriam desaparecido.
1 Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo):
2 tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração.
3 Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne;
4 que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas;
5 dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém!
6 Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas;
7 nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.
8 Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.
9 Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho.
10 E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai;
11 porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama),
12 foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.
13 Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú.
14 Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma!
15 Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.
16 Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.
17 Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.
18 Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer.
19 Dir-me-ás, então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade?
20 Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
21 Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?
22 E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição,
23 para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,
24 os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?
25 Como também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada.
26 E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo.
27 Também Isaías clamava acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo.
28 Porque o Senhor executará a sua palavra sobre a terra, completando-a e abreviando-a.
29 E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, teríamos sido feitos como Sodoma e seríamos semelhantes a Gomorra.
Romanos capítulo 9:1-29