Ao contrário dos crentes gentios, que, sem procurar justificar-se diante de Deus pelas suas obras (pois a lei de Moisés não lhes fora dada), alcançaram a justificação pela fé no Senhor Jesus Cristo, Israel (como povo) se esforça pela justificação baseado unicamente no cumprimento da lei, sem buscá-la pela fé. Assim não alcança a justificação, ao contrário, é condenado porque não consegue cumpri-la.
Ao se empenhar na sua justificação pelo mérito do cumprimento da lei, Israel rejeitou a obra redentora de Cristo: a "pedra de tropeço e rocha de escândalo" profetizada em Isaías 8.14.
Esta mesma pedra, é também profetizada em Isaías 28:16, que declara "em Sião como alicerce, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, de firme fundamento; aquele que crer não se apressará" ("pode descansar nela"), ou "não será confundido" (1 Pedro 2:6). Esforçando-se para se justificar à sua própria maneira, Israel rejeitou a justiça que vem de Deus.
Paulo desejava ardentemente a salvação do povo de Israel. É interessante notar que, imediatamente após falar sobre a rejeição de Cristo pelos judeus, Paulo suplicou a Deus para que os judeus "possam ser salvos" ou, literalmente "possam vir para a salvação." Paulo não teria orado assim se tivessem sido reprovados definitivamente.
Claramente Paulo não sentia que o caso deles estava perdido, e apesar do seu comportamento, deixava para Deus resolver o seu problema. Ele orou pelos judeus apesar da sua tristeza (cap. 9:1-5).
Os judeus tinham conhecimento de Deus, nisso tendo o privilégio de ser superiores aos gentios, (cap. 2 :9-11), e eram zelosos por Deus. Isso ficou evidente pela sua cuidadosa observância dos rituais e cerimônias do judaísmo, e de sua intolerância de toda doutrina contrária. Mas o zelo não é suficiente, ele deve ser combinado com o entendimento da verdade. Caso contrário, pode fazer mais mal do que bem.
Como Deus endureceu esse povo (capítulo 11:8, mas não o rejeitou - 11:2), por causa da sua rebeldia (v.21), Paulo suplicava a Deus que se voltasse para o seu povo para que fosse salvo. Trata-se do relacionamento de Deus com Israel, não da conversão de indivíduos.
Mais adiante Paulo profetizou que esse relacionamento será restabelecido após a “plenitude dos gentios”, ou seja, quando a igreja se completar e for arrebatada (11:25).
Na linguagem do Velho Testamento, podemos perceber a diferença entre as palavras da lei e as palavras da fé. Em Levítico 18:5, por exemplo, Moisés escreveu que o homem que alcança a justiça que a lei exige viverá por fazê-lo. A ênfase está na sua realização, no seu cumprimento. Este é um ideal que nenhum pecador pode alcançar.
A lei foi dada para pessoas que já eram pecadoras (como somos todos) e que portanto já estavam condenadas à morte. Mesmo que pudessem manter a lei perfeitamente daquele dia em diante, ainda estariam perdidos, pois ainda teriam que pagar pelos pecados passados. Logo não podia haver qualquer esperança de justificação pela lei.
A fim de mostrar que a linguagem da fé é bem diferente do que a da lei, Paulo primeiro se referiu a Deuteronômio 30:12-13: “(Este mandamento) ...não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos?"
É interessante que, em Deuteronômio, esses versículos não se referem à fé e ao Evangelho mas sim à lei e, especificamente, ao mandamento de se converter “ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua alma” (vers. 10 b). Em outras palavras, Deus está dizendo que a lei não está escondida, distante ou inacessível. Não é preciso ir para o céu ou atravessar o mar para encontrá-la. Estava perto e esperando para ser obedecida.
A finalidade da lei é Cristo, trazendo a justificação para todo aquele que crê. Moisés escreveu (Deuteronômio 30:11-16) que aquele que ama a Deus e lhe obedece, ganha a vida e o bem. Adaptando essas palavras ao Evangelho, Paulo escreveu:
“Quem subirá ao céu? (isto é, para trazer do alto a Cristo)”: a linguagem da fé não pede para alguém subir ao céu para fazer Cristo descer. Seria totalmente impossível e mesmo desnecessário, porque Cristo já veio à terra em Sua encarnação!
"Quem descerá ao abismo? (isto é, a fazer subir a Cristo dentre os mortos)": substituindo "mar" por "abismo", o Evangelho não requer que alguém desça ao túmulo para fazer Cristo subir dentre os mortos. Isso seria impossível e desnecessário, pois Cristo já ressuscitou dos mortos.
Aqui temos as duas doutrinas mais difíceis para um judeu aceitar acerca de Cristo: a Sua encarnação e a Sua ressurreição. No entanto, precisa aceitá-las para ser salvo.
Ao invés de pedir coisas impossíveis, ou que se faça novamente o que já foi feito pelo Senhor, o Evangelho está próximo, acessível, inteligível e de fácil obtenção, até pode ser expresso verbalmente (na tua boca), e facilmente compreendido mentalmente (no teu coração ) (Deuteronômio 30: 14).
É a boa notícia da salvação pela fé que Paulo e os demais apóstolos pregavam: “se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”; Deus não desapontará aos que nele crêem (Isaías 28:16, 49:23).
Aqui está, em poucas palavras:
Aceita a verdade da Encarnação, que Jesus de Nazaré é o SENHOR da vida e da glória, o Javê do Velho Testamento.
Aceita a verdade da Sua ressurreição, com tudo o que ela envolve.
Deus O ressuscitou dentre os mortos como prova de que Cristo concluiu perfeitamente a obra necessária para a nossa redenção, e que Deus se satisfez com essa obra.
Crendo nisso com o coração significa crer com nossos poderes mentais, emocionais e volitivos. Então podemos declarar verbalmente a nossa fé no Senhor Jesus, crendo sinceramente que Deus o ressuscitou dentre os mortos. É uma apropriação individual da pessoa e da obra do Senhor Jesus Cristo. Essa é a fé salvadora.
É impossível conceber que uma pessoa aceitar Jesus Cristo como Salvador, sem reconhecê-lo como Senhor da sua vida também. O batismo na água pelo qual deverá passar para testemunhar da sua fé, já é em si a maneira de simbolizar a morte para si e a ressurreição para a vida em Cristo (Romanos 6:11, 16). Jesus Cristo é o SENHOR (Javê), e deve ser obedecido fielmente como tal.
“Com o coração se crê para a Justiça”. Não é uma simples declaração intelectual, mas uma aceitação genuína com todo o nosso ser interior. É assim que somos imediatamente justificados.
“Com a boca se faz confissão para a salvação”. O crente declara publicamente a salvação que recebeu. Não é uma condição da salvação, mas é a expressão inevitável do que lhe aconteceu, pois quando alguém realmente crê, ele deseja participá-lo aos outros. É bom demais para guardar segredo, e quer que os outros saibam para que se salvem também se ainda não o fizeram.
Se os judeus tivessem crido em Cristo, teriam verificado que Ele é o fim da lei de justiça. O objetivo da lei é revelar o pecado, para julgar e condenar os desobedientes. Ela nunca pode fazer com que um desobediente se torne justo. A sanção da lei sobre ele é a morte.
Em Sua morte, Cristo pagou a penalidade da lei que os homens tinham transgredido. Quando um pecador recebe o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, a lei não o julga mais. Através da morte do seu Substituto, ele morre para a lei. Ele nada mais tem com ela, nem com a tentativa fútil de justificar-se através dela.
Todo aquele (seja judeu ou gentio) que “invocar o nome do Senhor será salvo”, conforme Joel 2:32. Para que invoquem o Senhor, é necessário que n’Ele creiam, para crer precisam primeiro conhecê-Lo pela palavra dos que lhes são enviados para pregar o Evangelho de Cristo. Nem todos obedecem à palavra do Evangelho, conforme profetizado em Isaías 53:1, embora a voz de Deus seja ouvida em toda a terra, conforme o Salmo 19:4.
Israel não pode ignorar que a salvação alcança todos os povos, pois isto já fora profetizado por Moisés (Deuteronômio 32:21) e por Isaías (65:1-2) que ainda chama Israel de "povo rebelde e contradizente ".
30 Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé.
31 Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça.
32 Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei. Tropeçaram na pedra de tropeço,
33 como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo; e todo aquele que crer nela não será confundido.
1 Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação.
2 Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento.
3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus.
4 Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.
5 Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas.
6 Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu (isto é, a trazer do alto a Cristo)?
7 Ou: Quem descerá ao abismo (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)?
8 Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos,
9 a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo.
10 Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.
11 Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.
12 Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.
13 Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
14 Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?
15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!
16 Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?
17 De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.
18 Mas digo: Porventura, não ouviram? Sim, por certo, pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo.
19 Mas digo: Porventura, Israel não o soube? Primeiramente, diz Moisés: Eu vos meterei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira.
20 E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam.
21 Mas contra Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.
Romanos 9:30 a 10:21