Nessa passagem temos uma cuidadosa descrição da manifestação da natureza da justiça perfeita de Deus, feita para atender à necessidade de salvação de toda a humanidade pecadora, que portanto estava sujeita a julgamento e condenação eterna.
A justiça de Deus manifesta as seguintes características:
Supera a lei: a lei perfeita de Deus foi dada ao povo de Israel e provou que ninguém consegue viver segundo os padrões da perfeita justiça de Deus. Mas a justiça de Deus vai além da lei (que é o sentido de “sem lei” em nossa tradução para o português). A justiça de Deus supera a lei, que era insuficiente e incapaz de fazer a justificação do homem, mas nos vem inteiramente pela “graça” de Deus (versículo 24).
É testemunhada pela lei e pelos profetas: que a justiça de Deus vem pela Sua graça não é novidade, pois é atestada pelo Velho Testamento (“a lei e os profetas”), sendo portanto manifestada continuamente pelo próprio Deus. Veja, por exemplo, Isaías 51:5-6, 8, 56:1, Daniel 9:24).
É cumprida mediante a fé em Jesus Cristo somente: O Velho Testamento prevê o ato supremo de justiça pela morte expiatória do inocente Filho de Deus, para que todos os que creem nele possam assumir a Sua justiça (Gálatas 2:16). Nisto Deus também revelou o Seu amor (1 João 4:10). Esta fé significa total confiança no Senhor Jesus Cristo como nosso único Salvador do pecado, e nossa única esperança de ir para o céu. É baseada na revelação da Pessoa e obra de Cristo dada pela Bíblia. A fé não é um salto no escuro: ela exige as melhores provas, e as encontramos na infalível Palavra de Deus. A fé é lógica e razoável. O que é mais razoável do que a criatura confiar em seu Criador? A fé não é um trabalho de valor pelo qual um homem ganha ou venha a merecer a salvação. O homem não pode se orgulhar porque crê no Senhor pois seria tolice não crer. A fé não é uma tentativa de ganhar a salvação, mas é a simples aceitação da salvação que Deus oferece como um dom gratuito.
Não faz distinção entre judeus e gentios: a justificação pela fé em Cristo é disponível a toda a humanidade nas mesmas condições, sem qualquer discriminação. Tanto os que receberam a lei (os judeus) como os demais (os gentios) pecaram e foram achados em falta da glória de Deus. Mas é apenas aplicável aos que creem; ou seja, ela é efetiva somente na vida de quem aceitar o Senhor Jesus mediante um ato de fé definitivo. O perdão é para todos, mas só passa a ser válido em uma vida individual quando é aceito.
É gratuita: pela graça de Deus a salvação é oferecida gratuitamente a todos, mediante o pagamento feito por Cristo Jesus para a redenção dos nossos pecados (Mateus 20:28). Foi do agrado de Deus aceitar o Seu sangue inocente como propiciação suficiente (1 João 2:2), pelo pecado de todos os que aceitarem a Sua salvação, na condição em que é oferecida (João 3:16): pela fé em Cristo.
Alcança também o passado: Deus, na Sua paciência, deixou de lado os delitos outrora cometidos, e a morte de Cristo também pagou por eles (Atos 14:16, 17:30, Hebreus 9:15).
É a prova que Deus é Justo e Justificador: a suprema justiça de Deus é um dos seus atributos e é evidenciada pela maneira em que justificou o pecador. A Sua justiça exigia castigo pelo pecado, mas a Sua misericórdia não Lhe permitia deixar o homem sofrer a morte eterna a que estava condenado, sem lhe dar a oportunidade de ser salvo se ele se arrependesse. O problema defrontado e resolvido por Deus é assim apresentado da forma mais aguda e profunda:
A pena do pecado tinha que ser paga mesmo havendo arrependimento, e o homem ainda estaria sujeito a pecar por causa da sua natureza pecaminosa. A justiça de Deus portanto O impedia de declarar que esse homem era justo.
A infinita graça de Deus se revelou então, a fim de cumprir com a Sua suprema justiça e ainda salvar o pecador arrependido:
pagando Ele mesmo pelo pecado (mediante dar o Seu Filho unigênito para morrer na cruz),
e aceitando a simples fé do pecador para dar-lhe perdão.
Desta forma houve castigo para o pecado e perdão para o pecador.
Em consequência, a justificação pela fé, e nada mais, resultou em excluir toda a jactância do homem; ninguém pode se orgulhar de ser superior aos demais, seja porque tem a lei, ou porque faz boas obras. Ao contrário, “a justiça é pela lei da fé”: esta é uma nova “lei”, que harmoniza a justiça, a graça, o amor e a misericórdia de Deus, que é o Evangelho de Cristo.
O Evangelho anuncia que o homem é justificado pela fé, sem as obras, tanto o judeu (“circuncisão”) quanto o gentio (“incircuncisão”) pois Deus é um só (os judeus se esqueciam disto, e não poucos cristãos gentios também, através da história).
Mas, longe de ser anulada pela fé, a lei ainda se presta para o fim a que foi destinada: trazer o pleno conhecimento do pecado ao homem (v.20). A lei exige obediência perfeita. A penalidade pela infração da lei, a morte eterna, deve ser paga.
O Evangelho declara que Cristo morreu para pagar a penalidade da infração da lei. Ele não tratou a lei como algo que não merecia atenção, mas pagou a penalidade por completo ao dar a Sua vida na cruz do Calvário, sendo Ele justo e sem pecado.
Agora quem infringe a lei pode beneficiar-se do fato que Cristo pagou a penalidade em seu lugar. Assim o Evangelho da salvação estabelece a lei ao insistir que as suas maiores exigências não só devem, mas foram, plenamente respeitadas.
No capítulo 4, a seguir, veremos como o próprio Abraão foi um exemplo de fé, ilustrado em sua vida. Sem Cristo e o Espírito Santo ninguém pode obedecer totalmente a lei de Deus, e é somente mediante a fé em Cristo que temos a possibilidade de cumpri-la.
21 Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas,
22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença.
23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus,
24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus,
25 ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;
26 para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.
27 Onde está, logo, a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas pela lei da fé.
28 Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.
29 É, porventura, Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente.
30 Se Deus é um só, que justifica, pela fé, a circuncisão e, por meio da fé, a incircuncisão,
31 anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei.
Romanos capítulo 3:21 a 31