No capítulo 6 encontramos a resposta à pergunta, "O ensino do evangelho (salvação somente pela fé) incentiva, ou mesmo permite, a vida de pecado?" No capítulo 7, foi enfrentada a questão: "Será que o evangelho ensina que os cristãos devem cumprir a lei a fim de levar uma vida santa?” Agora no capítulo 8 a pergunta é: “Como é o cristão capacitado para viver uma vida santa?”
O Espírito Santo é a Pessoa dominante nesse assunto. A vitória não está em nós mesmos, mas no Espírito Santo, que habita em nós. Encontramos neste trecho sete maneiras em que Ele nos auxilia:
liberdade em serviço (v. 2);
força para o serviço (v. 11);
vitória sobre o pecado (v. 13);
orientação em serviço (v. 14);
o testemunho de filiação (v. 16);
assistência no serviço (v. 26);
assistência na oração (v. 26).
Vemos repetida a nota triunfante de Romanos 7: 25, após o desespero anterior. Isso pode ser entendido de duas maneiras:
Não há condenação divina quanto ao nosso pecado, porque estamos em Cristo. Havia condenação enquanto estávamos em nosso precursor Adão. Mas agora estamos em Cristo e, portanto, nos achamos tão livres da condenação quanto Ele.
Não há condenação de si mesmo do tipo descrito no capítulo 7. Podemos passar pela experiência de Romanos 7, incapazes de cumprir as exigências de lei pelo nosso próprio esforço, mas não temos que permanecer nela.
Como pecadores, merecíamos a condenação em nosso estado não regenerado, apesar de lutarmos para deixar o pecado. Mas Deus oferece o perdão "para os que estão em Cristo Jesus". Estes podem levar uma vida consagrada, crucificada, e batizada. Não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque a operação do Espírito Santo nos livra da lei que condena o pecador à morte.
Existem duas leis, ou princípios opostos:
A lei do Espírito da vida. É o princípio ou autoridade exercida pelo Espírito Santo que dá vida e que se baseia "em Cristo Jesus." Somos perdoados, estamos livres da velha lei do pecado e da morte (7:7-24), e com a ajuda do Espírito Santo somos capazes de viver uma nova vida em Cristo. O princípio característico do Espírito Santo é capacitar os crentes para uma vida santa enquanto que o princípio característico do pecado que habita em nós é arrastar-nos para a morte.
A lei (dada por Moisés). Ela não pode produzir uma vida santa, porque não pode suprimir a carne, que é a natureza humana decaída. A lei foi dada a homens que já eram pecadores e não tinham poder para obedecer. Deus então interveio, enviando seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado. Note-se atentamente que o Senhor Jesus não veio na carne do pecado, mas apenas em sua “semelhança”. Ele não cometeu pecado (1 Pedro 2: 22), não conheceu pecado (2 Coríntios 5: 21), e não havia nEle pecado (1 João 3: 5). Mas, vindo ao mundo em forma humana, Ele se parecia com a humanidade pecadora. Como sacrifício pelo pecado, Cristo levou o castigo pelo pecado na carne. Ele morreu tanto pelos pecados que cometemos (1 Pedro 3: 18), quanto pela nossa natureza pecaminosa. Em outras palavras, Ele morreu por aquilo que somos, bem como pelo que fizemos (A Bíblia nunca diz que a nossa natureza pecaminosa foi perdoada, mas sim condenada. Os pecados que cometemos é que são perdoados.)
O preceito da lei se cumpre em nós que andamos segundo o Espírito, tendo Deus castigado o pecado ao enviar Seu próprio Filho, que o levou sobre Si. A condenação que herdamos por causa da nossa identificação com Adão foi removida por causa da nossa identificação com Cristo. A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus nos libertou da lei do pecado e da morte; o Espírito Santo nos capacita a amar a Deus e a amar o nosso próximo, o que, afinal, é o que a lei exige, e os requisitos da lei são cumpridas por uma vida espiritual controlada por Ele.
O inconverso obedece os impulsos da carne, vivendo para satisfazer os desejos da natureza corrupta e voltados para o corpo, que num curto espaço de alguns anos vai voltar ao pó. Mas aqueles que vivem segundo o Espírito, os verdadeiros crentes, elevam-se acima do que é material e vivem para as coisas que são eternas. Ocupam-se com a Palavra de Deus, oração, adoração e serviço cristão.
A inclinação da carne, que é a preferência da natureza decaída, é a morte no que se refere tanto ao prazer neste mundo quanto ao seu destino final. Mas a inclinação do Espírito é vida e paz. O Espírito de Deus é a garantia de vida que é a verdadeira vida, da paz com Deus, e de uma vida de tranquilidade eterna.
A mentalidade da carne é morte, porque é inimiga de Deus, e o pecador é um rebelde que não se submete à vontade de Deus por sua própria natureza. Não quer nem pode. Sem Cristo (Romanos 7: 25) e o Espírito da vida (Romanos 8: 2) ele não tem esperança.
Quando uma pessoa nasce de novo, ele não está mais sob o pecado (Romanos 7: 14), mas está no Espírito. Ele não apenas vive no Espírito, mas o Espírito vive nele. Na verdade, enquanto não for habitado pelo Espírito de Cristo (o mesmo que "o Espírito de Deus"), ele não pertence a Cristo. Veja também Filipenses 1:19; 1 Pedro 1: 11. O corpo ainda está sujeito à morte, mas a fato de que o Espírito Santo habita em nossos corpos é uma garantia de que, assim como Ele ressuscitou Cristo dentre os mortos, Ele também dará vida aos nossos corpos mortais. Este será o ato final da nossa redenção, quando nossos corpos serão glorificados como o corpo de glória do Salvador.
Os verdadeiros filhos de Deus são os guiados pelo Espírito de Deus. Não é uma questão do grau em que se enchem do Espírito Santo, mas de uma relação permanente que começa no momento da conversão. Como filhos foram recebidos na família de Deus, com todos os privilégios e responsabilidades dos filhos adultos. Jesus Cristo é o unigênito Filho de Deus (Romanos 8: 3) e participa da Sua essência. Todos os homens são de certa forma “filhos de Deus” no sentido apenas de serem descendentes de Adão (Atos 17:28) que foi criado por Deus. Mas os que nasceram de novo do Espírito de Deus, judeus e gentios, são "filhos de Abraão" por causa da sua fé, e são feitos filhos adotivos de Deus pela Sua graça. Um novo convertido não tem que esperar por um determinado tempo antes de entrar em sua herança espiritual: já o fez no momento em que foi salvo, homem, mulher, ou criança.
Quem vive em termos de legislação é como um servo, constrangido pelo medo de punição. Mas quem é nascido de novo, recebe o espírito de adoção, para ser colocado na família de Deus como filho adulto. Por um certo instinto espiritual o verdadeiro crente procura a Deus e O chama de "Abba, Pai". “Abba” é uma palavra aramaica e é a forma íntima da palavra pai, como "papai”.
Quem se submete ao Espírito procura as coisas espirituais, que resultam em vida e paz; ao contrário, os que se deixam dominar por sua natureza pecaminosa não podem agradar a Deus, e são levados por ela à inimizade contra Deus e à morte.
Aquele em quem o Espírito de Deus habita não mais obedece à sua natureza pecaminosa (já morta em Cristo), mas sim ao Espírito para justiça (em obediência a Deus), e seu corpo mortal será vivificado por Ele assim como Ele ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos. Quem não tem o Espírito de Cristo, não é dele.
Alguns crentes sofrem mais do que outros na causa de Cristo, e isso irá resultar em diferentes graus de recompensa e de glória. Mas todos os que reconhecem Jesus como Senhor e Salvador estão sujeitos a sofrer as hostilidades do mundo, com toda a sua vergonha e opróbrio. No entanto, por maior que seja a vergonha que venham a sofrer por Cristo aqui na terra, ela será sempre uma insignificância quando forem chamados e reconhecidos publicamente por Ele no céu.
Paulo representa toda a criação como estando a aguardar ansiosamente um dia melhor. Quando o Senhor Jesus voltar para reinar e voltarmos com ele, então seremos apresentados ao mundo como filhos de Deus. Já o somos, mas o mundo não nos reconhece nem nos valoriza como tal. A criação foi sujeita à vaidade, frustração e desordem, não por sua própria escolha, mas pela desobediência do homem.
Toda a criação é retratada como estando gemendo em dores de parto. Nem os crentes estão isentos. Ainda que tenhamos as primícias do Espírito, garantindo nossa libertação final, ainda gememos aguardando esse dia de glória. O Espírito Santo é as primícias. O Espírito Santo veio no dia de Pentecostes e as suas bênçãos continuam como estando no "presente" em 1 Coríntios 12-14 e nos dons espirituais e morais de Gálatas 5: 22. Mas as suas maiores bênçãos ainda estão por vir (1 Coríntios 15: 44). Assim como o primeiro punhado de grãos maduros é uma garantia da chegada de toda a safra a seguir, assim o Espírito Santo é o penhor ou garantia de que a plena herança será nossa.
Já fomos colocados na família de Deus como filhos, mas num sentido mais amplo a nossa adoção será completa quando recebermos nossos corpos glorificados. Essa é a redenção do nosso corpo. Os nossos espíritos e almas já foram resgatados, e os nossos corpos serão resgatados no momento do arrebatamento (1Tessalonicenses 4 :13-18).
Fomos salvos nesta atitude de esperança. Assim como somos sustentados por esta gloriosa esperança, também o Espírito Santo nos sustenta em nossas fraquezas, como se nos agarrasse no momento exato da nossa fraqueza e antes que seja tarde demais. Ficamos muitas vezes perplexos em nossa vida de oração, não sabendo como orar como deveríamos e o fazemos de forma egoísta, ignorante, de forma restritiva. Aí é quando o Espírito vem ao nosso lado e intercede por nós com gemidos que não podem encontrar expressão (suspiros sem palavras). Neste versículo é o Espírito que geme e não nós, embora também venhamos a fazê-lo audivelmente. O importante é que as orações do Espírito Santo por nós estão sempre de acordo com a vontade de Deus. O Espírito Santo é o "outro Ajudador" (João 14: 16), que pleiteia a causa de Deus conosco como Cristo é “nosso Advogado para com o Pai” (1 João 2: 1).
1. Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.
2 Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.
3 Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne,
4 para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
5 Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito.
6 Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.
7 Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.
8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
10 E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.
11 E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita.
12 De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne,
13 porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.
14 Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.
15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.
16 O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
17 E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.
18 Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.
19 Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus.
20 Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou,
21 na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
22 Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora.
23 E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo.
24 Porque, em esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará?
25 Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.
26 E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
27 E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos.