Tendo já sido demonstrado que o crente está salvo da pena e do poder do pecado, veremos a seguir que o crente está também livre da lei de Moisés.
A maioria dos gentios desconhece essa lei, mas foi dada por Deus através de Moisés aos judeus como regra da conduta civil e religiosa para ser obedecida por todo o povo. Além deles, havia também gentios que se juntaram aos judeus e aprenderam dela.
Frente ao que estava sendo ensinado, esses que conheciam a lei ficaram na dúvida sobre se ainda deviam se submeter aos seus preceitos. Este capítulo é dirigido especialmente a eles, mas também se aplica aos que, dizendo-se cristãos, ainda hoje querem usar a lei como regra de vida mesmo depois de já terem sido justificados pela fé.
No capítulo 6:14 já lemos “... não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”, e neste capítulo esse fato é explicado com mais detalhe.
Assim como o crente deve considerar-se como morto para o pecado (cap.6:11), também morreu para a lei através da morte de Cristo. Temos aqui dois argumentos para demonstrá-lo:
A lei não tem vigência sobre o morto, e o crente morreu espiritualmente em Cristo. Sua vida nova pertence a Cristo que ressurgiu entre os mortos, para que dê fruto para Deus.
A viúva não está mais presa ao marido que morreu. Pode casar-se outra vez. Antes de se converter, o crente estava preso ao pecado e condenado pela lei que o conduzia à morte. Agora serve a Deus em um espírito novo, livre do pecado e não atingido pela lei.
O crente morreu para a lei mediante o corpo de Cristo, ou seja, o corpo humano que Ele entregou à morte. Não é mais atingido pela lei, pois está unido a Cristo ressuscitado. Um casamento foi desfeito pela morte, outro se realizou e, agora, livre da lei, pode produzir fruto para Deus.
Esse fruto contrasta com o que produzia antes, em sua natureza pecaminosa, quando dependia de si mesmo e do que podia fazer para ser aceito por Deus (“na carne” é o oposto de “em Cristo”). Era governado pelas “paixões dos pecados” suscitadas pela lei: não que a lei lhes desse origem, mas simplesmente por mencionar esses pecados e depois proibi-los, suscitava o desejo de praticá-los (como Eva e o fruto proibido).
Essas paixões dos pecados eram tentações que, quando nelas se caía, “operavam em seus membros” um fruto venenoso mortal, que é descrito assim: “a prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissenções, os partidos, s invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a essas” (Gálatas 5:19-21).
O crente foi liberto da lei a fim de servir em “novidade de espírito e não na velhice da letra”. É motivado por amor ao invés de temor, servindo em liberdade, não preso a regulamentos, rituais, convenções, formalidades e cerimônias, como no judaísmo e muitas religiões e seitas que se chamam cristãs em nossos dias – isso é “a velhice da letra”.
Surge agora outra pergunta: “A lei então é pecado?” Note-se que Paulo não disse que a lei estava morta, e a esta pergunta ele responde taxativamente “De modo nenhum”. Realmente, poderíamos ter ficado com a impressão que a lei andava de mãos dadas com o pecado, e se o ato de libertar do pecado significa libertar da lei, então devem estar em par de igualdade.
É então necessário explicar porque o crente deve conhecer e aprender da lei mesmo depois de ter sido libertado da sua condenação.
É interessante que, em sua explicação, Paulo menciona a sua experiência pessoal, referindo-se a si (47 vezes) como judeu convertido que era. Foi a luta interna por que ele passou, procurando viver para Deus antes de sua conversão, no poder da sua natureza pecaminosa. Era uma tarefa impossível.
A lei revelava a Paulo a grande maldade do pecado e espelhava o seu próprio coração. É o que faz com qualquer um, pois a Palavra de Deus reflete o que somos. Mostra o mal que temos em nós, mas a lei não tem a cura para ele. Só Deus pode curá-lo.
A lei não tem defeito, o defeito está em nossa natureza pecaminosa que herdamos de Adão. As proibições contidas na lei apontam as nossas falhas. Paulo conta que, quanto mais procurava obedecer à lei, piores se tornavam as suas falhas. Perdeu a esperança de se salvar mediante esforço próprio. Na realidade o mandamento lhe trouxe morte ao invés de vida.
A lei ainda tem a sua utilidade, pois é santa, e o mandamento, santo, justo e bom:
A lei nos faz conhecer o que é pecado: nós, porém, ao nos medirmos por ela, verificamos que somos pecadores destinados à morte.
A lei é espiritual (provém de Deus), e realça a malignidade do nosso pecado, ao qual estamos presos.
O conhecimento da lei traz conflito interior, pois, reconhecendo que a lei é boa, queremos cumpri-la, mas não conseguimos, porque somos naturalmente inclinados à desobediência. Por mais que desejemos fazer o bem, continuamos a ser dominados por interesses egoístas e falhamos.
A lei é perfeita, mas a natureza pecaminosa do homem é incapaz de cumpri-la, e traz sobre ele o castigo pela sua transgressão, a morte espiritual eterna.
Enfim, Paulo se referiu à sua situação presente, depois de ter nascido de novo. Agora ele tinha duas naturezas em conflito dentro de si, e via a impossibilidade de se livrar da tendência ao pecado com suas próprias forças.
Reconheceu que a lei é espiritual, ou seja, em si própria é santa e se adapta ao benefício espiritual do homem. No entanto ele era carnal porque não sentia que estava vencendo o poder do pecado em sua vida, e que estava “vendido sob pecado”, como um escravo cujo senhor é o pecado.
Descreve, em seguida, a luta que se trava num crente que não conhece a verdade sobre a identificação do crente com Cristo em Sua morte e ressurreição. É o conflito que se passa com o crente que quer se santificar mediante seu esforço pessoal para cumprir “o mandamento santo, justo e bom” (v.12), e se decepciona ao verificar que quanto mais luta, pior fica. Está sendo derrotado, e isso não surpreende porque a natureza humana é incapaz de conquistar o pecado e viver em santidade.
Ao agir de uma forma que a “lei do seu entendimento” condenava, fazendo o que não queria, ele consentia com a lei, que é boa (v.16). Concluiu que quem agia não era ele próprio, mas o mal que estava nele. Mas devemos tomar cuidado em não usar esse argumento como desculpa para proceder mal. Somos responsáveis pelo que fazemos. Paulo estava descobrindo a origem do seu mau procedimento, mas não se desculpando por isso.
Se dependermos somente de nós mesmos, somos desventurados, pois não podemos nos livrar dessa natureza que conduz à morte.
Finalizando, Paulo exclamou: “Mas graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” O que não podemos fazer por nós mesmos, o Senhor Jesus Cristo nos dá forças para fazer mediante o Espírito Santo que temos em nós desde que nos convertemos. Com a mente renovada, o crente serve a lei de Deus, mesmo que com a carne esteja ainda servindo à lei do pecado.
1 Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive?
2 Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido.
3 De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for doutro marido; mas, morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera se for doutro marido.
4 Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus.
5 Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte.
6 Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.
7 Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.
8 Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem a lei, estava morto o pecado.
9 E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri;
10 e o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte.
11 Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou.
12 Assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom.
13 Logo, tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno.
14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.
15 Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço.
16 E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
17 De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.
19 Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.
20 Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
21 Acho, então, esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.
22 Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus.
23 Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.
24 Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
25 Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.
Romanos capítulo 7