O fato de todo o pecado cometido pelo crente ser justificado pela graça de Deus através da morte de Cristo, não lhe dá licença para continuar vivendo em pecado.
Os capítulos anteriores de Romanos descrevem como toda a humanidade é pecadora como resultado do pecado inicial de Adão, e como Deus providenciou a justificação mediante a morte de um homem, o Seu Filho Jesus Cristo. Essa é a medida da graça de Deus, que fornece perdão a todo aquele que se arrepende do seu pecado e O busca.
Na verdade este é o âmago do Evangelho de Cristo, que tem sido pregado e recebido por milhões de pessoas por quase dois milênios.
Mas existe oposição a ele pelos religiosos, já muito forte desde o seu início, e entre as mais fortes vinha dos próprios judeus. Todos eles insistem que o próprio homem pode e deve se justificar pelas suas próprias obras, e que o Evangelho de Cristo não pode ser verdade porque torna a justificação muito fácil, e até injusta segundo as suas filosofias.
O seu argumento básico tem sido que, se o pecador é perdoado por meio de uma simples conversão a Cristo, não importando a gravidade e volume dos seus pecados, então a medida da graça de Deus varia em função do volume de pecado, e é um incentivo para que os crentes pequem ainda mais, para que Deus revele ainda mais a Sua graça com o Seu perdão ilimitado.
Disto surge a pergunta: o ensinamento do Evangelho (salvação pela graça mediante a fé somente) permite ou mesmo encoraja o crente a viver em pecado?
O primeiro versículo desta passagem consiste em um forte “NÃO”, dado pelo apóstolo Paulo a este argumento. Em seguida ele explica porque não, e discorre até o capítulo 8 sobre a santificação do crente que segue após a sua conversão.
O crente, ao converter-se, foi salvo da pena e do poder do pecado pela sua fé em Jesus Cristo, e dedicou a sua nova vida para seguir a Cristo e servir a Deus. Espiritualmente ele se uniu com Cristo, sua vida de pecado morreu, foi sepultada e desfeita para sempre, assim como Cristo morreu na cruz e foi sepultado. Em seguida nasceu de novo como nova criatura espiritual para viver para sempre, assim como Cristo ressurgiu da sepultura em um novo corpo glorioso, para voltar à presença de Deus.
Essa morte, sepultura e ressurreição do crente são simbolizados no mergulho (batismo) e levantamento da água, mediante o qual o crente dá o seu testemunho mais tarde. É obviamente batismo por imersão.
Ele não deve ignorar (v.3), mas saber (v.6, 9) que sua nova situação é a seguinte:
Está separado do poder dominador do pecado: ao ser batizado em Cristo (em sua conversão, pelo Espírito Santo), o seu “corpo de pecado” (a sua personalidade pecadora – também chamada de “velho homem”) morreu e foi sepultado com Ele (que foi crucificado e sepultado fisicamente). Sendo o “corpo de pecado assim destruído”, ele está justificado de todo o pecado: quem está morto não pode pecar.
Ressuscitou para uma vida nova: não serve mais o pecado pois não é mais o seu escravo, e sim uma nova criatura livre e inocente. Cristo, que não tinha pecado em Si, morreu de uma vez para sempre pelo pecado existente naquele findado “corpo de pecado”. Assim como Cristo foi ressuscitado pela glória do Pai para viver para sempre para Deus, também o crente agora, tendo morrido para o pecado, vive eternamente para Deus em Cristo Jesus.
Nesta nova situação, tendo o crente pela graça de Deus adquirido uma posição de perfeição, com a eterna e total isenção de pecado, cabe-lhe viver aqui no mundo de uma maneira digna dela. Também pela graça de Deus ele é ensinado como seguir o Seu caminho para assim viver.
O contraste entre as duas situações pode ser visto melhor assim:
O homem estava na escravidão do pecado, mas ao obedecer sinceramente ao Evangelho de Cristo foi libertado, graças a Deus, e se tornou, de sua livre e espontânea vontade, servo da justiça.
Estava preso à impureza e maldade, mas em sua nova situação vai se dedicar à prática da justiça para a santificação.
Sob o domínio do pecado era impossível ser justificado e o resultado das suas ações era a morte. Mas agora, libertado do pecado e transformado em servo de Deus, o crente tem por objetivo imediato a santificação da sua vida, e Deus lhe dá gratuitamente a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor, que por fim o levará ao céu para estar com Deus.
Outrora permitia que seu corpo fosse usado para o pecado, como instrumento de iniquidade. Agora, como se tivesse ressuscitado da morte, o crente vai oferecê-lo a Deus, como instrumento de justiça.
O crente sabe que o pecado não o domina mais, porque morreu para o pecado e recebeu o Espírito Santo em sua vida, que lhe dá poder para viver uma vida santa. Ele não está mais debaixo da lei e sim da graça. A lei lhe dizia o que fazer, mas não lhe dava o poder de cumprir as suas exigências. Até o acordava para desejos e cobiças em seu “corpo de pecado” para o que era proibido – via o fruto proibido como sendo “agradável aos olhos e bom de se comer”.
Em sua nova vida o crente é motivado pelo amor ao Salvador, não por medo de castigo. A graça de Deus produz santidade de vida mediante a ação do Espírito Santo no crente que se enche d’Ele.
É a graça de Deus que coloca o crente na sua nova situação, e depois o ensina a viver de uma maneira digna dela. A posição em que agora se encontra é absolutamente perfeita porque está em Cristo. O crente não vai aproveitar-se dela para pecar novamente, tendo já aprendido que quem desobedece a Deus coloca-se debaixo do pecado para a morte, mas quem é obediente é feito servo da justiça.
O seu modo de viver deverá corresponder cada vez mais à posição em que se encontra. O crente está livre da lei, mas não é um desregrado. A graça dá liberdade para viver para servir ao Senhor, mas não para pecar contra Ele. A pergunta no versículo 15 pode ser entendida assim: “podemos pecar um pouquinho só?” mas a resposta é “de modo nenhum”. Deus não pode passar por cima de qualquer pecado, por menor que seja. Como servo de Deus, o crente não pode novamente servir o pecado.
Antes da sua conversão, o homem é escravo do pecado, e “está livre em relação à justiça” (v.20). Isto quer dizer que não se sente na obrigação de praticar a justiça. Pratica o pecado e se encontra condenado à morte por ele – porque então praticar a justiça?
O crente não chegará à perfeição enquanto não se encontrar com o Salvador no céu, mas enquanto isso vai se conformar cada vez mais à Sua imagem aqui.
Voltando à pergunta inicial, em resumo o que aprendemos aqui nos sugere quatro respostas adequadas:
O crente não pode continuar pecando depois da sua conversão porque está unido a Cristo (versículos 1 a 11).
O crente não precisa continuar pecando depois da sua conversão porque o domínio do pecado foi destruído pela graça de Deus (versículos 12-14).
O crente não deve continuar pecando, porque o colocaria novamente sob o jugo do pecado (versículos 15 a 19).
Não é aconselhável ao crente continuar pecando porque terminará em desastre (versículos 20 a 23).
1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça?
2 De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?
3 Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?
4 Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.
5 Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição;
6 sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado.
7 Pois quem está morto está justificado do pecado.
8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos,
9 sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele.
10 Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus.
11 Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.
12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.
14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?
17 Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;
18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniqüidade para iniqüidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação.
20 Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres em relação à justiça.
21 E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? pois o fim delas é a morte.
22 Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.
23 Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.
Romanos capítulo 6