Pedro, o autor, era um pescador apresentado a Jesus Cristo por seu irmão André (João 1.41), e foi chamado mais tarde por ele (Lucas 5.1) e escolhido para ser um de seus apóstolos (Marcos 3.14). É o primeiro nas listas de nomes dos apóstolos na Bíblia (Mateus 10.2, Marcos 3.16; Lucas 6.4; Atos 1.13), mas não deve ser colocado acima dos outros apóstolos. Em nenhum lugar Pedro se diz superior, nem a Bíblia lhe dá pre-eminência sobre os outros.
A carta é endereçada aos “peregrinos” da dispersão em cinco províncias romanas do Oriente Médio, agora na Turquia moderna. Seriam os judeus cristãos naqueles lugares (ver João 7.35; Atos 2.5, 9,10; Tiago 1.1) e igualmente os gentíos convertidos (Romanos 9.24-25; Efésios 2.13-14). Mas o ensino dado na carta é para todos os crentes, judeus ou gentíos, que forem “esses eleitos” (v.2).
Os crentes “são eleitos”, ou escolhidos, para a obediência a Deus, santificados (separados, consagrados) pelo Espírito Santo, tudo de acordo com a presciência de Deus. A presciência é um dos atributos divinos: o passado, o presente e o futuro são igualmente claros para Deus. Os pre-conhecidos são eleitos, e os eleitos são predestinados, e cada crente é eleito pelo mero fato que crê (1 Tessalonicenses 1.4, 5). Deus não impõe a fé (ou descrença), mas sabe de antemão os que crerão e já os escolheu para serem filhos consagrados e obedientes.
O Senhor Jesus disse, “Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei”(João 6:37 - NVI). Seu convite a “todos os que estão cansados e oprimidos” é, “venham a mim” (Mateus 11:28 - NVI). É um convite aberto a todos, mas exige uma resposta, e a resposta é da responsabilidade de quem deseja aceitar. A doutrina da eleição é revelada para incentivar os crentes. Não limita a oferta de salvação somente a eles (Marcos 16.15-16; 1 Timóteo 2.4), mas refere-se ao caráter do crente que recebeu a salvação e a vida eterna: tal pessoa é escolhida, não para crer, mas para santificar-se, para servir, para adorar, para obedecer. A eleição tem sempre em vista nosso estado de honra e privilégio como uma pessoa pertencente a Deus.
A aspersão de sangue é uma referência à morte de Cristo na cruz e à ratificação do novo testamento pelo seu sangue (Êxodo 24.6-8; Mateus 26.28; Marcos 14.24; Hebreus 9.19; 12.24). A vida material está no sangue. Ele verteu o Seu sangue para que nós pudéssemos ter vida espiritual, e é suficiente para saldar o nosso débito a Deus, fazendo a expiação pelos nossos pecados, assim afastando a ira de Deus pelo pecado e fornecendo a base para a nossa justificação. Seu sacrifício foi suficiente para cuidar não somente do passado, mas de prover igualmente pela nossa necessidade presente e futura (Hebreus 10.22; 12.24).
O cumprimento “graça e paz vos sejam multiplicadas” pode ter sido usual entre judeus e cristãos naqueles dias. A graça e a paz de Deus são conteúdo da bênção que os sacerdotes deviam dizer ao povo (Números 6.22-27), e as palavras são repetidas através do Novo Testamento. “Graça” é o favor não merecido que Deus nos concede e “paz” é ainda hoje o cumprimento padrão entre os judeus (Shalom), relacionado com o bem estar e a tranquilidade interna. Para o cristão é a garantia da graça de Deus e da presença do Senhor Jesus em nossas vidas.
Este cumprimento resume a finalidade desta carta: uma compreensão maior da graça de Deus, a fim dar aos leitores a paz em suas provações. Os cristãos entre os judeus foram sempre perseguidos por seus compatriotas; o império romano começou a oprimir severamente todos os cristãos desde o ano 63 AD. Esta carta lembra-os que a graça divina sustentará os crentes no meio do sofrimento e que, em todas as circunstâncias, eles devem se distinguir pela sua santidade.
Deus o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser louvado: é o autor de nossa salvação (Tito 1.3; 2.10; 3.4). É o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio ao mundo por nós, morreu por nós, e intercede agora no céu por nós. Deus é seu Pai de maneira singular, por causa do seu relacionamento eterno na Trindade. Deus é nosso Pai somente porque nos adotou como seus filhos quando recebemos seu Filho como nosso Salvador pessoal. O Senhor Jesus fêz esta distinção quando falou a Maria Madalena na manhã de sua ressurreição: “….eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (João 20:17).
Duas bênçãos resultam desta salvação por Deus Pai, um nascimento novo e uma esperança viva:
o nascimento novo é a regeneração operada pelo Espírito Santo em nós. Como seres humanos somos criação de Deus, mas o pecado separou-nos do Santo Deus, que é a morte espiritual. Nossa fé no Senhor Jesus reconcilia-nos para sempre com Deus, que é a vida eterna, e assim nascemos outra vez para ser filhos de Deus. Pertencer a uma família divina significa que Deus é verdadeiramente nosso Pai no céu em todos os sentidos.
a esperança viva nos foi dada pela ressurreição de Jesus Cristo dos mortos, sendo uma garantia confiável da glória e da bênção futuras, envolvendo não somente a vida eterna por causa de Sua vitória sobre a morte, mas igualmente uma herança no céu e uma salvação a ser revelada na sua vinda. Tudo que Cristo disse, e fêz, foi confirmado por sua ressurreição, incluindo a autenticidade da sua identidade como o Filho de Deus (Romanos 1:4). A esperança viva é a fé que olha agora para o futuro, sabendo que Deus cumpre as Suas promessas. A herança, ou o legado, não pode perecer (é incorruptível), ou macular-se (incontaminada), nem perder o seu valor (imarcescível). Os israelitas receberam uma herança terrestre como o SENHOR prometeu, mas a nossa está no céu. A palavra “reservada” significa que a herança de cada um de nós realmente existe e já está guardada em um lugar seguro. Temos uma herança vindo para nós algum dia!
Mediante a fé, pelo poder de Deus, estamos habilitados a viver a vida cristã no mundo. Enquanto estivermos aqui estamos salvos da penalidade do nosso pecado, e protegidos do poder do pecado. Mas quando o Senhor Jesus vier no “último tempo” seremos também aliviados da presença, das provas e das tentações do pecado, das lutas e da perseguição, gozaremos toda a amplitude da salvação, e estaremos para sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4.17), seremos como Ele é (1 João 3.2), e participaremos do “gozo do nosso Senhor” (Mateus 25.21, 23).
O crente exulta muito nesta esperança viva, mesmo que tenha que resistir à perseguição e às provações, apenas por um pouco comparado com sua recompensa eterna. Nossa fé vale a pena mais do que todas as riquezas mundanas; é bom ser provado com a tribulação, para que a fé possa ser manifestada como genuína, resultando em louvor, glória e honra quando Jesus Cristo for revelado (Mateus 25.21, 23; 1 Corinthians 4.5).
O Senhor Jesus disse a Tomé “bem-aventurados aqueles que não viram e creram” (João 20.29). Isto é aplicável a nós, que, não vendo nosso Salvador pessoalmente, mesmo assim O amamos e cremos nEle, e exultamos grandemente “com gozo inefável e cheio de glória”, sabendo que estaremos alcançando o fim da nossa fé: a salvação de nossas almas. É indizível porque desafia a lógica humana.
Esta salvação foi anunciada primeiramente pelos profetas do Velho Testamento, que falaram dos sofrimentos seguidos pela glória do Messias, e que a graça salvadora de Deus seria estendida aos Gentíos; mas nem sempre compreenderam o significado das suas palavras. Foi anunciada outra vez pelos apóstolos, igualmente inspirados pelo Espírito Santo. Os profetas antigos compreenderam que foi para nós - os crentes desta era – que tinham escrito. Desta maneira, o Evangelho do Novo Testamento é intimamente ligado aos ensinos do Velho Testamento, sendo que ambos foram dados pelo mesmo Espírito de Deus. Mesmo os anjos estão atentos a estas coisas. Será que nós, os herdeiros, pensamos sempre nas coisas que são de cima? (Colossenses 3.2)
R David Jones
1 Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia.
2 eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.
3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
4 para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada nos céus para vós,
5 que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo;
6 na qual exultais, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais contristados por várias provações,
7 para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;
8 a quem, sem o terdes visto, amais; no qual, sem agora o verdes, mas crendo, exultais com gozo inefável e cheio de glória,
9 alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.
10 Desta salvação inquiririam e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que para vós era destinada,
11 indagando qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo que estava neles indicava, ao predizer os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.
12 Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos bem desejam atentar.
1 Pedro capítulo 1: ver. 1 a 12