A igreja de Antioquia possuía profetas e mestres, dados pelo Senhor Jesus “tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” junto com os apóstolos, os evangelistas e os pastores “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus” (Efésios 4:11-13).
Distinguimos os profetas como sendo aqueles que recebiam revelações diretamente de Deus e as transmitiam aos outros, algumas vezes concernentes a coisas que iam acontecer proximamente. Esse dom, junto com o dom de línguas, foi provisório apenas (1 Coríntios 13:8).
Os mestres tinham o dom de ensinar e orientar a igreja de maneira clara e compreensível, já tendo sido por sua vez instruídos nas Escrituras e no Evangelho. Os apóstolos foram aqueles indicados pelo Senhor Jesus pessoalmente (os Onze e Paulo).
Em Antioquia estavam:
Barnabé, importante colaborador de Saulo, vindo da igreja em Jerusalém.
Simeão, chamado Níger (“negro”), talvez sua cor. Seria o mesmo que carregou a cruz de Cristo? (Marcos 15:21).
Lúcio, vindo de Cirene no norte da África, provavelmente um dos evangelistas pioneiros e parente de Saulo (Romanos 16:21).
Manaém, que havia sido criado com Herodes o tetrarca, tendo possivelmente sido educado com ele em Roma.
Saulo, o apóstolo, fechando a lista.
Como em todas as igrejas primitivas, não havia um líder sobre todos, mas cada um contribuía com o seu dom para o benefício da igreja.
Um dia, enquanto estavam ministravam (adoravam, exortavam a igreja) ao Senhor e jejuavam, o Espírito Santo lhes disse que separassem Barnabé e Saulo para a obra a que os tinha chamado. Não sabemos como foi transmitida essa ordem, mas todos a compreenderam e imediatamente obedeceram, terminada a oração e o jejum. Temos aqui mais uma prova da personalidade individual do Espírito Santo.
O jejum fazia parte do culto dos judeus (Lucas 18:12), e continuou sendo feito nas igrejas depois que eles se convertiam. Os crentes não foram instruídos a jejuar, mas muitos ainda hoje o praticam quando querem dedicar um período de tempo inteiramente a exercícios espirituais, para enfrentar uma séria emergência, etc.
Deus precisava dos dois para o trabalho missionário em outros lugares, e os demais “depois que jejuaram, oraram e lhes impuseram as mãos, os despediram”. Impor as mãos era também costume dos judeus, sendo aqui uma expressão visível da sua solidariedade com Barnabé e Saulo, a quem estavam despedindo para desempenhar a obra de Deus. Era um gesto simbólico, apenas.
O versículo 4 é o início do que se costuma chamar a primeira viagem missionária de Paulo, que termina no capítulo 14:26. Paulo e Barnabé já haviam se envolvido na obra do Senhor por uns oito anos, e depois desta viagem ele fez mais duas, na segunda indo até a Grécia, e na terceira visitando novamente as igrejas onde estivera nas primeiras duas e em seguida a província da Ásia e a cidade de Éfeso. O trabalho de evangelização missionária de Paulo lhe tomou uns quinze anos ao todo.
Paulo e Barnabé foram primeiro à ilha de Chipre, a terra de Barnabé, tendo embarcado em Selêucia que era o porto de Antioquia.
Salamina era o porto de desembarque, e os dois foram logo anunciar o Evangelho, indo primeiro para as sinagogas dos judeus, seguindo o plano de Deus, pois o Evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” (Romanos 1:16). João Marcos, primo de Barnabé, também estava ali e os auxiliou. Era costume nas sinagogas convidar os visitantes para transmitir uma mensagem, e eles assim fizeram.
Terminada a tarefa em Salamina, da qual não sabemos o resultado, atravessaram a ilha toda até chegarem à sua capital, Pafos.
Ali tiveram a oposição de um certo homem chamado Bar-Jesus, que significa “filho de Jesus”. Também conhecido como Elimas, que significa “mágico”, ele era um dos muitos falsos profetas judeus místicos comuns naquele tempo, e que exerciam muita influência sobre os menos instruídos.
Elimas ocupava a importante posição de assessor ao procônsul Sérgio Paulo. Um procônsul era nomeado pelo senado romano, e Sérgio Paulo era um “homem sensato”, disposto a ouvir o que Saulo e Barnabé tinham para anunciar: a Palavra de Deus. Ele obviamente havia deixado a idolatria dos romanos, andava desconfiado das profecias e artes mágicas do Elimas e queria ouvir algo diferente.
Elimas, ouvindo os evangelistas testemunharem a sua experiência real com Cristo e a mensagem da salvação mediante a fé nEle, percebeu que ele próprio estava sendo diminuído e mesmo desmascarado por eles, e os resistiu tentando desviar a nascente fé de Sérgio Paulo.
Mas Saulo, que também se chamava Paulo como o procônsul, estava cheio do Espírito Santo e a Sua presença se fez notar imediatamente: chamou-o de “filho do diabo” (ao invés de “filho de Jesus”) e declarou o que Elimas realmente era: um inimigo de tudo o que é justo, cheio de toda a espécie de engano e maldade, dedicado a perverter os retos caminhos do Senhor.
Ainda hoje o Evangelho sofre a oposição dessa espécie de gente, sejam eles os sacerdotes de instituições ditas cristãs, os líderes de seitas que atraem adeptos mediante falsos milagres e curas, os espíritas, maçons e outros praticantes de feitiçaria. A luz do Evangelho abre os olhos dos seus seguidores para ver as suas falsidades, e por isso sofre a sua oposição, às vezes violenta.
Como prova que a mão do Senhor estava contra Elimas, Paulo (notem que a partir daqui ele é chamado por este nome) declarou que Elimas ficaria cego e incapaz de ver a luz do sol (a mais forte possível) durante algum tempo. Aconteceu imediatamente, tanto que, tateando, ele procurava quem o guiasse pela mão.
Como Elimas, a nação de Israel não só rejeitou o Senhor Jesus, mas procura impedir que outros venham ao conhecimento da salvação pela fé em Seu Nome. Israel, portanto, foi cegado por Deus (Romanos 11:8,10), mas só por um tempo. Eventualmente, após o arrebatamento por Cristo da Sua igreja, um remanescente arrependido se voltará a Cristo (Romanos 11:25-27), aceitando-O como Messias, e formará o novo reino abençoado de Israel no milênio.
O proconsul, já tendo ouvido a mensagem do Evangelho, e vendo agora a prova do poder de Deus, creu e se salvou em Jesus Cristo. Não foi uma simples adoção de uma religião liderada por Paulo (que continuou a sua viagem em seguida): Sérgio Paulo estava profundamente impressionado com o ensino do Senhor Jesus Cristo, e O recebeu como Salvador e Senhor da sua vida.
Não são fornecidos detalhes da formação de uma igreja em Pafos, o que não significa que não aconteceu. Barnabé e Marcos voltaram para Chipre mais tarde (cap.15:39).
A mudança do nome hebraico de Saulo (Saul), próprio para os judeus, para o nome gentílico Paulo, assinala a mudança do auditório deste servo de Deus, que se dedicará ao seu apostolado aos gentios (Romanos 11:13) como o Senhor o havia destinado.
1 Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo.
2 Enquanto eles ministravam perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.
3 Então, depois que jejuaram, oraram e lhes impuseram as mãos, os despediram.
4 Estes, pois, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.
5 Chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus, e tinham a João como auxiliar.
6 Havendo atravessado a ilha toda até Pafos, acharam um certo mago, falso profeta, judeu, chamado Bar-Jesus,
7 que estava com o procônsul Sérgio Paulo, homem sensato. Este chamou a Barnabé e Saulo e mostrou desejo de ouvir a palavra de Deus.
8 Mas resistia-lhes Elimas, o encantador (porque assim se interpreta o seu nome), procurando desviar a fé do procônsul.
9 Todavia Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos nele,
10 disse: ó filho do Diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os caminhos retos do Senhor?
11 Agora eis a mão do Senhor sobre ti, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. Imediatamente caiu sobre ele uma névoa e trevas e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão.
12 Então o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhando-se da doutrina do Senhor.
Atos, capítulo 13, vers. 1 a 12