Os discípulos de João: isto aconteceu no terceiro dia desde o versículo 19. João Batista estava de pé com dois dos seus discípulos: eram André (versículo 40), e o outro provavelmente era João, o escritor deste livro. Eles olhavam para Jesus, que passava, e João Batista lhes disse "Eis o Cordeiro de Deus", assim identificando-O claramente para os outros dois. Ao que sabemos esta foi a terceira e última vez que João pessoalmente viu Jesus: no batismo (Luke 3:29) e no testemunho (versículo 29) foram as primeiras duas.
Eles seguiram Jesus: deixaram João Batista porque tinha completado a sua missão de prepará-los, tendo já predito e identificado o Messias, a quem batizou, interpretou e agora pela segunda vez apresentou de forma que poderiam segui-lO. Com isto eles creram e agiram.
Que buscais? Ao se voltar e ver que O seguiam, Jesus lhes faz esta pergunta, significando "qual é o seu propósito?" Isto nos lembra que Ele só pode ser de ajuda se nós O buscarmos pelas razões corretas: poderíamos estar pedindo para Cristo nos seguir e apoiar e avançar nossa causa, não a Sua. Estamos nós buscando a glória dEle ou a nossa?
Mestre, onde pousas? A palavra Rabi vem do título arameu para "Professor", que João aqui traduz para o benefício dos leitores geral. Estes discípulos novos usaram vários nomes para Jesus: Cordeiro de Deus (versículo 36), Rabi (versículo 38), Messias (versículo 41), Filho de Deus (versículo 49), Aquele de quem Moisés e os Profetas Escreveram (versículo 45), e Rei de Israel (versículo 49).
Os discípulos se dirigiram a Jesus no princípio como Mestre (Professor) enquanto outros o endereçaram como Senhor (por exemplo, João 4:11, 49; 5:7; 6:68). No fim os discípulos disseram normalmente Senhor (João 13:6, 25, etc.) Estes provavelmente queriam Lhe fazer uma visita para aprender d’Ele. Estes foram os Seus primeiros discípulos, junto com o irmão de André, Simão (versículo 42), Felipe (versículo 43) e Natanael (versículo 45).
Vinde e vereis: um convite cortês e uma promessa. Eles assim fizeram e permaneceram com Ele aquele dia. João usou o horário romano, portanto o encontro aconteceu às dez horas da manhã. João nunca esqueceu a hora exata quando primeiro veio a conhecer o seu Senhor.
Um... era André: João nos apresenta André como um dos dois discípulos do Batista e irmão do mais famoso Simão (cf. também João 6:8; João 12:22). O chamado para o trabalho de André e Simão, Tiago e João, vem mais tarde (Marcos 1:16; Mateus 4:18; Lucas 6:14).
Havemos achado o Messias: antes de fazer mais nada, André buscou o seu próprio irmão Simão, e o trouxe a Jesus. André e João tinham feito a maior descoberta de todos os tempos, pois depois de ouvir João Batista falar dele, eles O viram e falaram com Ele. O título Messias (O Ungido) é preservado do hebraico só aqui e em João 4:25 no Novo Testamento; nos outros lugares é traduzido para o grego Christos.
Tu serás chamado Cefas: Jesus olhou para Simão e, aparentemente antes de Simão falar, deu-lhe imediatamente um apelido pelo qual seria conhecido mais tarde depois de fazer uma declaração fundamental (Mateus 16:16) e Jesus lhe disse que era Pedro. O nome arameu Cêphâs (pedra) só é dado a Simão neste Evangelho e por Paulo (1 Coríntios 1:12; Gálatas 1:18, etc.). Mas o Petros grego é usado por todos. Petros, em grego antigo, era um grande fragmento destacado da borda de uma rocha, denominada Petra. Em Mateus 16:18 Pedro é Petros, o fragmento, e a igreja é construída sobre Petra, a borda volumosa que é Cristo. Todos os crentes são fragmentos dessa rocha (1 Pedro 2:4-8).
Segue-me: no quarto dia Jesus achou Felipe, possivelmente através de André e Pedro (André e Felipe são nomes gregos). Segue-me é presente do imperativo, uma ordem do Mestre para Felipe. Jesus usou este verbo com frequência para chamar os discípulos (Marcos 2:14; Mateus 8:22; 9:21; 19:21; Lucas 9:59; João 21:19). Jesus já tinha começado o Seu trabalho com quatro acompanhantes pessoais (André e Simão, João e Tiago). Felipe era da mesma cidade que André e Pedro, Betsaida da Galiléia, e estaria inclinado a seguir o exemplo dos seus concidadãos.
Donde me conheces? Felipe havia continuado o trabalho chamando Nathanael. Natanael é um nome hebreu significando “dádiva de Deus”. Ele era de Caná da Galiléia (João 21:2), não longe de Betsaida e assim conhecido por Felipe. O nome dele não aparece nos outros Evangelhos, enquanto que Bartolomeu (um sobrenome, Filho de Tolomeu) não aparece em João. É quase certo que se trata da mesma pessoa, de nome Felipe Bartolomeu.
Felipe identificou Jesus, filho de José, de Nazaré, como sendo Aquele de quem Moisés falou na lei e também os profetas. Jesus passava por filho de José (não o filho, pois havia outros). João o descreveu como o Unigênito Filho de Deus, mas Natanael naturalmente não sabia ainda disso.
Natanael duvidou que algo de bom sairia de Nazaré. Os fariseus ensinavam que nenhum profeta surgiu da Galiléia, onde estava Nazaré (João 7:52), o que era falso como muitas outras das suas declarações (Jonas, Oséias, Naum, possivelmente também Elias, Eliseu e Amós eram todos da Galiléia) e pode ter havido rivalidade de cidades pois Natanael era de Caná, que estava perto de Nazaré. Sem discutir, Felipe disse simplesmente “Vem e vê”, como Jesus fez com o André e João (versículo 39), provavelmente sem saber disto.
Jesus, vendo Natanael aproximar-se, declarou que ele era um verdadeiro israelita, em que não havia dolo. Significava que fazia jus ao nome com que Jacó (enganador) havia sido honrado por Deus, sem ser enganador. Natanael, surpreso, indagou de onde Jesus o conhecia. Jesus lhe informou que já o havia visto debaixo da figueira antes de Natanael encontrá-lo. Sugere-se que a figueira estaria coberta de folhas nesta época do ano, e que Natanael teria se retirado para um lugar mais oculto embaixo dela a fim de orar a Deus, tendo sido visto ali pelo Senhor onde ninguém mais o poderia ter visto.
Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel. Natanael aceitou isto como prova de que Jesus era realmente “Aquele de quem Moisés e os profetas falaram”, e, conforme as Escrituras, era “o Filho de Deus e o Rei de Israel” (Salmo 2:6 e veja João 12:13).
Coisas maiores do que estas verás! Sem dúvida a admiração de Natanael, que não cultivou nenhuma dúvida, foi aumentando à medida que o Senhor continuou o Seu ministério. Ele testemunharia muitos sinais e milagres durante o seu discipulado. A expressão traduzida “em verdade, em verdade” é a palavra hebréia amém, dita duas vezes: isto só é encontrado nas palavras de Jesus e, como a expressão “vos digo”, é indicativo da maneira de Cristo falar com a Sua autoridade.
Ele também incluiu os outros presentes quando anunciou a cena do céu aberto. As palavras nos lembram do que aconteceu no batismo de Jesus (Mateus 3:16; Lucas 3:21), mas a inferência imediata é do céu aberto como símbolo de relacionamento livre entre Deus e o homem (Isaías 64:1) e do que foi ilustrado após a morte de Estêvão (Atos 7:56).
O que era um sonho para Jacó (Gênesis 28:12), foi realizado em Cristo: "Eu sou o Caminho", Jesus disse. Mais tarde Ele disse a Caifás que ele veria o Filho do homem assentado à direita do Poder e vindo com as nuvens do céu (Marcos 14:62), referindo-se à Sua volta para dar início ao Seu reino milenar.
35 No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos
36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus!
37 Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.
38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde pousas?
39 Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima.
40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar, e que seguiram a Jesus.
41 Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Havemos achado o Messias (que, traduzido, quer dizer Cristo).
42 E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).
43 No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galiléia, e achando a Felipe disse-lhe: Segue-me.
44 Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.
45 Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
46 Perguntou-lhe Natanael: Pode haver coisa bem vinda de Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê.
47 Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!
48 Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.
49 Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel.
50 Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? coisas maiores do que estas verás.
51 E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.
Evangelho de João, capítulo 1 versículos 35 a 51