O Senhor Jesus a esta altura chamou o vacilante, decaído, errante discípulo Simão Pedro para servi-lo. A grande lição para nós é que o amor pelo Salvador é a condição prévia para a prestação de serviço.
Três vezes o Senhor Jesus interrogou Pedro, três vezes ele respondeu, e cada vez o Senhor deu-lhe sua tarefa. Por que três vezes? Parte da razão pode ter sido o fato que, como Pedro publicamente negou a Cristo três vezes, ele agora teve que declarar publicamente a sua devoção também três vezes.
Simão filho de João (mais tarde chamado Pedro), com os outros discípulos, tinha sido chamado para ser um apóstolo após uma pesca milagrosa (Marcos 1:16-19, Lucas 5:4-11): foi depois que o Senhor assumiu a controle sobre a sua pesca que suas redes ser romperam, e depois disto ele os nomeou como apóstolos. Pedro falhou em sua tarefa quando negou o Senhor, em torno da fogueira no pátio do palácio do sumo sacerdote. Agora, novamente junto ao mar da Galileia, após uma milagrosa pesca, junto a brasas de fogo, Cristo restaurou a sua tarefa e o colocou novamente em serviço. As três perguntas não são idênticas, embora muito semelhantes, pois no original grego são diferentes entre si.
A primeira pergunta foi: “Simão, filho de João, amas Me mais do que estes?” Ele se chamava Simão (de Simeon, audição), não o nome que lhe havia dado, Pedro (pedra).
Existem duas palavras diferentes na língua grega que são traduzidas em português para “amor”, por não haver outras palavras distintas: “phileô”, significado amizade, ternura espontânea, e “agapaô”, a palavra mais alta e nobre para indicar devoção, amor por escolha pessoal, uma palavra de dignidade e também uma palavra divina, pois é a palavra usada para falar do amor de Deus.
O Senhor usou a palavra agapaô quando fez esta pergunta. Isso significava “és mais devotado a mim do que estes”? Pedro tinha mesmo gabado que ainda que todos O abandonassem, ele não O abandonaria (Marcos 14:29). Não sabemos o que se passou entre o Senhor Ressuscitado e Pedro quando se encontraram pela primeira vez em particular (Lucas 24:34), mas aqui Cristo o sondou diante dos outros discípulos para ver se tinha a dedicação e humildade necessária para a tarefa.
Simão Pedro respondeu que sim, ele O amava, mas não pretendeu ter devoção superior, pois usou a palavra mais humilde “phileô”. Significava que era amigo do Senhor, e que o Senhor já sabia disso (apesar da sua conduta). Mas agora já não tinha suficiente confiança em si próprio para dizer que era devotado ao Senhor, muito menos para dizer que era mais dedicado que os outros. Havia se tornado humilde.
O Senhor respondeu "apascenta (como um pastor) meu cordeirinhos". A palavra cordeirinhos, diminutivo de cordeiro, representa os novos convertidos que precisam de ensino básico, como os cordeirinhos recém-nascidos precisam de leite.
A segunda pergunta foi: “Simão, filho de João, amas-me? Desta vez o Senhor abandonou as palavras “mais do que estes” mas insistiu na palavra “agapaô”, isto é, você é devotado a Mim? Aceitou que Pedro tinha desistido de vangloriar-se, mas lhe deu uma segunda oportunidade para declarar que o seu amor era mais do que simples amizade.
Em resposta Pedro repetiu as mesmas palavras que disse antes, não ousando expressar a sua devoção por sentir-se incapaz.
O Senhor respondeu desta vez "pastoreia as minhas ovelhas". As ovelhas são todos os crentes que partilham o amor de Cristo, que precisam ser cuidadas, incluindo o exemplo e a liderança de seus líderes, chamados variadamente bispos, anciãos e presbíteros na Bíblia (1 Pedro 5:1-4).
A terceira pergunta foi: “Simão, filho de João, amas-me? Mas Cristo agora adotou a palavra “phileô” usada por Pedro, um desafio quanto à simples amizade de Pedro. Desta vez Pedro sentiu-se ofendido - não tanto porque o Senhor tinha lhe perguntado a mesma coisa três vezes, mas porque o grau do seu amor pelo Senhor tinha, em três fases, sido questionado até ao nível que ele afirmara ter.
Mesmo a sua amizade estava agora sendo contestada. Em sua resposta estava implícito que tudo o que podia dizer era que tinha afeição pelo Senhor, e que o Senhor sabia da mesma forma que sabia tudo. Agora não estava se ostentando, pois percebeu que o Senhor conhecia o seu coração; então foi modesto quanto à extensão da sua devoção.
A terceira instrução foi "apascenta minhas ovelhas". Depois de receber ensino básico (1 Coríntios 3:2, Hebreus 5:12,13), os crentes precisam do sólido alimento da Palavra de Deus (Hebreus 5:14), ensinado por aqueles que tenham aprendido para si e foram doados pelo Espírito Santo. Todos os bispos/anciãos/presbíteros devem ser capazes de ensinar (1 Timóteo 3:2; Tito 1:9).
O teste de qualquer crente hoje ainda é “você Me ama com devoção?” É maravilhoso ter a doutrina certa e a fé certa, mas a salvação e o serviço são uma questão de dedicação voluntária. É superior à fé e à esperança (1 Coríntios 13:13).
O Senhor acrescentou que na sua velhice Pedro seria amarrado e levado onde não queria, significando a morte com que iria glorificar Deus, embora os pormenores, felizmente, não lhe foram explicados. Pedro tinha dito que daria a sua vida pelo Senhor Jesus, e isto era o que iria oportunamente fazer. Ele compreendeu (2 Pedro 1:14).
Apesar do que o futuro aguardava, ele devia seguir o Senhor. Podemos estar incertos e temerosos sobre o nosso futuro, mas devemos, como Pedro, confiadamente seguir o nosso Professor, Senhor e Salvador, pois Ele tem cuidado de nós.
Subitamente Pedro se virou e viu João ouvindo tudo isso - considerado o mais jovem dos discípulos - e ficou curioso em saber o que iria acontecer com ele. Também temos a tendência de comparar as nossas vidas com as dos outros, para verificar o nível de devoção a Cristo ou talvez mesmo para ver se somos tratados melhor - ou pior – do que eles.
O Senhor censurou a grande curiosidade de Pedro e deixou claro que a forma como trataria João, para que vivesse ou não até a Sua volta, não era da conta de Pedro. Pedro devia se envolver apenas em segui-Lo. A ignorância, ou a falta de conhecimento, não é desculpa para não servir o Senhor. Há muitas coisas que nunca chegaremos a saber, há muitas coisas que não precisamos saber e há coisas que não nos compete saber. O importante é vigiar nossa conduta, e seguir e servir a Ele em absoluta confiança.
Pedro ou outros chegaram a uma conclusão errônea sobre o que Cristo disse e espalharam entre os irmãos que João continuaria vivendo até a volta do Senhor. João não cometeu esse erro, e repetiu neste Evangelho exatamente o que fora dito. O que ilustra o ditado em inglês "maravilhas vejo na Bíblia, coisas colocadas por você e por mim...”, e é uma advertência para não inferir do texto bíblico algo que não está lá, nem dar à tradição não bíblica qualquer autoridade sobre as Escrituras.
O versículo 24 identifica "o discípulo a quem Jesus amava" como sendo o escritor deste livro. Por estar no plural, este versículo foi provavelmente acrescentado por um grupo de discípulos para assegurar a identidade do autor e a honestidade do seu testemunho. Era possivelmente um grupo de presbíteros em Éfeso, onde João ministrou por muito tempo.
O último versículo volta ao singular, escrito por João. É uma hipérbole natural, ilustrando a vastidão do trabalho e das palavras de Cristo, dos quais fez uma pequena seleção (capítulo 20:30), resultando em um dos mais grandiosos livros da Bíblia, que nos dá um vislumbre da glória de Deus na pessoa de Jesus Cristo.
O propósito declarado por João para escrever o seu Evangelho foi para mostrar que Jesus era o Filho de Deus. Apresentou a sua evidência de forma clara e sistemática. Quem ouve depoimentos num tribunal deve fazer uma escolha. Quem lê este Evangelho também deve fazer uma escolha: Jesus é o Filho de Deus, ou não? As provas são apresentadas com clareza. Você tem que decidir. Aceite-o e seja salvo!
15 Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu- lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos.
16 Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas.
17 Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas- me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.
18 Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queres.
19 Ora, isto ele disse, significando com que morte havia Pedro de glorificar a Deus. E, havendo dito isto, ordenou-lhe: Segue-me.
20 E Pedro, virando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, o mesmo que na ceia se recostara sobre o peito de Jesus e perguntara: Senhor, quem é o que te trai?
21 Ora, vendo Pedro a este, perguntou a Jesus: Senhor, e deste que será?
22 Respondeu-lhe Jesus: Se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso? Segue-me tu.
:23 Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não disse que não morreria, mas: se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso?
24 Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.
25 E ainda muitas coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem.
Evangelho de João, capítulo 21, versículos 15 a 25