Se a crucificação foi na quarta-feira, feita uma análise cuidadosa na Bíblia ao invés de seguir tradições, seis dias antes seria a quinta-feira prévia antes do pôr-do-sol. Betânia tinha se tornado um lugar de perigo depois da ressurreição de Lázaro e da consequente ira do sinédrio (capítulo 12:9-11).
Este episódio também é contado nos Evangelhos de Mateus (Mateus 26:6-13) e Marcos (Marcos 14:3-9); eles não mencionam Maria por nome e há algumas pequenas diferenças que são facilmente reconciliadas. Eles acrescentam que a ceia aconteceu na casa de Simão “o leproso”, provavelmente um homem que tinha sido curado da sua lepra pelo Senhor, e deu esta ceia em Sua honra.
Simão era um nome muito comum e alguns comentaristas asseguram que era a casa de Marta porque foi ela quem serviu (João 12:2) e aquele Simão poderia ser o pai ou marido de Marta; poderiam no entanto ser apenas amigos e vizinhos e Marta estaria seguindo a tendência dela de ser prestativa. Os convidados eram o Senhor, os doze apóstolos e Marta, Maria e Lázaro.
Tais refeições ou ceias, era banquetes familiares comuns na ocasião das três festas anuais em Jerusalém e se realizavam ao entardecer. Dava-se aos convidados água para lavar e óleo perfumado para ungir as suas cabeças (Lucas 7:38; Marcos 7:4), depois reclinavam à mesa e o dono da casa presidia sobre a refeição. Se havia criados, eles ajudavam quando se lavavam e ungiam, e serviam a refeição.
Como foi Marta que serviu, provavelmente não havia criado ali. O Senhor teria sido o convidado de honra e Maria ungiu a Sua cabeça (Marcos 14:3, Mateus 26:7) e os Seus pés (versículo 3) não com óleo perfumado comum, mas com meio quilo de bálsamo de nardo puro, de grande preço, contido num vaso de alabastro que quebrou para esse fim (Marcos 14:3). Era tão caro, que se usava como presente ao rei e Maria secou os Seus pés com o seus cabelos. A fragrância encheu a casa e todos devem ter ficado muito impressionados.
Judas Iscariotes (“homem de Queriote”, cidade da tribo de Judá - Josué 15:25) era o único dos doze que não era galileu e João acrescenta que ele trairia o Senhor. Conhecimento deste fato veio mais tarde, é claro, e não deve ser deduzido que, por ser mencionado aqui, ele teria sido predestinado a trair o Senhor. Era da sua própria responsabilidade, e foi culpa dele como disse depois o Senhor (Mateus 26:24).
Embora Judas não fosse necessariamente o único que se surpreendeu com o aparente desperdício (Marcos 14:4, Mateus 26:8), foi o porta-voz do grupo que concordava com ele, mencionado por nome por causa do motivo vil que tinha. A quantia aqui gasta por Maria igualaria os salários de um ano de um trabalhador comum.
Evidentemente os discípulos não sabiam ainda que Judas era um ladrão insignificante. Isso veio à tona depois que recebeu um suborno de trinta peças de prata para trair Jesus (Mateus 26:15), pois os discípulos não suspeitavam Judas de deslealdade (João 13:28), muito menos de peculato. As tentações geralmente surgem das nossas próprias fraquezas, e tendo a bolsa do grupo sido confiada a ele, subtraía o que foi posto dentro para o seu próprio benefício. Ele teria cobiçado por suas mãos nos trezentos denários que o bálsamo valia.
O Senhor lhes disse que deixassem Maria e explicou o que, para eles nessa ocasião, poderia ter sido difícil entender: Maria tinha guardado esse bálsamo muito caro para usar na preparação do corpo de Jesus para a sepultura. Em termos atuais, ela estava lhe dando flores antes do funeral.
Maria deve ter usado todo o bálsamo contido no vaso, pois o quebrou (Marcos 14:3). Ela deve ter compreendido que Jesus não estaria com eles por muito mais tempo, mas daria a Sua vida por eles e ressuscitaria ao terceiro dia. Os discípulos estariam tão envolvidos com suas próprias ideias sobre um reino político, que totalmente falharam em expressar alguma simpatia com Ele quando enfrentava a morte na cruz, mas Maria entendeu e esta foi a maneira de expressar as suas emoções, gratidão e lealdade .
O Senhor não desdenhou a caridade aos pobres, mas deu a Maria o mérito pelo sacrifício que fez em Sua honra e declarou que a ação dela seria lembrada onde quer que este Evangelho fosse pregado pelo mundo inteiro, em memória dela (Mateus 26:13, Marcos 14:9). A ação nobre dela realmente se tornou parte do Evangelho e é lembrada até hoje por nós.
Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas seguem esta cena com a visita de Judas ao Sinédrio para se oferecer a trair Jesus por dinheiro, como se ele estivesse irritado por causa desta repreensão. Um teólogo acrescenta que "Maria com a sua devoção inconscientemente provê para a honra do morto. Judas no seu egoísmo inconscientemente provoca a própria morte".
Aplicando o Seu ditado que "os pobres sempre os tendes convosco; a mim, porém, nem sempre me tendes" aos nossos dias, podemos sempre socorrer os pobres, porque sempre estão ao nosso redor, mas isto não deve substituir nossa devoção ao Senhor: aprender d’Ele, glorifica-lo em nosso falar e conduta, testemunhar d’Ele, e prover com sacrifício próprio para o Seu trabalho com nossos recursos. Virá um dia quando será muito tarde para para fazê-lo.
Um grande número dos judeus religiosos, não todos hostis ao Senhor (como estavam em João 5:10; 6:41, etc.), sabendo que Ele estava ali vieram por causa d’Ele mas também para ver Lázaro, agora famoso para ter ressuscitado. Uma multidão das testemunhas da ressurreição de Lázaro dariam seu testemunho mais tarde (verso 17).
A situação estava tensa porque todo o sinédrio (capítulo 11:53) tinha decidido pela morte de Jesus e tinham exigido informação dos paradeiros dele para que O pudessem prender. Os saduceus estavam ainda mais ativos agora para executar a morte de Lázaro, talvez raciocinando que, se pudessem matar tanto Jesus como Lázaro, Lázaro desta vez permaneceria morto.
A ressurreição de Lázaro causou uma crise. Vivo, Lázaro era a evidência deste grande sinal que ainda estava induzindo muitos dos judeus religiosos a se afastar dos seus líderes e crer que o homem Jesus era, na realidade o Messias. Havia perigo de um movimento em massa do povo a Ele, embora na realidade se tratasse apenas de grande curiosidade, não levando a uma fé salvadora, como já havia acontecido antes.
1 Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
2 Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.
3 Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo.
4 Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse:
5 Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?
6 Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava.
7 Respondeu, pois Jesus: Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou;
8 porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes.
9 E grande número dos judeus chegou a saber que ele estava ali: e afluiram, não só por causa de Jesus mas também para verem a Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
10 Mas os principais sacerdotes deliberaram matar também a Lázaro;
11 porque muitos, por causa dele, deixavam os judeus e criam em Jesus.