“Ora pois” refere-nos de volta ao capítulo 3.18, onde lemos “também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no Espírito”.
Em Seu corpo humano Ele não somente suportou dor mas foi realmente submetido a uma morte muito cruel, não por causa de Seus pecados, porque não teve nenhum, mas pelos nossos pecados. Quando morreu na cruz Ele trouxe ao fim a Sua propiciação pelos nossos pecados. Três vezes nesta carta (2.24; 3.18; 4.1) lemos que foi em Sua carne e em Seu corpo que Cristo pagou a penalidade pelo pecado do homem: Não morreu no pecado, nem sob o pecado, mas para o pecado em nosso lugar, em obediência ao Pai.
Agora lemos “armai-vos também vós deste mesmo pensamento” (não atitude, mas o pensamento que conduz a uma atitude), como Paulo ensinava “tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2.5). Porque sofreu na carne por nós, cessamos (ou fomos libertados) de nossos pecados. Não se sugere que o crente seja incapaz de pecar, mas que não é mais dominado pelo pecado, e já não tem mais vontade de pecar.
Armando-nos com o mesmo pensamento de Cristo Jesus, já não seremos mais incitados pelas ambições do mundo à medida que vivemos o resto de nosso tempo neste mundo, mas viveremos para a vontade de Deus, em obediência a Ele (Romanos 12.1, 2). É essencial estudarmos a Sua Palavra a fim de saber a Sua vontade, de modo que, permitindo que o Espírito de Deus nos encha, possamos viver para a retidão (capítulo 2.24).
Bastante tempo foi gasto antes da nossa conversão em uma maneira ímpia ou pagã de vida –uma lista é dada das ocupações escolhidas pelos que não eram judeus naqueles dias, que estão ainda muito em moda no mundo de hoje. É uma maneira de vida vazia (capítulo 1.18).
Ou vamos satisfazer a Deus ou aos homens. Cheios do Espírito Santo, podemos agora viver para Deus: não com nossa própria força mas com a Sua força. Não devemos viver uma vida monástica ou tornar-nos isolacionistas, mesmo porque o nosso Senhor não era assim. Estamos no mundo mas não somos do mundo. O mundo não vai apreciar-nos muito quando continuarmos com eles sem mais estar interessados em suas ocupações.
Nossos companheiros anteriores vão se surpreender e não compreenderão a mudança em nossos gostos; é natural suspeitar de algo ou de alguém que é “diferente”. Poderão até se ressentir muito e nos considerar “desmancha-prazeres” e não sociáveis. É mais provável que o seu antagonismo seja porque lhes causamos uma sensação incômoda de serem expostos como malfeitores, mesmo que se considerem apenas como gente “normal”. O Senhor Jesus disse que, "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim" (João 15.18).
Mas cada um é responsável a Deus. O mundo inteiro, os vivos e os mortos, vão ser julgados um dia pelo Senhor Jesus. Esta gente que rejeita a conduta e testemunho do crente hoje não terá nenhuma desculpa quando esse dia vier, estejam eles vivos ou mortos.
Por causa deste julgamento vindouro, o Evangelho é pregado a toda a humanidade. Inicialmente, todos estão mortos em transgressões e pecados e permanecerão assim e serão julgados como homens na carne a menos que aceitem Cristo como seu Senhor e Salvador: neste caso receberão a vida eterna e são habilitados para viver de acordo com o Deus no Espírito. O Senhor Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.” (John 5.24).
Sempre que o Evangelho é pregado, se alguém o aceita, ele viverá de forma agradável a Deus, e viverá durante toda a eternidade: nunca morrerá outra vez. Aqueles que rejeitam o evangelho estão mortos em seus pecados e estão mortos perante Deus através de toda a eternidade; isto é, não têm nenhuma relação com Ele. Deploravelmente, o evangelho não é pregado com freqüência hoje em dia e os mortos permanecem mortos mesmo indo à igreja, sem percebê-lo.
A interpretação do versículo 6 tem sido controvertida. Em harmonia com outras Escrituras, deve-se referir àqueles cristãos que já estavam fisicamente mortos quando foi escrito: aceitaram o Evangelho que lhes foi pregado, portanto o seu espírito viveu mesmo que fossem julgados segundo os homens na carne, provavelmente indicando que sofreram a morte por causa da sua fé.
Desde o dia em que o Senhor Jesus voltou ao céu, o fim de todas as coisas foi esperado como se fosse iminente (por exemplo. Tito 2.13, Tiago 5.8). Deus vai dar uma parada neste mundo para o julgamento final após uma série de eventos, começando com o arrebatamento da igreja, seguido pelo “dia da ira” ou “da tribulação”, durando sete anos, e o reino milenar de Cristo. Depois do julgamento final o céu e a terra atuais serão substituídos.
No começo o Senhor retirará os Seus do mundo, e eles irão ao Seu próprio tribunal, para julgamento com respeito aos galardões que serão concedidos tendo em vista o que fizeram durante a sua vida depois de sua conversão. Este é um outro incentivo para viver agora de forma agradável a Deus: não sabemos quanto tempo mais teremos antes de ir para esse julgamento.
Para estarmos prontos, já que esse tempo está chegando ao fim (Romanos 13.11), somos exortados a fazer como segue:
Ter uma mente sadia, séria, ou melhor ainda, inteligente. Um crente inteligente é um que conhece a Bíblia o melhor que pode. Também é inteligente neste mundo mau. É ser prudente como uma serpente e simples como uma pomba (Mateus 10.16).
É vigiar em oração. Em outras palavras a oração deve ter nela essa antecipação, essa expectativa da vinda de Cristo. Ele é o Cristo vivo. Devemos falar-lhe agora porque vamos falar com Ele no futuro. E no julgamento Ele vai falar conosco.
Sobretudo ter amor ardente para com os nossos companheiros crentes (1 Coríntios 13). O Senhor disse que “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” (João 15.12). O amor cobre todos os pecados (Provérbios 10.12) significando que cobre todas as faltas cometidas uns contra os outros, verdadeiras ou imaginárias (não os pecados contra Deus).
Ser hospitaleiros uns com os outros, sem resmungar. Deve ser feito com calor real, alegre, não como uma obrigação sacrificial que tem que ser cumprida.
Ser úteis uns aos outros exercitando todo dom espiritual que tiver recebido, e há muitos deles. Há um corpo (a igreja) e muitos membros e muitos dons que são dados para o benefício geral (não apenas do membro que o tem). Algumas pessoas, bem cientes das suas habilidades, acreditam que têm o direito de usar seus dons como quiserem. Outros sentem que não têm nenhum dom especial. Os versículos 10 e 11 sâo dirigidos a ambos os grupos. Todos têm alguns dons; vamos usá-los.
Todas nossas habilidades devem ser usadas para servir aos outros; nenhum é para nosso deleite pessoal (Romanos 12.6-8; 1 Coríntios 12.8-11; Efésios 4.11). Dois dons importantes são mencionados aqui:
O ministério da Palavra ou pregação (Atos 6.4): isto deve ser feito como se fossem as declarações de Deus. Se um homem não está falando a Palavra de Deus, não deve ocupar o púlpito, nem podemos dizer que estamos ensinando a Bíblia quando na realidade não estamos ensinando. Devemos ser fiéis ao que ela realmente diz, e deve-se dar a reverência necessária à Palavra, tanto o que ministra quanto quem a está recebendo, em reconhecimento da sua origem santa.
servindo os outros (diáconos - Atos 6.2-3): devemos servir com a força e a habilidade que Deus nos deu.
Como é Deus glorificado quando usamos nossas habilidades? Quando as usamos como Ele nos instrue, para ajudar os outros, verão Jesus Cristo em nós e vão glorificá-lo pela ajuda que receberam: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mateus 5.16).
A glória e o domínio pertencem para sempre a Jesus Cristo (o antecedente imediato aqui), mas igualmente a Deus através de Cristo (Romanos 16.27; Judas 1.25).
1 Ora pois, já que Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento; porque aquele que padeceu na carne já cessou do pecado;
2 para que, no tempo que ainda vos resta na carne não continueis a viver para as concupiscências dos homens, mas para a vontade de Deus.
3 Porque é bastante que no tempo passado tenhais cumprido a vontade dos gentios, andando em libertinagem, na sensualidade, nas bebedeiras, orgias e farras, e na idolatria repugnante.
4 E acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós;
5 os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos.
6 Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.
7 Mas já está próximo o fim de todas as coisas; ...
... portanto sede sóbrios e vigiai em oração;
8 tendo antes de tudo ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados;
9 sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmuração;
10 servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.
11 Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus;...
... se alguém ministra, ministre segundo a força que Deus concede;
para que em tudo Deus seja glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder para todo o sempre. Amém.
Primeira epístola de Pedro, capítulo 4, versículos 1 a 11.