Não sabemos as circunstâncias deste casamento de Salomão com a filha do faraó, mas é bem provável que tenha sido uma aliança com fins políticos, como geralmente acontece entre as famílias das monarquias.
Mediante esse casamento, Salomão procurou garantir a paz com o Egito, que era um dos países mais poderosos daquela época. Adquiriu muitas outras mulheres para si, mais tarde, com fins políticos. Essa desobediência à lei de Deus (Deuteronômio 17:17) lhe trouxe muitos males, inclusive o levou quando velho à idolatria (1 Reis 11:4-5). Essa era sabedoria humana, falha.
Existe a tendência de não se dar muita importância à crença de uma pessoa quando fazemos contratos sérios com elas, particularmente o de casamento, mas o que pode parecer ser uma pequena diferença pode ter um impacto severo sobre o relacionamento mais tarde.
Deus nos dá padrões para os nossos relacionamentos, inclusive o casamento, e existe uma proibição ao que a Bíblia chama de "jugo desigual" para evitar suas más conseqüências, pois "que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?" (2 Coríntios 6:14).
O povo oferecia sacrifícios sobre os altos "porque até àqueles dias ainda não se tinha edificado casa ao nome do SENHOR". O tabernáculo estava num lugar alto de Gibeão (1 Crônicas 16:39) apesar da arca permanecer em uma tenda própria em Jerusalém (1 Crônicas 15:29, 16:1 e 37). Sem dúvida era ali que Salomão sacrificava e queimava incenso, o que deveria ser feito apenas pelos sacerdotes e levitas.
A prática de usar lugares altos para fazer altares e oferecer sacrifícios é uma prática pré-histórica e universal, ainda em nossos dias. Antes da construção do tabernáculo e do templo, os patriarcas de Israel também o faziam, mas depois ela se tornou um símbolo de prática gentia, idólatra.
Cristo ensinou que Deus não habita em construção feita por mãos de homens, e Ele pode ser encontrado em qualquer parte. Os crentes em Cristo são agora o templo de Deus.
Um dia, no início do seu reino, tendo Salomão feito um grande sacrifício ali ("mil holocaustos"), o SENHOR lhe apareceu de noite, em sonhos, e lhe disse "Pede-me o que queres que eu te dê."
Lemos no Velho Testamento de várias pessoas a quem Deus apareceu em sonhos, e algumas também no Novo Testamento. Hoje Ele nos fala pela Sua palavra, a Bíblia.
Salomão respondeu sabiamente. Não há dúvida que Deus sabia de antemão o que Salomão ia pedir, assim como sabia do que Salomão precisava. Mas era necessário que Salomão o pedisse - tanto para que ele fosse provado e reconhecesse de Quem vinha o dom que Deus iria lhe dar, mas também para o nosso conhecimento, sendo também um exemplo para nós.
Deus sabe muito melhor do que nós aquilo de que precisamos, mas Ele deseja que peçamos a Ele o que queremos, para mostrar que reconhecemos a nossa dependência e para podermos louvá-lo ao vermos respondido o nosso pedido.
Salomão orou muito sabiamente:
Reconheceu que foi por causa da fidelidade, justiça e retidão de coração de seu pai Davi, que Deus agia com grande benevolência para com ele. Deus é galardoador dos que O buscam e procuram fazer a Sua vontade.
Declarou a sua convicção que foi por causa dessa benevolência que ele próprio, Salomão, havia nascido e agora ocupava o trono do seu pai, continuando a sua dinastia (1 Crônicas 22:9).
Admitiu humildemente as suas deficiências: era muito novo, inexperiente.
Reconheceu sua responsabilidade: o povo era muito numeroso, e o SENHOR o havia elegido para governá-lo.
Continuando com seu raciocínio, pediu aquilo de que mais necessitava nessas circunstâncias: um coração compreensivo para julgar o povo, para discernir prudentemente entre o bem e o mal.
Em suma, ele reconheceu a supremacia de Deus bem como sua própria fraqueza diante da tarefa que lhe fora dada, e confiou que Deus lhe daria o que mais precisava para executá-la.
É um exemplo para todos os crentes em Cristo, quando lhes é dado um trabalho na obra de Deus. Reconhecimento, fé, humildade, seriedade, dependência não em suas próprias forças, mas nas que Deus lhe dará. Deus promete dar sabedoria a quem o pedir (Tiago 1:5).
Notemos que Salomão pediu discernimento para fazer o seu trabalho, não que Deus fizesse o trabalho para ele. Não devemos pedir a Deus que Ele faça para nós aquilo que Ele vai fazer por nosso intermédio. Como Salomão, o nosso pedido deve ser para que Ele nos dê sabedoria para saber o que fazer, e forças e coragem para fazê-lo.
A oração de Salomão agradou ao SENHOR: obviamente fora feita segundo Sua vontade e Ele explicou porque:
Não fora uma oração egoísta, pedindo coisas para seu próprio benefício, como uma vida longa, riquezas e tranqüilidade com a morte dos seus inimigos.
Ele havia pedido entendimento, para discernir o que é justo: ele buscara a justiça que provém de Deus, para que o povo fosse governado segundo os padrões da justiça divina.
Deus apreciou o seu altruísmo, e o seu desejo de obedecer a Ele em sua conduta naquele posto tão importante. Assim sendo, Deus o atendeu acima do que Salomão havia pedido, pois lhe prometeu:
Sabedoria e inteligência acima de qualquer pessoa antes e depois dele.
Riquezas e glória, maior do que as de qualquer rei do seu tempo.
Sua vida seria prolongada se ele fosse obediente a Deus em toda a sua conduta.
Salomão havia apenas pedido compreensão e discernimento mas o SENHOR lhe deu tudo isso. Deus não promete riquezas neste mundo àqueles que seguem a Cristo, nem vida prolongada aqui neste mundo, mas promete riquezas inimagináveis como herdeiros com Cristo e vida eterna em Sua presença, o que vale muito mais. Se buscarmos primeiro o reino dos céus, tudo o que precisamos neste mundo nos será acrescentado (Mateus 6:31-33).
Ao acordar, Salomão voltou a Jerusalém ofereceu holocaustos e ofertas pacíficas a Deus diante da arca da Aliança do SENHOR, em agradecimento, e festejou o acontecimento com um banquete com todos os seus oficiais.
A sua sabedoria não tardou em ser posta à prova com o julgamento que fez entre as duas prostitutas. Até hoje esse julgamento é conhecido através do mundo, e em seus dias ele lhe trouxe profundo respeito por parte de todos, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça.
Os versículos 29 a 34 do capítulo 4 nos dão uma pequena síntese da "sabedoria, grandíssimo entendimento e larga inteligência" de Salomão.
Dos seus três mil provérbios, só encontramos umas poucas centenas na Bíblia, e só um dos seus mil e cinco cânticos. Os demais, inclusive seus tratados sobre plantas (dendrologia), animais (zoologia), insetos (entomologia) e peixes (ictiologia) não se encontram ali, decerto por não serem de inspiração divina ou não terem valor espiritual para nós. Sem dúvida os seus achados, baseados na observação e experiência, serviram para adiantar consideravelmente essas ciências em seu tempo.
Capítulo 3:
1 E Salomão se aparentou com Faraó, rei do Egito, e tomou a filha de Faraó, e a trouxe à Cidade de Davi, até que acabasse de edificar a sua casa, e a Casa do SENHOR, e a muralha de Jerusalém em roda.
2 Somente que o povo sacrificava sobre os altos, porque até àqueles dias ainda se não tinha edificado casa ao nome do SENHOR.
3 E Salomão amava ao SENHOR, andando nos estatutos de Davi, seu pai; somente que nos altos sacrificava e queimava incenso.
4 E foi o rei a Gibeão para lá sacrificar, porque aquele era o alto grande; mil holocaustos sacrificou Salomão naquele altar.
5 E em Gibeão apareceu o SENHOR a Salomão de noite em sonhos e disse-lhe Deus: Pede o que quiseres que te dê.
6 E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; e guardaste-lhe esta grande beneficência e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como se vê neste dia.
7 Agora, pois, ó SENHOR, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai; e sou ainda menino pequeno, nem sei como sair, nem como entrar.
8 E teu servo está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua multidão.
9 A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo?
10 E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, que Salomão pedisse esta coisa.
11 E disse-lhe Deus: Porquanto pediste esta coisa e não pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos, mas pediste para ti entendimento, para ouvir causas de juízo;
12 eis que fiz segundo as tuas palavras, eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti teu igual não houve, e depois de ti teu igual se não levantará.
13 E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; que não haja teu igual entre os reis, por todos os teus dias.
14 E, se andares nos meus caminhos guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como andou Davi, teu pai, também prolongarei os teus dias.
15 E acordou Salomão, e eis que era sonho. E veio a Jerusalém, e pôs-se perante a arca do concerto do SENHOR, e sacrificou holocaustos, e preparou sacrifícios pacíficos, e fez um banquete a todos os seus servos.
16 Então, vieram duas mulheres prostitutas ao rei e se puseram perante ele.
17 E disse-lhe uma das mulheres: Ah! Senhor meu, eu e esta mulher moramos numa casa; e tive um filho, morando com ela naquela casa.
18 E sucedeu que, ao terceiro dia depois do meu parto, também esta mulher teve um filho; estávamos juntas, estranho nenhum estava conosco na casa, senão nós ambas naquela casa.
19 E de noite morreu o filho desta mulher, porquanto se deitara sobre ele.
20 E levantou-se à meia-noite, e me tirou a meu filho do meu lado, dormindo a tua serva, e o deitou no seu seio, e a seu filho morto deitou no meu seio.
21 E, levantando-me eu pela manhã, para dar de mamar a meu filho, eis que estava morto; mas, atentando pela manhã para ele, eis que não era o filho que eu havia tido.
22 Então, disse a outra mulher: Não, mas o vivo é meu filho, e teu filho, o morto. Porém esta disse: Não, por certo, o morto é teu filho, e meu filho, o vivo. Assim falaram perante o rei.
23 Então, disse o rei: Esta diz: Este que vive é meu filho, e teu filho, o morto; e esta outra diz: Não, por certo; o morto é teu filho, e meu filho, o vivo.
24 Disse mais o rei: Trazei-me uma espada. E trouxeram uma espada diante do rei.
25 E disse o rei: Dividi em duas partes o menino vivo: e dai metade a uma e metade a outra.
26 Mas a mulher cujo filho era o vivo falou ao rei (porque o seu coração se lhe enterneceu por seu filho) e disse: Ah! Senhor meu, dai-lhe o menino vivo e por modo nenhum o mateis. Porém a outra dizia: Nem teu nem meu seja; dividi-o antes.
27 Então, respondeu o rei e disse: Dai a esta o menino vivo e de maneira nenhuma o mateis, porque esta é sua mãe.
28 E todo o Israel ouviu a sentença que dera o rei e temeu ao rei, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça.
Capítulo 4:
...
29 E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar.
30 E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios.
31 E era ele ainda mais sábio do que todos os homens, e do que Etã, ezraíta, e do que Hemã, e Calcol, e Darda, filhos de Maol; e correu o seu nome por todas as nações em redor.
32 E disse três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco.
33 Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais, e das aves, e dos répteis, e dos peixes.
34 E vinham de todos os povos a ouvir a sabedoria de Salomão e de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria.
1 REIS 3 e 4:29-34