A narrativa sobre a vida de Samuel começa com as circunstâncias envolvendo o seu nascimento, que ocorreu em aproximadamente 1.100 A.C., antes dos últimos cinco juizes, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão.
Ramataim-Zofim (As duas colinas dos Zofitas, ou dos sentinelas) é outro nome para Ramá. Zufe era levita (1 Crônicas 6:33-38), e a ele fora consignada uma propriedade dentro da herança da tribo de Efraim, em Ramá. Samuel ai nasceu, dali julgou Israel e ali foi sepultado (1 Samuel 2:11; 7:17,25:1).
Seu pai Elcana tinha duas mulheres, Ana e Penina. A bigamia era praticada naquele tempo, e era tolerada pela lei de Moisés (p.ex. Deuteronômio 21:15-17, 25:5-10). Era uma maneira prática de obter mais mão-de-obra na família e de assegurar a descendência; ter muitos filhos dava posição social. Mas, por outro lado, dava origem a vários problemas familiares, e dor e sofrimento como ocorreu com a família de Elcana: Penina lhe dava filhos mas Ana era estéril, e sofria grandes humilhações da outra por causa disso. A parcialidade com que Elcana a tratava, mostrando que a amava mais do que a outra, também despertava ciúmes em Penina.
Anualmente eles subiam da sua cidade até Silo para adorar e sacrificar ao SENHOR no tabernáculo, que estava armado ali. O sumo sacerdote era Eli, e seus filhos Hofni (Pugilista) e Finéias (Boca de Latão) oficiavam como sacerdotes. Estes dois eram "filhos de Belial", homens indignos, ordinários (capítulo 2:12).
Naqueles tempos a esterilidade na mulher era considerada um defeito sério, geralmente fazendo com que a mulher fosse desprezada e se sentisse inferiorizada diante das outras. Mas Elcana amava Ana e a punha acima de Penina e de seus filhos e filhas.
Mas Deus tinha um plano para ela, que ela não sabia. Elcana não compreendia a sua tristeza e achava que a evidência do seu amor por ela deveria lhe valer mais do que dez filhos. Mas ela finalmente resolveu fazer um voto ao SENHOR, entre as suas lágrimas, que se Ele lhe concedesse um filho do sexo masculino, ela o dedicaria ao SENHOR por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passaria navalha (para que todos soubessem do voto): como era de família levita, ele estaria habilitado a trabalhar no tabernáculo, e ela o daria para serviço levítico vitalício (normalmente era só por vinte anos - Números 4:3). Essa oração intensa e comovente de Ana é uma excelente descrição de uma oração fervorosa (cf. Filipenses 4:6-7; 1 Pedro 5:7).
O sumo sacerdote Eli, vendo a intensidade de sua oração silenciosa acompanhada de lágrimas, a princípio julgou que ela estivesse embriagada e a repreendeu por isso. Era uma conclusão e reação coerente com o declínio moral da época. Ele era um pai indulgente, ao que parece, e julgava os outros segundo o nível dos seus filhos. Talvez não fosse raro aparecer gente embriagada no recinto do tabernáculo.
Ana esclareceu a situação e Eli, percebendo o engano que havia cometido, deu-lhe uma bênção profética. Ana saiu, comeu e foi-se alegre, demonstrando que confiava que Deus havia ouvido e aceito a sua proposta.
O nome Samuel significa Ouvido por Deus. Ana era uma mulher temente a Deus, que clamava por Seu favor, e disposta a entregar o que seria para ela o que mais desejava em sua vida, ao SENHOR. Deus ouviu o seu clamor, deu-lhe o que pedia, e muito mais: a honra de ser a mãe de um grande vulto na história do povo de Israel, o maior dos juizes e um grande profeta, que ungiu dois reis escolhidos pelo SENHOR. E o nome e o feito de Ana ficaram gravados na Palavra de Deus sendo conhecidos através dos séculos até hoje. Que tributo e monumento à sua fidelidade!
Ana não hesitou em cumprir com o seu voto. Apenas esperou até que Samuel fosse desmamado antes de entregá-lo ao sumo sacerdote.
Quando o menino estava pronto, talvez depois de dois ou três anos, os pais o levaram para Eli, no tabernáculo, junto com ofertas e sacrifícios: um novilho de três anos (a idade de Samuel?), 22 litros de farinha e um odre de vinho.
Ana lembrou a Eli quem ela era, que o SENHOR havia atendido à sua petição, e agora ela devolvia ao SENHOR o seu filho para que O servisse todos os anos da sua vida. Era uma entrega completa e irrevogável: ela foi zelosa em pagar o seu voto, mesmo a um alto preço. E os dois pais adoraram ao SENHOR.
A oração feita em agradecimento a Deus por Ana ficou também registrada na Bíblia. Talvez tenha sido declamada perante a congregação de adoradores dentro do tabernáculo. O seu tema é a sua confiança na soberania de Deus. Ela foi usada como modelo por Maria, mãe de Jesus, na sua oração de louvor (Lucas 1:46-55).
Ana O louva pela Sua salvação (v.1), Sua santidade (v.2), Seu conhecimento (v.3), Seu poder (vv. 4-8) e Seu juízo (vv. 9-10). Ela declara que Deus freqüentemente reverte as situações humanas, humilhando os orgulhosos e exaltando os humildes (Provérbios 16:18; 18:12).
O SENHOR é chamado de "Rocha" no Velho Testamento (v.2), e o Senhor Jesus é essa "Rocha" (Romanos 9:33, 1 Coríntios 10:4, 1 Pedro 2:8).
Temos aqui uma referência à morte e à ressurreição (v.7): sepultura, ou Sheol, é o lugar em que os mortos aguardavam a ressurreição e o julgamento do grande trono branco, eqüivalendo ao Hades no Novo Testamento. A palavra é usada 68 vezes no Velho Testamento.
No versículo 10 temos a primeira ocorrência na Bíblia da palavra Messias (Cristo), o título do Senhor Jesus. É uma profecia do reino de Cristo sobre Israel durante o milênio.
Porque vivemos num mundo onde prevalece o mal, às vezes podemos esquecer que Deus está no controle de tudo. Ana nos mostra o SENHOR firme como a rocha (v.2), Aquele que sabe o que fazemos (v.3), Soberano sobre tudo o que a humanidade faz (vv. 4-8), e o supremo Juiz que administra justiça perfeita (v.10). Ao nos lembrarmos disso, podemos colocar o mundo e nossos interesses e experiências pessoais na perspectiva certa.
Capítulo 1:
1 Houve um homem de Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu.
2 E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana, e o nome da outra, Penina; Penina tinha filhos, porém Ana não tinha filhos.
3 Subia, pois, este homem da sua cidade de ano em ano a adorar e a sacrificar ao SENHOR dos Exércitos, em Siló; e estavam ali os sacerdotes em Siló; e estavam ali os sacerdotes do SENHOR, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.
4 E sucedeu que, no dia em que Elcana sacrificava, dava ele porções do sacrifício a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos, e a todas as suas filhas.
5 Porém a Ana dava uma parte excelente, porquanto ele amava Ana; porém o SENHOR lhe tinha cerrado a madre.
6 E a sua competidora excessivamente a irritava para a embravecer, porquanto o SENHOR lhe tinha cerrado a madre.
7 E assim o fazia ele de ano em ano; quando ela subia à Casa do SENHOR, assim a outra a irritava; pelo que chorava e não comia.
8 Então, Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?
9 Então, Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, o sacerdote, estava assentado numa cadeira, junto a um pilar do templo do SENHOR.
10 Ela, pois, com amargura de alma, orou ao SENHOR e chorou abundantemente.
11 E votou um voto, dizendo: SENHOR dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.
12 E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o SENHOR, Eli fez atenção à sua boca,
13 porquanto Ana, no seu coração, falava, e só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada.
14 E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.
15 Porém Ana respondeu e disse: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o SENHOR.
16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora.
17 Então, respondeu Eli e disse: Vai em paz, e o Deus de Israel te conceda a tua petição que lhe pediste.
18 E disse ela: Ache a tua serva graça em teus olhos. Assim, a mulher se foi seu caminho e comeu, e o seu semblante já não era triste.
19 E levantaram-se de madrugada, e adoraram perante o SENHOR, e voltaram, e vieram à sua casa, a Ramá. Elcana conheceu a Ana, sua mulher, e o SENHOR se lembrou dela.
20 E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao SENHOR.
21 E subiu aquele homem Elcana, com toda a sua casa, a sacrificar ao SENHOR o sacrifício anual e a cumprir o seu voto.
22 Porém Ana não subiu, mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então, o levarei, para que apareça perante o SENHOR e lá fique para sempre.
23 E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer a teus olhos; fica até que o desmames; tão-somente confirme o SENHOR a sua palavra. Assim, ficou a mulher e deu leite a seu filho, até que o desmamou.
24 E, havendo-o desmamado, o levou consigo, com três bezerros e um efa de farinha e um odre de vinho, e o trouxe à Casa do SENHOR, a Siló. E era o menino ainda muito criança.
25 E degolaram um bezerro e assim trouxeram o menino a Eli.
26 E disse ela: Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR.
27 Por este menino orava eu; e o SENHOR me concedeu a minha petição que eu lhe tinha pedido.
28 Pelo que também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver; pois ao SENHOR foi pedido. E ele adorou ali ao SENHOR.
Capítulo 2:
1 Então, orou Ana e disse: O meu coração exulta no SENHOR, o meu poder está exaltado no SENHOR; a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação.
2 Não há santo como é o SENHOR; porque não há outro fora de ti; e rocha nenhuma há como o nosso Deus.
3 Não multipliqueis palavras de altíssimas altivezas, nem saiam coisas árduas da vossa boca; porque o SENHOR é o Deus da sabedoria, e por ele são as obras pesadas na balança.
4 O arco dos fortes foi quebrado, e os que tropeçavam foram cingidos de força.
5 Os que antes eram fartos se alugaram por pão, mas agora cessaram os que eram famintos; até a estéril teve sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraqueceu.
6 O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela.
7 O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa e também exalta.
8 Levanta o pobre do pó e, desde o esterco, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do SENHOR são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo.
9 Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força.
10 Os que contendem com o SENHOR serão quebrantados; desde os céus, trovejará sobre eles; o SENHOR julgará as extremidades da terra, e dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido.
1 Samuel capítulo 1 - 2:10