Absalão, tendo assassinado seu irmão mais velho, Amnom, era agora o provável herdeiro do trono: entende-se que Quileabe, filho de Abigail, havia morrido na infância. Talvez mesmo Davi o aprovasse, pois já o havia perdoado pelo assassínio. Fisicamente era um homem atraente, decerto semelhante ao pai em muitos aspectos.
Mas ele era ambicioso, e não estava disposto a aguardar os acontecimentos e colocar o seu futuro nas mãos do SENHOR, como o seu pai fazia. Ele queria assumir o reino logo, não lhe importando se fosse necessário até mesmo derrubar o seu pai do trono. Com esse objetivo, ele começou uma campanha sutil e secreta para ganhar a simpatia do povo, e afastar o povo do rei Davi.
Todos os que vinham a Jerusalém tinham que entrar pela porta da cidade, portanto os comerciantes colocavam em volta as suas tendas de mercadorias, fazendo dela um "shopping centre" em linguagem moderna. Além disso, as pessoas mais importantes se dirigiam para lá para se encontrar e tratar dos seus assuntos, e mesmo resolver problemas de ordem legal.
Com alguma pompa, Absalão instalou-se na porta de Jerusalém com seus homens e chamava à sua presença todos aqueles que vinham a Jerusalém em procura de justiça da parte do rei, pois Davi era o juiz supremo da nação. Absalão fingia ter uma grande pena e simpatia por eles, declarava que eles não tinham quem os ouvisse da parte do rei, e lamentava não ser ele próprio juiz na terra, para que viessem a ele todos os que tivessem demanda ou questão, para que lhes fizesse justiça! Com isso ele foi se tornando muito popular.
Muitos se deixaram impressionar por esse estratagema de Absalão e transferiram sua lealdade para ele. Mais tarde descobriram como haviam sido enganados.
Ao fim de quatro anos, sob o pretexto de que tinha que cumprir um voto, Absalão foi até Hebrom, onde havia nascido (capítulo 3:2, 3), levando com ele duzentos homens convidados, que não sabiam das suas verdadeiras intenções. Hebrom foi a primeira capital do reino de Davi, durante sete anos, e Absalão teria ali muitos velhos amigos para lhe dar apoio ao rebelar-se contra o pai.
Também foi com ele um velho conselheiro de Davi, chamado Aitofel, que tipifica Judas Iscariotes (Salmo 41:9). Provavelmente avô de Bateseba (2 Samuel 11:3 e 23:34) talvez guardasse algum ressentimento contra Davi por causa da maneira com que tratou Urias.
Secretamente, Absalão mandou avisar todas as tribos que, ao ouvirem o som das trombetas, elas saberiam que ele era rei em Hebrom.
Finalmente Davi foi notificado que todo o povo de Israel seguia decididamente a Absalão. É notável que durante todo aquele tempo Davi nada havia feito para impedir a revolta de Absalão, pois sem dúvida ele estava bem informado.
Ao ouvir que o povo preferia Absalão, Davi decidiu fugir levando consigo os homens que lhe eram fiéis em Jerusalém. Davi estava cônscio que tudo isso era conseqüência do seu próprio pecado, e estava disposto a colocar o seu futuro nas mãos do SENHOR (vs. 25-26), sem procurar se defender pelas armas.
Ele não queria que os seus homens, ou a sua cidade de Jerusalém, que ele amava, sofressem as terríveis conseqüências de uma guerra civil. Ele também amava o seu filho Absalão, apesar da sua rebelião, e não queria que algum mal lhe acontecesse.
Em Jerusalém Davi havia cometido um grande crime contra Urias, marido de Bateseba. Davi sofreu quando seu filho primogênito Amnom cometeu incesto e depois foi assassinado por Absalão, mas a profecia sobre os males que lhe viriam por causa do seu crime ainda não estava cumprida por completo (capítulo 12:11).
Deixar a cidade fortificada de Jerusalém colocaria a vida de Davi em perigo, mas ele estava acostumado com isso. Ele estava mais preocupado com a segurança dos outros, e a do seu filho rebelde, e em fazer a vontade de Deus, do que consigo próprio.
Davi deixou dez das suas concubinas em Jerusalém, para cuidarem da sua casa.
Na saída, ele parou e fez todos os seus acompanhantes passarem à sua frente, pois ele queria saber quem eram. Entre eles estava Itai, originário de Gate, que comandava seiscentos geteus (filisteus) da guarda pessoal de Davi. Eles se haviam juntado a Davi desde os tempos quando ele vivia com os filisteus (1 Samuel 23:13;27:2;30:9, 10). Israel teve ordens do SENHOR para destruir os habitantes da terra de Canaã, mas também foi instruído a não oprimir o forasteiro, e a amar o estrangeiro (Êxodo 23:9, Deuteronômio 10:19).
Davi recomendou que voltassem e aguardassem os acontecimentos, mas Itai disse "no lugar em que estiver o rei, meu senhor, seja para morte seja para vida, lá estará também o teu servo". Ele, os seus homens e as suas famílias, então seguiram com Davi. A sua devoção ao seu rei é um exemplo a ser seguido pelos crentes em Jesus Cristo, o rejeitado Rei dos Reis. Mais tarde ele foi nomeado comandante do exército de Davi em igualdade com Joabe e Abisai (capítulo 18:2,5,12).
Em seguida Davi e todo o seu cortejo, passaram o ribeiro de Cedrom, saindo de Jerusalém e seguindo o caminho do deserto. Cerca de mil anos mais tarde, seu descendente o Senhor Jesus atravessou o mesmo ribeiro de Cedrom, também um Rei rejeitado (João 18:1). Davi o fez para salvar sua própria vida, mas o Senhor Jesus atravessou o vale e orou no jardim de Getsêmani, a caminho da cruz onde daria a Sua vida como preço de redenção por muitos.
Os sacerdotes Zadoque, que era vidente (profeta) e Abiatar, o que Davi havia salvo da perseguição do rei Saul (1 Samuel 22:20), e todos os levitas responsáveis pela arca, levaram a arca de Deus até ali, até que todos saíram da cidade.
Davi então ordenou que voltassem para Jerusalém, que era o seu lugar. Ele sabia que estava sofrendo o juízo de Deus, e esperava que Deus lhe concedesse a graça de voltar para lá a fim de que pudesse outra vez ver a arca e o tabernáculo. Também eles seriam úteis ali, mandando-lhe notícias a respeito do que acontecia em Jerusalém.
Descalço, com a cabeça coberta e chorando, Davi subiu pela encosta das Oliveiras, com todo o povo que ia com ele. Vemos aqui a tristeza, humildade e submissão de Davi diante de Deus: "faça de mim como melhor lhe parecer". Ele não se amargurou com a sua situação. Ainda escreveu o Salmo 3, onde descreve a sua confiança no SENHOR.
No caminho, ao saber da traição de Aitofel, ele pediu ao SENHOR que transformasse em tolices o conselho de Aitofel. Logo ao chegar no cimo da colina, onde se costumava adorar a Deus, ele deu com Husai, talvez outro dos seus conselheiros. Davi o enviou para fingir-se de amigo e fazer-se também conselheiro de Absalão e assim opor-se a Aitofel, e obter informações para Davi.
Ziba, o servo de Mefibosete, apareceu a Davi com presentes, e mentindo sobre a falta de lealdade do seu patrão. Davi acreditou e transferiu para Ziba as propriedades de Mefibosete.
Surgiu a seguir um descendente de Saul, chamado Simei, atirando pedras e amaldiçoando Davi. Mas Davi não permitiu que o castigassem, pois seu filho Absalão era pior do que ele, e talvez isto fosse um castigo vindo do SENHOR. Ao suportá-lo, talvez o SENHOR se tornasse mais misericordioso.
Absalão entrou com os seus homens em Jerusalém, que havia sido desocupada pelo seu pai, o rei Davi. Também estava com ele Aitofel, o conselheiro de Davi que se tornara traidor.
Em Jerusalém veio a ele Husai, amigo de Davi, saudando-o como se o aceitasse como novo rei. Absalão ficou surpreso, mas ficou satisfeito com a explicação que Husai ofereceu para sua mudança de lealdade, ou seja, que ele era fiel ao homem a quem Deus e o povo haviam escolhido (que era Davi, mas Absalão pensou que se referia a ele próprio). O resto da declaração de Husai também era ambígua mas Absalão não percebeu.
A primeira providência que Aitofel recomendou foi que Absalão coabitasse com as concubinas de Davi à vista de todo o povo. Esta torpeza já havia sido prevista pelo profeta Natã (2 Samuel 12:11), completando-se assim a profecia que ele havia feito sobre as conseqüências do pecado de Davi contra Urias.
Coabitar com uma concubina real podia ser interpretado como um insulto, uma declaração de igualdade ao rei, um ato de traição, ou mesmo uma reivindicação ao trono. Aqui Absalão publicava que tudo o que era do rei Davi agora pertencia a ele.
A confiança de Davi e agora de Absalão na sabedoria dos conselhos de Aitofel era tão grande que era como se Deus estivesse falando através dele - mas ele não era profeta de Deus. Davi havia orado a Deus para que o conselho de Aitofel fosse confundido (cap. 15:31), e foi isso o que aconteceu no seu próximo conselho a Absalão.
Aitofel aconselhou Absalão a permitir que ele reunisse um exército de doze mil homens para perseguir Davi naquela mesma noite, aproveitando-se da desvantagem em que ele se encontrava com o cansaço da retirada. Davi não teria tempo para organizar a sua defesa, seus homens debandariam, e ele seria facilmente apanhado e morto por Aitofel, deixando de ser um impecilho ao reinado de Absalão. Absalão e todos os anciãos de Israel gostaram da proposta, mas Absalão quis primeiro ter a confirmação de Husai.
Husai declarou que a estratégia de Aitofel seria desastrosa, porque Davi era um homem de guerra e não passaria a noite com o povo; sem dúvida já prevendo uma perseguição ele teria colocado emboscadas pelo caminho e estaria ele próprio de espreita escondido nalguma cova ou em qualquer outro lugar com seus homens. Ele dispunha de homens valorosos e hábeis na batalha que poderiam dizimar o exército de Aitofel, provocando uma derrota que seria o fim do reinado de Absalão.
O conselho de Husai foi que Absalão convocasse todo o povo (com isso ele significava os homens que podiam ir à batalha) para formar um exército poderoso, e que o próprio Absalão dirigisse esse exército formidável para esmagar Davi e todos os seus homens.
Absalão gostou da idéia, decerto porque apelava à sua vaidade: ele teria as honras da vitória do seu exército; os demais homens de Israel também gostaram, decerto porque iriam em número muito maior, o que lhes daria mais probabilidade de vencer. Mas foi o SENHOR que ordenara que fosse dissipado o bom conselho de Aitofel, para que o mal sobreviesse contra Absalão.
Husai contou aos sacerdotes Zadoque e a Abiatar o que havia acontecido, e mandou que avisassem a Davi que não permanecesse nos vaus do deserto, mas que passasse imediatamente para o outro lado do rio Jordão para que ele e todo o povo que com ele estava não fosse destruído. Davi provavelmente não imaginava que Absalão chegasse a promover uma guerra contra ele.
Zadoque e Abiatar enviaram essa mensagem a Davi usando seus filhos Jônatas e Aimaás, que quase foram apanhados por uma patrulha de Absalão, mas escaparam depois de serem escondidos em um poço por uma mulher.
Davi imediatamente durante a noite atravessou o Jordão com o povo que estava com ele, e continuou até a cidade de Maanaim.
Aitofel, humilhado porque o seu conselho não havia sido aceito, retirou-se para a sua cidade, acertou seus negócios e suicidou-se. Novamente foi como Judas Iscariote fez mais tarde.
Reunindo o seu exército formidável, Absalão o pôs em marcha para destruir Davi e os seus homens, atravessou o rio Jordão e acampou na terra de Gileade. Ao que se saiba, Absalão não tinha experiência de guerra, portanto nomeou como general o seu primo Amasa (a mãe de Amasa, Abigail, era meio-irmã de Davi), filho de certo homem chamado Itra, um ismaelita.
Davi foi bem recebido, com o seu povo, em Maanaim, onde foi presenteado com provisões de trigo, cevada, farinha, grãos torrados, favas e lentilhas, mel, coalhada, ovelhas e queijos por Sobi, filho de Naás, de Rabá, dos filhos de Amom, e Maquir, filho de Amiel, de Lo-Debar, e Barzilai, o gileadita, de Rogelim. Maquir foi o mesmo que havia cuidado de Mefibosete, filho de Saul, antes do rei Davi acolhê-lo em sua própria casa (capítulo 9:4).
O adiamento do combate, conseguido mediante o conselho dado a Absalão por Husai, permitiu a Davi e aos seus homens descansarem e organizarem-se para a batalha. Davi os contou e nomeou capitães de mil e capitães de cem para os comandar, e dividiu o exército em três divisões iguais, comandados por seus generais: seus sobrinhos os irmãos Joabe e Abisai, e Itai o geteu (filisteu), assim recompensado por sua fidelidade. Eram militares veteranos, já bem provados junto com Davi em guerras anteriores.
Davi quis combater com eles, mas foi persuadido a ficar na cidade, porque o motivo da batalha era a sua pessoa, e se ele morresse toda a causa estaria perdida. Seria melhor que ele desse o seu apoio ao exército a partir da cidade.
A grande preocupação de Davi era a segurança do seu filho rebelde, e agora o seu maior inimigo, Absalão. Ele recomendou aos seus generais que, por amor dele próprio, tratassem com brandura esse seu filho. Todo o povo ouviu.
Havia uma grande floresta ao leste do rio Jordão, da qual fazia parte o bosque de Efraim, nas proximidades de Maanaim. Para alcançar Maanaim, o exército de Absalão tinha que atravessar essa floresta, e foi ali que o exército de Davi foi enfrentá-lo.
Embora o exército de Absalão fosse muito superior em número, a pouca experiência dos seus combatentes e os obstáculos que a floresta apresentava fez com que fossem derrotados, com a perda de vinte mil homens. O bosque de Efraim, naquele dia, consumiu mais gente do que a espada.
Absalão deu de encontro com alguns dos soldados de Davi e num movimento precipitado ficou preso pela cabeça nos ramos espessos de um carvalho enquanto o mulo em que montava escapou de debaixo dele, deixando-o pendurado. Os soldados não tocaram nele, por causa das instruções que o rei havia dado, mas um deles foi avisar Joabe. Joabe se indignou porque eles não haviam matado Absalão, foi para lá ele próprio e o matou. Em seguida suspendeu a batalha e os homens de Absalão que haviam sobrevivido fugiram para suas casas.
O corpo de Absalão foi lançado em uma grande cova e levantaram sobre ele um grande montão de pedras. Mas Davi se lamentou amargamente pela morte de Absalão.
Capítulo 15:
1 E aconteceu, depois disso, que Absalão fez aparelhar carros, e cavalos, e cinqüenta homens que corressem adiante dele.
2 Também Absalão se levantou pela manhã e parava a uma banda do caminho da porta. E sucedia que a todo o homem que tinha alguma demanda para vir ao rei a juízo, o chamava Absalão a si e lhe dizia: De que cidade és tu? E dizendo ele: De uma das tribos de Israel é teu servo;
3 então, Absalão lhe dizia: Olha, os teus negócios são bons e retos, porém não tens quem te ouça da parte do rei.
4 Dizia mais Absalão: Ah! Quem me dera ser juiz na terra, para que viesse a mim todo o homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça!
5 Sucedia também que, quando alguém se chegava a ele para se inclinar diante dele, ele estendia a sua mão, e pegava dele, e o beijava.
6 E desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo; assim, furtava Absalão o coração dos homens de Israel.
7 E aconteceu, pois, ao cabo de quarenta anos, que Absalão disse ao rei: Deixa-me ir pagar em Hebrom o meu voto que votei ao SENHOR.
8 Porque morando eu em Gesur, na Síria, votou o teu servo um voto, dizendo: Se o SENHOR outra vez me fizer tornar a Jerusalém, servirei ao SENHOR.
9 Então, lhe disse o rei: Vai em paz. Levantou-se, pois, e foi para Hebrom.
10 E enviou Absalão espias por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão reina em Hebrom.
11 E de Jerusalém foram com Absalão duzentos homens convidados, porém iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio.
12 Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, à sua cidade de Gilo, estando ele sacrificando os seus sacrifícios; e a conjuração se fortificava, e vinha o povo e se aumentava com Absalão.
13 Então, veio um mensageiro a Davi, dizendo: O coração de cada um em Israel segue a Absalão.
14 Disse, pois, Davi a todos os seus servos que estavam com ele em Jerusalém: Levantai-vos, e fujamos, porque não poderíamos escapar diante de Absalão. Dai-vos pressa a caminhar, para que porventura não se apresse ele, e nos alcance, e lance sobre nós algum mal, e fira a cidade a fio de espada.
15 Então, os servos do rei disseram ao rei: Eis aqui os teus servos, para tudo quanto determinar o rei, nosso senhor.
16 E saiu o rei, com toda a sua casa, a pé; deixou, porém, o rei dez mulheres concubinas, para guardarem a casa.
17 Tendo, pois, saído o rei com todo o povo a pé, pararam num lugar distante.
18 E todos os seus servos iam a seu lado, como também todos os quereteus e todos os peleteus; e todos os geteus, seiscentos homens que vieram de Gate a pé, caminhavam diante do rei.
19 Disse, pois, o rei a Itai, o geteu: Por que irias tu também conosco? Volta, e fica-te com o rei, porque estranho és, e também te tornarás a teu lugar.
20 Ontem, vieste, e te levaria eu hoje conosco a caminhar? Pois força me é ir aonde quer que puder ir; volta, pois, e torna a levar teus irmãos contigo, com beneficência e fidelidade.
21 Respondeu, porém, Itai ao rei e disse: Vive o SENHOR, e vive o rei, meu senhor, que no lugar em que estiver o rei, meu senhor, seja para morte seja para vida, aí certamente estará também o teu servidor.
22 Então, Davi disse a Itai: Vem, pois, e passa adiante. Assim, passou Itai, o geteu, e todos os seus homens, e todas as crianças que havia com ele.
23 E toda a terra chorava a grandes vozes, passando todo o povo; também o rei passou o ribeiro de Cedrom, e passou todo o povo na direção do caminho do deserto.
24 Eis que também Zadoque ali estava, e com ele todos os levitas que levavam a arca do concerto de Deus; e puseram ali a arca de Deus; e subiu Abiatar, até que todo o povo acabou de sair da cidade.
25 Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade; se achar eu graça aos olhos do SENHOR, ele me tornará a trazer para lá e me deixará ver a ela e a sua habitação.
26 Se, porém, disser assim: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como parecer bem aos seus olhos.
27 Disse mais o rei a Zadoque, o sacerdote: Não és tu, porventura, o vidente? Torna, pois, em paz para a cidade, e convosco também vossos dois filhos, Aimaás, teu filho, e Jônatas, filho de Abiatar.
28 Olhai que me demorarei nas campinas do deserto até que tenha novas vossas.
29 Zadoque, pois, e Abiatar tornaram a levar para Jerusalém a arca de Deus; e ficaram ali.
30 E subiu Davi pela subida das Oliveiras, subindo e chorando, e com a cabeça coberta; e caminhava com os pés descalços; e todo o povo que ia com ele cobria cada um a sua cabeça, e subiam chorando sem cessar.
31 Então, fizeram saber a Davi, dizendo: Também Aitofel está entre os que se conjuraram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó SENHOR, transtorna o conselho de Aitofel.
32 E aconteceu que, chegando Davi ao cume, para adorar ali a Deus, eis que Husai, o arquita, veio encontrar-se com ele, com a veste rasgada e terra sobre a cabeça.
33 E disse-lhe Davi: Se passares comigo, ser-me-ás pesado.
34 Porém, se voltares para a cidade e disseres a Absalão: Eu serei, ó rei, teu servo, como fui dantes servo de teu pai, assim agora serei teu servo, dissipar-me-ás, então, o conselho de Aitofel.
35 E não estão ali contigo Zadoque e Abiatar, sacerdotes? E será que todas as coisas que ouvires da casa do rei farás saber a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes.
36 Eis que estão também ali com eles seus dois filhos, Aimaás, filho de Zadoque, e Jônatas, filho de Abiatar; pela mão deles aviso me mandareis de todas as coisas que ouvirdes.
37 Husai, pois, amigo de Davi, veio para a cidade; e Absalão entrou em Jerusalém.
Capítulo 16:
1 E, passando Davi um pouco mais adiante do cume, eis que Ziba, o moço de Mefibosete, veio encontrar-se com ele, com um par de jumentos albardados, e sobre eles duzentos pães, com cem cachos de passas, e cem de frutas de verão, e um odre de vinho.
2 E disse o rei a Ziba: Que pretendes com isto? E disse Ziba: Os jumentos são para a casa do rei, para se montarem neles; e o pão e as frutas de verão, para os moços comerem; e o vinho, para beberem os cansados no deserto.
3 Então, disse o rei: Onde está, pois, o filho de teu senhor? E disse Ziba ao rei: Eis que ficou em Jerusalém; porque disse: Hoje, me restaurará a casa de Israel o reino de meu pai.
4 Então, disse o rei a Ziba: Eis que teu é tudo quanto tem Mefibosete. E disse Ziba: Eu me inclino e que eu ache graça aos teus olhos, ó rei, meu senhor.
5 E, chegando o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da linhagem da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera; e, saindo, ia amaldiçoando.
6 E apedrejava com pedras a Davi e a todos os servos do rei Davi, ainda que todo o povo e todos os valentes iam à sua direita e à sua esquerda.
7 E, amaldiçoando-o Simei, assim dizia: Sai, sai, homem de sangue e homem de Belial!
8 O SENHOR te deu agora a paga de todo o sangue da casa Saul, em cujo lugar tens reinado; já deu o SENHOR o reino na mão de Absalão, teu filho; e eis-te agora na tua desgraça, porque és um homem de sangue.
9 Então, disse Abisai, filho de Zeruia, ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar, e lhe tirarei a cabeça.
10 Disse, porém, o rei: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o amaldiçoar, pois, se o SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem, pois, diria: Por que assim fizeste?
11 Disse mais Davi a Abisai e a todos os seus servos: Eis que meu filho, que descendeu de mim, procura a minha morte, quanto mais ainda este filho de Benjamim? Deixai-o; que amaldiçoe, porque o SENHOR lho disse.
12 Porventura, o SENHOR olhará para a minha miséria e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia.
13 Prosseguiam, pois, o seu caminho, Davi e os seus homens; e também Simei ia ao longo do monte, defronte dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras contra ele, e levantava poeira.
14 E o rei e todo o povo que ia com ele chegaram cansados e refrescaram-se ali.
15 Absalão, pois, e todo o povo, os homens de Israel, vieram a Jerusalém; e Aitofel, com ele.
16 E sucedeu que, chegando Husai, o arquita, amigo de Davi, a Absalão, disse Husai a Absalão: Viva o rei, viva o rei!
17 Porém Absalão disse a Husai: É esta a tua beneficência para com o teu amigo? Por que não foste com o teu amigo?
18 E disse Husai a Absalão: Não, senão daquele que eleger o SENHOR, e todo este povo, e todos os homens de Israel, dele serei e com ele ficarei.
19 E, demais disso, a quem serviria eu? Porventura, não seria diante de seu filho? Como servi diante de teu pai, assim serei diante de ti.
20 Então, disse Absalão a Aitofel: Dai conselho entre vós sobre o que devemos fazer.
21 E disse Aitofel a Absalão: Entra às concubinas de teu pai, que deixou para guardarem a casa; e, assim, todo o Israel ouvirá que te fizeste aborrecível para com teu pai, e se fortalecerão as mãos de todos os que estão contigo.
22 Estenderam, pois, para Absalão uma tenda no terrado, e entrou Absalão às concubinas de seu pai perante os olhos de todo o Israel.
23 E era o conselho de Aitofel, que aconselhava naqueles dias, como se a palavra de Deus se consultara: tal era todo o conselho de Aitofel, assim para com Davi como para com Absalão.
Capítulo 18
1 E Davi contou o povo que tinha consigo e pôs sobre eles capitães de cem.
2 E Davi enviou o povo, um terço debaixo da mão de Joabe, e outro terço debaixo da mão de Abisai, filho de Zeruia e irmão de Joabe, e outro terço debaixo da mão de Itai, o geteu; e disse o rei ao povo: Eu também juntamente sairei convosco.
3 Porém o povo disse: Não sairás, porque, se formos obrigados a fugir, não porão o coração em nós; e, ainda que metade de nós morra, não porão o coração em nós, porque ainda, tais como nós somos, ajuntarás dez mil; melhor será, pois, que da cidade nos sirvas de socorro.
4 Então, Davi lhes disse: O que bem parecer aos vossos olhos, isso farei. E o rei se pôs da banda da porta, e todo o povo saiu em centenas e em milhares.
5 E o rei deu ordem a Joabe, e a Abisai, e a Itai, dizendo: Brandamente tratai por amor de mim ao jovem, a Absalão. E todo o povo ouviu quando o rei deu ordem a todos os capitães acerca de Absalão.
6 Saiu, pois, o povo ao campo, a encontrar-se com Israel, e deu-se a batalha no bosque de Efraim.
7 E ali foi ferido o povo de Israel, diante dos servos de Davi; e, naquele mesmo dia, houve ali uma grande derrota de vinte mil.
8 Porque ali se estendeu a batalha sobre a face de toda aquela terra; e foram mais os do povo que consumiu o bosque do que os que a espada consumiu, naquele dia.
9 E Absalão se encontrou com os servos de Davi; e Absalão ia montado num mulo; e, entrando o mulo debaixo da espessura dos ramos de um grande carvalho, pegou-se-lhe a cabeça no carvalho, e ficou pendurado entre o céu e a terra; e o mulo, que estava debaixo dele, passou adiante.
10 O que vendo um homem, o fez saber a Joabe e disse: Eis que vi Absalão pendurado num carvalho.
11 Então, disse Joabe ao homem que lho fizera saber: Pois que o viste, por que o não feriste logo ali em terra? E forçoso seria eu dar-lhe dez moedas de prata e um cinto.
12 Disse, porém, aquele homem a Joabe: Ainda que eu pudesse pesar nas minhas mãos mil moedas de prata, não estenderia a minha mão contra o filho do rei, pois bem ouvimos que o rei te deu ordem a ti, e a Abisai, e a Itai, dizendo: Guardai-vos, cada um, de tocar no jovem, em Absalão.
13 Ainda que proferisse mentira com risco da minha vida, nem por isso coisa nenhuma se esconderia ao rei; e tu mesmo te oporias.
14 Então, disse Joabe: Não me demorarei assim contigo aqui. E tomou três dardos e traspassou com eles o coração de Absalão, estando ele ainda vivo no meio do carvalho.
15 E o cercaram dez jovens que levavam as armas de Joabe. E feriram a Absalão e o mataram.
16 Então, tocou Joabe a buzina, e voltou o povo de perseguir a Israel, porque Joabe deteve o povo.
17 E tomaram Absalão, e o lançaram no bosque, numa grande cova, e levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras; e todo o Israel fugiu, cada um para a sua tenda.
18 Ora, Absalão, quando ainda vivia, tinha tomado e levantado para si uma coluna, que está no vale do Rei, porque dizia: Filho nenhum tenho para conservar a memória do meu nome. E chamou aquela coluna pelo seu próprio nome; pelo que até ao dia de hoje se chama o Pilar de Absalão.
19 Então, disse Aimaás, filho de Zadoque: Deixa-me correr, e anunciarei ao rei que já o SENHOR o vingou da mão de seus inimigos.
20 Mas Joabe lhe disse: Tu não serás hoje o portador das novas, porém outro dia as levarás; mas hoje não darás a nova, porque é morto o filho do rei.
21 E disse Joabe a um cuxita: Vai tu e dize ao rei o que viste. E o cuxita se inclinou a Joabe e correu.
22 E prosseguiu Aimaás, filho de Zadoque, e disse a Joabe: Seja o que for, deixa-me também correr após o cuxita. E disse Joabe: Para que agora correrias tu, meu filho, pois não tens mensagem conveniente?
23 Seja o que for, disse Aimaás, correrei. E Joabe lhe disse: Corre. E Aimaás correu pelo caminho da planície e passou ao cuxita.
24 E Davi estava assentado entre as duas portas; e a sentinela subiu ao terraço da porta junto ao muro, e levantou os olhos, e olhou, e eis que um homem corria só.
25 Gritou, pois, a sentinela e o disse ao rei: Se vem só, há novas em sua boca. E vinha andando e chegando.
26 Então, viu a sentinela outro homem que corria, e a sentinela gritou ao porteiro, e disse: Eis que lá vem outro homem correndo só. Então, disse o rei: Também este traz novas.
27 Disse mais a sentinela: Vejo o correr do primeiro, que parece ser o correr de Aimaás, filho de Zadoque. Então, disse o rei: Este é homem de bem e virá com boas novas.
28 Gritou, pois, Aimaás e disse ao rei: Paz. E inclinou-se ao rei com o rosto em terra e disse: Bendito seja o SENHOR, que entregou os homens que levantaram a mão contra o rei, meu senhor.
29 Então, disse o rei: Vai bem com o jovem, com Absalão? E disse Aimaás: Vi um grande alvoroço, quando Joabe mandou o servo do rei, e a mim, teu servo; porém não sei o que era.
30 E disse o rei: Vira-te e põe-te aqui. E virou-se e parou.
31 E eis que vinha o cuxita e disse: Anunciar-se-á ao rei, meu senhor, que hoje o SENHOR te vingou da mão de todos os que se levantaram contra ti.
32 Então, disse o rei ao cuxita: Vai bem com o jovem, com Absalão? E disse o cuxita: Sejam como aquele jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantaram contra ti para mal.
33 Então, o rei se perturbou, e subiu à sala que estava por cima da porta, e chorou; e, andando, dizia assim: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!
2 SAMUEL 15, 16 e 18