Só sete anos e meio depois da morte de Saul foi que as restantes onze tribos de Israel finalmente vieram se unir à tribo de Judá sob o reinado de Davi. Foram anos de guerra interna, quando Abner, que apoiava Is-Bosete, ia subjugando essas tribos e finalmente enfrentou o exército menor, leal a Davi, sendo então derrotado.
Morto Is-Bosete, todas essas tribos, representadas pelos seus anciãos, vieram a Davi em Hebrom. Eles declararam reconhecer que eram do mesmo povo que ele, também que lembravam da sua liderança militar sob o rei Saul, e que sabiam que o SENHOR o havia escolhido para liderar Israel.
Com eles Davi fez aliança solene perante o SENHOR e em seguida eles o ungiram rei sobre Israel. Antes ele já havia sido ungido particularmente por Samuel (1 Samuel 16:13) e pela tribo de Judá (2 Samuel 2:4).
Terminou assim o seu período de preparo que envolveu vitórias, aprendizado com o rei Saul, sofrimento, desterro e muitas lutas, durando ao redor de vinte anos desde que havia sido ungido por Samuel. Ele tinha agora trinta e sete anos de idade e o seu reino durou trinta e três anos sobre todo o Israel. Embora o reino fosse outra vez dividido quarenta anos após a sua morte, a sua descendência permaneceu no trono do reino do sul, Judá, por mais de quatrocentos anos.
Como rei do país inteiro, ele providenciou uma capital para o seu reino. Próximo ao centro, no alto de uma serra montanhosa, estava uma fortaleza ocupada por um povo cananeu, os jebuseus (Gênesis 10:16). A fortaleza portanto se chamava Jebus e ficava sobre um monte chamado Sião e era considerada inexpugnável.
Os jebuseus estavam dentro do território de Benjamim (a tribo do rei Saul), mas não tinham sido expulsos quando a terra fora conquistada (Juízes 1:21). Quando perceberam a intenção de Davi eles zombaram dele, dizendo que mesmo os coxos e cegos poderiam defender a sua fortaleza.
Mas Davi era também um hábil estrategista militar, e ao invés de enfrentar os muros fortificados da cidade, ele apanhou os seus defensores de surpresa penetrando nela através de um túnel de abastecimento de água subterrâneo. Devido à chacota dos jebuseus, ele mandou seus soldados matar primeiro os coxos e cegos.
Após conquistar a cidade, ele a fez capital do reino, e a chamou Cidade de Davi. Ela aparece primeiro na Bíblia com o nome de Salém (Paz - Gênesis 14:18), e depois Jeru-Salém (alicerce da paz - Josué 10:1).
A seguir temos um parêntese, dando um pouco da história posterior da cidade. Durante seu longo reinado Davi foi edificando e estabelecendo a sua cidade. O seu poder crescia porque o SENHOR era com ele.
O rei de Tiro mandou-lhe material e mão de obra e edificou uma casa a Davi. Embora tendo se tornado famoso, bem-sucedido e querido pelo seu povo, ele deu a Deus o primeiro lugar em sua vida, reconhecendo que tudo devia ao SENHOR, e serviu ao seu povo de conformidade com os propósitos divinos.
Ele adquiriu para si mais concubinas e mulheres depois que foi viver em Jerusalém e essas lhe deram mais filhos e filhas. Entre eles notamos o nome de Salomão de cuja descendência vem José, marido de Maria, que deu o título real a Jesus Cristo. Sua mãe Maria, por sua vez, é descendente de Natã, outro filho de Davi mencionado aqui.
Fechando esse parêntese, voltamos a Davi logo após a conquista de Jerusalém. Os filisteus, inimigos de Israel, sabendo que Davi seu velho conhecido estava no trono, seguiram pelo caminho de Jerusalém com todo o seu exército, esperando intimidá-lo e submeter o seu reino ao seu domínio.
Ouvindo que eles vinham, Davi desceu até a fortaleza que protegia Jerusalém. Os filisteus chegaram até o vale a oeste de Jerusalém, chamado vale dos Refains.
Como de costume, Davi consultou ao SENHOR, e recebeu a resposta que devia combater e que teria vitória. Davi combatia da maneira em que Deus o instruía. Ele sempre perguntava se devia ou não ir ao combate, seguia com cuidado as instruções que Deus lhe dava, e depois dava a glória a Deus.
Às vezes erramos em nossas batalhas, fazendo o que nos agrada melhor ao invés de considerarmos qual é a vontade de Deus, não levando em conta o que a Bíblia ensina ou os conselhos de gente mais sábia do que nós, e aceitando para nós ou rendendo a outros toda a glória pela vitória, sem lembrarmos de dar graças a Deus. Estas atitudes são pecaminosas.
Davi foi então ao encontro do inimigo, e derrotou os filisteus. Eles abandonaram ali os seus ídolos, que Davi e seus homens queimaram (uma tradução literal é levantaram, e a maioria traduz como levaram). Por isso ele chamou aquele lugar de Baal-Perazim, que significa Baal destroçado.
Algum tempo depois os filisteus voltaram para o vale dos Refains. O SENHOR desta vez instruiu Davi a atacá-los por detrás em determinada hora que Ele lhe indicaria. Davi obedeceu, o SENHOR foi à frente ferindo os filisteus e a vitória desta vez foi definitiva, sendo os filisteus obrigados a se retirarem para a sua terra (Gezer ficava na fronteira).
Tendo portanto agora uma capital para o seu reino, e expulsos os seus inimigos, Davi tratou de preparar para que a presença visível de Deus estivesse em Jerusalém. O objeto mais importante que ficava dentro do tabernáculo era a arca do concerto, e ela ainda estava em Baalá, ou Quiriate-Jearim, na casa de um levita, Eleazar, há mais de vinte anos (1 Samuel 7:1-2).
A arca deveria ficar sempre dentro do compartimento "Santíssimo" do tabernáculo, coberta com uma espécie de bandeja com um querubim de ouro de cada lado, chamada propiciatório, onde era anualmente colocado o sangue da expiação pelo sumo sacerdote. Era o lugar onde Deus se encontrava com o Seu povo, símbolo de Cristo: feito de ouro que representa a Sua divindade, e de madeira, símbolo da sua humanidade.
Davi quis fazer a coisa certa, mas não levou em conta um detalhe: o SENHOR havia ordenado que a arca fosse transportada nos ombros dos coatitas, da tribo de Levi (Números 7:9). Talvez por achar mais prático e cômodo, Davi mandou que colocassem a arca sobre um carro de bois para o transporte. Era um carro novo, e os filhos de Abinadabe o guiavam, um na frente e o outro atrás. Mas a desobediência foi a causa de uma tragédia: os bois tropeçaram e quando o que estava atrás, Uzá, estendeu a mão para segurar a arca, Deus o matou por causa da sua irreverência (Números 4:15).
Davi queria restabelecer o relacionamento entre Israel e Deus, mas Deus teve que lembrar à nação dessa forma dramática que o entusiasmo que sentiam naquela ocasião não lhes dava liberdade para desobedecer às Suas leis. Davi se desgostou e temeu ao SENHOR naquele dia. Na próxima vez que procurou levar a arca até Jerusalém Davi teve o cuidado de fazê-lo da maneira correta (1 Crônicas 15:1-15).
Foi uma cerimônia festiva e muito emotiva. Davi sacrificava bois e carneiros cevados, vestido com uma estola sacerdotal, e pulava com todas as suas forças. O povo jubilava e tocava trombetas com ele. Sua esposa Mical o desprezou - achou que estava faltando com a sua dignidade de rei diante do povo, e o repreendeu depois. Mical é chamada filha de Saul aqui, talvez para realçar que a sua atitude de desprezo ao culto a Deus era como a do seu pai. Mas Davi não se preocupava com sua própria dignidade, e estava cheio de júbilo ao adorar ao Deus que ele amava, tendo o símbolo da Sua presença com ele.
Capítulo 5:
1 Então, todas as tribos de Israel vieram a Davi, a Hebrom, e falaram, dizendo: Eis-nos aqui, teus ossos e tua carne somos.
2 E também dantes, sendo Saul ainda rei sobre nós, eras tu o que saías e entravas com Israel; e também o SENHOR te disse: Tu apascentarás o meu povo de Israel e tu serás chefe sobre Israel.
3 Assim, pois, todos os anciãos de Israel vieram ao rei, a Hebrom; e o rei Davi fez com eles aliança em Hebrom, perante o SENHOR; e ungiram Davi rei sobre Israel.
4 Da idade de trinta anos era Davi quando começou a reinar; quarenta anos reinou.
5 Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e seis meses; e em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá.
6 E partiu o rei com os seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus que habitavam naquela terra e que falaram a Davi, dizendo: Não entrarás aqui, a menos que lances fora os cegos e os coxos; querendo dizer: Não entrará Davi aqui.
7 Porém Davi tomou a fortaleza de Sião; esta é a Cidade de Davi.
8 Porque Davi disse naquele dia: Qualquer que ferir os jebuseus e chegar ao canal, e aos coxos, e aos cegos, que a alma de Davi aborrece, será cabeça e capitão. Por isso, se diz: Nem cego nem coxo entrará nesta casa.
9 Assim, habitou Davi na fortaleza e lhe chamou a Cidade de Davi; e Davi foi edificando em redor, desde Milo até dentro.
10 E Davi se ia cada vez mais aumentando e crescendo, porque o SENHOR, Deus dos Exércitos, era com ele.
11 E Hirão, rei de Tiro, enviou mensageiros a Davi, e madeira de cedro, e carpinteiros, e pedreiros, que edificaram a Davi uma casa.
12 E entendeu Davi que o SENHOR o confirmava rei sobre Israel e que exaltara o seu reino por amor do seu povo.
13 E tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera de Hebrom; e nasceram a Davi mais filhos e filhas.
14 E estes são os nomes dos que lhe nasceram em Jerusalém: Samua, e Sobabe, e Natã, e Salomão,
15 e Ibar, e Elisua, e Nefegue, e Jafia,
16 e Elisama, e Eliada, e Elifelete.
17 Ouvindo, pois, os filisteus que haviam ungido Davi rei sobre Israel, todos os filisteus subiram em busca de Davi; o que ouvindo Davi, desceu à fortaleza.
18 E os filisteus vieram e se estenderam pelo vale dos Refains.
19 E Davi consultou o SENHOR, dizendo: Subirei contra os filisteus? Entregar-mos-ás nas minhas mãos? E disse o SENHOR a Davi: Sobe, porque certamente entregarei os filisteus nas tuas mãos.
20 Então, veio Davi a Baal-Perazim, e feriu-os ali Davi, e disse: Rompeu o SENHOR a meus inimigos diante de mim, como quem rompe águas. Por isso, chamou o nome daquele lugar Baal-Perazim.
21 E deixaram ali os seus ídolos; e Davi e os seus homens os tomaram.
22 E os filisteus tornaram a subir e se estenderam pelo vale dos Refains.
23 E Davi consultou o SENHOR, o qual disse: Não subirás; mas rodeia por detrás deles e virás a eles por defronte das amoreiras.
24 E há de ser que, ouvindo tu um estrondo de marcha pelas copas das amoreiras, então, te apressarás; porque o SENHOR saiu, então, diante de ti, a ferir o arraial dos filisteus.
25 E fez Davi assim como o SENHOR lhe tinha ordenado; e feriu os filisteus desde Geba até chegar a Gezer.
Capítulo 6:
1 E tornou Davi a ajuntar todos os escolhidos de Israel, em número de trinta mil.
2 E levantou-se Davi e partiu com todo o povo que tinha consigo de Baalá de Judá, para levarem dali para cima a arca de Deus, sobre a qual se invoca o Nome, o nome do SENHOR dos Exércitos, que se assenta entre os querubins.
3 E puseram a arca de Deus em um carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que está em Geba; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo.
4 E, levando-o da casa de Abinadabe, que está em Geba, com a arca de Deus, Aiô ia adiante da arca.
5 E Davi e toda a casa de Israel alegravam-se perante o SENHOR, com toda sorte de instrumentos de madeira de faia, com harpas, e com saltérios, e com tamboris, e com pandeiros, e com címbalos.
6 E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e segurou-a, porque os bois a deixavam pender.
7 Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus.
8 E Davi se contristou, porque o SENHOR abrira rotura em Uzá; e chamou aquele lugar Perez-Uzá, até ao dia de hoje.
9 E temeu Davi ao SENHOR naquele dia e disse: Como virá a mim a arca do SENHOR?
10 E não quis Davi retirar para si a arca do SENHOR, para a Cidade de Davi; mas Davi a fez levar à casa de Obede-Edom, o geteu.
11 E ficou a arca do SENHOR em casa de Obede-Edom, o geteu, três meses; e abençoou o SENHOR a Obede-Edom e a toda a sua casa.
12 Então, avisaram a Davi, dizendo: Abençoou o SENHOR a casa de Obede-Edom e tudo quanto tem, por amor da arca de Deus; foi, pois, Davi e trouxe a arca de Deus para cima, da casa de Obede-Edom, à Cidade de Davi, com alegria.
13 E sucedeu que, quando os que levavam a arca do SENHOR tinham dado seis passos, sacrificava ele bois e carneiros cevados.
14 E Davi saltava com todas as suas forças diante do SENHOR; e estava Davi cingido de um éfode de linho.
15 Assim subindo, levavam Davi e todo o Israel a arca do SENHOR, com júbilo e ao som das trombetas.
16 E sucedeu que, entrando a arca do SENHOR na Cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela e, vendo o rei Davi, que ia bailando e saltando diante do SENHOR, o desprezou no seu coração.
17 E, introduzindo a arca do SENHOR, a puseram no seu lugar, na tenda que Davi lhe armara; e ofereceu Davi holocaustos e ofertas pacíficas perante o SENHOR.
18 E, acabando Davi de oferecer os holocaustos e ofertas pacíficas, abençoou o povo em nome do SENHOR dos Exércitos.
19 E repartiu a todo o povo e a toda a multidão de Israel, desde os homens até às mulheres, a cada um, um bolo de pão, e um bom pedaço de carne, e um frasco de vinho; então, foi-se todo o povo, cada um para sua casa.
20 E, voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com Davi e disse: Quão honrado foi o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem vergonha se descobre qualquer dos vadios.
21 Disse, porém, Davi a Mical: Perante o SENHOR que me escolheu a mim antes do que a teu pai e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do SENHOR, sobre Israel, perante o SENHOR me tenho alegrado.
22 E ainda mais do que isto me envilecerei e me humilharei aos meus olhos; e das servas, de quem falaste, delas serei honrado.
23 E Mical, filha de Saul, não teve filhos, até ao dia da sua morte.
2 SAMUEL 5 e 6