O rei Nabucodonosor sofria de uma mania: megalomania ou, em linguagem popular, "mania de grandeza". Um dos seus triunfos foi conquistar e trazer cativo para a Babilônia o povo de Deus - o reino de Judá, pois o de Israel já havia sido dissolvido pelos assírios, antes de serem vencidos por Nabucodonozor.
O seu domínio sobre todas as nações conhecidas em seu tempo o fez vaidoso e cheio de si, haja vista a estátua de ouro do capítulo precedente. Embora conhecendo o Deus verdadeiro, o SENHOR de Israel, de quem testemunhavam tão valentemente Daniel e os seus companheiros, ele decerto se julgava mais hábil ainda, pois não havia ele vencido e trazido para o cativeiro o Seu povo?
No auge da sua pompa e arrogância, ele recebeu uma dura lição da parte de Deus. Passada essa experiência, ele a publicou a todos os povos, nações e línguas que moram em toda a terra, para que ficassem conhecendo quão grande e poderoso era Deus o Altíssimo.
Daniel deve ter tirado essa proclamação dos arquivos reais, e a incluído no seu livro, formando o que conhecemos como o capítulo 4, deixando o texto exatamente como constava na publicação do rei.
A proclamação começa com palavras de louvor a Deus, realçando os Seus sinais, as Suas poderosas maravilhas, a eternidade do Seu reino e a continuidade do Seu domínio. Ele havia aprendido a lição, e se apresentava agora humilde diante do Altíssimo Deus.
Nabucodonosor explica que estava sossegado em sua casa e florescente no seu palácio: estava tranqüilo, gozando os benefícios dos seus esforços, sem inimigos internos ou externos com que se preocupar, tomando-se cada dia mais próspero e reverenciado por todos. Julgava-se feliz e auto-realizado.
Em meio a essa cena de tranqüilidade ele adormeceu e foi perturbado por um sonho que o espantou, ficando depois a imaginar coisas e ter visões preocupantes. Podemos perceber que Deus lhe deu este sonho em antecipação ao castigo que viria, para que Nabucodonozor não tivesse qualquer dúvida que era uma punição, que vinha do Deus de Daniel e qual a sua finalidade. O sonho era tão inquietante que Nabucodonozor convocou todos os sábios da Babilônia para que lhe dessem a interpretação.
Novamente os magos, os astrólogos, os caldeus e os adivinhadores não puderam interpretar o sonho, embora desta vez lhes fosse contado pelo rei. Suas mágicas, feitiços e astrologia eram inúteis para interpretar uma mensagem vinda da parte de Deus.
Enfim, depois deles todos, Daniel entrou na presença do rei. Neste relato, depois de toda a ocorrência, Nabucodonozor disse que Daniel tinha o espírito dos deuses santos. Esse era o entendimento do idólatra Nabucodonozor, que cria numa multiplicidade de deuses, mas veio a reconhecer que o Deus de Daniel era o Altíssimo Deus - sem, no entanto, ele próprio abandonar os outros. O deus "dele" era Beltes, incluído no nome Beltessazar que ele havia dado a Daniel.
Chamando Daniel de príncipe dos magos, ou o maior dos sábios, para quem nenhum segredo era difícil, Nabucodonozor contou-lhe o sonho que havia tido:
Tratava-se de uma arvore que cresceu até tomar-se gigantesca, chegando a sua altura até o céu, podendo ser vista desde os confins da terra, dando sombra aos animais do campo, morada para as aves em seus ramos e alimentando a todos; mas desceu um vigia, um santo, do céu bradando fortemente que a árvore fosse destruída, mas que se deixassem o tronco e as raízes na terra, presa com cadeias de bronze e de ferro na erva; que fosse molhado pelo orvalho do céu e participasse da vida dos animais na grama da terra; que seu coração humano fosse mudado para o de animal; e que isso durasse por sete tempos. O santo declarou que isto era por decreto dos vigiadores, e a ordem por mandado dos santos, para que os viventes conhecessem que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens; e os dá a quem quer e até ao mais baixo dos homens constitui sobre eles.
Esses "santos" são seres espirituais criados por Deus que conhecemos sob a denominação genérica de "anjos". Entre as categorias de anjos que administram o Seu universo, os "vigias" administram os negócios do mundo em que vivemos. Eles vêm, ouvem e relatam o que presenciam.
Nabucodonozor pediu a Daniel que lhe desse a interpretação, que escapara a todos os magos do seu reino mas Daniel podia dar porque havia nele o espírito dos deuses santos.
Daniel esteve atônito quase uma hora, e os seus pensamentos o turbavam. Talvez não tanto pela dificuldade em interpretar - pois Deus lhe deu a interpretação, mas pelo terrível castigo sobre o rei que ele teria que anunciar. Geralmente não é fácil anunciar um castigo, muito menos a um rei arrogante e poderoso como Nabucodonozor.
Insistindo o rei, Daniel começou diplomaticamente dizendo "Senhor meu, o sonho seja contra os que te têm ódio, e a sua interpretação, para os teus inimigos." Ele desejava que o objeto do sonho não fosse o rei, mas os que o odiavam, os seus inimigos. Mas não era assim, e ele prosseguiu:
A árvore tipificava Nabucodonozor, que havia crescido, tomando-se forte e poderoso; o que o vigia, o santo, declarou era um decreto do Altíssimo que viria sobre o rei: ele seria afastado da convivência com os homens, e passaria a viver entre os animais, comendo ervas como eles, até se passarem sete tempos, até que ele conhecesse que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. O seu reino voltaria a ele depois que conhecesse que o céu reina.
Em seguida Daniel gentilmente aconselhou o rei a desfazer os seus pecados pela justiça, e a sua iniqüidade usando de misericórdia para com os pobres, talvez assim prolongando a sua tranqüilidade.
A tranqüilidade de Nabucodonozor havia sido perturbada. Depois de ter trazido paz ao mundo em que vivia, pela conquista, ele não tinha mais paz interior pois estava cônscio do seu pecado contra o Deus Altíssimo.
Daniel indica que ele deve arrepender-se dos seus pecados e voltar-se para Deus para viver na justiça. O seu egoísmo devia ser transformado em altruísmo, usando de misericórdia para com os pobres, os desprezados pela sua sociedade. Com isso, talvez ele não teria mais nada a temer.
Se no início Nabucodonozor obedeceu ao conselho, não sabemos. Mas um dia, um ano depois, ele revelou o seu orgulho ao olhar tudo que o cercava e dizer: "Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência?"
Instantaneamente uma voz do céu veio a ele dizendo que receberia agora o castigo, e foi o que aconteceu, conforme Daniel havia interpretado o sonho.
Terminado o prazo, possivelmente de sete anos, Nabucodonosor voltou a si e bendisse o Altíssimo, louvou e glorificou ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração.
E ele foi restabelecido no seu reino, e a sua glória foi aumentada, reconhecendo que:
O Altíssimo governa no reino dos homens. Ele tem um plano para a humanidade e ele será cumprido.
Ele dá o poder a quem Ele quer, "não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus." (Romanos 13:1). Até ao mais baixo dos homens constitui sobre eles. Um fato humilhante para todos nós.
1 Nabucodonosor, rei, a todos os povos, nações e línguas que moram em toda a terra: Paz vos seja multiplicada!
2 Pareceu-me bem fazer conhecidos os sinais e maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo.
3 Quão grandes são os seus sinais, e quão poderosas, as suas maravilhas! O seu reino é um reino sempiterno, e o seu domínio, de geração em geração.
4 Eu, Nabucodonosor, estava sossegado em minha casa e florescente no meu palácio.
5 Tive um sonho, que me espantou; e as imaginações na minha cama e as visões da minha cabeça me turbaram.
6 Por mim, pois, se fez um decreto, pelo qual fossem introduzidos à minha presença todos os sábios de Babilônia, para que me fizessem saber a interpretação do sonho.
7 Então, entraram os magos, os astrólogos, os caldeus e os adivinhadores, e eu contei o sonho diante deles; mas não me fizeram saber a sua interpretação.
8 Mas, por fim, entrou na minha presença Daniel, cujo nome é Beltessazar, segundo o nome do meu deus, e no qual há o espírito dos deuses santos; e eu contei o sonho diante dele:
9 Beltessazar, príncipe dos magos, eu sei que há em ti o espírito dos deuses santos, e nenhum segredo te é difícil; dize-me as visões do meu sonho que tive e a sua interpretação.
10 Eram assim as visões da minha cabeça, na minha cama: eu estava olhando e vi uma árvore no meio da terra, cuja altura era grande;
11 crescia essa árvore e se fazia forte, de maneira que a sua altura chegava até ao céu; e foi vista até aos confins da terra.
12 A sua folhagem era formosa, e o seu fruto, abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela, os animais do campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e toda carne se mantinha dela.
13 Estava vendo isso nas visões da minha cabeça, na minha cama; e eis que um vigia, um santo, descia do céu,
14 clamando fortemente e dizendo assim: Derribai a árvore, e cortai-lhe os ramos, e sacudi as suas folhas, e espalhai o seu fruto; afugentem-se os animais de debaixo dela e as aves dos seus ramos.
15 Mas o tronco, com as suas raízes, deixai na terra e, com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais na grama da terra.
16 Seja mudado o seu coração, para que não seja mais coração de homem, e seja-lhe dado coração de animal; e passem sobre ele sete tempos.
17 Esta sentença é por decreto dos vigiadores, e esta ordem, por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens; e os dá a quem quer e até ao mais baixo dos homens constitui sobre eles.
18 Isso em sonho eu, rei Nabucodonosor, vi; tu, pois, Beltessazar, dize a interpretação; todos os sábios do meu reino não puderam fazer-me saber a interpretação, mas tu podes; pois há em ti o espírito dos deuses santos.
19 Então, Daniel, cujo nome era Beltessazar, esteve atônito quase uma hora, e os seus pensamentos o turbavam; falou, pois, o rei e disse: Beltessazar, não te espante o sonho, nem a sua interpretação. Respondeu Beltessazar e disse: Senhor meu, o sonho seja contra os que te têm ódio, e a sua interpretação, para os teus inimigos.
20 A árvore que viste, que cresceu e se fez forte, cuja altura chegava até ao céu, e que foi vista por toda a terra;
21 cujas folhas eram formosas, e o seu fruto, abundante, e em que para todos havia mantimento; debaixo da qual moravam os animais do campo, e em cujos ramos habitavam as aves do céu,
22 és tu, ó rei, que cresceste e te fizeste forte; a tua grandeza cresceu e chegou até ao céu, e o teu domínio, até à extremidade da terra.
23 E, quanto ao que viu o rei, um vigia, um santo, que descia do céu e que dizia: Cortai a árvore e destruí-a, mas o tronco, com as suas raízes, deixai na terra e, com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais do campo, até que passem sobre ele sete tempos,
24 esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo, que virá sobre o rei, meu senhor:
25 serás tirado de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer.
26 E, quanto ao que foi dito, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o céu reina.
27 Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e desfaze os teus pecados pela justiça e as tuas iniqüidades, usando de misericórdia para com os pobres, e talvez se prolongue a tua tranqüilidade.
28 Todas essas coisas vieram sobre o rei Nabucodonosor.
29 Ao cabo de doze meses, andando a passear sobre o palácio real de Babilônia,
30 falou o rei e disse: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência?
31 Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino.
32 E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer.
33 Na mesma hora, se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor, e foi tirado dentre os homens e comia erva como os bois, e o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pêlo, como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves.
34 Mas, ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e tornou-me a vir o meu entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração.
35 E todos os moradores da terra são reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: Que fazes?
36 No mesmo tempo, me tornou a vir o meu entendimento, e para a dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; e me buscaram os meus capitães e os meus grandes; e fui restabelecido no meu reino, e a minha glória foi aumentada.
37 Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, e exalço, e glorifico ao Rei dos céus; porque todas as suas obras são verdades; e os seus caminhos, juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba.
Daniel capítulo 4