Este capítulo é um dos grandes capítulos proféticos da Palavra de Deus, e junto com o capítulo 7 (os quatro animais) e o capítulo 9 (as sete "semanas") forma uma base para a compreensão e previsão da história humana conforme é revelada por Deus.
O próprio Senhor Jesus se referiu ao livro de Daniel e às profecias nele contidas (por exemplo, em Mateus 24:3 e 15).
Temos neste capítulo a primeira profecia sobre os "tempos dos gentios", em que os povos não judeus terão a primazia sobre os judeus, e é o alicerce para as demais profecias na Bíblia.
Depois de sair do Egito, em 1.450 AC (entraram em 1.880 AC), os israelitas, representados no fim do período pelo reino de Judá, haviam gozado de independência durante quase nove séculos.
Nabucodonosor tornou a Babilônia numa grande potência militar, derrotou o exército do Egito, e foi usado por Deus para conquistar o que restava da terra de Israel dando início aos tempos dos gentios, que duram até hoje. Os judeus voltaram à sua terra mais de uma vez, mas sempre sujeitos à tutela dos gentios, como agora.
Nabucodonosor estava agora no segundo ano do seu reinado (605 AC), ano em que derrotou o poderoso exército do Egito, e curioso em saber o futuro. Sendo este o início dos tempos dos gentios, Deus também se dispôs a lhe dar um esboço do futuro, para o conhecimento seu e da humanidade, aguçando-lhe a curiosidade mediante sonhos.
Deus usou de sonhos algumas raras vezes para transmitir as Suas mensagens a certas pessoas, como Jacó (Gênesis 28:10-15), José (Gênesis 37:5-11), o copeiro e o padeiro do faraó (Gênesis 40), o próprio faraó (Gênesis 41), Salomão (1 Reis 3:5-15), e José (Mateus 1:20-24).
Nabucodonosor acordou do seu sono nesta ocasião sabendo que o sonho tinha sido muito especial, e ficou perturbado. Algumas traduções dão a entender que ele havia esquecido o seu sonho, mas esta não é necessariamente a tradução certa. Ele mandou então chamar os sábios, os mágicos e os feiticeiros entre o seu povo, os caldeus, para que lhe dissessem o seu sonho, e lhe dessem a interpretação. O seu raciocínio não deixava de ser lógico: se eles realmente tinham a habilidade de interpretar sonhos, eles deviam prová-lo ao mostrar que sabiam como foi o sonho.
É de se notar aqui que a partir do versículo 4 deste capítulo até o versículo 28 do capítulo 7, o livro está escrito em siríaco, ou aramaico. Aramaico era a linguagem oficial da Babilônia e se expandiu pelos países que ela dominou, tornando-se uma linguagem diplomática, como era o francês e agora o inglês. A mudança do hebraico é significativa: Deus estava agora falando ao mundo inteiro, não só à Sua nação, pois o cetro havia sido retirado de Israel e colocado nas mãos dos gentios, onde ficará até ser tomado pelo descendente do rei Davi, Jesus Cristo, quando Ele voltar para assumir o seu poder mundial.
Nenhum dos homens que Nabucodonosor convocou foi capaz de dizer o que havia sido o seu sonho. Protestaram que o que ele pedia era uma coisa impossível aos homens; somente os deuses que não moram na carne (seres espirituais) é que podiam fazer tal coisa. Eles não se atreviam a dizer que tinham recebido o conhecimento do sonho dos deuses, pois sabiam que não era verdade e Nabucodonosor logo ia perceber.
Nabucodonosor se enfureceu com eles e não somente com eles mas com todos os seus colegas de profissão, incluindo todos os sábios do reino. Nabucodonosor decretou que todos fossem executados. Portanto Daniel e seus companheiros foram condenados com eles.
Daniel perguntou ao capitão da guarda, Arioque, que o veio prender - "qual é a pressa?" Arioque explicou-lhe o motivo da ira do rei. Daniel corajosamente foi até o irado Nabucodonosor e pediu-lhe um prazo para fornecer-lhe o que queria, e isso lhe foi concedido.
O que parecia impossível para os sábios da corte, Daniel sabia que era possível para o verdadeiro Deus a quem adorava. Ele reuniu seus companheiros e juntos pediram misericórdia ao Deus do céu, sobre esse assunto, para que eles não perecessem com o resto dos sábios da Babilônia.
Deus os atendeu prontamente, revelando o segredo a Daniel numa visão de noite. Daniel agradeceu a Deus numa belíssima oração de louvor, que deixou registrada em seu livro.
Imediatamente depois, Daniel foi até Arioque e pediu-lhe que adiasse um pouco as execuções e o introduzisse na presença do rei, pois iria dar-lhe a resposta desejada.
Na presença de Nabucodonosor, respondeu à pergunta que ele lhe fez "Podes tu fazer-me saber o sonho que vi e a sua interpretação?" dizendo que ninguém por mais sábio que seja pode descobrir o segredo que o rei pede. Mas há um Deus nos céus que revela segredos. Enquanto Nabucodonosor refletia sobre o futuro, Deus o fez saber o que viria, e o que vai acontecer no fim dos dias.
Deus revelara a ele, Daniel, o segredo, não porque fosse mais sábio que os outros, mas para que a interpretação fosse feita ao rei e o rei compreendesse os seus próprios pensamentos.
Daniel prosseguiu relatando primeiro o sonho que Nabucodonosor havia tido: tratava-se de uma grande e esplendorosa estátua diante dele, cuja vista era terrível: a cabeça era de fino ouro, o peito e os braços, de prata, o ventre e os quadris, de bronze; as pernas, de ferro, os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro.
Enquanto Nabucodonozor olhava aquela estátua, uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou, assim como o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais foram levados pelo vento, como palha, não deixando vestígios. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra.
Em seguida, Daniel lhe deu a interpretação deste sonho:
A cabeça de ouro representava o próprio Nabucodonosor, a quem Deus havia dado o reino, o poder, a força e a glória e o domínio sobre todos os homens. (Este foi o império babilônico de 606 a 539 A.C.)
O peito e os braços representavam um reino inferior que viria após o dele. (O que veio em seguida foi o império medo-persa de 539 a 331 A.C.)
O ventre e os quadris, de bronze, representavam um terceiro reino que teria domínio sobre toda a terra. (O império greco-macedônio de 331 a 146 A.C.)
As pernas, de ferro, representavam um quarto reino forte como ferro, quebrando e esmiuçando tudo em pedaços. (O império que se seguiu foi o romano, iniciado em 146 A.C. Eventualmente ele se partiu em dois - as duas pernas - o ocidental e o oriental, o poder político se fundiu com o religioso, existindo ainda hoje como a instituição católico romana no ocidente e a ortodoxa no oriente).
Os pés e os artelhos, representavam um reino dividido, que será o último. Haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, mas frágil por outro lado, correspondendo a uma confederação onde os países se misturam mas não se ligam. (Esta confederação está por vir).
A pedra que o rei viu destruir a estátua representava um reino que não será jamais destruído, eterno, que esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. (A Bíblia fala claramente do reino eterno de Cristo, o único que preenche essa descrição.)
Nabucodonozor, satisfeitíssimo, concedeu as maiores honras e poder a Daniel, e, a pedido deste, também deu altas posições aos seus companheiros.
1 E no segundo ano do reinado de Nabucodonosor, teve Nabucodonosor uns sonhos; e o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o seu sono.
2 E o rei mandou chamar os magos, e os astrólogos, e os encantadores, e os caldeus, para que declarassem ao rei qual tinha sido o seu sonho; e eles vieram e se apresentaram diante do rei.
3 E o rei lhes disse: Tive um sonho; e, para saber o sonho, está perturbado o meu espírito.
4 E os caldeus disseram ao rei em siríaco: Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.
5 Respondeu o rei e disse aos caldeus: O que foi me tem escapado; se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo;
6 mas, se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim presentes, e dádivas, e grande honra; portanto, declarai-me o sonho e a sua interpretação.
7 Responderam segunda vez e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos a sua interpretação.
8 Respondeu o rei e disse: Percebo muito bem que vós quereis ganhar tempo; porque vedes que o que eu sonhei me tem escapado.
9 Por conseqüência, se me não fazeis saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença, até que se mude o tempo; portanto, dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis dar a sua interpretação.
10 Responderam os caldeus na presença do rei e disseram: Não há ninguém sobre a terra que possa declarar a palavra ao rei; pois nenhum rei há, senhor ou dominador, que requeira coisa semelhante de algum mago, ou astrólogo, ou caldeu.
11 Porquanto a coisa que o rei requer é difícil, e ninguém há que a possa declarar diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne.
12 Então, o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sábios de Babilônia.
13 E saiu o decreto segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram Daniel e os seus companheiros, para que fossem mortos.
14 Então, Daniel falou avisada e prudentemente a Arioque, capitão da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios de Babilônia.
15 Respondeu e disse a Arioque, encarregado do rei: Por que se apressa tanto o mandado da parte do rei? Então, Arioque explicou o caso a Daniel.
16 E Daniel entrou e pediu ao rei que lhe desse tempo, para que pudesse dar a interpretação.
17 Então, Daniel foi para a sua casa e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros,
18 para que pedissem misericórdia ao Deus dos céus sobre este segredo, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem com o resto dos sábios da Babilônia.
19 Então, foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; e Daniel louvou o Deus do céu.
20 Falou Daniel e disse: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a sabedoria e a força;
21 ele muda os tempos e as horas; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos inteligentes.
22 Ele revela o profundo e o escondido e conhece o que está em trevas; e com ele mora a luz.
23 Ó Deus de meus pais, eu te louvo e celebro porque me deste sabedoria e força; e, agora, me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei.
24 Por isso, Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para matar os sábios da Babilônia; entrou e disse-lhe assim: Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e darei ao rei a interpretação.
25 Então, Arioque depressa introduziu Daniel na presença do rei e disse-lhe assim: Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o qual fará saber ao rei a interpretação.
26 Respondeu o rei e disse a Daniel (cujo nome era Beltessazar): Podes tu fazer-me saber o sonho que vi e a sua interpretação?
27 Respondeu Daniel na presença do rei e disse: O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem descobrir ao rei.
28 Mas há um Deus nos céus, o qual revela os segredos; ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser no fim dos dias; o teu sonho e as visões da tua cabeça na tua cama são estas:
29 Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos ao que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os segredos te fez saber o que há de ser.
30 E a mim me foi revelado este segredo, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei e para que entendesses os pensamentos do teu coração.
31 Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; essa estátua, que era grande, e cujo esplendor era excelente, estava em pé diante de ti; e a sua vista era terrível.
32 A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços, de prata; o seu ventre e as suas coxas, de cobre;
33 as pernas, de ferro; os seus pés, em parte de ferro e em parte de barro.
34 Estavas vendo isso, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou.
35 Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra que feriu a estátua se fez um grande monte e encheu toda a terra.
36 Este é o sonho; também a interpretação dele diremos na presença do rei.
37 Tu, ó rei, és rei de reis, pois o Deus dos céus te tem dado o reino, e o poder, e a força, e a majestade.
38 E, onde quer que habitem filhos de homens, animais do campo e aves do céu, ele tos entregou na tua mão e fez que dominasses sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro.
39 E, depois de ti, se levantará outro reino, inferior ao teu, e um terceiro reino, de metal, o qual terá domínio sobre toda a terra.
40 E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro esmiúça e quebra tudo, como o ferro quebra todas as coisas, ele esmiuçará e quebrantará.
41 E, quanto ao que viste dos pés e dos artelhos, em parte de barro de oleiro e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo, haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo.
42 E, como os artelhos eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte e por outra será frágil.
43 Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro se não mistura com o barro.
44 Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e será estabelecido para sempre.
45 Da maneira como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem mãos, e ela esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro, o Deus grande fez saber ao rei o que há de ser depois disso; e certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.
46 Então, o rei Nabucodonosor caiu sobre o seu rosto, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe fizessem oferta de manjares e perfumes suaves.
47 Respondeu o rei a Daniel e disse: Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos, pois pudeste revelar este segredo.
48 Então, o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e grandes presentes, e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também por principal governador de todos os sábios de Babilônia.
49 E pediu Daniel ao rei, e constituiu ele sobre os negócios da província de Babilônia a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; mas Daniel estava às portas do rei.
Daniel capítulo 2