Este é o início da seção profética do livro de Daniel. Deus fez revelações a Daniel sobre o futuro, mediante três visões relacionadas entre si em um sonho, no primeiro ano de Belsazar (553 a.C.):
O tema é o mesmo da estátua do sonho de Nabucodonosor (cap. 2) mas sob outra perspectiva: a estátua demonstrava o declínio da riqueza., majestade e poder dos grandes imperadores, que é um ponto de vista humano; os animais revelam a ferocidade e crueldade desses líderes, que é o ponto de vista divino, e acrescenta mais detalhes.
O Grande Mar (Mediterrâneo) banha os territórios conquistados por esses quatro impérios. A ordem de aparecimento dos animais coincide com a ordem cronológica dos seus domínios: Babilônia (leão) de 606 a 539 a.C.); Medo-Pérsia (urso) de 539 a 330 a.C.; Grécia (leopardo) de 330 a 65 a.C. e Roma a partir de 65 a.C.
Estátuas colossais de leão com asas de águia e cabeça humana adornavam os palácios de Nínive e Babilônia, o que não deixa em dúvida sua identidade; veja também Jeremias 4:7,13. O leão indica força, e as asas de águia, velocidade. O versículo 4 talvez se refira à humilhação e restauração de Nabucodonosor.
O império Medo-Persa se expandiu lentamente, com exércitos numerosos, consumindo muitas vidas; o urso é um símbolo dele, conhecido por sua força e ferocidade em combate. O lado do urso que se levantou deve representar a Pérsia, que era mais poderosa, e as três costelas correspondem aos reinos da Lídia, Babilônia e Egito que se aliaram contra os Medo-Persas mas foram derrotados.
Como o leopardo, o macedônio Alexandre o Grande era ágil à testa do exército grego e, como se tivesse asas, ele conquistou seu território rapidamente. As quatro cabeças correspondem à divisão do seu império após sua morte: Ásia Menor, Síria, Egito e Macedônia.
O quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, diferente de todos os anteriores, corresponde ao império romano. Seus dentes de ferro e dez chifres o relacionam com as pernas de ferro e os dez dedos dos pés da estátua de Nabucodonozor, ou seja, o império romano. Os dez chifres correspondem a dez reis, e o chifre pequeno a um outro, diferente dos demais, que abaterá três deles. Estudaremos melhor os chifres em outro capítulo, mas podemos adiantar que o chifre pequeno corresponde ao Anticristo, ou besta do Apocalipse, portanto os chifres são profecia ainda para se cumprir, depois do arrebatamento da igreja.
O fato que aparentemente os impérios coexistem no fim dos tempos dos gentios, embora tenham se sucedido e destruído, tem duas possíveis explicações:
Literal: os quatro serão representados pelos povos que lhe deram origem: Iraque (Babilônia), Irão (Pérsia), Grécia e uma união de 10 países incluindo a Itália (Roma).
Figurada: uma união de países que reúne as características principais daqueles impérios: religião, ciência, filosofia e controle administrativo.
O Ancião de dias é Deus: a descrição é de Deus o Filho, que julgará as nações (Mateus 23:31-46), após sua volta ao mundo, no "vale de Josafá" (Joel 3:1-2). Deus o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julgamento (João 5:22). A visão mostra sua glória e poder, e a conseqüência do Seu julgamento: o quarto animal, contendo o chifre que proferia palavras insolentes foi destruído, e os outros três destituídos de domínio mas prolongada a sua vida por "um prazo e um tempo".
O Ancião de dias outra vez é Deus, mas aqui temos uma profecia de Deus o Filho feito Filho do homem, recebendo agora de Deus o Pai domínio eterno sobre a humanidade (Efésios 1:20-22).
Outros presenciavam as visões de Daniel (provavelmente anjos - Zacarias 1:9,19) e ele pediu que um deles as interpretasse porque elas o haviam deixado perturbado. Decerto para tranqüilizar a Daniel, esse personagem logo lhe disse que os grandes animais são quatro reis que se levantarão da terra, mas os santos do Altíssimo (o remanescente de Israel que se converterá durante a tribulação) receberão o reino e reinarão para sempre (vs. 22, 25, 27).
Daniel estava ainda muito impressionado pelo quarto animal e seus chifres, especialmente o que saiu depois dos outros, e pediu maiores detalhes sobre ele.
Foi-lhe então explicado que o quarto animal corresponde a um quarto reino, diferente de todos os outros, que dominará sobre a terra, causando grande destruição. De dentro desse reino sairão dez reis, e mais tarde outro diferente deles surgirá, abatendo três deles.
Este último será contra o Altíssimo, perseguirá os seus santos, cuidará em mudar os tempos e a lei (a lei mosaica e a observação do seu calendário), durante um tempo, dois tempos e a metade de um tempo (três anos e meio), mas depois ele será julgado, despojado do poder e "destruído e consumido até ao fim". (Isto indica a forma final do poder mundial romano como uma confederação de dez países que surgirão simultaneamente nos dias da Tribulação; dentre eles surgirá o Anticristo - a besta do Apocalipse - conquistando três das dez nações - ver Apocalipse 6:2, 13:4-7, 17:14, 19:19-20, 20:4).
1 No primeiro ano de Belsazar, rei de Babilónia, teve Daniel um sonho e visões da sua cabeça quando estava na sua cama; escreveu logo o sonho, e relatou a suma das coisas.
2 Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando na minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar grande.
3 E quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar.
4 O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, e foi levantado da terra, e posto em pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem.
5 Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne.
6 Depois disto, eu continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também este animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio.
7 Depois disto eu continuei olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres.
8 Estando eu a considerar os chifres, eis que, entre eles subiu outro chifre pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas.
9 Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça como a pura lã; e seu trono era de chamas de fogo, e as suas rodas de fogo ardente.
10 Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros.
11 Então estive olhando, por causa da voz das grandes palavras que o chifre proferia; estive olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito, e entregue para ser queimado pelo fogo;
12 E, quanto aos outros animais, foi-lhes tirado o domínio; todavia foi-lhes prolongada a vida até certo espaço de tempo.
13 Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele.
14 E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído.
15 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram.
16 Cheguei-me a um dos que estavam perto, e pedi-lhe a verdade acerca de tudo isto. E ele me disse, e fez-me saber a interpretação das coisas.
17 Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis, que se levantarão da terra.
18 Mas os santos do Altíssimo receberão o reino, e o possuirão para todo o sempre, e de eternidade em eternidade.
19 Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro e as suas unhas de bronze; que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobrava;
20 E também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro que subiu, e diante do qual caíram três, isto é, daquele que tinha olhos, e uma boca que falava grandes coisas, e cujo parecer era mais robusto do que o dos seus companheiros.
21 Eu olhava, e eis que este chifre fazia guerra contra os santos, e prevaleceu contra eles.
22 Até que veio o ancião de dias, e fez justiça aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.
23 Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços.
24 E, quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis.
25 E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo.
26 Mas o juízo será estabelecido, e eles tirarão o seu domínio, para o destruir e para o desfazer até ao fim.
27 E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão.
28 Aqui terminou o assunto. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me perturbaram, e mudou-se em mim o meu semblante; mas guardei o assunto no meu coração.
Daniel, capítulo 7