Aqui começa a última visão de Daniel, cujo relato vai até o fim do seu livro. Ciro havia permitido aos judeus voltarem à sua terra, mediante um decreto no primeiro ano de seu reinado (Esdras 1), ao se completarem os setenta anos de cativeiro como profetizado por Jeremias (25:11-12).
Daniel naquele ano deixou seu posto no governo (Daniel 1:21) mas não voltou a Jerusalém. Da mesma forma, a maioria dos judeus ficaram onde estavam, voltando somente 42.360 (Esdras 2:62) com seus servos e servas.
Já passados quase dois anos desde que foram, Daniel deveria estar a par da oposição que os que voltaram estavam encontrando da parte dos que lá residiam (Esdras 4:4-5), e isto o deve ter entristecido e contribuído para o pranto de três semanas descrito nos versículos 2 e 3.
Novamente Deus interferiu para o animar, mostrando-lhe a luta que estava sendo travada em esferas celestiais em defesa do seu povo, e depois dando-lhe ainda mais detalhes do futuro dos judeus.
Primeiro ele viu o Senhor dos Senhores (Cristo em Sua glória - compare a descrição nos versículos 5 e 6 com Apocalipse 1:12-15) e ao ouvir Suas palavras, que Daniel não nos transmite, ele desmaiou (assim como, séculos depois, Saulo e João - Atos 9:1-9 e Apocalipse 1:17). Havia outras pessoas com Daniel - elas nada viram, mas sentiram grande temor, fugiram e se esconderam.
Daniel em seguida foi acordado e levantado pela mão por alguém, provavelmente o anjo Gabriel ("Força de Deus") que novamente o chamou de "homem muito amado", e o informou que devia pôr-se de pé e prestar atenção ao que ele tinha a dizer, porque ele lhe fora enviado.
O anjo tranqüilizou Daniel, dizendo-lhe que desde o primeiro dia em que Daniel se dedicou a compreender e humilhar-se diante de Deus, suas palavras foram ouvidas, e por isso ele veio. Sua missão era de fazer Daniel entender o que haveria de suceder ao seu povo nos últimos dias - tempos ainda bem distantes de Daniel.
A demora de três semanas em chegar até Daniel foi devido à resistência do "príncipe do reino da Pérsia" (não homem, mas um espírito que se opõe aos mensageiros e ao povo de Deus - veja Efésios 6:12); essa resistência forai quebrada com o auxilio do arcanjo Miguel ("Quem é Como Deus"), príncipe do povo de Israel.
A luta entre as forças espirituais, de um lado as que desenvolvem os desígnios de Deus, e de outro as forças satânicas da oposição, é uma luta contínua. Dela nós também participamos, e para isso Deus nos dá a armadura e a força de Seu poder para conseguirmos a vitória (Efésios 6:10,13-18). O arcanjo Miguel é mencionado em Judas ver. 9, quando ele contendia com o diabo, disputando sobre o corpo de Moisés, e em Apocalipse 12:1-9 onde lemos que Miguel com seu anjos pelejará no céu contra o dragão e seus anjos, expulsando-os de lá e lançando-os para a terra.
Satanás tem o seu reino (Mateus 12:26), e ele é o "príncipe da potestade do ar", atuando sobre os que são desobedientes a Deus (Efésios 2:2), através dos seus agentes, os principais dos quais (ou "príncipes"), têm influência sobre os líderes da nações. Decerto o "príncipe do reino da Pérsia" se opôs ao mensageiro Gabriel porque seu comandante (o diabo) é inimigo de Israel e não queria que seu futuro fosse revelado a Daniel (e a todos nós através dele).
Ao ser informado do que seria o teor da mensagem, Daniel enfraqueceu e ficou mudo; outro ser angelical, em aparência humana (os anjos assumem aparência humana para serem vistos por olhos humanos) tocou seus lábios para que falasse, e deu-lhe forças para suportar o que lhe seria dito.
Gabriel informou a Daniel que ele ainda ia voltar para pelejar contra o "príncipe da Pérsia", que em seu lugar surgiria o "príncipe da Grécia", e que ele e Miguel cooperavam na luta contra os poderes satânicos. No primeiro ano de Dario, o medo, foi Gabriel que se levantou para o fortalecer e animar.
1 No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, foi revelada uma palavra a Daniel, cujo nome era Beltessazar; a palavra era verdadeira e envolvia grande conflito; e ele entendeu esta palavra, e tinha entendimento da visão.
2 Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas.
3 Alimento desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até que se cumpriram as três semanas.
4 E no dia vinte e quatro do primeiro mês eu estava à borda do grande rio Hidequel;
5 E levantei os meus olhos, e olhei, e eis um homem vestido de linho, e os seus lombos cingidos com ouro fino de Ufaz;
6 E o seu corpo era como berilo, e o seu rosto parecia um relámpago, e os seus olhos como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz das suas palavras era como a voz de uma multidão.
7 E só eu, Daniel, tive aquela visão. Os homens que estavam comigo não a viram; contudo caiu sobre eles um grande temor, e fugiram, escondendo-se.
8 Fiquei, pois, eu só, a contemplar esta grande visão, e não ficou força em mim; transmudou-se o meu semblante em corrupção, e não tive força alguma.
9 Contudo ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo o som das suas palavras, eu caí sobre o meu rosto num profundo sono, com o meu rosto em terra.
10 E eis que certa mão me tocou, e fez com que me movesse sobre os meus joelhos e sobre as palmas das minhas mãos.
11 E me disse: Daniel, homem muito amado, entende as palavras que vou te dizer, e levanta-te sobre os teus pés, porque a ti sou enviado. E, falando ele comigo esta palavra, levantei-me tremendo.
12 Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.
13 Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia.
14 Agora vim, para fazer-te entender o que há de acontecer ao teu povo nos derradeiros dias; porque a visão é ainda para muitos dias.
15 E, falando ele comigo estas palavras, abaixei o meu rosto para a terra, e emudeci.
16 E eis que alguém, semelhante aos filhos dos homens, tocou-me os lábios; então abri a minha boca, e falei, dizendo àquele que estava em pé diante de mim: senhor meu, por causa da visão sobre-vieram-me dores, e não me ficou força alguma.
17 Como, pois, pode o servo do meu senhor falar com o meu senhor? Porque, quanto a mim, desde agora não resta força em mim, e nem fólego ficou em mim.
18 E aquele, que tinha aparência de um homem, tocou-me outra vez, e fortaleceu-me.
19 E disse: Não temas, homem muito amado, paz seja contigo; anima-te, sim, anima-te. E, falando ele comigo, fiquei fortalecido, e disse: Fala, meu senhor, porque me fortaleceste.
20 E ele disse: Sabes por que eu vim a ti? Agora, pois, tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia.
21 Mas eu te declararei o que está registrado na escritura da verdade; e ninguém há que me anime contra aqueles, senão Miguel, vosso príncipe.
1 Eu, pois, no primeiro ano de Dario, o medo, levantei-me para animá-lo e fortalecê-lo.
Daniel capítulo 10 a 11, vers.1