Tendo o povo do primeiro grupo de cerca de 50.000 pessoas retornado às suas cidades, e construído suas habitações, ele se ajuntou em perfeita unanimidade para dar início às obras de reconstrução do templo: este era o objetivo principal do seu retorno, conforme o pregão do rei Ciro da Babilônia.
Tomaram a direção das obras Jesua e seus irmãos sacerdotes, e Zorobabel, neto piedoso do ímpio rei Jeconias de Judá, descendente de Davi.
Sua primeira providência foi dar início ao culto ao SENHOR, e para isso cumpriram com os mandamentos que encontram na Lei de Moisés.
Edificaram o altar do Deus de Israel para nele oferecerem holocaustos, embora ainda estivessem sob o terror dos povos de outras terras. Demonstraram portanto grande coragem, bem como dedicação e fé no seu Deus. Souberam onde encontrar a direção de Deus - na lei de Moisés e não titubearam em dar-lhe o cumprimento.
A Palavra de Deus era a sua autoridade absoluta, apesar dos setenta anos de cativeiro, e não permitiram que as idéias e práticas dos povos pagãos onde haviam peregrinado se misturassem com o culto que Deus lhes havia determinado.
Temos aqui uma lição para nós: a Bíblia é auto-suficiente e contém tudo o que necessário para a instrução de quem quer ser fiel a Deus em qualquer época da história da igreja. Os métodos, filosofias e rituais acrescentados e mesmo colocados em substituição aos ensinos das escrituras sagradas são não só supérfluos, mas nocivos, afastando-nos da pureza do Evangelho.
Ela precisa ser lida e observada em sua integridade, não apenas algumas passagens que mais nos agradam.
O altar que primeiro construíram foi o de holocaustos, onde se queimavam as ofertas. Ele foi erigido no primeiro dia do sétimo mês, que marcava o início do ano civil com a Festa das Trombetas e a partir desse dia, durante o mês, a lei exigia uma série de sacrifícios diários ((Números 29). Este altar nos fala da cruz de Cristo, sendo o holocausto o símbolo da pessoa de Cristo que se ofereceu como sacrifício por nós. Foi uma oferta a Deus, sem mácula, em lugar do pecador que nEle confia.
Simbolicamente aquele povo estava se reunindo em volta da pessoa de Cristo e da sua morte expiatória. Também esse é o lugar de encontro dos cristãos - todo o crente deve compreender que todos aqueles que decidiram confiar em Cristo como Salvador e foram batizados pelo Espírito Santo em seu corpo, são seus irmãos. A unanimidade daquele povo em torno do seu altar deve nos servir de exemplo, pois "Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!" (Salmo 133:1).
Cumprindo a lei, o povo não somente erigiu o altar, mas também passou novamente a observar a festa dos tabernáculos, lembrança dos anos que passaram no deserto inteiramente dependentes da providência de Deus antes de entrarem na terra da promessa, os holocaustos diários e todas as festas fixas do SENHOR. Ainda traziam ofertas voluntárias ao SENHOR.
Nada havia restado do templo, portanto foram contratados e pagos pedreiros e carpinteiros, bem como sidônios e tírios para trazerem madeira de cedro por mar do Líbano até Jope, de onde podia ser carregado até Jerusalém, conforme o rei Ciro havia determinado.
Embora ainda não houvesse templo, o altar estava em seu lugar, e já era simbolicamente chamado de casa de Deus. Dois anos depois da vinda de Zorobabel e Jesua a esse lugar em Jerusalém, foi dado início à obra de construção do novo templo, e constituíram levitas de vinte anos ou mais de idade para a administrarem.
O alicerce foi lançado no ano 535 AC, pondo fim aos 70 anos de cativeiro que haviam começado em 605 AC quando os primeiros cativos (incluindo Daniel) foram levados à Babilônia.
O lançamento do alicerce foi motivo de grande festividade: os sacerdotes compareceram paramentados e com trombetas, e os levitas da linha de Asafe trouxeram os seus címbalos para louvarem o SENHOR conforme as determinações do rei Davi.
Eles louvaram e renderam louvores ao SENHOR cantando em coro, alternadamente, as palavras "Ele é bom, porque a Sua misericórdia dura para sempre". E o povo jubilou em altas vozes, louvando ao SENHOR por se terem lançado os alicerces do templo.
Hoje em dia está muito em voga nas igrejas como introdução preliminar aos "cultos" de pregação do Evangelho e ministério da Palavra o que chamam de "louvor", com o uso de instrumentos musicais barulhentos e um conjunto coral na plataforma, chegando até a ter coreografia.
Em adoração, bem como na apresentação do Evangelho, toda a glória deve pertencer ao Senhor. A doutrina bíblica proclama que todo o ministério cheio do Espírito Santo é focalizado em Deus, é modesto e não é exibicionista: "não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor" (2 Coríntios 4:5), "… é necessário que Ele cresça e que eu diminua" (João 3:30), "… para que nenhuma carne se glorie perante ele" (1 Coríntios 1:29), "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei…" (Isaías 42:8).
Ninguém pode se gloriar na presença do Deus onipotente. Ninguém pode ao mesmo tempo adorar a Deus e exibir-se. Na verdadeira adoração o individualismo deve retroceder e um crente em Cristo nunca deve adotar, imitar, divertir-se ou se entregar ao exibicionismo vão deste mundo.
Devemos sempre estar de alerta contra a tendência humana de exaltar a carne, de sobreestimar o homem e de servir-se a si próprio, de ser "mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela" (2 Timóteo 3:4).
O júbilo com que esse povo louvava a Deus nessa ocasião nos lembra o júbilo do povo quando a arca foi transportada para Jerusalém no tempo do rei Davi. Lemos que Davi dançou, o que é usado por alguns como pretexto para dançar na igreja (2 Samuel 6:14, 16). Na realidade ele estava saltando e rodopiando na procissão triunfante em que a Arca do SENHOR era levada novamente ao tabernáculo em Jerusalém. Notemos: não era um culto de louvor dentro do templo, nem se tratava de uma coreografia ensaiada. Ele deixou suas vestes reais para vestir uma simples vestidura sacerdotal e pular e rodopiar jubilosamente entre o povo.
Assim como os mais velhos entre o povo choravam ao se lembrar do magnífico templo que havia antes, e com isso apagavam um pouco o brilho da celebração, a mulher de Davi, Mical, o desprezou dizendo que o seu comportamento fora vergonhoso. Ela é chamada "filha de Saul" nessa ocasião, talvez para realçar que a sua atitude de desprezo ao culto a Deus lembrava a do seu pai.
No entanto Davi nos dá um exemplo magnífico naquele episódio: ele pôs de lado toda a pompa e os símbolos e vestes da sua própria realeza a fim de humildemente juntar-se ao povo jubilante, dando toda a glória e honra ao SENHOR, simbolizado pela arca.
Que também seja esta a nossa atitude de espírito ao louvarmos ao nosso Deus, Salvador e Senhor, colocando de lado tudo o que poderia nos engrandecer e envaidecer, e nos juntando aos nossos irmãos com humildade para alegremente render a Ele, o nosso culto de adoração.
1 Chegando, pois, o sétimo mês e estando os filhos de Israel já nas cidades, se ajuntou o povo, como um só homem, em Jerusalém.
2 E levantou-se Jesua, filho de Jozadaque, e seus irmãos, os sacerdotes, e Zorobabel, filho de Sealtiel, e seus irmãos e edificaram o altar do Deus de Israel, para oferecerem sobre ele holocaustos, como está escrito na Lei de Moisés, o homem de Deus.
3 E firmaram o altar sobre as suas bases, porque o terror estava sobre eles, por causa dos povos das terras; e ofereceram sobre ele holocaustos ao SENHOR, holocaustos de manhã e de tarde.
4 E celebraram a Festa dos Tabernáculos, como está escrito, e ofereceram holocaustos de dia em dia, por ordem, conforme o rito, cada coisa no seu dia;
5 e, depois disso, o holocausto contínuo e os das luas novas e de todas as solenidades consagradas ao SENHOR, como também de qualquer que oferecia oferta voluntária ao SENHOR.
6 Desde o primeiro dia do sétimo mês, começaram a oferecer holocaustos ao SENHOR; porém ainda não estavam postos os fundamentos do templo do SENHOR.
7 Deram, pois, o dinheiro aos cortadores e artífices, como também comida, e bebida, e azeite aos sidônios e aos tírios, para trazerem do Líbano madeira de cedro ao mar, para Jope, segundo a concessão que lhes tinha feito Ciro, rei da Pérsia.
8 E, no segundo ano da sua vinda à Casa de Deus, em Jerusalém, no segundo mês, começaram Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesua, filho de Jozadaque, e os outros seus irmãos, os sacerdotes e os levitas, e todos os que vieram do cativeiro a Jerusalém e constituíram levitas da idade de vinte anos e daí para cima, para que aviassem a obra da Casa do SENHOR.
9 Então, se levantou Jesua, seus filhos e seus irmãos, Cadmiel e seus filhos, os filhos de Judá, como um só homem, para vigiarem os que faziam a obra na Casa de Deus, os filhos de Henadade, seus filhos e seus irmãos, os levitas.
10 Quando, pois, os edificadores lançaram os alicerces do templo do SENHOR, então, apresentaram-se os sacerdotes, já paramentados e com trombetas, e os levitas, filhos de Asafe, com saltérios, para louvarem ao SENHOR, conforme a instituição de Davi, rei de Israel.
11 E cantavam a revezes, louvando e celebrando ao SENHOR, porque é bom; porque a sua benignidade dura para sempre sobre Israel. E todo o povo jubilou com grande júbilo, quando louvou o SENHOR, pela fundação da Casa do SENHOR.
12 Porém muitos dos sacerdotes, e levitas, e chefes dos pais, já velhos, que viram a primeira casa sobre o seu fundamento, vendo perante os seus olhos esta casa, choraram em altas vozes; mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria.
13 De maneira que não discernia o povo as vozes de alegria das vozes do choro do povo; porque o povo jubilava com tão grande júbilo, que as vozes se ouviam de mui longe.
Esdras capítulo 3