Quando o sacerdote Esdras e o seu grupo chegaram a Jerusalém, a cidade já estava em grande parte reconstruída, bem como o templo, durante os oitenta anos desde a vinda do primeiro grupo liderado por Zerubabel. Mas o muros da cidade ainda estavam em ruínas, e os imigrantes haviam se conformado a viver com os outros povos da terra.
Eles haviam tomado mulheres desses outros povos em casamento, o que a lei de Moisés proibia (Êxodo 34:11-16 e Deuteronômio 7:1-4), e com isso também haviam adotado seus costumes e religiões, chamados aqui de "abominações". Eram práticas imorais e idólatras.
Os próprios príncipes, ou líderes do povo bem como os magistrados estavam envolvidos. Eles eram os maiores culpados diante de Deus, pois o privilégio que tinham lhes trazia maior responsabilidade.
Se os israelitas faziam tão pouco caso dos mandamentos de Deus em algo tão importante como o casamento, tampouco teriam firmeza suficiente para obedecer e impor às suas famílias os outros preceitos da lei de Moisés.
As doutrinas do Novo Testamento reconhecem o perigo do casamento misto, crente com incrédulo, e temos a advertência "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?". Neste casamento faltará um compromisso sério com Deus, com graves problemas para o crente e os seus filhos.
Ao ser informado dessa situação terrível, Esdras mostrou sua profunda tristeza da maneira em que se fazia naquele tempo: rasgou sua roupa, e arrancou os cabelos da sua cabeça e da sua barba, e se assentou atônito.
Hoje vemos uma situação semelhante em grande parte das igrejas que se chamam "cristãs": elas se "casaram" com igrejas apóstatas, e também com o mundo. Com isso deixaram os ensinos do Senhor Jesus e dos seus apóstolos e se atolaram no baixo nível de moralidade e falsa doutrina que nos rodeiam.
Essas igrejas cometem o pecado da igreja de Pérgamo (Apocalipse 2:12-17): o nome Pérgamo significa, no grego antigo, muito casamento, pois a igreja encorajava a corrupção mediante associações com o mundo pagão, o que resultava em imoralidade e idolatria (Números 25:1-3, 31:16). Ela também aceitava as doutrinas dos nicolaitanos (que o Senhor odeia), que ensinavam as vantagens de manter um sacerdócio para dirigi-la, da mesma forma que os judeus tinham, em conformidade com as ordenanças do Velho Testamento.
Esdras temeu que mais uma vez a mão do SENHOR se afastasse do Seu povo, com as terríveis conseqüências que haviam experimentado no passado. Reuniram-se a ele todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel, por causa da transgressão dos do cativeiro.
Estes levavam a Palavra de Deus a sério - mesmo hoje muitos se dizem cristãos mas dão pouca atenção ao que a Bíblia ensina. Esperam até que chegue uma calamidade para então se lembrarem de Deus e rogar a Sua proteção. A Bíblia é para ser lida e obedecida, ela deve ser usada como luz para iluminar o nosso caminho.
Enfim, perto do sacrifício da tarde, Esdras se pôs de joelhos e estendeu as suas mãos para o SENHOR, seu Deus. Estender as mãos para Deus significa que ele estava em atitude de súplica, sem esconder nada dEle.
A oração que se segue é uma das três mais célebres orações do Velho Testamento, depois de iniciado o cativeiro, todas no capítulo 9: as outras estão em Neemias e Daniel. Esta oração nos dá uma perspectiva do pecado:
Pecar é coisa séria (v. 6); há uma tendência para considerar o pecado como coisa leviana quando o mundo sem Deus pensa que ele não traz conseqüências, mas devemos encarar o pecado da mesma maneira que Esdras o fez: é muito grave.
O pecado prejudica os outros (v.7).
Esdras reconheceu que ele próprio era pecador embora não tivesse tomado uma mulher pagã para si (v.9:10 etc.); ele confessava os pecados do povo, e embora não tivesse pecado como eles, ele se identificou com o que haviam feito.
O amor e misericórdia de Deus haviam poupado a nação sem que ela o merecesse (Esdras 9:8, 9, 15).
Esdras reconheceu que, se Deus fizesse justiça ao povo segundo o seu merecimento, não lhes seria possível estar na presença de Deus.
Às vezes clamamos por justiça quando nos sentimos vítimas dos outros. Nessas ocasiões esquecemos da realidade do nosso próprio pecado e da sentença que merecemos. Que sorte temos que Deus nos dá misericórdia e graça ao invés de justiça apenas. Pensemos nisso antes de reclamar dos outros.
Pranteando, Esdras expressou sua vergonha pelo pecado, temor pelas conseqüências, e o desejo que o povo acordasse e se arrependesse. A sua oração comoveu o povo (10:1). Esdras demonstrou a necessidade de uma comunhão santa ao redor do templo reconstruído.
Precisamos também de comunhão santa em nossas igrejas locais. Mesmo se cairmos no mais sério dos pecados, podemos voltar a Deus com sincero arrependimento e Ele nos perdoará.
Enfim houve um reavivamento. E reavivamento conduz à reforma. Uma profunda convicção do seu pecado veio sobre o povo de Deus e seu porta-voz, Secanias veio até Esdras e confessou o pecado com que haviam transgredido contra Deus. Também propôs um concerto com Deus, mediante o qual todos os homens despediriam as suas mulheres gentias bem como os seus filhos.
Quebrar a lei de Deus é coisa muito séria. O que Secanias propôs traria grande tristeza a muita gente, mas era necessário haver arrependimento e afastamento por completo do pecado mesmo com essas conseqüências trágicas.
Teria que haver uma separação clara entre o povo: todos os que vieram do cativeiro, deveriam se ajuntar em Jerusalém dentro de três dias, sob pena de confisco de suas propriedades e expulsão do convívio com os demais segundo o conselho dos príncipes e dos anciãos.
O ajuntamento em Jerusalém se realizou quatro meses e meio depois da vinda de Esdras, sob forte chuva que, aliada ao medo do que viria depois, fez tremer todo o povo assentado na praça defronte ao templo.
Esdras exigiu que todos confessassem o seu pecado ao SENHOR, e que se apartassem dos povos das terras e das mulheres estrangeiras.
A congregação concordou mas, por causa do tempo e da quantidade de gente, propôs que os seus líderes tomassem conta e cada um que tivesse casado com mulher estrangeira viesse para acertar o seu caso em dia e hora marcada, acompanhado pelos anciãos de cada cidade, e os seus juízes.
Pouco mais de dois meses depois começou o julgamento, encabeçado pelo sacerdote Esdras, durando por um mês. Foram achados sacerdotes que haviam casado com estrangeiras. Estes, além de prometer que despediriam suas mulheres, ofereceram um carneiro do rebanho pelo seu delito.
Temos em seguida, terminando o livro, uma lista dos que tinham tomado mulheres estranhas e deram as mãos prometendo que as despediriam. Algumas tinham filhos, que teriam que ir com elas. Triste para eles, mas com isso Esdras provou ser o homem de Deus para aquela hora, extirpando o mal nascente entre o povo que voltara à sua terra. Pelo menos durante essa geração ele ajudou a preservar o testemunho dos judeus para cumprir o plano de Deus.
1 Acabadas, pois, essas coisas, chegaram-se a mim os príncipes, dizendo: O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se têm separado dos povos destas terras, seguindo as abominações dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus,
2 porque tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e assim se misturou a semente santa com os povos destas terras, e até a mão dos príncipes e magistrados foi a primeira nesta transgressão.
3 E, ouvindo eu tal coisa, rasguei a minha veste e o meu manto, e arranquei os cabelos da minha cabeça e da minha barba, e me assentei atônito.
4 Então, se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel, por causa da transgressão dos do cativeiro; porém eu me fiquei assentado atônito até ao sacrifício da tarde.
5 E, perto do sacrifício da tarde, me levantei da minha aflição, havendo já rasgado a minha veste e o meu manto, e me pus de joelhos, e estendi as minhas mãos para o SENHOR, meu Deus.
6 E disse: Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a minha face, meu Deus, porque as nossas iniqüidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem crescido até aos céus.
7 Desde os dias de nossos pais até ao dia de hoje, estamos em grande culpa e, por causa das nossas iniqüidades, fomos entregues, nós, os nossos reis e os nossos sacerdotes, nas mãos dos reis das terras, à espada, ao cativeiro, ao roubo e à confusão do rosto, como hoje se vê.
8 E, agora, como por um pequeno momento, se nos fez graça da parte do SENHOR, nosso Deus, para nos deixar alguns que escapem e para dar-nos uma estabilidade no seu santo lugar; para nos alumiar os olhos; ó Deus nosso, e para nos dar um pouco de vida na nossa servidão;
9 porque servos somos, porém na nossa servidão não nos desamparou o nosso Deus; antes, estendeu sobre nós beneficência perante os reis da Pérsia, para revivermos, e para levantarmos a Casa do nosso Deus, e para restaurarmos as suas assolações, e para que nos desse uma parede em Judá e em Jerusalém.
10 Agora, pois, ó nosso Deus, que diremos depois disso? Pois deixamos os teus mandamentos,
11 os quais mandaste pelo ministério de teus servos, os profetas, dizendo: A terra em que entrais para a possuir terra imunda é pelas imundícias dos seus povos, pelas abominações com que, na sua corrupção, a encheram de uma extremidade à outra.
12 Agora, pois, vossas filhas não dareis a seus filhos, e suas filhas não tomareis para vossos filhos, e nunca procurareis a sua paz e o seu bem; para que vos fortaleçais, e comais o bem da terra, e a façais possuir a vossos filhos para sempre.
13 E, depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras e da nossa grande culpa, ainda assim tu, ó nosso Deus, estorvaste que fôssemos destruídos, por causa da nossa iniqüidade, e ainda nos deste livramento como este,
14 tornaremos, pois, agora a violar os teus mandamentos e a aparentar-nos com os povos destas abominações? Não te indignarias tu, assim, contra nós até de todo nos consumires, até que não ficasse resto nem quem escapasse?
15 Ah! SENHOR, Deus de Israel, justo és, pois ficamos escapos, como hoje se vê; eis que estamos diante de ti no nosso delito, porque ninguém há que possa estar na tua presença por causa disso.
1 E orando Esdras assim, e fazendo esta confissão, e chorando, e prostrando-se diante da Casa de Deus, ajuntou-se a ele de Israel uma mui grande congregação de homens e mulheres e de crianças, porque o povo chorava com grande choro.
2 Então, respondeu Secanias, filho de Jeiel, um dos filhos de Elão, e disse a Esdras: Nós temos transgredido contra o nosso Deus e casamos com mulheres estranhas do povo da terra, mas, no tocante a isso, ainda há esperança para Israel.
3 Agora, pois, façamos concerto com o nosso Deus, de que despediremos todas as mulheres e tudo o que é nascido delas, conforme o conselho do Senhor e dos que tremem no mandado do nosso Deus; e faça-se conforme a Lei.
4 Levanta-te, pois, porque te pertence este negócio, e nós seremos contigo; esforça-te e faze assim.
5 Então, Esdras se levantou e ajuramentou os maiorais dos sacerdotes e dos levitas e todo o Israel, de que fariam conforme esta palavra; e eles juraram.
6 E Esdras se levantou de diante da Casa de Deus, e entrou na câmara de Jeoanã, filho de Eliasibe, e, vindo lá, pão não comeu, e água não bebeu, porque estava angustiado pela transgressão dos do cativeiro.
7 E fizeram passar pregão, por Judá e Jerusalém, a todos os que vieram do cativeiro, para que se ajuntassem em Jerusalém;
8 e que todo aquele que, em três dias, não viesse, segundo o conselho dos príncipes e dos anciãos, toda a sua fazenda se poria em interdito, e ele seria separado da congregação dos do cativeiro.
9 Então, todos os homens de Judá e Benjamim, em três dias, se ajuntaram em Jerusalém; era o nono mês, no dia vinte do mês; e todo o povo se assentou na praça da Casa de Deus, tremendo por este negócio e por causa das grandes chuvas.
10 Então, se levantou Esdras, o sacerdote, e disse-lhes: Vós tendes transgredido e casastes com mulheres estranhas, multiplicando o delito de Israel.
11 Agora, pois, fazei confissão ao SENHOR, Deus de vossos pais, e fazei a sua vontade; apartai-vos dos povos das terras e das mulheres estranhas.
12 E respondeu toda a congregação e disse em altas vozes: Assim seja; conforme as tuas palavras, nos convém fazer.
13 Porém o povo é muito, e também é tempo de grandes chuvas, e não se pode estar aqui fora; nem é obra de um dia nem de dois, porque somos muitos os que transgredimos neste negócio.
14 Ora, ponham-se os nossos príncipes, por toda a congregação, sobre este negócio; e todos os que, em nossas cidades, casaram com mulheres estranhas venham em tempos apontados, e com eles os anciãos de cada cidade, e os seus juízes, até que desviemos de nós o ardor da ira do nosso Deus, por esta causa.
15 Porém somente Jônatas, filho de Asael, e Jazeías, filho de Ticva, se puseram sobre este negócio; e Mesulão e Sabetai, levita, os ajudaram.
16 E assim o fizeram os que tornaram do cativeiro; e apartaram-se o sacerdote Esdras e os homens, cabeças dos pais segundo a casa de seus pais, e todos pelos seus nomes; e assentaram-se no primeiro dia do décimo mês, para inquirirem neste negócio.
17 E acabaram de tratar com todos os homens que casaram com mulheres estranhas, até ao primeiro dia do primeiro mês.
18 E acharam-se dos filhos dos sacerdotes que casaram com mulheres estranhas: dos filhos de Jesua, filho de Jozadaque, e seus irmãos, Maaséias, e Eliézer, e Jaribe, e Gedalias.
19 E deram-se as mãos, prometendo que despediriam suas mulheres, e, achando-se culpados, ofereceram um carneiro do rebanho pelo seu delito.
20 E dos filhos de Imer: Hanani e Zebadias.
21 E dos filhos de Harim: Maaséias, e Elias, e Semaías, e Jeiel, e Uzias.
22 E dos filhos de Pasur: Elioenai, Maaséias, Ismael, Natanael, Jozabade e Elasa.
23 E dos levitas: Jozabade, e Simei, e Quelaías (este é Quelita), e Petaías, e Judá, e Eliézer.
24 E dos cantores: Eliasibe; e dos porteiros: Salum, e Telém, e Uri.
25 E de Israel, dos filhos de Parós: Ramias, e Jezias, e Malquias, e Miamim, e Eleazar, e Malquias, e Benaia.
26 E dos filhos de Elão: Matanias, e Zacarias, e Jeiel, e Abdi, e Jeremote, e Elias.
27 E dos filhos de Zatu: Elioenai, e Eliasibe, e Matanias, e Jeremote, e Zabade, e Aziza.
28 E dos filhos de Bebai: Jeoanã, Hananias, Zabai e Atlai.
29 E dos filhos de Bani: Mesulão, e Maluque, e Adaías, e Jasube, e Seal, e Jeremote.
30 E dos filhos de Paate-Moabe: Adna, e Quelal, e Benaia, e Maaséias, e Matanias, e Bezalel, e Binui, e Manassés.
31 E dos filhos de Harim: Eliézer, Issias, Malquias, Semaías, Simeão,
32 Benjamim, Maluque e Semarias.
33 Dos filhos de Hasum: Matenai, Matatá, Zabade, Elifelete, Jeremai, Manassés e Simei.
34 Dos filhos de Bani: Maadai, Anrão, e Uel,
35 Benaia, Bedias, Queluí,
36 Vanias, Meremote, Eliasibe,
37 Matanias, Matenai, Jaasai,
38 Bani, Binui, Simei,
39 Selemias, Natã, Adaías,
40 Macnadebai, Sasai, Sarai,
41 Azarel, Selemias, Semarias,
42 Salum, Amarias e José.
43 Dos filhos de Nebo: Jeiel, Matitias, Zabade, Zebina, Jadai, Joel e Benaia.
44 Todos estes tinham tomado mulheres estranhas; e alguns deles tinham mulheres de quem alcançaram filhos.