A expressão "depois destas cousas" abrange um intervalo de quatro anos desde o fim do capítulo anterior.
O rei Assuero promoveu um agagita chamado Hamã ("magnífico"), para a posição mais elevada no seu governo. O termo agagita só é mencionado aqui: Agag era um dos termos usados para os reis dos amalequitas (1 Samuel 15:8), donde se deduz que Hamã era provavelmente descendente da linha real dos amalequitas.
A casa real dos amalequitas poderia ter sido levada para o cativeiro na Babilônia no tempo de Nabucodonosor ou mesmo após batalhas perdidas para os caldeus ou persas. Os amalequitas estavam entre os maiores inimigos dos judeus. Moisés declarou que "haverá guerra do SENHOR contra Amaleque de geração em geração."
Todos os servos do rei que estavam à porta do rei se inclinavam e se prostravam em submissão ao poderoso Hamã, conforme o rei havia ordenado, menos Mardoqueu, o primo secreto da rainha Ester.
Os que se encontravam em volta notaram a falta de respeito de Mardoqueu, e o alertaram ao fato que estava procedendo ilegalmente, mas ele não lhes deu ouvidos. Ele não se prostraria em adoração diante de um simples homem, pois era contra a lei de Moisés - e foi então que ele lhes declarou que era judeu.
A firmeza de Mardoqueu demonstrava o seu temor e a sua fé em Deus. Ele teve a coragem de ficar em pé sozinho, no meio dos outros que se prostravam, correndo perigo de um severo castigo. Nem sempre fazer o que é certo nos faz agradáveis aos que nos rodeiam, podemos até ser uma pequena minoria, mas obedecer a Deus é mais importante do que qualquer outra coisa, mesmo se tivermos que desobedecer às autoridades constituídas (Atos 5:29).
Vendo que Mardoqueu permanecia inabalável, os servos do rei foram até Hamã, e lhe contaram o que se estava passando. Eles estavam de guarda à porta do rei e tinham obrigação de manter a ordem pública.
Mardoqueu tinha uma posição de destaque e dizia que não obedecia à lei porque era judeu. Eles precisavam de confirmação por parte de Hamã que ele podia ser isentado da sua obrigação por causa da sua nacionalidade.
Hamã ficou furioso ao comprovar que Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava diante dele. Mas seu furor aumentou ao ser informado que ele era judeu, um povo que ele detestava, e que suas convicções religiosas não permitiam que Mardoqueu se prostrasse diante dele. Mardoqueu agora representava, para Hamã, todo aquele povo, e o seu ódio se acendeu contra eles.
Castigar apenas a Mardoqueu não lhe daria suficiente satisfação - ele decidiu eliminar todos os judeus que se encontravam dentro do imenso reino dos persas. Sem dúvida estava inspirado pelo diabo, que assim procurava destruir de uma vez só todo o povo de Deus.
Tomada a decisão, ele fez com que houvesse um sorteio (pur na língua persa) perante ele, incluindo cada dia, de mês em mês pelo período de um ano, para averiguar qual seria a data mais auspiciosa para executar o seu plano.
A festa de Purim (sortes), é observada até hoje pelos judeus, um mês antes da páscoa, anualmente, em memória irônica dessa consulta às sortes feita por Hamã.
Por uma aparente coincidência, as sortes determinaram que a data certa seria quase um ano mais tarde. Deus tinha um plano superior, e esse prazo foi dado para que a conspiração de Hamã fosse revelada e o plano de Deus fosse cumprido: "A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda a sua disposição" (Provérbios 16:33).
Era agora necessário convencer o rei, pois Hamã não tinha autoridade para ele próprio desenvolver tamanho morticínio entre os seus súditos.
Hamã então disse ao rei que havia um povo espalhado e disperso entre os povos em todas as províncias do reino, cujas leis eram diferentes das leis de todos os povos e que não cumpriam as leis do rei; pelo que não convinha ao rei deixá-lo ficar.
Evidentemente temos aqui uma calúnia clássica: começando por uma verdade (que eles tinham lei própria e diferente de todos os outros povos), terminando com um sofismo (que por isso eram rebeldes não cumprindo com as leis do rei, implicando também que eram subversivos). Ele generalizou a todo o povo uma única falha cometida por uma só pessoa desse povo, contra si próprio, dando a entender que era um povo rebelde, perigoso.
Em seguida recomendou que o rei os condenasse à morte, e ainda ofereceu pagar trezentas e cinqüenta toneladas de prata na tesouraria real para que esse trabalho fosse executado. Decerto ele esperava obter grande despojo dos judeus ricos, do qual ele pagaria esse valor considerável ao rei.
A confiança do rei em Hamã era tal, que não lhe perguntou mais nada. Simplesmente tirou seu anel-selo do dedo e deu-o a Hamã, dizendo que ficasse com a prata e fizesse com o povo o que achasse melhor.
No mundo antigo as autoridades do país costumavam imprimir lacre ou cera nos documentos oficiais com seus anéis pessoais para autenticá-los. Ao dar o seu anel-selo a Hamã o rei lhe transferiu sua "assinatura" pessoal para autorizar o que quisesse como se fosse o próprio rei. Mal sabia o rei que com isso Hamã iria decretar a morte da sua querida rainha Ester.
Sem perder tempo, Hamã convocou os secretários do rei, e ordenou que escrevessem cartas às autoridades, governadores e chefes de cada povo, na língua e na escrita de cada um, em nome de Xerxes e selado com seu anel.
Isso se deu no dia 13 do primeiro mês do 12o. ano do reinado de Xerxes (474 a.C.)
As cartas foram levadas por mensageiros a todas as províncias do império com a ordem de exterminar e aniquilar completamente todo o povo judeu, compreendendo todos os indivíduos de qualquer idade ou sexo, em um só dia. O dia da execução seria o dia 13 do último mês desse ano. Todos os bens dos judeus deviam ser saqueados.
Esse era um decreto que devia ser publicado por cópia para conhecimento do povo de cada nação, para que estivessem prontos para aquele dia.
Enquanto que, por ordem do rei, os mensageiros saíam às pressas para entregar suas cartas, ele e Hamã assentaram-se para beber tranqüilamente.
Mas a cidade de Susã estava em confusão. Não só os judeus, mas também os que não eram judeus reagiram com estupefação diante de tamanho despotismo. O rei e o primeiro ministro eram uma pequena minoria, mas tinham em suas mãos a suprema autoridade sobre uma vasta região da terra e eles estavam promovendo a destruição de um povo inteiro.
No entanto, sobre os dois, estava o supremo Rei do Universo, e Ele iria transformar completamente aquilo que havia sido decretado, "irrevogavelmente", pelo rei dos persas. Ele, com a sua onisciência, já havia preparado as circunstâncias na hora certa e as pessoas no lugar certo para executar a Sua vontade soberana.
1 Depois dessas coisas, o rei Assuero engrandeceu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, e o exaltou; e pôs o seu lugar acima de todos os príncipes que estavam com ele.
2 E todos os servos do rei, que estavam à porta do rei, se inclinavam e se prostravam perante Hamã; porque assim tinha ordenado o rei acerca dele; porém Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava.
3 Então, os servos do rei, que estavam à porta do rei, disseram a Mardoqueu: Por que traspassas o mandado do rei?
4 Sucedeu, pois, que, dizendo-lhe eles isso, de dia em dia, e não lhes dando ele ouvidos, o fizeram saber a Hamã, para verem se as palavras de Mardoqueu se sustentariam, porque ele lhes tinha declarado que era judeu.
5 Vendo, pois, Hamã que Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava diante dele, Hamã se encheu de furor.
6 Porém, em seus olhos, teve em pouco o pôr as mãos só sobre Mardoqueu (porque lhe haviam declarado o povo de Mardoqueu); Hamã, pois, procurou destruir todos os judeus que havia em todo o reino de Assuero, ao povo de Mardoqueu.
7 No primeiro mês (que é o mês de nisã), no ano duodécimo do rei Assuero, se lançou Pur, isto é, a sorte, perante Hamã, de dia em dia e de mês em mês, até ao duodécimo mês, que é o mês de adar.
8 E Hamã disse ao rei Assuero: Existe espalhado e dividido entre os povos em todas as províncias do teu reino um povo cujas leis são diferentes das leis de todos os povos e que não cumpre as leis do rei; pelo que não convém ao rei deixá-lo ficar.
9 Se bem parecer ao rei, escreva-se que os matem; e eu porei nas mãos dos que fizerem a obra dez mil talentos de prata, para que entrem nos tesouros do rei.
10 Então, tirou o rei o anel da sua mão e o deu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, adversário dos judeus.
11 E disse o rei a Hamã: Essa prata te é dada, como também esse povo, para fazeres dele o que bem parecer aos teus olhos.
12 Então, chamaram os escrivães do rei no primeiro mês, no dia treze do mesmo, e conforme tudo quanto Hamã mandou se escreveu aos príncipes do rei, e aos governadores que havia sobre cada província, e aos principais de cada povo; a cada província segundo a sua escritura e a cada povo segundo a sua língua; em nome do rei Assuero se escreveu, e com o anel do rei se selou.
13 E as cartas se enviaram pela mão dos correios a todas as províncias do rei, que destruíssem, matassem, e lançassem a perder a todos os judeus desde o moço até ao velho, crianças e mulheres, em um mesmo dia, a treze do duodécimo mês (que é mês de adar), e que saqueassem o seu despojo.
14 Uma cópia do escrito para que se proclamasse a lei em cada província foi enviada a todos os povos, para que estivessem preparados para aquele dia.
15 Os correios, pois, impelidos pela palavra do rei, saíram, e a lei se proclamou na fortaleza de Susã; e o rei e Hamã se assentaram a beber; porém a cidade de Susã estava confusa.
Ester capítulo 3