Depois de Xerxes, rei da Pérsia, ter afastado a rainha Vasti da sua presença, por insubordinação, passaram-se três ou quatro anos antes do reinício da história neste capítulo. O que ocorreu durante esses anos não nos é dito na Bíblia.
Segundo os historiadores da antigüidade e os escritos em tijolinhos daquele tempo encontrados por arqueólogos, Xerxes estava sendo pressionado a reiniciar hostilidades contra a Grécia em vingança pela afronta que Dario havia sofrido em 490 a.C. em Maratona das mãos dos gregos, quando seu exército fora derrotado em um dia pelo muito menor exército grego.
Durante três anos (484-481 a.C.) Xerxes preparou-se diplomática e militarmente para entrar em guerra contra os gregos. O exército de Xerxes tinha uma superioridade numérica esmagadora mas os soldados gregos tinham um treinamento muito melhor e maior motivação pois estariam defendendo o seu próprio território, que conheciam muito mais do que os persas. Os gregos também valorizavam o indivíduo, dando-lhe coragem e moral.
Finalmente Xerxes desenvolveu a sua campanha que ficou conhecida na história como a do Helesponto, em 480 a.C., com célebres batalhas em Termópilas, Salamina, e Plataea. Ele perdeu essa guerra, e com isso o seu império começou a declinar.
Desanimado, já com quarenta anos, voltou para casa e sentiu a falta da rainha. Ele não podia permitir que Vasti voltasse à sua presença porque lhe era impossível revogar o decreto com que a expulsara. Os seus acompanhantes perceberam o seu estado de depressão e lhe sugeriram então que escolhesse para si outra rainha entre as mais belas jovens do seu império.
O rei gostou da idéia, e então, por sua ordem, foram trazidas à fortaleza de Susã todas as jovens solteiras bonitas para se prepararem durante o período de um ano para ser inspecionadas pelo rei. Aquela que mais lhe agradasse seria feita rainha.
Os reis da Pérsia colecionavam mulheres como colecionavam jóias. Essas jovens eram tiradas dos seus lares e levadas para morar em um edifício perto do palácio do rei, chamado o harém. A sua vida era dedicada inteiramente a servir, divertir e agradar o rei. Só podiam ir até a presença do rei quando fossem chamadas por nome, e se ele não se agradasse com elas, ele poderia esquecê-las e a sua vida seria enfadonha, prisioneiras dentro do harém.
A rainha ocupava um lugar de honra e destaque, e tinha mais liberdade e autoridade do que qualquer outra mulher no harém. Mas, assim mesmo, tinha poucos direitos, restritos ainda mais por causa da rebeldia da deposta rainha Vasti.
Até aqui tivemos um preâmbulo esclarecendo as circunstâncias que levaram o rei da Pérsia a procurar para si uma esposa, e sem dúvida são evidência dos divinos propósitos de permitir a sobrevivência do Seu povo no meio dos seus inimigos, como veremos mais tarde.
A história agora focaliza "um homem judeu na fortaleza de Susã, cujo nome era Mardoqueu". A população de judeus havia aumentado desde o seu exílio mais de um século antes. Eles tinham muita liberdade e podiam ter suas próprias empresas e mesmo ocupar posições no governo (Ester 2:19; Daniel 6:3). Mardoqueu parece ter sido um destes que prosperaram.
O texto bíblico diz que ele era "filho de Jair, filho de Simei, filho de Quis, homem benjamita, que fora transportado de Jerusalém com os cativos que foram levados com Jeconias, rei de Judá, ao qual transportara Nabucodonosor, rei de Babilônia". O rei Jeconias, também chamado Joaquim, fora transportado para a Babilônia no ano 598 a.C., ou 118 anos antes, e o bisavô de Mardoqueu, Quis, fora levado com ele.
Mardoqueu era portanto da quarta geração de judeus na Babilônia, já bem radicado e provavelmente bem colocado dentro daquela sociedade, de forma que não se aproveitou da liberdade que fora dada aos judeus para voltarem à sua terra.
Ele havia adotado como sua filha a sua prima Hadassa (Murta), filha do seu tio, que havia morrido com sua mulher, deixando a sua filha órfã. Deve ter havido uma suficiente diferença de idade entre eles para que a adoção fosse possível. O nome que os caldeus deram a ela foi Ester (Estrela), e este é o nome pelo qual ficou sendo conhecida.
Ester era uma jovem de bela aparência e formosa à vista, portanto foi selecionada junto com as outras para a casa do rei para se preparar para ser apresentada a ele no devido tempo. O guarda das mulheres, Hegai, impressionou-se com a sua beleza e simpatizou-se com ela: deu-lhe então um lugar de destaque na casa das mulheres, e sete moças de respeito da casa do rei como acompanhantes.
Também apressou-se em lhe dar os seus enfeites e os seus alimentos. Por ordem de Mardoqueu ela não declarou a ninguém o seu povo e a sua parentela, e Mardoqueu passeava todos os dias diante da casa onde ela estava para se informar de como ela passava e o que lhe sucederia.
Segundo a lei daquele país as mulheres tinham que passar por uma purificação antes de se apresentarem ao rei: seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias e coisas para sua purificação.
Oportunamente chegou a vez de Ester ser levada ao rei. Ela podia pedir o que quisesse, seja roupas, jóias, perfumes ou outras coisas, mas quanto a isso ela preferiu seguir o conselho de Hegai, o eunuco do rei, que conhecia bem as preferências dele.
O rei gostou de Ester logo à primeira vista e amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele graça e benevolência mais do que todas as outras moças; e ele pôs a coroa real na sua cabeça e a fez rainha em lugar de Vasti.
Xerxes I honrou Ester com uma grande festa, à qual convidou todos os seus príncipes e os seus servos. Também deu repouso às províncias, entendendo-se por isso que provavelmente suspendeu o pagamento de impostos por certo prazo, e fez presentes à altura da sua riqueza, para alegria de todos os beneficiados.
Deus colocou Ester no trono antes da ocasião em que os judeus vieram a correr o risco de completa extinção, como veremos mais tarde. Assim, quando a ocasião chegou, a pessoa certa estava no lugar certo. Deus tem o controle das situações e sabe o futuro, coisa que para nós é impossível saber. Às vezes ficamos perplexos sem saber a razão porque algo acontece conosco, mas fiquemos confiantes porque Deus sabe.
Em seguida as moças foram reunidas outra vez, não sabemos o motivo, e foi concedido a Mardoqueu um lugar honroso para se assentar, à porta da casa do rei.
Até aqui, Ester continuou a manter silêncio sobre a sua parentela e o seu povo, obediente a Mardoqueu. Era prudente porque sua situação era ainda frágil. Essa estratégia é algumas vezes útil para o crente: embora deva testemunhar de Cristo, fará bem em esperar até ter adquirido o direito de ser ouvido, especialmente com relação ao que tem autoridade sobre ele. Enquanto isso, a diferença que Deus faz em sua vida será um testemunho vivo, sem palavras.
Do seu lugar, Mardoqueu estava atento a tudo o que se passava dentro e fora do palácio, e assim presenciou uma cena em que dois guardas preparavam um plano contra a vida do rei. Ele denunciou os dois a Ester, que informou o rei em nome de Mardoqueu.
O rei obteve confirmação, e os conspiradores foram presos e executados. Tudo foi devidamente registrado, inclusive o grande serviço prestado por Mardoqueu, que evitou a morte do rei. Mardoqueu não foi recompensado imediatamente. Ele teve que esperar com paciência, pois Deus tinha planos para usá-lo de maneira definitiva para a proteção do Seu povo, e a recompensa fazia parte deles.
1 Passadas essas coisas, e apaziguado já o furor do rei Assuero, lembrou-se de Vasti, e do que fizera, e do que se tinha decretado a seu respeito.
2 Então, disseram os jovens do rei que lhe serviam: Busquem-se para o rei moças virgens, formosas à vista.
3 E ponha o rei comissários em todas as províncias do seu reino, que reúnam todas as moças virgens, formosas à vista, na fortaleza de Susã, na casa das mulheres, debaixo da mão de Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres, e dêem-se-lhes os seus enfeites.
4 E a moça que parecer bem aos olhos do rei reine em lugar de Vasti. E isso pareceu bem aos olhos do rei, e assim fez.
5 Havia, então, um homem judeu na fortaleza de Susã, cujo nome era Mardoqueu, filho de Jair, filho de Simei, filho de Quis, homem benjamita,
6 que fora transportado de Jerusalém com os cativos que foram levados com Jeconias, rei de Judá, ao qual transportara Nabucodonosor, rei de Babilônia.
7 Este criara a Hadassa (que é Ester, filha do seu tio), porque não tinha pai nem mãe; e era moça bela de aparência e formosa à vista; e, morrendo seu pai e sua mãe, Mardoqueu a tomara por sua filha.
8 Sucedeu, pois, que, divulgando-se o mandado do rei e a sua lei e ajuntando-se muitas moças na fortaleza de Susã, debaixo da mão de Hegai, também levaram Ester à casa do rei, debaixo da mão de Hegai, guarda das mulheres.
9 E a moça pareceu formosa aos seus olhos e alcançou graça perante ele; pelo que se apressou a dar-lhe os seus enfeites e os seus alimentos, como também em lhe dar sete moças de respeito da casa do rei; e a fez passar com as suas moças ao melhor lugar da casa das mulheres.
10 Ester, porém, não declarou o seu povo e a sua parentela; porque Mardoqueu lhe tinha ordenado que o não declarasse.
11 E passeava Mardoqueu cada dia diante do pátio da casa das mulheres, para se informar de como Ester passava e do que lhe sucederia.
12 E, chegando já a vez de cada moça, para vir ao rei Assuero, depois que fora feito a cada uma segundo a lei das mulheres, por doze meses (porque assim se cumpriam os dias das suas purificações, seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias e com as coisas para a purificação das mulheres),
13 desta maneira, pois, entrava a moça ao rei; tudo quanto ela desejava se lhe dava, para ir da casa das mulheres à casa do rei;
14 à tarde, entrava e, pela manhã, tornava à segunda casa das mulheres, debaixo da mão de Saasgaz, eunuco do rei, guarda das concubinas; não tornava mais ao rei, salvo se o rei a desejasse e fosse chamada por nome.
15 Chegando, pois, a vez de Ester, filha de Abiail, tio de Mardoqueu (que a tomara por sua filha), para ir ao rei, coisa nenhuma pediu, senão o que disse Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres; e alcançava Ester graça aos olhos de todos quantos a viam.
16 Assim, foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no sétimo ano do seu reinado.
17 E o rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele graça e benevolência mais do que todas as virgens; e pôs a coroa real na sua cabeça e a fez rainha em lugar de Vasti.
18 Então, o rei fez um grande convite a todos os seus príncipes e aos seus servos para a festa de Ester; e deu repouso às províncias e fez presentes segundo o estado do rei.
19 E, reunindo-se segunda vez as virgens, Mardoqueu estava assentado à porta do rei.
20 Ester, porém, não declarava a sua parentela e o seu povo, como Mardoqueu lhe ordenara; porque Ester cumpria o mandado de Mardoqueu, como quando a criara.
21 Naqueles dias, assentando-se Mardoqueu à porta do rei, dois eunucos do rei, dos guardas da porta, Bigtã e Teres, grandemente se indignaram e procuraram pôr as mãos sobre o rei Assuero.
22 E veio isso ao conhecimento de Mardoqueu, e ele o fez saber à rainha Ester, e Ester o disse ao rei, em nome de Mardoqueu.
23 E inquiriu-se o negócio, e se descobriu; e ambos foram enforcados numa forca. Isso foi escrito no livro das crônicas perante o rei.
Ester capítulo 2