Jetro, como Melquisedeque (Gênesis 14:18-20), não era israelita, mas adorava o mesmo Deus verdadeiro. Os israelitas eram um povo que Deus havia criado especialmente para o fim de receber Sua instrução e, eventualmente, ser o veículo para a vinda do Messias. Mas Deus recebia o culto dos gentios, também, que O procuravam com sinceridade e agiam com justiça.
Como sacerdote, Jetro intercederia pelo seu povo, os midianitas, diante de Deus, ofereceria a Ele sacrifícios pelos seus pecados, e ensinaria o povo a viver retamente. Eles eram descendentes de Midiã (que significa luta), o quarto filho de Abraão e Quetura (Gênesis 25:2; 1 Crônicas 1:32), e, decerto, eram nômades no deserto por onde passavam os israelitas.
Durante os quarenta anos em que Moisés trabalhara para ele, teria havido um relacionamento íntimo entre eles, pois Moisés se tornou seu genro.
Sua filha Zípora, esposa de Moisés, havia voltado com seus dois filhos para ficar com Jetro quando Moisés partira para o Egito, e, agora que Moisés voltara, triunfante, ele levou-os de volta para Moisés.
Moisés se achava acampado junto ao monte de Deus (Sinai), e Jetro foi bem recebido por Moisés que lhe contou tudo o que havia acontecido no Egito, e como SENHOR livrara o povo da servidão, por amor de Israel.
Quando ele viu e ouviu tudo, Jetro se alegrou com todo o bem que o SENHOR fizera a Israel, louvou-O e reconheceu que Ele é maior que todos os deuses - comprovando a fé já existente em Jetro para com o verdadeiro Deus.
Em seguida, Jetro assumiu suas funções de sacerdote, e ofereceu holocausto e sacrifícios a Deus, e em seu ritual comeu pão com Moisés, Arão e todos os anciãos de Israel diante de Deus.
No dia seguinte, Jetro presenciou a grande dedicação de Moisés como magistrado. Tendo sido usado para redimir Israel da servidão, Moisés era agora usado como o legislador e juiz do povo - novamente um tipo de Cristo:
ele consultava a Deus para eles, e lhes transmitia os Seus estatutos e as suas leis, esclarecendo suas dúvidas. Ele não promulgava as leis, mas, como servo dedicado, transmitia o que Deus lhe revelava.
ele era magistrado, ou juiz, entre eles, distribuindo justiça conforme os padrões divinos. Quarenta anos atrás, no Egito, haviam dito para ele "quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós?" (capítulo 2:14), mas agora sua autoridade era aceita por todos.
Na execução destas tarefas, ele demonstrava:
consideração pelo povo, mesmo assentando-se, para lhes dar mais tempo.
condescendência para com todos, pois qualquer um, por menos importante que fosse, tinha acesso a ele.
empenho e dedicação: mesmo após a chegada de sua família, depois de longa ausência, e a presença de seu sogro, que poderiam ter justificado um feriado, ele não faltou ao trabalho.
É evidente que Jetro tinha grande estima por Moisés, e Moisés respeitava muito os seus conselhos. Jetro viu, no dia seguinte, que Moisés atendia, sozinho, ao julgamento das questões entre o povo, o que causava grandes filas durante o dia inteiro. Depois de indagar de Moisés por que isto acontecia, ele ponderou que não era uma boa prática: tanto Moisés como o povo, iriam desfalecer, pois era demais para Moisés sozinho; ele não podia fazer tudo.
Jetro sugeriu que Moisés delegasse sua autoridade de julgamento a homens capazes, tementes a Deus, moralmente qualificados, que teriam autoridade sobre grupos de dez, cinqüenta, cem e mil pessoas, para resolverem os casos mais simples, para que somente as causas mais graves fossem levadas a Moisés. Moisés continuaria a representar o povo perante Deus, e a instruir o povo nos estatutos e nas leis e a dar-lhes direção geral. Depois da outorga da lei, Moisés consultou o povo a respeito desse método de administração, e o povo gostou da idéia (Deuteronômio 1:9-15), sendo então implementada.
É surpreendente que Moisés não consultou o SENHOR a esse respeito: talvez ele não achou que era suficientemente importante. Sabemos, no entanto, que o SENHOR nunca aceitou a autoridade das pessoas que haviam sido nomeadas, e que a carga continuou pesada sobre Moisés, tanto que mais tarde ele se queixou amargamente a Deus. Deus então introduziu a Sua cadeia de comando: setenta anciãos, superintendentes do povo, foram escolhidos por Moisés, e Deus transferiu para eles uma porção do Espírito que estava sobre Moisés; eles passaram a ter autoridade, com aprovação divina, sobre o povo de Israel (Números 11:14-17, 25-26).
Existem dois tipos de sabedoria no mundo:
A sugestão de Jetro se baseou na sabedoria humana, que parecia sábia, transferindo grande parte do trabalho que Moisés fazia, para os seus auxiliares. Era um sistema atraente, ordeiro, e pouparia tempo.
As intenções de Jetro eram boas, e ele estava sinceramente preocupado com a saúde de Moisés. É de se notar, porém, que não foi ordenado por Deus, nem, ao que parece, foi Ele consultado. Por mais inteligentes e capazes que fossem as pessoas escolhidas, faltava-lhes o Espírito de Deus, que Moisés tinha.
Ademais, até este ponto Deus tinha dirigido as coisas, e, ao sugerir esta modificação na estrutura administrativa, Jetro estava pondo em dúvida a sabedoria, o juízo e o amor de Deus, mesmo subentendendo que era preciso melhorar o que Deus fazia.
Mas, se este fosse o melhor método, Deus já o teria introduzido antes. Deus estivera ocupado diretamente com Moisés, capacitando-o para a grande missão de livrar Israel. Ele não precisava da intervenção de um terceiro que reduzisse o poder de Deus que vinha diretamente a Moisés - Deus falava face-a-face com ele! Muitas pessoas não querem tratar diretamente com Deus, preferindo fazê-lo através de outros: um homem, uma igreja, uma cerimônia, um livro ou mesmo um concerto musical! É necessário irmos diretamente a Deus.
Quando os setenta anciãos foram nomeados mais tarde, segundo o mandado de Deus, eles receberam o Espírito de Deus para desincumbirem-se de sua missão, dispondo assim da sabedoria divina, que só Moisés tinha antes. É o Espírito Santo que dá vida e poder ao crente. Ele não carece de um método, de uma organização, de números, de um sistema, de um ritual, ou de boas obras. A sabedoria deste mundo não deve intervir entre Ele e nós, pois ela contradiz a sabedoria divina; tanto assim que as duas sabedorias são contraditórias, e, para uma, a outra é tolice (1 Coríntios 2:4, 3:18-19).
1 Ora, Jetro, sacerdote de Midiã, sogro de Moisés, ouviu todas as coisas que Deus tinha feito a Moisés e a Israel seu povo; como o SENHOR tinha tirado a Israel do Egito.
2 E Jetro, sogro de Moisés, tomou a Zípora, a mulher de Moisés, depois que ele lha enviara,
3 com seus dois filhos, dos quais um se chamava Gérson, porque disse: Eu fui peregrino em terra estranha;
4 e o outro se chamava Eliézer, porque disse: O Deus de meu pai foi minha ajuda e me livrou da espada de Faraó.
5 Vindo, pois, Jetro, o sogro de Moisés, com seus filhos e com sua mulher a Moisés no deserto, ao monte de Deus, onde se tinha acampado,
6 disse a Moisés: Eu, teu sogro Jetro, venho a ti, com tua mulher e seus dois filhos com ela.
7 Então, saiu Moisés ao encontro de seu sogro, e inclinou-se, e beijou-o, e perguntaram um ao outro como estavam, e entraram na tenda.
8 E Moisés contou a seu sogro todas as coisas que o SENHOR tinha feito a Faraó e aos egípcios por amor de Israel, e todo o trabalho que passaram no caminho, e como o SENHOR os livrara.
9 E alegrou-se Jetro de todo o bem que o SENHOR tinha feito a Israel, livrando-o da mão dos egípcios.
10 E Jetro disse: Bendito seja o SENHOR, que vos livrou das mãos dos egípcios e da mão de Faraó; que livrou a este povo de debaixo da mão dos egípcios.
11 Agora sei que o SENHOR é maior que todos os deuses; porque na coisa em que se ensoberbeceram, os sobrepujou.
12 Então, tomou Jetro, o sogro de Moisés, holocausto e sacrifícios para Deus; e veio Arão, e todos os anciãos de Israel, para comerem pão com o sogro de Moisés diante de Deus.
13 E aconteceu que, ao outro dia, Moisés assentou-se para julgar o povo; e o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até à tarde.
14 Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que tu fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até à tarde?
15 Então, disse Moisés a seu sogro: É porque este povo vem a mim para consultar a Deus.
16 Quando tem algum negócio, vem a mim, para que eu julgue entre um e outro e lhes declare os estatutos de Deus e as suas leis.
17 O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes.
18 Totalmente desfalecerás, assim tu como este povo que está contigo; porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer.
19 Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e Deus será contigo. Sê tu pelo povo diante de Deus e leva tu as coisas a Deus;
20 e declara-lhes os estatutos e as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem fazer.
21 E tu, dentre todo o povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinqüenta e maiorais de dez;
22 para que julguem este povo em todo o tempo, e seja que todo negócio grave tragam a ti, mas todo negócio pequeno eles o julguem; assim, a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo.
23 Se isto fizeres, e Deus to mandar, poderás, então, subsistir; assim também todo este povo em paz virá ao seu lugar.
24 E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro e fez tudo quanto tinha dito;
25 e escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: maiorais de mil e maiorais de cem, maiorais de cinqüenta e maiorais de dez.
26 E eles julgaram o povo em todo tempo; o negócio árduo traziam a Moisés, e todo negócio pequeno julgavam eles.
27 Então, despediu Moisés o seu sogro, o qual se foi à sua terra.
Êxodo capítulo 18