Entre maio e junho daquele ano, já passados dois meses desde a saída do Egito, o povo se achava acampado no deserto de Sinai em frente ao monte do mesmo nome, também chamado Horebe na Bíblia.
O monte é identificado atualmente como Jebel Musa, um pico de 2.500 metros de altura ao sul do "V" formado pelos golfos de Suez e Acaba. Ao pé deste monte há uma planície de 4 quilômetros de comprimento por 800 metros de largura, na qual o povo poderia facilmente ter acampado durante o tempo que ali permaneceu, de quase um ano. Durante este tempo, a lei que regeria a nação de Israel foi dada a Moisés diretamente pelo SENHOR, e o povo viria a conhecer:
a santidade do SENHOR através dos Seus mandamentos.
sua própria fraqueza e tendência ao pecado através das suas falhas.
a bondade do SENHOR através da provisão do sacerdócio e dos sacrifícios.
Nós, mediante a leitura da Palavra de Deus também aprendemos o que esse povo aprendeu no Sinai (Romanos 3:19-27, 7:7-24, Gálatas 3:6-25, 4:1-3) e que:
a lei não pode anular a aliança abrâmica.
ela foi acrescentada à aliança para convencer o povo do pecado.
a lei era um "aio" para conduzir a Cristo.
era útil para a preparação do povo até a chegada da Semente de Abraão (Gálatas 3:16).
A lei abrangia o relacionamento do povo israelita com Deus, entre si, e com os estrangeiros, e está contida no restante do livro do Êxodo, todo o Levítico, e os primeiros dez capítulos de Números, sendo chamada a lei mosaica. Sua forma era semelhante aos tratados de suserania que eram feitos na época entre os reis poderosos e os seus vassalos.
Tipicamente continha um preâmbulo (versículo 3), uma introdução histórica com ênfase na benevolência do rei (vers. 4), a natureza do relacionamento entre ele e os vassalos (vers. 5 a 6), as obrigações específicas dos vassalos, as testemunhas do tratado e uma lista de conseqüências da violação ou obediência ao tratado, neste caso chamadas "maldições" (capítulo 34:32). e "bênçãos" (capítulo 34:4-28).
Em seu preâmbulo, vemos que o que segue é dirigido pelo SENHOR através de Moisés, para a casa de Jacó (seus familiares ou descendentes) e aos filhos de Israel (os que participam da mesma fé no SENHOR) - a lei é de cunho tanto civil como religioso.
Em sua introdução histórica, o SENHOR lembrou ao povo que até ali eles tinham usufruído inteiramente da graça.
Ao ditar a natureza do seu relacionamento, ficou estabelecido que a lei não lhes seria dada como um meio de vida, mas um meio pelo qual Israel poderia se tornar a "propriedade particular" do SENHOR e um "reino de sacerdotes", se fosse obediente. Agora, mediante a graça, isto é outorgado gratuitamente a todo o crente em Cristo (1 Pedro 2:9; Apoc. 1:6; 5:10).
É interessante observar os contrastes entre a Lei e a Graça:
A Lei requer. A Graça dá.
A Lei diz "faça". A Graça diz "creia".
A Lei extorque. A Graça confere.
A Lei diz "trabalhe". A Graça diz "descanse".
A Lei ameaça com maldição. A Graça suplica.
A Lei diz "faça e viverás". A Graça diz "Viva, e farás".
A Lei condena o melhor. A Graça salva o pior dos homens.
A lei só foi dada depois de ter sido proposta e aceita voluntariamente (Gálatas 5:1-4):
Moisés entregou fielmente a mensagem do SENHOR aos representantes do povo, os anciãos, expondo as Suas palavras.
O povo concordou prontamente com a aliança proposta, em total unanimidade. Desta forma eles se obrigaram a obedecer à lei que lhes seria dada, e em troca teriam o privilégio de, entre todos os povos da terra, ser de propriedade exclusiva do SENHOR, um reino de sacerdotes para Ele, uma nação santa, ou seja, separada para o Seu serviço.
Como mediador, Moisés relatou ao SENHOR as palavras do povo. Outra vez, vemos em Moisés uma figura de Cristo, único Mediador entre Deus e os homens, que, como Profeta revela as palavras do Pai para nós, como Sacerdote oferece a Ele nossos sacrifícios espirituais (louvor, adoração, vida consagrada, obras do Seu Espírito em nós), tendo Ele próprio oferecido o supremo sacrifício por nós: a sua vida humana.
Para que o SENHOR aparecesse a fim de lhes dar a lei, o povo tinha que se preparar, fazendo três coisas:
Purificar o corpo e as suas vestes (versículo 10), simbolicamente livrando-se de todas as impurezas.
Confinar-se ao acampamento, colocando barreiras em volta do monte (versículos 13-13, 21,23): o monte simbolizava o trono de Deus, onde Sua presença seria sentida pelo povo. Só os emissários escolhidos pelo SENHOR poderiam subir por ele, primeiro só Moisés, depois ele acompanhado por Arão. Qualquer outro que atravessasse a cerca seria morto, mesmo os animais.
Abster-se de relações sexuais (versículo 15) - ao que parece, isto foi acrescentado por Moisés. Até o relacionamento conjugal seria interrompido a fim de que o povo desse primeiro lugar ao seu relacionamento entre si e o SENHOR.
O povo obedeceu.
Ao terceiro dia, o SENHOR anunciou sua presença no monte com sinais assustadores: trovões, relâmpagos, uma espessa nuvem, e um mui forte clangor de trombeta. Moisés então conduziu o povo para fora do arraial até o sopé do monte, onde viram que o monte fumegava e tremia grandemente.
No início, Moisés falava e Deus respondia no trovão, para que o povo ouvisse e cresse sempre em Moisés (versículo 9). Logo depois o SENHOR desceu para o cume do monte Sinai, e chamou Moisés para ir até lá. E Moisés subiu.
Assim a entrevista começou com uma demonstração pública da glória divina, continuando depois, mais silenciosamente, com o ministério de Moisés. Também o Espírito Santo desceu visivelmente sobre o Senhor Jesus, e todos os presentes ouviram a voz divina (Mateus 3:17), para que pudessem crer nEle sem necessidade de repetição da intervenção de Deus; também veio sobre a igreja primitiva no dia de Pentecostes e sobre grupos de pessoas em três outras ocasiões, com sinais e prodígios, para que os outros pudessem crer que Deus estava com eles, sem necessidade de repetição.
O SENHOR disse a Moisés que voltasse ao povo e lhes advertisse que não deviam atravessar o limite do monte, para que muitos deles não perecessem. Mesmo os sacerdotes que se chegavam ao SENHOR (para executar suas funções) deveriam se consagrar para não ser castigados, mas igualmente não podiam subir o monte. Depois de falar ao povo, Moisés deveria voltar, trazendo Arão com ele.
A distância que deveria ser mantida pelo povo e os sacerdotes, nos alerta ao privilégio que agora temos, de entrar diretamente no santuário da presença de Deus pelo sangue de Cristo (Hebreus 10:19).
Desceu Moisés, e falou novamente ao povo, transmitindo as palavras que havia ouvido.
1 Ao terceiro mês da saída dos filhos de Israel da terra do Egito, no mesmo dia, vieram ao deserto do Sinai.
2 Tendo partido de Refidim, vieram ao deserto do Sinai e acamparam-se no deserto; Israel, pois, ali acampou-se defronte do monte.
3 E subiu Moisés a Deus, e o SENHOR o chamou do monte, dizendo: Assim falarás à casa de Jacó e anunciarás aos filhos de Israel:
4 Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim;
5 agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha.
6 E vós me sereis reino sacerdotal e povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.
7 E veio Moisés, e chamou os anciãos do povo, e expôs diante deles todas estas palavras que o SENHOR lhe tinha ordenado.
8 Então, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que o SENHOR tem falado faremos. E relatou Moisés ao SENHOR as palavras do povo.
9 E disse o SENHOR a Moisés: Eis que eu virei a ti numa nuvem espessa, para que o povo ouça, falando eu contigo, e para que também te creiam eternamente. Porque Moisés tinha anunciado as palavras do seu povo ao SENHOR.
10 Disse também o SENHOR a Moisés: Vai ao povo e santifica-os hoje e amanhã, e lavem eles as suas vestes
11 e estejam prontos para o terceiro dia; porquanto, no terceiro dia, o SENHOR descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai.
12 E marcarás limites ao povo em redor, dizendo: Guardai-vos, que não subais o monte nem toqueis o seu termo; todo aquele que tocar o monte certamente morrerá.
13 Nenhuma mão tocará nele; porque certamente será apedrejado ou asseteado; quer seja animal, quer seja homem, não viverá; soando a buzina longamente, então, subirão o monte.
14 Então, Moisés desceu do monte ao povo e santificou o povo; e lavaram as suas vestes.
15 E disse ao povo: Estai prontos ao terceiro dia; e não chegueis a mulher.
16 E aconteceu ao terceiro dia, ao amanhecer, que houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial.
17 E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte.
18 E todo o monte Sinai fumegava, porque o SENHOR descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subia como fumaça de um forno, e todo o monte tremia grandemente.
19 E o sonido da buzina ia crescendo em grande maneira; Moisés falava, e Deus lhe respondia em voz alta.
20 E, descendo o SENHOR sobre o monte Sinai, sobre o cume do monte, chamou o SENHOR a Moisés ao cume do monte; e Moisés subiu.
21 E disse o SENHOR a Moisés: Desce, protesta ao povo que não traspasse o termo para ver o SENHOR, a fim de muitos deles não perecerem.
22 E também os sacerdotes, que se chegam ao SENHOR, se hão de santificar, para que o SENHOR não se lance sobre eles.
23 Então, disse Moisés ao SENHOR: O povo não poderá subir o monte Sinai, porque tu nos tens protestado, dizendo: Marca termos ao monte e santifica-o.
24 E disse-lhe o SENHOR: Vai, desce; depois, subirás tu, e Arão contigo; os sacerdotes, porém, e o povo não traspassem o termo para subir ao SENHOR, para que não se lance sobre eles.
25 Então, Moisés desceu ao povo e disse-lhes isto.
Êxodo capítulo 19