A notícia da fuga de Jacó e sua família levou três dias para chegar até Labão (ver capítulo 30:36). Ele imediatamente juntou seus irmãos (ou filhos?) e partiu em perseguição: sem dúvida ele estava muito irado, pois considerava que Jacó estava fugindo com suas filhas, e seus netos, como se os tivesse raptado, e ainda tinha roubado seus ídolos do lar.
Ele decerto planejava usar violência contra Jacó. Mas Deus interferiu, aparecendo a ele em sonhos e prevenindo-o que não falasse a Jacó nem bem nem mal: ou seja, que contivesse a sua língua, e não procurasse demover Jacó do seu propósito em voltar para sua terra.
Em uma semana ele alcançou Jacó, e acampou ao lado dele na montanha de Gileade (montanha do testemunho), uma região montanhosa ao oriente do rio Jordão.
Ele lhes fez as seguintes acusações:
Logro e rapto de suas filhas, ao fugir sem lhe dar aviso prévio. Para que a suposta insensatez de Jacó ficasse evidenciada, ele disse que teria preparado uma festa de despedida, se soubesse que ele ia embora, e teria beijado suas filhas, netos e neta. (Não menciona qualquer presente!). É comum e fácil declarar o bem que teríamos feito se as circunstancias fossem outras! Ele se gabou de poder fazer mal a Jacó, mas que foi impedido pela intervenção do Deus de Isaque a seu favor: indicando que não era o seu próprio Deus (ele era idólatra, politeísta).
Furto dos seus ídolos do lar. Como vimos no estudo anterior, eles não só eram uma espécie de talismãs, mas também um símbolo de herança: Labão não intencionava que sua herança passasse a Jacó, e o furto dos ídolos, portanto, se revestia de grande seriedade aos seus olhos.
Jacó se defendeu das acusações de Labão:
Admitindo seu receio que Labão impedisse à força que ele levasse consigo suas mulheres, filhas de Labão, obrigando Jacó a continuar ali, pois ele não iria sem elas. E decerto tinha toda a razão, pois conhecia seu sogro muito bem!
Permitindo que fosse executada a pessoa com quem fossem achados os ídolos (ele sem duvida não sabia que Raquel os havia roubado), e deixando Labão revistar suas tendas para ver se havia ali algo que lhe pertencia.
Labão então fez uma pesquisa minuciosa pelas tendas. Havia quatro: a de Jacó, a de Lia, a das duas servas, e a de Raquel, mas Labão não achou os ídolos pois foi enganado por Raquel, que assentou-se sobre eles e recusou levantar-se alegando estar menstruada.
Embora calmo e pacífico em seu caráter, Jacó não agüentou mais o comportamento de seu sogro, e altercou com ele, repreendendo-o pelo insulto de tratá-lo como se fosse um ladrão. Ele recordou a Labão a honestidade com que havia trabalhado para ele:
zelando pelo bem estar dos seus animais, nunca matando algum para seu próprio alimento
arcando ele próprio com os prejuízos causados pelas feras ou pelos ladrões, como Labão exigia
sofrendo calor, geada, e insônia, trabalhara vinte anos para ele, catorze dos quais em troca de suas duas filhas, e seis pelo seu rebanho.
Por outro lado, entrevemos a ganância e maldade de Labão:
exigindo de Jacó o pagamento de prejuízos pelos quais ele não era responsável. 0 que para Labão seria um custo pequeno, era uma despesa enorme para Jacó, que nada tinha.
mudando o salário de Jacó dez vezes, para reduzir o pagamento que lhe devia.
obrigando Jacó a trabalhar para ele, de graça, por catorze anos em troco do casamento com suas filhas - e Jacó só queria uma delas
tendo o SENHOR prosperado muito a Labão por causa de Jacó, ele nada deu para ele ou suas filhas.
Se não fora a mão de Deus, Jacó teria sido despedido agora de mãos vazias, mas Ele atendeu ao seu sofrimento e repreendeu a Labão no sonho da noite anterior.
Labão nada pode retrucar à explosão de Jacó, seja apontando alguma falta de sua parte, ou defendendo seu próprio comportamento. Decerto sua consciência o acusava, mas preferiu mudar de assunto, ao invés de reconhecer-se injusto e pedir desculpas.
Embora tivesse tratado suas filhas como se fossem estrangeiras (v. 15), ele declarou que elas e tudo o mais que Jacó tinha, eram também dele (não era verdade, pois Jacó havia pago bem caro por tudo, mas Jacó não discutiu). Então ele propôs fazer algo por elas e por seus netos, tomando a forma de um tratado entre ele e Jacó.
Jacó prontamente providenciou um monumento de pedras para dar forma concreta ao tratado que iria ser proposto por Labão, e comeu com ele e seus irmãos uma refeição cerimonial para selar o acordo, e chamaram o lugar de Montão de Testemunho (Jegar-Saaduta em aramaico e Galeede em Hebraico), e Torre de Vigia (Mispa).
O tratado consistiu em apenas duas cláusulas:
Jacó se comprometeu a não maltratar suas mulheres, e a não tomar outras mulheres além delas.
Jacó e Labão se comprometeram a não cruzarem a fronteira, marcada pela coluna de pedras, para mal.
Labão jurou em nome do Deus de Abraão, e o Deus de Naor, e o Deus de seu pai (Terá. A capitalização da palavra Deus nas versões em português indica que os tradutores julgaram que Labão estava se referindo ao Deus único e verdadeiro que Abraão veio a conhecer. No entanto, como o hebraico não tem maiúsculos ou minúsculos, não podemos saber se Labão estaria se referindo aos deuses pagãos que estes homens poderiam estar adorando em Ur). Jacó jurou pelo Temor de seu pai Isaque, isto é, o Deus que Isaque temia (Isaque nunca foi idólatra). Jacó ofereceu um sacrifício e todos comeram pão e passaram a noite na montanha.
Finalmente Labão se despediu, com beijos, de seus descendentes e os abençoou, e partiu amigavelmente, voltando para casa. É a última vez que lemos na Bíblia sobre ele e a sua família, os descendentes de Naor.
22 E, no terceiro dia, foi anunciado a Labão que Jacó tinha fugido.
23 Então, tomou consigo os seus irmãos e atrás dele seguiu o seu caminho por sete dias; e alcançou-o na montanha de Gileade.
24 Veio, porém, Deus a Labão, o arameu, em sonhos, de noite, e disse-lhe: Guarda-te, que não fales a Jacó nem bem nem mal.
25 Alcançou, pois, Labão a Jacó. E armara Jacó a sua tenda naquela montanha; armou também Labão com os seus irmãos a sua na montanha de Gileade.
26 Então, disse Labão a Jacó: Que fizeste, que te esquivaste de mim e levaste as minhas filhas como cativas pela espada?
27 Por que fugiste ocultamente, e te esquivaste de mim, e não me fizeste saber, para que eu te enviasse com alegria, e com cânticos, e com tamboril, e com harpa?
28 Também não me permitiste beijar os meus filhos e as minhas filhas. Loucamente, pois, agora andaste, fazendo assim.
29 Poder havia em minha mão para vos fazer mal, mas o Deus de vosso pai me falou ontem à noite, dizendo: Guarda-te, que não fales a Jacó nem bem nem mal.
30 E agora, se te querias ir embora, porquanto tinhas saudades de voltar à casa de teu pai, por que furtaste os meus deuses?
31 Então, respondeu Jacó e disse a Labão: Porque temia; pois que dizia comigo se porventura me não arrebatarias as tuas filhas.
32 Com quem achares os teus deuses, esse não viva; reconhece diante de nossos irmãos o que é teu do que está comigo e toma-o para ti. Pois Jacó não sabia que Raquel os tinha furtado.
33 Então, entrou Labão na tenda de Jacó, e na tenda de Léia, e na tenda de ambas as servas e não os achou; e, saindo da tenda de Léia, entrou na tenda de Raquel.
34 Mas tinha tomado Raquel os ídolos, e os tinha posto na albarda de um camelo, e assentara-se sobre eles; e apalpou Labão toda a tenda e não os achou.
35 E ela disse a seu pai: Não se acenda a ira nos olhos de meu senhor, que não posso levantar-me diante da tua face; porquanto tenho o costume das mulheres. E ele procurou, mas não achou os ídolos.
36 Então, irou-se Jacó e contendeu com Labão. E respondeu Jacó e disse a Labão: Qual é a minha transgressão? Qual é o meu pecado, que tão furiosamente me tens perseguido?
37 Havendo apalpado todos os meus móveis, que achaste de todos os móveis da tua casa? Põe-no aqui diante dos meus irmãos e teus irmãos; e que julguem entre nós ambos.
38 Estes vinte anos eu estive contigo, as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho.
39 Não te trouxe eu o despedaçado; eu o pagava; o furtado de dia e o furtado de noite da minha mão o requerias.
40 Estava eu de sorte que de dia me consumia o calor, e, de noite, a geada; e o meu sono foi-se dos meus olhos.
41 Tenho estado agora vinte anos na tua casa; catorze te servi por tuas duas filhas e seis anos por teu rebanho; mas o meu salário tens mudado dez vezes.
42 Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o Temor de Isaque, não fora comigo, por certo me enviarias agora vazio. Deus atendeu à minha aflição e ao trabalho das minhas mãos e repreendeu-te ontem à noite.
43 Então, respondeu Labão e disse a Jacó: Estas filhas são minhas filhas, e estes filhos são meus filhos, e este rebanho é o meu rebanho, e tudo o que vês meu é; e que farei, hoje, a estas minhas filhas ou aos filhos que tiveram?
44 Agora, pois, vem, e façamos concerto, eu e tu, que seja por testemunho entre mim e ti.
45 Então, tomou Jacó uma pedra e erigiu-a por coluna.
46 E disse Jacó a seus irmãos: Ajuntai pedras. E tomaram pedras, e fizeram um montão, e comeram ali sobre aquele montão.
47 E chamou-lhe Labão Jegar-Saaduta; porém Jacó chamou-lhe Galeede.
48 Então, disse Labão: Este montão seja, hoje, por testemunha entre mim e ti; por isso, se chamou o seu nome Galeede
49 e Mispa, porquanto disse: Atente o SENHOR entre mim e ti, quando nós estivermos apartados um do outro.
50 Se afligires as minhas filhas e se tomares mulheres além das minhas filhas, mesmo que ninguém esteja conosco, atenta que Deus é testemunha entre mim e ti.
51 Disse mais Labão a Jacó: Eis aqui este mesmo montão, e eis aqui esta coluna que levantei entre mim e ti.
52 Este montão seja testemunha, e esta coluna seja testemunha de que eu não passarei este montão para lá e que tu não passarás este montão e esta coluna para cá, para mal.
53 O Deus de Abraão e o Deus de Naor, o Deus de seu pai, julguem entre nós. E jurou Jacó pelo Temor de Isaque, seu pai.
54 E sacrificou Jacó um sacrifício na montanha e convidou seus irmãos para comerem pão; e comeram pão e passaram a noite na montanha.
55 E levantou-se Labão pela manhã, de madrugada, e beijou seus filhos e suas filhas, e abençoou-os; e partiu e voltou Labão ao seu lugar.
Gênesis capítulo 31:22 - 55