Neste capítulo encontramos a primeira guerra mencionada na Bíblia, e o primeiro sacerdote. É um dos capítulos mais importantes encontrados em Gênesis!
Para começar, este é um documento histórico. Descobertas arqueológicas têm demonstrado a existência de uma civilização florescente na parte sul do rio Jordão, seguindo por uma área agora coberta pelo Mar Morto, entre os séculos 21 e 19 a.C., e a destruição violenta dessas cidades ao fim desse período.
Alguns identificam Anrafel com Amurabi, rei da Babilônia (Sinar, atual Iraque), mas outros calculam que Amurabi surgiu mais tarde. Elão é o primeiro nome da Pérsia (atual Irã). Admá e Zeboim eram cidades na bacia do Mar Morto, que Deus destruiu junto com Sodoma e Gomorra (Oséias 11:8).
No ano anterior os povos da campina do Jordão haviam se rebelado contra Quedorlaomer, rei de Elão, por quem eles haviam sido subjugados já por doze anos. Quedorlaomer e seus aliados promoveram uma campanha militar contra os revoltosos, entrando na terra de Canaã pelo noroeste, e seguindo para o sul. Pelo caminho eles feriram vários povos que viviam em ambas as margens do rio Jordão (refains e zuzins), na terra de Moabe (os gigantes emins), nas imediações do monte Seir a sudoeste do Mar Vermelho (os horeus), e outras povoações entre o Neguebe e o Sinai, finalmente cercando os reis de Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Belá, que haviam se preparado para a guerra, no vale de Sidim.
A guerra foi travada em uma área coberta posteriormente pelo Mar Salgado (Morto). Alguns arqueólogos e geólogos identificam o vale de Sidim com a terra ao sul de uma pequena península que se estende a partir da margem oriental do mar Morto. Essa península poderia ter chegado até a margem ocidental, onde está Massada, na época de Abrão, fazendo com que a parte sul do mar Morto fosse terra seca. A evidência geológica indica ocorrência de cataclismos na região ao tempo de Abrão.
Os invasores venceram a batalha: os cinco reis da campina fugiram para um monte, tendo alguns caído em uns poços de betume que abundavam naquele vale. Tendo saqueado as cidades de Sodoma e Gomorra, eles se foram, levando consigo, cativo, Ló, que havia transferido sua residência para Sodoma e todos os seus bens. Eles seguiram em direção ao norte, pela margem ocidental do Mar Morto, não muito longe de Hebrom e Manre onde Abrão morava. De lá ele poderia ver todo o movimento.
Aqui vemos pela primeira vez a palavra hebreu, uma designação étnica dada a Abrão que seus descendentes derivaram dele, originada de seu ancestral Héber (11:14-16). Quando ele soube que Ló havia sido levado cativo, ele imediatamente preparou um pequeno exército composto de dois amorreus seus vizinhos e trezentos e dezoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa (isto nos dá idéia de como era grande o seu séquito!). Com este exército ele perseguiu os invasores até Dã, no extremo norte do vale do Jordão, ao pé do monte Hermon.
Após um preparo estratégico à noite, as forças de Abrão derrotaram o inimigo, pondo-o em fuga e perseguindo-o até o norte de Damasco. Com a vitória Abrão recuperou seu sobrinho, suas posses, os que haviam sido tomados para o cativeiro, e os bens que haviam sido saqueados.
Ao voltar, passando pelo vale de Savé, também chamado vale do Rei, próximo a Jerusalém (2 Samuel 18:18), duas pessoas vêm ao seu encontro: o rei de Sodoma, e o rei de Salém (forma abreviada de Jerusalém , também chamada Sião).
O rei de Salém, chamado Melquisedeque, era também sacerdote do Deus Altíssimo: o verdadeiro Deus que Abrão adorava. Isto, e o livro de Jó escrito àquelas alturas da história, indica que, embora a Bíblia se concentre no relato sobre o povo de Israel, o Deus verdadeiro tinha adoradores em outras partes também.
Pouco é dito sobre o rei Melquisedeque além desses três versículos, mas a Bíblia nos diz que seu sacerdócio era de uma natureza que tipificou o próprio sacerdócio do Senhor Jesus (Salmo 110:4, Hebreus 5:6,10, 6:20, 7:1-24), também Sacerdote e Rei. Melquisedeque significa rei de justiça e Salém significa paz. Porque Cristo em sua eterna divindade não tem princípio nem fim, a Bíblia não indica a procedência nem o destino de Melquisedeque, que o tipifica.
Melquisedeque trouxe pão e vinho para Abrão, símbolos que o Senhor nos deixou de seu corpo e do seu sangue, para lembrarmos sua morte por nós. Como poderia Melquisedeque saber disto? O Deus a quem ele servia sabia! Também ele abençoou a Abrão - o superior abençoa o inferior, demonstrando que seu sacerdócio era superior ao que seria mais tarde instituído para os descendentes de Abrão: o sacerdócio do Senhor Jesus semelhantemente é superior ao sacerdócio Aarônico que somente servia a Israel.
Abrão deu a Melquisedeque o dízimo - a décima parte - dos despojos da batalha (Hebreus 7:4), como mais tarde os israelitas tinham que entregar para o serviço sagrado: ele reconheceu o direito que Melquisedeque tinha ao serviço de Deus, e expressou assim sua gratidão a Deus pela vitória alcançada.
O rei de Sodoma, por sua vez, propôs ficar com todas as pessoas, e deixar os bens para Abrão. Na realidade, segundo os costumes da época, registrados no código de Amurabi, Abrão como resgatador, tinha direito a tudo! Era uma tentação para Abrão mas ele, sabiamente, se recusou a receber qualquer coisa que houvesse pertencido ao rei de Sodoma, para não lhe ficar obrigado.
Abrão demonstrou desta vez sua lealdade ao SENHOR, afastando qualquer oportunidade para o rei de Sodoma arrogar-se o papel de soberano e fazer de Abrão seu vassalo. Abrão apenas tomou alimento para seus homens e distribuiu aos seus aliados amorreus a parte que lhes cabia. Notemos que sua declaração que não receberia absolutamente nada das mãos do rei de Sodoma, foi feita diante do SENHOR, o Deus Altíssimo, não deixando dúvidas sobre a identidade do Deus a quem servia.
1 E aconteceu, nos dias de Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim,
2 que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de Admá, e a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Bela (esta é Zoar).
3 Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o mar de Sal).
4 Doze anos haviam servido a Quedorlaomer, mas, ao décimo terceiro ano, rebelaram-se.
5 E, ao décimo quarto ano, veio Quedorlaomer e os reis que estavam com ele e feriram aos refains em Asterote-Carnaim, e aos zuzins em Hã, e aos emins em Savé-Quiriataim,
6 e aos horeus no seu monte Seir, até à campina de Parã, que está junto ao deserto.
7 Depois, tornaram, e vieram a En-Mispate (que é Cades), e feriram toda a terra dos amalequitas e também os amorreus, que habitavam em Hazazom-Tamar.
8 Então, saiu o rei de Sodoma, e o rei de Gomorra, e o rei de Admá, e o rei de Zeboim, e o rei de Bela (esta é Zoar) e ordenaram batalha contra eles no vale de Sidim,
9 contra Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, e Anrafel, rei de Sinar, e Arioque, rei de Elasar; quatro reis contra cinco.
10 E o vale de Sidim estava cheio de poços de betume; e fugiram os reis de Sodoma e de Gomorra e caíram ali; e os restantes fugiram para um monte.
11 E tomaram toda a fazenda de Sodoma e de Gomorra e todo o seu mantimento e foram-se.
12 Também tomaram a Ló, que habitava em Sodoma, filho do irmão de Abrão, e a sua fazenda e foram-se.
13 Então, veio um que escapara e o contou a Abrão, o hebreu; ele habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e irmão de Aner; eles eram confederados de Abrão.
14 Ouvindo, pois, Abrão que o seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã.
15 E dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus criados, e os feriu, e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco.
16 E tornou a trazer toda a fazenda e tornou a trazer também a Ló, seu irmão, e a sua fazenda, e também as mulheres, e o povo.
17 E o rei de Sodoma saiu-lhes ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) no vale de Savé, que é o vale do Rei.
18 E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e este era sacerdote do Deus Altíssimo.
19 E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra;
20 e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E deu-lhe o dízimo de tudo.
21 E o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a mim as almas e a fazenda toma para ti.
22 Abrão, porém, disse ao rei de Sodoma: Levantei minha mão ao SENHOR, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra,
23 e juro que, desde um fio até à correia dum sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão;
24 salvo tão-somente o que os jovens comeram e a parte que toca aos varões que comigo foram, Aner, Escol e Manre; estes que tomem a sua parte.
Gênesis capítulo 14