Betel era o lugar onde Deus dissera a Jacó que as promessas feitas a Abraão e Isaque passariam a ele e à sua descendência (capítulo 28:10-19). Depois do triste episódio em Siquém, Deus mandou que ele voltasse até ali, uns 24 quilômetros ao sul de onde estava, e fizesse um altar para Ele.
Parece surpreendente que a sua família e os que com ele estavam tivessem ídolos (deuses estranhos). Os ídolos não eram usados tanto para adoração e culto como para dar boa sorte - eram uma espécie de amuletos ou talismãs, assim como boje em dia muita gente carrega consigo diversos tipos de medalhões, pendentes, colares, etc., por superstição.
Jacó decidiu que sua casa não era lugar para ídolos, pois ele e os seus estavam debaixo da proteção das promessas de Deus. Ele então ordenou que todos se desfizessem deles, e se purificassem e mudassem suas vestes antes de prosseguirem a Betel (casa de Deus). Um bom exemplo para nós: devemos lançar fora tudo o que estiver se interpondo entre nós e nosso Deus e Salvador, purificarmo-nos de todo o pecado que nos polui, confessar e pedir perdão pelos pecados cometidos, e trocarmos de roupa, santificando a nossa vida (2 Coríntios 7:1, Hebreus 10:22, Tiago 4:8, 1 Pedro 2:1, 2).
Ele ainda mandou que todos se levantassem e subissem com ele a Betel, para fazer ali um altar ao Deus que o atendeu em sua angústia e o acompanhou por onde andou.
Todos então deram a Jacó os seus ídolos, e os brincos de suas orelhas: brincos representam uma palavra original que significa encantamentos, sendo, portanto, amuletos para proteção contra bruxarias, mau-olhado, etc., pendurados do pescoço ou das orelhas de pessoas de ambos os sexos. Jacó os escondeu, enterrando-os debaixo dum carvalho junto a Siquém: séculos mais tarde, lemos sobre o caminho do carvalho dos adivinhadores (Juizes 9:37), que pode ser este carvalho, talvez porque Jacó enterrou os deuses estrangeiros e as argolas ali, para que nunca mais fossem usados.
Deus impediu que os cananeus vingassem o massacre dos siquenenses, enchendo-os de terror. Chegando ao lugar que ele chamara Betel, Jacó construiu um altar chamando o local El-Betel (o Deus de Betel).
Débora (abelha) morreu e foi sepultada ali. Ela era a ama de Rebeca e a havia acompanhado quando fora ao encontro do seu noivo Isaque (capítulo 24:59). Como estava com Jacó quando morreu, assume-se que Rebeca já havia morrido (embora a Bíblia não nos diga quando).
Jacó não mais encontrou sua mãe, talvez para maior tristeza ainda dela, que pensava que ele iria somente por alguns dias. Débora aparentemente levou a noticia da morte de Rebeca até Jacó e ficou fazendo parte do seu grupo. 0 carvalho debaixo do qual foi sepultada chamou-se Alom Bacute (carvalho de pranto).
Deus lembrou Jacó do seu novo nome Israel (ele peleja com Deus), um tributo ao seu desejo de permanecer perto de Deus através das dificuldades e privações por que havia passado.
Muitos pensam que a vida do crente deve ser um mar de rosas, sem dificuldades, e quando as tribulações surgem, afastam-se desapontados. Ao contrário, a vida do crente é uma viagem através de um mar turbulento, em que temos vitória mediante o poder de Deus. Os dolorosos problemas e dificuldades são inevitáveis, mas consistem em oportunidades para crescimento espiritual e aperfeiçoamento de nosso caráter, aproximando-nos ao de Cristo.
Deus abençoou novamente a Jacó e renovou suas promessas concernentes à sua descendência, e a posse da terra. Em seguida Ele se afastou, elevando-se do lugar - não era um sonho, portanto, e nos lembra a maneira semelhante em que Cristo se elevou da terra depois da sua ressurreição.
Jacó então:
erigiu uma coluna de pedra: monumento primitivo usado na antigüidade para marcar um acontecimento memorável, para ser lembrado através dos anos.
derramou sobre ela uma libação: uma oferta na forma de bebida alcoólica, geralmente vinho (Números 15:5,7), que ajudava a queimar o holocausto. Era sempre derramado, nunca bebido, e pode ser considerado uma figura de Cristo (Salmo 22:14, Isaias 53:12). Esta é a primeira vez que aparece na Bíblia. O apóstolo Paulo se refere a esta libação quando diz que se alegra e congratula com os crentes em Filipos mesmo que ele fosse oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da sua fé (Filipenses 2:17), referindo-se ao seu possível martírio.
deitou-lhe óleo: era usado azeite de oliva da mais alta qualidade e pureza. Custava caro, e era a maneira de mostrar como o objeto ungido era precioso. Jacó estava externando o maior respeito ao lugar onde se encontrou com Deus.
Deixando Betel, seguiram para o sul e, pouco antes de chegarem a Efrata (frutífera), Raquel com grande dificuldade deu à luz o seu segundo filho. Ela não sobreviveu ao parto, mas antes de morrer deu o nome de Benoni (filho da minha aflição) ao seu filho. Jacó, porém preferiu chamá-lo Benjamim (filho da mão direita). Ele assim se torna em um tipo dos dois aspectos de Cristo: como Benoni Ele foi o Sofredor e por isso uma espada traspassou a alma da sua mãe (Lucas 2:35), mas como Benjamim, que deu origem a uma tribo de guerreiros (capítulo 49:27) firmemente ligada à tribo real de Judá (capítulo 49:8-12; 1 Reis 12:21), Cristo é o grande Vencedor.
Efrata era o antigo nome de Belém (casa de pão), aparecendo os dois nomes juntos em Miquéias 5:2, e ali perto Raquel foi sepultada - Jacó levantou uma coluna para marear o lugar, e o túmulo esta ali até hoje, sendo agora uma atração turística.
Entre Belém e Hebrom, seu destino final, havia uma torre de vigia para pastores, chamada torre de Eder, onde Israel se deteve por mais algum tempo. Esta nova pausa trouxe mais aborrecimento para Jacó, com o adultério cometido por seu filho mais velho, Rúben, filho de Lia, com a serva de sua falecida esposa Raquel, Bila, que lhe havia dado dois filhos a pedido de Raquel: Dã e Naftali. Jacó soube do caso, e Rúben foi castigado perdendo seu direito à primogenitura, que passou para José, filho mais velho de Raquel (capítulo 49:4,22-26).
A seguir termina esta narração sobre os filhos de Isaque com uma recapitulação dos nomes dos filhos de Jacó e suas mães, a chegada de Jacó ao seu destino junto ao seu pai Isaque em Hebrom, e a morte de Isaque com a idade avançada de cento e oitenta anos.
Isaque foi sepultado por seus filhos Esau e Jacó (ambos já com cento e vinte anos de idade).
1 Depois, disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugiste diante da face de Esaú, teu irmão.
2 Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Tirai os deuses estranhos que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai as vossas vestes.
3 E levantemo-nos e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia e que foi comigo no caminho que tenho andado.
4 Então, deram a Jacó todos os deuses estranhos que tinham em suas mãos e as arrecadas que estavam em suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém.
5 E partiram; e o terror de Deus foi sobre as cidades que estavam ao redor deles, e não seguiram após os filhos de Jacó.
6 Assim, chegou Jacó a Luz, que está na terra de Canaã (esta é Betel), ele e todo o povo que com ele havia.
7 E edificou ali um altar e chamou aquele lugar El-Betel, porquanto Deus ali se lhe tinha manifestado quando fugia diante da face de seu irmão.
8 E morreu Débora, a ama de Rebeca, e foi sepultada ao pé de Betel, debaixo do carvalho cujo nome chamou Alom-Bacute.
9 E apareceu Deus outra vez a Jacó, vindo de Padã-Arã, e abençoou-o.
10 E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou o seu nome Israel.
11 Disse-lhe mais Deus: Eu sou o Deus Todo-poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação e multidão de nações sairão de ti, e reis procederão de ti.
12 E te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque e à tua semente depois de ti darei a terra.
13 E Deus subiu dele, do lugar onde falara com ele.
14 E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com ele, uma coluna de pedra; e derramou sobre ela uma libação e deitou sobre ela azeite.
15 E chamou Jacó o nome daquele lugar, onde Deus falara com ele, Betel.
16 Partiram de Betel, e, havendo ainda um pequeno espaço de terra para chegar a Efrata, teve um filho Raquel e teve trabalho em seu parto.
17 E aconteceu que, tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a parteira: Não temas, porque também este filho terás.
18 E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou o seu nome Benoni; mas seu pai o chamou Benjamim.
19 Assim, morreu Raquel e foi sepultada no caminho de Efrata; esta é Belém.
20 E Jacó pôs uma coluna sobre a sua sepultura; esta é a coluna da sepultura de Raquel até o dia de hoje.
21 Então, partiu Israel e estendeu a sua tenda além de Migdal-Éder.
22 E aconteceu que, habitando Israel naquela terra, foi Rúben e deitou-se com Bila, concubina de seu pai; e Israel soube-o. E eram doze os filhos de Jacó:
23 os filhos de Léia: Rúben, o primogênito de Jacó, depois Simeão e Levi, Judá, Issacar e Zebulom;
24 os filhos de Raquel: José e Benjamim;
25 os filhos de Bila, serva de Raquel: Dã e Naftali;
26 os filhos de Zilpa, serva de Léia: Gade e Aser. Estes são os filhos de Jacó, que lhe nasceram em Padã-Arã.
27 E Jacó veio a Isaque, seu pai, a Manre, a Quiriate-Arba (que é Hebrom), onde peregrinaram Abraão e Isaque.
28 E foram os dias de Isaque cento e oitenta anos.
29 E Isaque expirou, e morreu, e foi recolhido aos seus povos, velho e farto de dias; e Esaú e Jacó, seus filhos, o sepultaram.
Gênesis capítulo 35