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ISAQUE E O ABIMELEQUE

Capítulo 26:1-35

Novamente vem fome sobre a terra, como nos tempos de Abraão (capítulo 12:10), e Isaque sobe para o norte até Gerar, onde seu pai havia se enriquecido entre os filisteus, e onde provavelmente Isaque havia nascido (capítulos 20-21). Ele foi avistar-se com o Abimeleque, ao chegar ali, provavelmente como ato de cortesia e para obter sua aprovação para acampar com seus rebanhos em seu território.

Segundo os historiadores, os filisteus haviam emigrado para uma área no litoral de Canaã; seu número era pequeno, mas eram considerados guerreiros ferozes, sendo freqüentemente contratados por outros povos para as suas guerras. Embora fossem amigos de Abraão e Isaque, este pequeno grupo tornou-se em uma nação que séculos mais tarde foi um flagelo para os israelitas.

Este deve ter sido outro Abimeleque, pois quase um século havia já decorrido desde os acontecimentos do capítulo 20.

Decerto Isaque estava tentado a ir até o Egito, onde havia abundância de pastagem, como seu pai havia feito, mas o SENHOR lhe apareceu, mandou que ele ficasse na terra em que Ele lhe dissesse, em Canaã, e confirmou para Isaque o juramento feito a Abraão: teria imensa descendência, todas aquelas terras lhe seriam dadas, e na sua descendência seriam abençoadas todas as nações da terra, porque Abraão havia sido obediente ao que Deus lhe mandara. Isaque então ficou em Gerar.

Isaque temia que os filisteus o matassem por ser marido da linda Rebeca. Seguindo o exemplo do seu pai, ele disse aos filisteus que ela era sua irmã e escondeu o fato que era sua esposa (no caso dele não foi uma meia-mentira, mas uma mentira inteira!). Só muito tempo depois o Abimeleque percebeu que eram casados, repreendeu Isaque e instruiu todo o seu povo para que não tocasse neles.

Deus manteve sua promessa de abençoar Isaque, pois rapidamente ele enriqueceu, prosperou e ficou riquíssimo.

Os filisteus se encheram de inveja, e começaram a atulhar os poços, vitais para o rebanho, com o fim de se livrarem dele. O próprio Abimeleque pediu que Isaque se afastasse, porque já se havia tornado muito mais poderoso do que seu próprio povo.

Isaque gentilmente saiu da cidade e armou suas tendas na planície. Gerar se encontrava à beira do deserto, e água era uma substância muito preciosa. Quando alguém cavava um poço, ele assumia o direito de propriedade ao terreno. Alguns eram até trancados para que a água não fosse roubada. Atulhar, fechando o poço de alguém, era um ato de beligerância, considerado um dos maiores crimes naquela terra. Isaque tinha todo o direito de reagir quando fizeram isso com ele, mas preferiu manter a paz. Pacientemente ele abriu outra vez os poços de seu pai, mantendo os mesmos nomes.

Alguns dos poços mencionados no livro de Gênesis receberam nomes significativos:

Beer- Laai-Roi "um poço daquele que vive e me vê" recebeu esse nome porque ali a serva Hagar teve um encontro com o SENHOR quando fugia de Abrão e Sarai (Gênesis 16:14; 24:62; 25:11).

Berseba "poço dos sete", ou "poço do juramento", chamado assim porque ali Abraão deu sete cordeiras do seu rebanho ao Abimeleque, e ao aceitá-las este reconheceu que fora cavado, e logo pertencia, a Abraão (Gênesis 21:15-33; 22:19; 26:23-25; 46:1-5).

Eseque "contenda", porque houve contenda entre os pastores de Isaque e os do local de Gerar (Gênesis 26:20).

Sitna "inimizade", porque também houve contenda.

Reobote "alargamento", porque lhe foi permitido usá-lo, tendo o SENHOR assim aumentado sua prosperidade.

Depois disso ele foi até Berseba, o lugar do poço que o Abimeleque do tempo de Abraão havia concordado pertencia a ele. Também esse poço havia sido enchido de entulho pelos filisteus.

O SENHOR nessa mesma noite apareceu a Isaque e depois de se identificar como o Deus de seu pai, confirmou que estava com ele e o iria abençoar e multiplicar sua descendência, por amor de seu servo, Abraão.

Isaque prontamente levantou ali um altar e adorou o SENHOR, invocando Seu nome. A seguir, ele armou sua tenda, e mandou seus servos desentupirem o poço.

Então apareceu o Abimeleque, com um amigo e o comandante do seu exército, Ficol, o grande, para falar com ele. Isaque se surpreendeu ao vê-los, depois do que havia sucedido anteriormente, mas era evidente que o Abimeleque temia possíveis represálias por parte de Isaque por causa das ofensas que havia recebido do seu povo.

O Abimeleque propôs um tratado de paz, visto que o SENHOR estava com Isaque. Este prontamente respondeu com um banquete, findo o qual ambos juraram manter a paz entre si, e o Abimeleque e seus companheiros partiram em paz, sendo já madrugada.

Vemos aqui o caráter pacífico e generoso de Isaque, um exemplo para nós, pois a Palavra de Deus nos manda: se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens (Romanos 12:18, Hebreus 12:14, I Pedro 3:11).

Logo depois, nesse mesmo dia, os servos de Isaque lhe deram a boa notícia que haviam encontrado água. Isaque chamou o poço de Seba, juramento, e a cidade que ali foi construída tomou o nome de Berseba, poço do juramento.

Berseba é mencionada entre as cidades dadas à tribo de Simeão (Josué 19:2; 1 Crônicas 21:2; 2 Samuel 24:2) . De Dã até Berseba, uma distância de uns 200 quilômetros, passou a ser a maneira proverbial de designar a extensão da Terra Prometida (Juizes 20:1; 1 Crônicas 21:2; 2 Samuel 24:2).

Embora não mencionada no Novo Testamento, ainda hoje a cidade se encontra ali, chamada pelos palestinos árabes de Bir es-Seba, "poço dos sete"; ali existem dois poços principais e cinco menores. Está quase no meio entre o mar Mediterrâneo e o mar Morto.

O capítulo termina com uma nota triste sobre Esaú: ele tomou para si duas esposas, ambas dentre os heteus. Estes eram uma tribo de cananeus que habitava uma vasta região entre o rio Eufrates e Damasco. Eles eram agressivos e se tornaram em uma nação tão forte que rivalizava os impérios egípcios e assírios. No livro de Josué eles são retratados como a raça dominante ao norte da Galiléia.

Lembremos que Abraão sabiamente não permitiu que Isaque tomasse esposa dentre os cananeus, sujeitos à maldição de Noé. Isaque, no entanto, não impediu que seu filho preferido Esaú o fizesse, e essas duas esposas se tornaram amargura de espírito para ele e sua esposa: era a prerrogativa dos pais escolherem esposas para seus filhos, mas aqui foi Esaú quem tomou a iniciativa, revelando outro mau aspecto do seu caráter.

 

R David Jones

1 E havia fome na terra, além da primeira fome, que foi nos dias de Abraão; por isso, foi-se Isaque a Abimeleque, rei dos filisteus, em Gerar.
2 E apareceu-lhe o SENHOR e disse: Não desças ao Egito. Habita na terra que eu te disser;
3 peregrina nesta terra, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti e à tua semente darei todas estas terras e confirmarei o juramento que tenho jurado a Abraão, teu pai.
4 E multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus e darei à tua semente todas estas terras. E em tua semente serão benditas todas as nações da terra,
5 porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis.
6 Assim, habitou Isaque em Gerar.
7 E, perguntando-lhe os varões daquele lugar acerca de sua mulher, disse: É minha irmã; porque temia dizer: É minha mulher; para que porventura (dizia ele) me não matem os varões daquele lugar por amor de Rebeca; porque era formosa à vista.
8 E aconteceu que, como ele esteve ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhou por uma janela e viu, e eis que Isaque estava brincando com Rebeca, sua mulher.
9 Então, chamou Abimeleque a Isaque e disse: Eis que, na verdade, é tua mulher; como, pois, disseste: É minha irmã? E disse-lhe Isaque: Porque eu dizia: Para que eu porventura não morra por causa dela.
10 E disse Abimeleque: Que é isto que nos fizeste? Facilmente se teria deitado alguém deste povo com a tua mulher, e tu terias trazido sobre nós um delito.
11 E mandou Abimeleque a todo o povo, dizendo: Qualquer que tocar neste varão ou em sua mulher certamente morrerá.
12 E semeou Isaque naquela mesma terra e colheu, naquele mesmo ano, cem medidas, porque o SENHOR o abençoava.
13 E engrandeceu-se o varão e ia-se engrandecendo, até que se tornou mui grande;
14 e tinha possessão de ovelhas, e possessão de vacas, e muita gente de serviço, de maneira que os filisteus o invejavam.
15 E todos os poços que os servos de seu pai tinham cavado nos dias de Abraão, seu pai, os filisteus entulharam e encheram de terra.
16 Disse também Abimeleque a Isaque: Aparta-te de nós, porque muito mais poderoso te tens feito do que nós.
17 Então, Isaque foi-se dali, e fez o seu assento no vale de Gerar, e habitou lá.
18 E tornou Isaque, e cavou os poços de água que cavaram nos dias de Abraão, seu pai, e que os filisteus taparam depois da morte de Abraão, e chamou-os pelos nomes que os chamara seu pai.
19 Cavaram, pois, os servos de Isaque naquele vale e acharam ali um poço de águas vivas.
20 E os pastores de Gerar porfiaram com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por isso, chamou o nome daquele poço Eseque, porque contenderam com ele.
21 Então, cavaram outro poço e também porfiaram sobre ele. Por isso, chamou o seu nome Sitna.
22 E partiu dali e cavou outro poço; e não porfiaram sobre ele. Por isso, chamou o seu nome Reobote e disse: Porque agora nos alargou o SENHOR, e crescemos nesta terra.
23 Depois, subiu dali a Berseba,
24 e apareceu-lhe o SENHOR naquela mesma noite e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Não temas, porque eu sou contigo, e abençoar-te-ei, e multiplicarei a tua semente por amor de Abraão, meu servo.
25 Então, edificou ali um altar, e invocou o nome do SENHOR, e armou ali a sua tenda; e os servos de Isaque cavaram ali um poço.
26 E Abimeleque veio a ele de Gerar, com Ausate, seu amigo, e Ficol, príncipe do seu exército.
27 E disse-lhe Isaque: Por que viestes a mim, pois que vós me aborreceis e me enviastes de vós?
28 E eles disseram: Havemos visto, na verdade, que o SENHOR é contigo; pelo que dissemos: Haja, agora, juramento entre nós, entre nós e ti; e façamos concerto contigo.
29 Que nos não faças mal, como nós te não temos tocado, e como te fizemos somente bem, e te deixamos ir em paz. Agora, tu és o bendito do SENHOR.
30 Então, lhes fez um banquete, e comeram e beberam.
31 E levantaram-se de madrugada e juraram um ao outro; depois, os despediu Isaque, e despediram-se dele, em paz.
32 E aconteceu, naquele mesmo dia, que vieram os servos de Isaque, e anunciaram-lhe acerca do negócio do poço, que tinham cavado, e disseram-lhe: Temos achado água.
33 E chamou-o Seba. Por isso, é o nome daquela cidade Berseba até o dia de hoje.
34 Ora, sendo Esaú da idade de quarenta anos, tomou por mulher a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu.
35 E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito.

Gênesis capítulo 26:1-35