Neste capítulo começa o exílio de Jacó, para escapar do furor de Esaú e ao mesmo tempo procurar para si uma esposa entre os familiares de seus pais em Padã-Arã (planície de Arã), obedecendo aos desejos deles.
Ao despedi-lo, Isaque ordena a Jacó "não tomarás esposa dentre as filhas de Canaã": Canaã estava debaixo da maldição de Noé e, assim como o próprio Isaque, era necessário que Jacó mantivesse sua linhagem puramente semita. Isaque então mandou Jacó ir até a casa do seu avô, pai de Rebeca, em Padã-Arã (de onde veio Rebeca), e tomar como esposa uma das suas primas, filhas de seu tio Labão.
Apesar de ter sido logrado por Jacó, Isaque também finalmente compreendeu que era através dele que seria cumprida a promessa do SENHOR a Abraão. Por isso ele rogou que Deus-Todo-Poderoso concedesse a Jacó a bênção de Abraão.
Então Jacó (aos 75 anos) partiu para percorrer os 800 quilômetros até a casa do seu avô.
Esaú, por sua vez, tomando conhecimento de tudo isso, e sabendo que seu pai não aprovava as duas esposas que já tinha, chegou à conclusão que também deveria tomar uma esposa para si que não fosse cananeia: foi então à casa do seu tio Ismael (que havia morrido uns 14 anos antes), e casou-se com sua prima Maalate (também chamada Basemate - capítulo 36:3).
Ela era irmã de Nebaiote, príncipe ismaelita cuja descendência formou uma nação (Isaías 60:7). Ismael, filho de Hagar, a serva egípcia de Sara, havia se casado com uma egípcia (capítulo 22:21). Os egípcios eram camitas da linha de Cuxe, irmão de Canaã (capítulo 10:6-14).
Tendo percorrido uns cem quilômetros da sua viagem, Jacó deitou-se, exausto, no chão e usou uma pedra como travesseiro para dormir. Próximo dali Abraão havia oferecido um dos seus primeiros sacrifícios a Deus quando chegara a Canaã, e outro ao voltar do Egito (capítulos 12:8, 13:4). Havia uma pequena cidade ali chamada Luz (amendoeira).
Jacó sonhou que viu uma escadaria até o céu, pela qual subiam e desciam anjos (dois mil anos mais tarde seu descendente, o Senhor Jesus, esclareceu que Ele era a escadaria, ou caminho para o céu - João 1:47-51, 14:6). Identificando-se como o SENHOR, Deus de Abraão e de Isaque, Deus estava em cima dela e confirmou a Jacó a aliança abraâmica, acrescentando que estaria com ele e o guardaria por onde quer que fosse, e o faria voltar a essa terra.
Ao despertar, Jacó se lembrou bem do sonho, e demonstrou grande surpresa porque Deus estava naquele lugar (sabemos que Deus está em todo lugar!): Deus apareceu quando ele menos esperava. Ao invés de se orgulhar com a grandiosa revelação, ele imediatamente sentiu temor, que na linguagem bíblica significa uma profunda reverência misturada com medo, ao se conscientizar de que o Todo-Poderoso Deus estava ali.
Quão temível é este lugar! Ele achou que o fato de Deus ter aparecido diante dele ali, como que abrindo uma porta de comunicação com os céus, tornava aquele lugar merecedor da maior reverência: a casa, ou lugar, de Deus.
Em seguida ele se levantou (era madrugada) e erigiu a pedra que havia usado como travesseiro, consagrando-a com azeite, para marcar o lugar onde mais tarde ele poderia construir algo melhor. Ele estava com pressa e não queria se deter ali.
Quando voltou, anos depois, ele construiu ali um altar (capítulo 35:7). Também mudou o nome do lugar para Betel, a casa de Deus. Quando Moisés escreveu este livro séculos mais tarde, esse era o nome do lugar, por isso o nome aparece em capítulos anteriores para identificá-lo.
O voto feito por Jacó traz um problema de interpretação, conforme forem os tempos dos verbos ir, guardar e dar, que não parecem ser claros no original.
Usando o futuro do condicional, como aparece na maioria das traduções, entendemos que Jacó está fazendo um voto condicional, ou seja, se Deus for comigo, e me guardar ... e me der..., Jacó por sua vez lhe retribuirá adotando o SENHOR como seu Deus, a pedra será a casa de Deus, e ele dará a Deus o dízimo de tudo o que Deus lhe conceder.
Mas se o tempo for o presente do condicional, o que Jacó realmente disse foi: se Deus é comigo, e me guarda ... e me dá, ... então o SENHOR é meu Deus, a pedra ... é a casa de Deus, e eu te dou o dízimo. Em outras palavras, porque Tu me abençoas, Tu és meu Deus e Te honrarei.
Seja como for, Deus o abençoou, mas tinha algumas lições difíceis para lhe ensinar. Jacó estava passando por um período de medo e aflição. É nessas condições que freqüentemente as pessoas recorrem ao voto, ou quando desejam uma grande misericórdia (Números 21:2; 1 Samuel 1:11; Salmo 66:13,14; Jonas 1:16). Neste voto de Jacó, notamos:
Fé: ele confiava na promessa de Deus, crendo que Ele iria permitir sua volta à casa de seu pai.
Modéstia: ele se contentava com segurança, alimento, vestuário e paz na volta para casa (1 Timóteo 6:8).
Piedade, respeito a Deus: ele almejava a presença de Deus com ele, dando-lhe proteção na sua viagem; também resolveu dar-lhe a devida honra como seu Deus, começando por consagrar o lugar da coluna como casa de Deus, e dedicando a Deus o dízimo de tudo o que recebesse (1 Coríntios 16:2; 2 Coríntios 9:7).
1 E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã.
2 Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das filhas de Labão, irmão de tua mãe.
3 E Deus Todo-poderoso te abençoe, e te faça frutificar, e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos;
4 e te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua semente contigo, para que em herança possuas a terra de tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão.
5 Assim, enviou Isaque a Jacó, o qual se foi a Padã-Arã, a Labão, filho de Betuel, arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú.
6 Vendo, pois, Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a Padã-Arã, para tomar mulher para si dali, e que, abençoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher das filhas de Canaã;
7 e que Jacó obedecera a seu pai e a sua mãe e se fora a Padã-Arã;
8 vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque, seu pai,
9 foi-se Esaú a Ismael e tomou para si por mulher, além das suas mulheres, a Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, e irmã de Nebaiote.
10 Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi-se a Harã.
11 E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por sua cabeceira, e deitou-se naquele lugar.
12 E sonhou: e eis era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela.
13 E eis que o SENHOR estava em cima dela e disse: Eu sou o SENHOR, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque. Esta terra em que estás deitado ta darei a ti e à tua semente.
14 E a tua semente será como o pó da terra; e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul; e em ti e na tua semente serão benditas todas as famílias da terra.
15 E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito.
16 Acordado, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o SENHOR está neste lugar, e eu não o sabia.
17 E temeu e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos céus.
18 Então, levantou-se Jacó pela manhã, de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por sua cabeceira, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela.
19 E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome, porém, daquela cidade, dantes, era Luz.
20 E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir,
21 e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu Deus;
22 e esta pedra, que tenho posto por coluna, será Casa de Deus; e, de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.
Gênesis capítulo 28