Depois de ver que sua família estava bem instalada na terra de Gósen, José voltou ao palácio de governo levando consigo cinco dos seus irmãos, e obteve uma audiência com Faraó para apresentá-los.
Ele logo informou o Faraó que eles haviam vindo com todos os seus rebanhos e o seu gado e tudo que tinham, do que o Faraó poderia deduzir que não precisavam de ajuda material ou financeira, facilitando ainda mais a sua aceitação.
José comunicou-lhe que já estavam na terra de Gósen: ele havia sido sábio, instalando sua família primeiro antes de apresentá-los a Faraó: já que estavam ali, era mais provável que Faraó lhes desse aquela terra, que continha as melhores pastagens do Egito. Os egípcios, que detestavam os pastores de rebanho, não se incomodariam muito, pois não iriam morar em suas cidades.
Ao serem interrogados, seus irmãos informaram ao Faraó que eram pastores de rebanho, como seus antepassados (como José os havia instruído), que haviam vindo por causa da falta de pasto na terra de Canaã, e pediram permissão para habitarem na terra de Gósen.
Faraó lhes deu as boas vindas, colocou o Egito à sua disposição, e lhes deu a terra de Gósen para habitação. Ele também linha gado, e precisava de bons administradores para seu rebanho; eles poderiam servi-lo.
Em vista deste bom resultado, José também apresentou seu pai e seu primeiro ato foi abençoar Faraó (rogando as bênçãos de Deus sobre ele). É o maior que abençoa o menor, e, neste caso, Jacó era
o mais velho, avançado em anos,
um verdadeiro crente,
um patriarca e profeta de Deus.
Ele agiu como homem que não se envergonhava da sua fé, e desta forma demonstrou sua gratidão ao que Faraó havia concedido a ele e à sua família.
Jacó ainda não se jactou dos seus sucessos e de sua prosperidade, mas humildemente disse a Faraó que os dias de suas peregrinações eram cento e trinta anos, que foram poucos e maus, não chegando aos anos de seus pais (ele pensava que estava para morrer).
É um exemplo para nossos dias, quando tantos crentes querem se engrandecer, gabando-se do que são e do que têm feito, além de se engrandecer uns aos outros. Na realidade somos apenas pecadores que nada temos de que nos orgulhar além de um Salvador maravilhoso que tem sido misericordioso e paciente conosco através dos anos.
Tendo agora obtido a sanção de Faraó, José oficialmente passou a escritura (ou seu equivalente naquele tempo) da terra de Gósen, ou de Ramessés como foi chamada mais tarde, para seu pai e seus irmãos, e os sustentou a todos eles com pão, evitando que tivessem de comprar mantimento.
A fome prevalecia entre o povo do Egito e o povo de Canaã - só estes dois povos são mencionados porque são os dois por que passaram Israel e seus descendentes: sem dúvida outros países da África e da Ásia Menor também foram afetados. O cereal dos sete anos de fartura estava armazenado no Egito, e era vendido pelo seu governador, José.
Com o tempo, o dinheiro para comprar cereais foi se acabando: ele foi todo para os cofres do Faraó. Para que o povo pudesse continuar a comprar mantimento, José aceitou pagamento em espécie na forma de cavalos, rebanhos, gado e jumentos, e isto durou por um ano.
Findo aquele ano, tendo Faraó ficado com todos os animais, José concordou em trocar mantimento por propriedades rurais. Com isso, toda a terra do Egito eventualmente passou a ser propriedade do Faraó, e o povo seu escravo, com exceção das terras dos sacerdotes, pois estes recebiam seu alimento, de graça, do Faraó.
Prevendo o término da seca, José forneceu sementes para o povo, e permitiu que continuassem a ocupar o que antes havia sido sua propriedade, mediante o pagamento de um aluguel (ou imposto), que consistia em vinte por cento de sua produção. Isto continuou pelo menos até o tempo em que este livro foi escrito por Moisés, quatro séculos mais tarde.
Desta forma, o Faraó adquiriu toda a terra do Egito, bem como os rebanhos de animais, e lhe foi assegurada uma renda correspondente a 20% da produção agrícola do país.
Israel e seus filhos habitaram na terra de Gósen que possuíam: eles não tiveram que comprar mantimento, e puderam ficar com toda a sua propriedade intacta, sem pagar imposto. Suas famílias aumentaram e eventualmente se tomaram um grande povo.
Depois de dezessete anos, Jacó sentiu que sua vida estava chegando ao fim, e tendo chamado a José, fê-lo jurar solenemente à moda daquele tempo, que não o enterrasse no Egito, mas na sepultura de seus pais na caverna de Macpela, em Canaã.
Os seguintes motivos poderão ter levado Israel a fazer este pedido:
tendo atingido a idade de 147 anos, ele estava assustado com a probabilidade de morrer no Egito - ele pensava que ia ficar lá só até que a seca passasse.
o sucesso de José em adquirir toda a terra para o Faraó o faria pensar que sua família, estando confortavelmente instalada no Egito, nunca mais desejaria voltar para Canaã.
O desejo de ser enterrado com seus pais na terra de Canaã foi uma prova da fé de Jacó na promessa feita por Deus a eles, que aparece muitas vezes na Bíblia.
A esperança do Velho Testamento era uma esperança terrena: Abraão cria que seria ressuscitado naquela terra, e quis ser enterrado nela. Isaque também. E agora Jacó. A esperança deles não era de serem elevados nos ares para encontrarem seu Senhor como acontece com a igreja, mas de entrarem no reino de Cristo que se estabelecerá no mundo. Quando isto acontecer, a grande esperança de Israel será cumprida, e essa gente será ressuscitada para participar daquele reino; ele começará no milênio, um período de experiência, quando os que nele nascerem serão provados, e em seguida virá o reino eterno, pelos séculos dos séculos.
É por isso que Jacó não quis ser enterrado no Egito: se ele não tivesse fé ou esperança na promessa de Deus, que diferença faria onde fosse enterrado?
Para os crentes de hoje, o lugar do nosso enterro não significa nada: onde quer que nossos restos mortais estejam, serão ressuscitados e transformados, juntando-se aos nossos espíritos vivos que terão estado com Cristo (se morrermos antes de sua vinda). Os mortos em Cristo e os vivos em Cristo, onde quer que estejam, encontrarão o Senhor nos ares. Nossa esperança é uma esperança celestial.
1 Então, veio José, e anunciou a Faraó, e disse: Meu pai, e os meus irmãos, e as suas ovelhas, e as suas vacas, com tudo o que têm, chegaram da terra de Canaã, e eis que estão na terra de Gósen.
2 E tomou uma parte de seus irmãos, a saber, cinco varões, e os pôs diante de Faraó.
3 Então, disse Faraó a seus irmãos: Qual é o vosso negócio? E eles disseram a Faraó: Teus servos são pastores de ovelhas, tanto nós como nossos pais.
4 Disseram mais a Faraó: Viemos para peregrinar nesta terra; porque não há pasto para as ovelhas de teus servos, porquanto a fome é grave na terra de Canaã; agora, pois, rogamos-te que teus servos habitem na terra de Gósen.
5 Então, falou Faraó a José, dizendo: Teu pai e teus irmãos vieram a ti.
6 A terra do Egito está diante da tua face; no melhor da terra faze habitar teu pai e teus irmãos; habitem na terra de Gósen; e, se sabes que entre eles há homens valentes, os porás por maiorais do gado, sobre o que eu tenho.
7 E trouxe José a Jacó, seu pai, e o pôs diante de Faraó; e Jacó abençoou a Faraó.
8 E Faraó disse a Jacó: Quantos são os dias dos anos de tua vida?
9 E Jacó disse a Faraó: Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida e não chegaram aos dias dos anos da vida de meus pais, nos dias das suas peregrinações.
10 E Jacó abençoou a Faraó e saiu de diante da face de Faraó.
11 E José fez habitar a seu pai e seus irmãos e deu-lhes possessão na terra do Egito, no melhor da terra, na terra de Ramessés, como Faraó ordenara.
12 E José sustentou de pão a seu pai, e a seus irmãos, e a toda a casa de seu pai, segundo as suas famílias.
13 E não havia pão em toda a terra, porque a fome era mui grave; de maneira que a terra do Egito e a terra de Canaã desfaleciam por causa da fome.
14 Então, José recolheu todo o dinheiro que se achou na terra do Egito e na terra de Canaã, pelo trigo que compravam; e José trouxe o dinheiro à casa de Faraó.
15 Acabando-se, pois, o dinheiro na terra do Egito e na terra de Canaã, vieram todos os egípcios a José, dizendo: Dá-nos pão; por que morreremos em tua presença? Porquanto o dinheiro nos falta.
16 E José disse: Dai o vosso gado, e eu vo-lo darei por vosso gado, se falta o dinheiro.
17 Então, trouxeram o seu gado a José; e José deu-lhes pão em troca de cavalos, e das ovelhas, e das vacas, e dos jumentos; e os sustentou de pão aquele ano por todo o seu gado.
18 E, acabado aquele ano, vieram a ele no segundo ano e disseram-lhe: Não ocultaremos ao meu senhor que o dinheiro é acabado, e meu senhor possui os animais; nenhuma outra coisa nos ficou diante da face de meu senhor, senão o nosso corpo e a nossa terra.
19 Por que morreremos diante dos teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e à nossa terra por pão, e nós e a nossa terra seremos servos de Faraó; dá semente para que vivamos e não morramos, e a terra não se desole.
20 Assim, José comprou toda a terra do Egito para Faraó, porque os egípcios venderam cada um o seu campo, porquanto a fome era extrema sobre eles; e a terra ficou sendo de Faraó.
21 E, quanto ao povo, fê-lo passar às cidades, desde uma extremidade da terra do Egito até à outra extremidade.
22 Somente a terra dos sacerdotes não a comprou, porquanto os sacerdotes tinham porção de Faraó e eles comiam a sua porção que Faraó lhes tinha dado; por isso, não venderam a sua terra.
23 Então, disse José ao povo: Eis que hoje vos tenho comprado a vós e a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente para vós, para que semeeis a terra.
24 Há de ser, porém, que das colheitas dareis o quinto a Faraó, e as quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso mantimento, e dos que estão nas vossas casas, e para que comam vossos meninos.
25 E disseram: A vida nos tens dado; achemos graça aos olhos de meu senhor e seremos servos de Faraó.
26 José, pois, pôs isto por estatuto, até ao dia de hoje, sobre a terra do Egito: que Faraó tirasse o quinto; só a terra dos sacerdotes não ficou sendo de Faraó.
27 Assim, habitou Israel na terra do Egito, na terra de Gósen, e nela tomaram possessão, e frutificaram, e multiplicaram-se muito.
28 E Jacó viveu na terra do Egito dezessete anos; de sorte que os dias de Jacó, os anos da sua vida, foram cento e quarenta e sete anos.
29 Chegando-se, pois, o tempo da morte de Israel, chamou a José, seu filho, e disse-lhe: Se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que ponhas a tua mão debaixo da minha coxa, e usa comigo de beneficência e verdade; rogo-te que me não enterres no Egito,
30 mas que eu jaza com os meus pais; por isso, me levarás do Egito e me sepultarás na sepultura deles. E ele disse: Farei conforme a tua palavra.
31 E disse ele: Jura-me. E ele jurou-lhe; e Israel inclinou-se sobre a cabeceira da cama.
Gênesis capítulo 47