José não conteve suas emoções ao morrer seu pai Jacó, na idade avançada de 147 anos. Era óbvio que o amava muito, e iria sentir muito sua falta aqui no mundo, mesmo sabendo que um dia também se reuniria a ele e aos seus antepassados.
A técnica de embalsamar cadáveres era altamente desenvolvida no Egito: é um processo mediante o qual os ossos, carne e pele são preservados por milênios mediante a remoção de órgãos internos, desidratação e aplicação de produtos químicos. José ordenou que seus médicos usassem seus talentos para embalsamar o corpo de Israel, como faziam com os corpos dos faraós e os das mais altas personalidades do país, o que levou um período de quarenta dias.
Os dias de o chorarem, ou seja, de luto, foram setenta.
Para sair do Egito e ir até a terra de Canaã sepultar seu pai, José precisava da licença de Faraó: iria ficar muitos dias no exterior, longe de seu gabinete de trabalho. Mas Faraó novamente provou que tinha grande confiança nele, e lhe deu sua autorização.
O cortejo fúnebre de Jacó foi imenso, digno dos mais nobres personagens da época: dele participaram todos os oficiais de Faraó, os mais importantes de sua casa, todos os homens mais importantes da terra do Egito, toda a família, oficiais e servos de José, seus irmãos e a família, oficiais e servos de seu pai, tanto carros como cavaleiros. Assim José honrou seu pai em seu sepultamento, como havia feito em vida.
A eira de Atade (espinheiro - Juizes 9: 14, 15, Salmo 58:9) estava ao norte do mar Morto, provavelmente próximo a Hebrom. Ali foi observado um período de luto de uma semana, liderado por José. Como os egípcios participaram do lamento, o lugar foi chamado Abelmizrim (o lamento do Egito, na língua dos cananeus).
Conforme havia jurado a seu pai (capítulo 47:29-31), José junto com seus irmãos sepultou o corpo de Jacó na caverna do campo de Macpela, reunindo-o assim aos restos mortais de Abraão, Sara, Isaque, Rebeca e Lia (capítulo 49:31).
Depois que regressaram ao Egito, os irmãos de José temeram que, agora que seu pai não estava mais lá, José começasse a persegui-los por causa do mal que lhe haviam feito. Sua consciência continuava pesada e temiam o castigo que poderiam vir a sofrer das mãos do poderoso José.
Eles então mandaram uma mensagem a José informando-o que, antes de morrer, Jacó havia lhes ordenado que pedissem perdão a ele e, portanto, eles pediam seu perdão. É possível que Jacó não tivesse feito tal coisa, mas José percebeu o temor e humilhação de seus irmãos e, generoso como era, chorou por eles.
Quando, mais tarde, vieram e se prostraram diante dele, completamente submissos, ele os surpreendeu ao dizer que não era Deus para se vingar deles. Embora intentassem o mal contra ele, Deus havia tornado o mal em bem para que pudessem viver (escapando da fome que havia prevalecido na sua terra).
José ainda prometeu sustentá-los, e aos seus filhos. Seu perdão foi completo, ilustrando como o perdão de Deus ao pecador contrito também é absoluto. É também um exemplo de como nós devemos perdoar aos que nos fazem mal.
Ao morrer Jacó, José teria cerca de cinqüenta e sete anos. Ele viveu ainda mais cinqüenta e três, chegando a ver seus netos e bisnetos, morrendo aos cento e dez anos, em 1.850 a.C. segundo cálculos.
José morreu certo de que Deus cumpriria suas promessas, e levaria seus descendentes de volta à terra prometida. Era uma fé alicerçada numa vida de obediência e humildade diante da soberana vontade de Deus (Hebreus 11:22).
Aparentemente foi o primeiro a morrer dentre os filhos de Jacó, e antes de morrer declarou sua convicção aos seus irmãos, e os fez jurar que, quando voltassem a Canaã levariam seus ossos para lá. Ele não sabia, mas passariam ainda quatro séculos antes que seus descendentes regressassem à terra prometida.
Seu corpo foi embalsamado como o de seu pai, mas ficou guardado num sarcófago no Egito. Quando os israelitas saíram, liderados por Moisés, eles o levaram com eles e, depois de peregrinarem no deserto por quarenta anos, tiveram a oportunidade de sepultá-lo no terreno que seu pai Jacó lhe havia dado em Siquém (capítulo 33:19, Josué 24:32). Com a morte de José, terminou a era patriarcal da história do povo de Israel - portanto o livro de Gênesis.
Existe um quê de tristeza neste último capítulo do livro, pois fala da morte de dois vultos importantes da história bíblica. Na realidade, todo o livro de Gênesis, que trata dos começos, enfatiza a morte, como Deus falou a Adão: "...porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (capítulo 2:17). 0 apóstolo Paulo escreveu mais tarde ".. assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram" (Romanos 5:12).
O livro de Gênesis é um exemplo perfeito da realidade do pecado e da sua conseqüência, a morte, abrindo com a criação, o Jardim do Éden e Adão andando com Deus, e terminando com um sarcófago no Egito. Temos nele o relato da entrada do pecado na família humana mas também a fidelidade de Deus, ao prover um caminho de vida para a humanidade.
Finalmente, vejamos uns notáveis paralelos entre José e Cristo:
1 Então, José se lançou sobre o rosto de seu pai, e chorou sobre ele, e o beijou.
2 E José ordenou aos seus servos, os médicos, que embalsamassem o seu pai; e os médicos embalsamaram Israel.
3 E cumpriram-se-lhe quarenta dias, porque assim se cumprem os dias daqueles que se embalsamam; e os egípcios o choraram setenta dias.
4 Passados os dias de seu choro, falou José à casa de Faraó, dizendo: Se agora tenho achado graça aos vossos olhos, rogo-vos que faleis aos ouvidos de Faraó, dizendo:
5 Meu pai me fez jurar, dizendo: Eis que eu morro; em meu sepulcro, que cavei para mim na terra de Canaã, ali me sepultarás. Agora, pois, te peço, que eu suba, para que sepulte o meu pai; então, voltarei.
6 E Faraó disse: Sobe e sepulta o teu pai, como ele te fez jurar.
7 E José subiu para sepultar o seu pai; e subiram com ele todos os servos de Faraó, os anciãos da sua casa e todos os anciãos da terra do Egito,
8 como também toda a casa de José, e seus irmãos, e a casa de seu pai; somente deixaram na terra de Gósen os seus meninos, e as suas ovelhas, e as suas vacas.
9 E subiram também com ele tanto carros como gente a cavalo; e o concurso foi grandíssimo.
10 Chegando eles, pois, à eira do espinhal, que está além do Jordão, fizeram um grande e gravíssimo pranto; e fez a seu pai um grande pranto por sete dias.
11 E, vendo os moradores da terra, os cananeus, o luto na eira do espinhal, disseram: É este o pranto grande dos egípcios. Por isso, chamou-se o seu nome Abel-Mizraim, que está além do Jordão.
12 E fizeram-lhe os seus filhos assim como ele lhes ordenara,
13 pois os seus filhos o levaram à terra de Canaã e o sepultaram na cova do campo de Macpela, que Abraão tinha comprado com o campo, por herança de sepultura, a Efrom, o heteu, em frente de Manre.
14 Depois, tornou José para o Egito, ele, e seus irmãos, e todos os que com ele subiram a sepultar o seu pai, depois de haver sepultado o seu pai.
15 Vendo, então, os irmãos de José que o seu pai já estava morto, disseram: Porventura, nos aborrecerá José e nos pagará certamente todo o mal que lhe fizemos.
16 Portanto, enviaram a José, dizendo: Teu pai mandou, antes da sua morte, dizendo:
17 Assim direis a José: Perdoa, rogo-te, a transgressão de teus irmãos e o seu pecado, porque te fizeram mal; agora, pois, rogamos-te que perdoes a transgressão dos servos do Deus de teu pai. E José chorou quando eles lhe falavam.
18 Depois, vieram também seus irmãos, e prostraram-se diante dele, e disseram: Eis-nos aqui por teus servos.
19 E José lhes disse: Não temais; porque, porventura, estou eu em lugar de Deus?
20 Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande.
21 Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei a vós e a vossos meninos. Assim, os consolou e falou segundo o coração deles.
22 José, pois, habitou no Egito, ele e a casa de seu pai; e viveu José cento e dez anos.
23 E viu José os filhos de Efraim, da terceira geração; também os filhos de Maquir, filho de Manassés, nasceram sobre os joelhos de José.
24 E disse José a seus irmãos: Eu morro, mas Deus certamente vos visitará e vos fará subir desta terra para a terra que jurou a Abraão, a Isaque e a Jacó.
25 E José fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente, vos visitará Deus, e fareis transportar os meus ossos daqui.
26 E morreu José da idade de cento e dez anos; e o embalsamaram e o puseram num caixão no Egito.
Gênesis capítulo 50