Lemos, no capítulo anterior, como José deixou Judá explicar como seu pai morreria se Benjamim não voltasse com eles, dispondo-se a ficar ele próprio como servo de José em lugar de Benjamim.
Mediante as provas por que haviam passado, seus irmãos demonstraram que:
estavam humilhados por causa do mal que haviam feito a ele,
lembravam-se sempre dele, tendo sido mencionado duas vezes no discurso de Judá,
respeitavam seu pai, e
tinham muito cuidado por Benjamim.
Havia, portanto, chegado a hora de revelar a eles a sua verdadeira identidade, e mandou então sair de sua presença todos os seus acompanhantes, ficando ele a sós com seus irmãos.
Podemos imaginar como eles devem ter ficado estupefatos, ouvindo José bradar em egípcio, língua que não compreendiam, ver que todos imediatamente saíram, e presenciar o choro de José, tão alto que não só os egípcios, mas também a casa de Faraó podia ouvi-lo, sem que ninguém soubesse a razão. Aquele homem duro e severo se transformou diante dos seus olhos e, passada a primeira explosão da sua intensa emoção, dirigiu-se a eles em sua própria língua, dizendo: Eu sou José; vive ainda meu pai?
O dia virá quando o Senhor Jesus vai revelar sua identidade aos seus irmãos, os judeus. Quando Ele veio da primeira vez, ele veio para o que era Seu, e os Seus não o receberam (João 1: 11). Em vez disso, eles O entregaram para ser crucificado. Mas quando vier da segunda vez, ele se fará conhecer ao seu povo, e "se alguém lhe disser: Que feridas são essas nos teus braços? responderá ele: São as feridas com que fui ferido na casa dos meus amigos" (Zacarias 13:6).
Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza (Zacarias 13: 1). Vai ser um encontro entre o Senhor Jesus e seus irmãos. A cena vista pelos irmãos de José é apenas um vislumbre de como será maravilhoso e terrível aquele dia.
Os irmãos de José ficaram aterrorizados: estavam em poder do irmão que haviam odiado, procurado matar, e finalmente vendido como escravo uns vinte anos atrás. Iria ele vingar-se agora? Temiam abrir a boca para falar.
Mas, embora do ponto de vista humano, fosse natural esperar que José aproveitasse a ocasião para tirar satisfação dos seus irmãos, ele não fez isso: José podia ver, sobre todos os acontecimentos, a mão soberana de Deus. O plano divino estava se desvendando e ele percebeu que, pela providência de Deus, ele agora estava na posição certa para conservar a família de seu pai. Ela não teria sobrevivido se permanecesse na terra de Canaã.
Vendo isso, José mandou seus irmãos trazerem seu pai, sua família, e tudo o que possuíam, e lhes deu uma parcela do Egito - a terra de Gósen - como moradia. A terra de Gósen era a parte oriental do delta do rio Nilo, uma área fértil com um vale central de uns 64 quilômetros de extensão.
Os irmãos de José continuaram pasmados e mudos, depois desta revelação espantosa de José, somente começando a falar depois que ele, tendo inicialmente demonstrado sua especial afeição por Benjamim, também abraçou e beijou a todos os demais.
A notícia então se espalhou: o alvoroço e barulho fora tal, que decerto o Faraó mandou verificar a causa e então lhe contaram que os irmãos de José haviam vindo.
Tanto o Faraó como os seus oficiais se agradaram com a notícia, pois José era evidentemente muito bem querido por seu excelente caráter, integridade e piedade, e eles simpatizavam com o júbilo que ele havia expressado tão alto. Decerto esperavam que o resto da sua família fosse boa como ele, ignorando o que haviam feito anteriormente.
O Faraó, como José, mandou que fossem buscar seu pai e suas famílias e viessem para ele, pois lhes daria o melhor da terra do Egito e fartura de alimentos. Deu-lhes também carros para trazer as crianças e mulheres, a última palavra em veículos daquela época, e lhes disse para não se preocuparem com suas possessões, pois receberiam abundância de tudo quando chegassem. Ele foi generoso com eles por causa de José.
José despediu seus irmãos com abundância de suprimentos, vestes festivais para cada um (cinco para Benjamim além de trezentas moedas de prata) e a advertência de não brigarem pelo caminho! Ele os havia perdoado ao ver a mudança em seu caráter, e não queria que sua nova fortuna os fizesse voltar aos maus hábitos de antes. Isso nos lembra que também fomos perdoados pelo nosso pecado diante de Deus, e devemos nos perdoar uns aos outros.
Quando disseram ao velho Jacó (tinha já 130 anos) que José ainda vivia e era o governador de toda a terra do Egito, ele quase teve um ataque cardíaco. Ele não podia acreditar a princípio, mas quando ouviu seus filhos contarem o que José lhes havia revelado (será que lhe confessaram agora como José havia ido parar no Egito?), e lhe mostraram tudo o que José lhe havia mandado, inclusive os carros, ele teve que aceitar os fatos, e começou a mostrar algum entusiasmo.
Jacó não esperava viver muito mais (viveu ainda mais 17 anos), e quis ainda ter a grande alegria de ver seu filho José mais uma vez antes de morrer. Talvez ele pensava em voltar para Canaã depois de sua visita ao Egito e passada a fome, mas acabou ficando ali, onde morreu, sendo porém sepultado em Canaã, conforme era do seu desejo (capítulo 49:29-33).
Recapitulando, vemos que, embora os irmãos de José tivessem querido livrar-se dele, Deus usou suas ações perversas no cumprimento do seu plano. Ele mandou José à frente para preservar suas vidas, salvar o Egito, e preparar o caminho para o surgimento da nação de Israel.
Deus é soberano, e seus pianos não estão sujeitos às ações humanas.
Quando alguém pretender fazer o mal contra nós, lembremos que ele é apenas um instrumento nas mãos de Deus. Como José disse a seus irmãos: Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida (capítulo 50:20).
José foi rejeitado, seqüestrado, escravizado e aprisionado. Apesar disto ele perdoou seus irmãos e permitiu que participassem da sua prosperidade. Isto é uma figura de como Deus nos perdoa e nos abençoa apesar de termos pecado contra ele.
Jacó teve dificuldade em aceitar as boas notícias sobre José. Também muitas pessoas têm dificuldade em aceitar as boas notícias da salvação unicamente pela fé em Cristo. Nunca deixemos que as dúvidas nos tirem a alegria de sabermos que somos participantes das muitas promessas que Deus faz ao seu povo em sua Palavra.
1 Então, José não se podia conter diante de todos os que estavam com ele; e clamou: Fazei sair daqui a todo varão; e ninguém ficou com ele quando José se deu a conhecer a seus irmãos.
2 E levantou a sua voz com choro, de maneira que os egípcios o ouviam, e a casa de Faraó o ouviu.
3 E disse José a seus irmãos: Eu sou José; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam responder, porque estavam pasmados diante da sua face.
4 E disse José a seus irmãos: Peço-vos, chegai-vos a mim. E chegaram-se. Então, disse ele: Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito.
5 Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque, para conservação da vida, Deus me enviou diante da vossa face.
6 Porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega.
7 Pelo que Deus me enviou diante da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra e para guardar-vos em vida por um grande livramento.
8 Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito.
9 Apressai-vos, e subi a meu pai, e dizei-lhe: Assim tem dito o teu filho José: Deus me tem posto por senhor em toda a terra do Egito; desce a mim e não te demores.
10 E habitarás na terra de Gósen e estarás perto de mim, tu e os teus filhos, e os filhos dos teus filhos, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas, e tudo o que tens.
11 E ali te sustentarei, porque ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças de pobreza, tu, e tua casa, e tudo o que tens.
12 E eis que vossos olhos vêem, e os olhos de meu irmão Benjamim, que é minha boca que vos fala.
13 E fazei saber a meu pai toda a minha glória no Egito e tudo o que tendes visto; e apressai-vos a fazer descer meu pai para cá.
14 E lançou-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, e chorou; e Benjamim chorou também ao seu pescoço.
15 E beijou todos os seus irmãos e chorou sobre eles; e, depois, seus irmãos falaram com ele.
16 E a nova ouviu-se na casa de Faraó, dizendo: Os irmãos de José são vindos; e pareceu bem aos olhos de Faraó e aos olhos de seus servos.
17 E disse Faraó a José: Dize a teus irmãos: Fazei isto: carregai os vossos animais, e parti, e tornai à terra de Canaã,
18 e tornai a vosso pai e a vossas famílias, e vinde a mim; e eu vos darei o melhor da terra do Egito, e comereis a fartura da terra.
19 A ti, pois, é ordenado; fazei isto: tomai vós da terra do Egito carros para vossos meninos, para vossas mulheres e para vosso pai e vinde.
20 E não vos pese coisa alguma das vossas alfaias; porque o melhor de toda a terra do Egito será vosso.
21 E os filhos de Israel fizeram assim. E José deu-lhes carros, conforme o mandado de Faraó; também lhes deu comida para o caminho.
22 A todos lhes deu, a cada um, mudas de vestes; mas a Benjamim deu trezentas peças de prata e cinco mudas de vestes.
23 E a seu pai enviou semelhantemente dez jumentos carregados do melhor do Egito, e dez jumentos carregados de trigo, e pão, e comida para seu pai, para o caminho.
24 E despediu os seus irmãos, e partiram; e disse-lhes: Não contendais pelo caminho.
25 E subiram do Egito e vieram à terra de Canaã, a Jacó, seu pai.
26 Então, lhe anunciaram, dizendo: José ainda vive e ele também é regente em toda a terra do Egito. E o seu coração desmaiou, porque não os acreditava.
27 Porém, havendo-lhe eles contado todas as palavras de José que ele lhes falara, e vendo ele os carros que José enviara para levá-lo, reviveu o espírito de Jacó, seu pai.
28 E disse Israel: Basta; ainda vive meu filho José; eu irei e o verei antes que eu morra.
Gênesis capítulo 45