Enquanto Esaú se foi para a região de Seir, Jacó ficou na terra de Canaã, a terra das peregrinações do seu pai, a terra que Deus lhe havia prometido por herança. Isaque era como os beduínos de hoje, vivendo em tendas e apascentando seus rebanhos através dos vales, sem terem propriedades imóveis ou residência fixa.
A história da vida de José começa com este capítulo, quando José tinha dezessete anos, ou seja, um pouco antes do massacre em Siquém, quando eles ainda estavam em Sucote.
Ele ajudava seus irmãos mais velhos, filhos das concubinas Bila e Zilpa (Gade, Aser, Dã e Naftali), a apascentar o gado, e também servia de mensageiro entre eles e seu pai. O comportamento desses irmãos era mau, e José era obrigado a trazer más notícias deles para Jacó, para não faltar com a verdade.
Naquele tempo a túnica era a parte principal do vestuário, e usualmente alcançava até o joelho, tinha mangas curtas, e uma só cor. Mas porque Israel amava mais a José que a todos os seus filhos, ele deu para José, filho da sua velhice e ainda o caçula, uma túnica bem superior às usuais: era provavelmente semelhante às usadas pelos membros da realeza, descendo até os tornozelos, com mangas compridas, e de varias cores.
A túnica foi vista como um símbolo da grande predileção de que José era objeto, fazendo com que seus irmãos o odiassem a ponto de não poderem falar com ele sem rancor.
O primeiro sonho, profético como o segundo, indicava a maneira como seus irmãos se inclinariam perante ele, conforme faziam os feixes. A interpretação era clara, e quando José o relatou, seus irmãos ficaram indignados e seu ódio aumentou.
O segundo sonho, em que o sol, a lua e as estrelas se inclinavam perante ele, confirmava o primeiro sonho, e seu pai entendeu que também ele e Raquel (que ainda vivia) também se inclinariam diante dele (temos a mesma figura em Apocalipse 12:1, simbolizando a nação de Israel). Enquanto seus irmãos se enchiam de ciúmes, seu pai refletiu no significado do sonho: ele deve ter ponderado se esta não seria uma revelação vinda de Deus.
No versículo 12, algum tempo havia se passado desde o começo desta história, e Jacó já estava habitando no vale de Hebrom (comunhão, aliança), ao sul de Efrata. Este é o lugar onde Abraão também fixara residência, o lugar de comunhão com Deus. Está lá ainda hoje, uma das cidades mais antigas do mundo, aproximadamente a meio caminho entre Jerusalém e Berseba, e foi construída sete anos antes de Zoã no Egito (Números 13:22) - Zoã era a capital do Egito no tempo de Moisés.
Isaque nesta época ainda estaria vivo, mas Raquel já havia falecido, Jacó teria uns cento e dez anos e José uns dezenove. Nesse dia, tendo os irmãos ido apascentar os rebanhos em Siquém, de triste memória, Jacó pediu a José que percorresse os sessenta quilômetros até lá para ver como iam as coisas e trazer notícias deles. Obediente, José não vacilou em obedecê-lo.
Chegando ali, ele errava à procura deles até que encontrou um homem que disse ter ouvido que eles iam a Dotã (dois poços), uma famosa área de pastagens mencionada em monumentos de 1600 A.C. Os poços ainda estão lá, sendo um chamado o poço de José. José prosseguiu em sua viagem e, após mais trinta e dois quilômetros, encontrou seus irmãos.
Seus irmãos puderam vê-lo de longe e acharam que era chegada a oportunidade de se livrarem dele. No seu ódio e ciúmes, eles se uniram e conspiraram para matá-lo: estavam muito distantes de seu pai e podiam, entre eles, inventar uma história para enganá-lo.
Mas Rúben, o irmão mais velho, e por isso talvez respeitado pelos outros, persuadiu-os a não matá-lo imediatamente, mas só lançá-lo dentro duma cisterna vazia, sem água, no deserto onde se encontravam. Sem socorro, ele morreria à míngua, mas Rúben tencionava livrá-lo mais tarde, quando eles tivessem ido embora. Eles concordaram, e assim que José chegou, eles tiraram sua túnica e o lançaram na cisterna.
Ao se assentarem para um lanche, eles viram uma caravana de ismaelitas (seus primos em segundo grau), comerciantes, indo em direção ao Egito com suas mercadorias.
Judá (filho de Lia, cujos irmãos Simeão e Levi promoveram o massacre em Siquém), sugeriu uma solução genial para o problema da eliminação de José: vendê-lo como escravo! Ele seria levado e vendido longe, no Egito, e decerto nunca mais ouviriam falar dele; e suas consciências não pesariam com sua morte pois "é nosso irmão e nossa carne" ...!
Todos concordaram, menos Rúben, que estava ausente; então retiraram José do poço e o venderam como escravo por vinte siclos de prata (equivalente a uns duzentos dólares atuais).
Ao voltar, Rúben não encontrou José (ele não havia chegado em tempo para livrá-lo); então rasgou as suas vestes: uma expressão de mágoa e também de temor (1 Reis 21:27), indignação (2 Reis 5:7), ou desespero (Juizes 11:35; Ester 4:1). Ele não sabia onde se esconder para salvar-se da ira de seu pai, pois sendo o mais velho, ele seria responsabilizado pelo seu desaparecimento.
Então mataram um bode, molharam a túnica em seu sangue, e mandaram seus servos levá-la a Jacó dizendo que a haviam achado: seria a túnica de seu filho? Em seu ódio, nem mencionaram seu nome.
Jacó reconheceu a túnica, e concluiu que José havia sido atacado e comido por algum animal selvagem. Ele então lamentou seu filho por muitos dias, e permaneceu inconsolável.
Os midianitas (eram também primos em segundo grau, e decerto sócios dos ismaelitas) venderam José no Egito, conforme seus irmãos haviam previsto.
1 E Jacó habitou na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã.
2 Estas são as gerações de Jacó: Sendo José de dezessete anos, apascentava as ovelhas com seus irmãos; e estava este jovem com os filhos de Bila e com os filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e José trazia uma má fama deles a seu pai.
3 E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores.
4 Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos os seus irmãos, aborreceram-no e não podiam falar com ele pacificamente.
5 Sonhou também José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso, o aborreciam ainda mais.
6 E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado:
7 Eis que estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava e também ficava em pé; e eis que os vossos molhos o rodeavam e se inclinavam ao meu molho.
8 Então, lhe disseram seus irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós? Por isso, tanto mais o aborreciam por seus sonhos e por suas palavras.
9 E sonhou ainda outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que ainda sonhei um sonho; e eis que o sol, e a lua, e onze estrelas se inclinavam a mim.
10 E, contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o seu pai e disse-lhe: Que sonho é este que sonhaste? Porventura viremos eu, e tua mãe, e teus irmãos a inclinar-nos perante ti em terra?
11 Seus irmãos, pois, o invejavam; seu pai, porém, guardava este negócio no seu coração.
12 E seus irmãos foram apascentar o rebanho de seu pai, junto de Siquém.
13 Disse, pois, Israel a José: Não apascentam os teus irmãos junto de Siquém? Vem, e enviar-te-ei a eles. E ele lhe disse: Eis-me aqui.
14 E ele lhe disse: Ora, vai, e vê como estão teus irmãos e como está o rebanho, e traze-me resposta. Assim, o enviou do vale de Hebrom, e José veio a Siquém.
15 E achou-o um varão, porque ele andava errado pelo campo, e perguntou-lhe o varão, dizendo: Que procuras?
16 E ele disse: Procuro meus irmãos; dize-me, peço-te, onde eles apascentam.
17 E disse aquele varão: Foram-se daqui, porque ouvi-lhes dizer: Vamos a Dotã. José, pois, seguiu seus irmãos e achou-os em Dotã.
18 E viram-no de longe e, antes que chegasse a eles, conspiraram contra ele, para o matarem.
19 E disseram uns aos outros: Eis lá vem o sonhador-mor!
20 Vinde, pois, agora, e matemo-lo, e lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma besta-fera o comeu; e veremos que será dos seus sonhos.
21 E, ouvindo-o Rúben, livrou-o das suas mãos e disse: Não lhe tiremos a vida.
22 Também lhes disse Rúben: Não derrameis sangue; lançai-o nesta cova que está no deserto e não lanceis mãos nele; para livrá-lo das suas mãos e para torná-lo a seu pai.
23 E aconteceu que, chegando José a seus irmãos, tiraram a José a sua túnica, a túnica de várias cores que trazia.
24 E tomaram-no e lançaram-no na cova; porém a cova estava vazia, não havia água nela.
25 Depois, assentaram-se a comer pão, e levantaram os olhos, e olharam, e eis que uma companhia de ismaelitas vinha de Gileade; e seus camelos traziam especiarias, e bálsamo, e mirra; e iam levar isso ao Egito.
26 Então, Judá disse aos seus irmãos: Que proveito haverá em que matemos a nosso irmão e escondamos a sua morte?
27 Vinde, e vendamo-lo a estes ismaelitas; e não seja nossa mão sobre ele, porque ele é nosso irmão, nossa carne. E seus irmãos obedeceram.
28 Passando, pois, os mercadores midianitas, tiraram, e alçaram a José da cova, e venderam José por vinte moedas de prata aos ismaelitas, os quais levaram José ao Egito.
29 Tornando, pois, Rúben à cova, eis que José não estava na cova; então, rasgou as suas vestes,
30 e tornou a seus irmãos, e disse: O moço não aparece; e, eu, aonde irei?
31 Então, tomaram a túnica de José, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue.
32 E enviaram a túnica de várias cores, e fizeram levá-la a seu pai, e disseram: Temos achado esta túnica; conhece agora se esta será ou não a túnica de teu filho.
33 E conheceu-a e disse: É a túnica de meu filho; uma besta-fera o comeu, certamente foi despedaçado José.
34 Então, Jacó rasgou as suas vestes, e pôs pano de saco sobre os seus lombos, e lamentou a seu filho muitos dias.
35 E levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas, para o consolarem; recusou, porém, ser consolado e disse: Na verdade, com choro hei de descer ao meu filho até à sepultura. Assim, o chorou seu pai.
36 E os midianitas venderam-no no Egito a Potifar, eunuco de Faraó, capitão da guarda.
Gênesis capítulo 37