José continuou por mais dois anos na prisão, depois que o mordomo e o padeiro-chefe de Faraó haviam saído. Deus tinha preparado a hora certa para que José fosse exaltado e pudesse usar seus talentos especiais na direção do povo egípcio.
Isto começou com os dois sonhos de Faraó. Como no caso do mordomo e do padeiro-chefe, estes sonhos vieram da parte de Deus, e, ao acordar, ele se achou de espirito perturbado, ou seja, muito preocupado.
Como de costume, ele chamou à sua presença magos e sábios, mas desta vez todos os que havia no Egito, porque estava muito preocupado. Magos e sábios eram comuns naquele tempo, estudiosos das ciências e artes, astrologia, interpretação de sonhos, profecias e artes mágicas. Tendo contado a eles os seus sonhos, aguardou sua interpretação mas em vão: nenhum deles podia interpretá-los.
O mordomo servia Faraó enquanto isto acontecia, e lembrou-se de sua própria experiência no cárcere, quando José havia interpretado corretamente seu sonho. Vendo a preocupação do Faraó e a incompetência dos magos e sábios, ele criou coragem e contou como um jovem hebreu, servo do comandante da guarda havia corretamente interpretado o sonho seu, e o do padeiro-chefe.
Faraó, sem outra esperança, mandou então chamar José. Tirado às pressas da masmorra, ele não teve tempo para mais nada senão barbear-se e trocar de roupa (ao contrário dos povos do oriente médio, os egípcios raspavam completamente o rosto). José era agora um homem transformado: uma vida nova estava diante dele e ele emergiu das profundezas da masmorra, como que ressuscitado, e foi ajudar os gentios: uma bela figura de Cristo.
Diante do Faraó, José, modestamente, negou que era hábil em interpretar sonhos, mas deu toda a glória a Deus, declarando que Ele daria resposta favorável ao Faraó. Como ele, deveríamos estar sempre cônscios de que, se trazemos o bem para os outros, é Deus que opera em nós para esse fim.
Faraó contou seus dois sonhos a José: na realidade era uma só mensagem da parte de Deus, contada em duas formas para lhe dar maior realce (v.25, 32):
Sete vacas (de búfalos) emergiram do rio (Nilo), formosas à vista e gordas, e foram pastar. Outras sete emergiram depois, magras e feias, e devoraram as primeiras.
Sete espigas cheias e boas saíam de uma haste, e após elas sete espigas mirradas, crestadas pelo vento oriental, que passaram a devorar as primeiras.
José então explicou que os sonhos eram uma manifestação de Deus sobre o que Ele iria fazer:
As sete vacas gordas e as sete espigas boas seriam sete anos de grande abundância na terra do Egito.
As sete vacas magras e as sete espigas mirradas seriam sete anos de fome, que seguiriam os anos de abundância, tão severa que toda aquela abundância seria esquecida.
A importância da revelação do que Deus estava logo por fazer foi realçada pela repetição do sonho.
Tendo interpretado os sonhos, e assim terminado de fazer o que o Faraó havia pedido, José poderia ter se calado. Sua natureza, porém, era de ajudar os outros. Ele por isso não se conteve e, dada a gravidade da situação, imediatamente sugeriu que medidas o Faraó deveria tomar para aproveitar os anos de abundância e suavizar os efeitos dos anos de carência:
Escolher um homem ajuizado e sábio para governar o Egito.
Nomear administradores sobre a terra.
Instituir um imposto de 20%, em espécie, sobre as colheitas dos próximos 7 anos.
Armazenar sob guarda, debaixo de Faraó, o cereal, produto do imposto, destinado a abastecer as cidades durante os sete anos de fome.
Tanto o Faraó, como seus oficiais, se agradaram do conselho de José, e Faraó declarou que José tinha uma percepção sobrenatural, nele havendo Espírito de Deus, como em nenhum outro homem.
Faraó então seguiu o conselho de José e imediatamente escolheu o governador geral do Egito: o próprio José, pois Deus o havia feito saber tudo aquilo, logo não havia ninguém tão ajuizado e sábio como ele.
Sua autoridade foi definida pelo Faraó: José administraria a casa do Faraó, e teria autoridade absoluta sobre todo o povo egípcio. Somente o Faraó estaria acima dele. Como evidência da autoridade outorgada, José recebeu do Faraó seu anel de sinete: colocado sobre um documento, por exemplo (usavam documentos de papiro), em uma bolota de cera quente, era como se fora a própria assinatura do Faraó: ele era seu procurador plenipotenciário.
O novo cargo exigia certas vantagens e privilégios: roupas de linho fino (usadas pelos ricos), um colar de ouro no pescoço (símbolo de soberania), um excelente carro (só o Faraó tinha um melhor) e batedores à frente, obrigando o povo a se inclinar diante dele.
O Faraó indicou que não desejava interferir no que José fazia. Talvez para que José não parecesse tão estrangeiro aos egípcios, o Faraó lhe deu o nome Zafenate-Panéia (Revelador de Segredos), e uma esposa egípcia, Azenate (Dedicada a Neiti (deusa egípcia) ou Dom do Deus-Sol) filha de Potífera, sacerdote de Om (Cidade do Sol, ou Heliópolis, que ficava na margem oriental do rio Nilo, um pouco ao norte de Mênfis, perto do Cairo).
A esta altura, José tinha 30 anos de idade, e andou por toda a terra do Egito.
Isto nos lembra que o Senhor Jesus também está glorificado, nos céus, à destra de Deus, tendo recebido dele um novo nome e toda a autoridade nos céus e na terra, e uma noiva gentia que está sendo preparada para Ele. Ele começou seu ministério na terra também aos 30 anos.
O que Deus havia anunciado nos sonhos aconteceu, e houve primeiro os sete anos de grande abundância no Egito. José armazenou o mantimento produzido durante esses sete anos, sob guarda, juntando muitíssimo cereal, como a areia do mar.
Sua mulher lhe deu dois filhos durante esses anos, a quem chamou Manassés (Aquele Que Me Faz Esquecer), pois Deus o havia feito esquecer as provações por que havia passado, e a ausência da família de seu pai, e Efraim (Frutífero), por causa da prosperidade que Deus lhe havia dado.
Conforme anunciado, depois vieram os sete anos de fome. Devido à previsão de José, o Egito se encontrava preparado, mas nas terras em redor o povo não tinha cereais.
Primeiro os egípcios, depois os estrangeiros, vinham a José, que abriu seus armazéns, e vendia o que eles continham.
1 E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó sonhou e eis que estava em pé junto ao rio.
2 E eis que subiam do rio sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no prado.
3 E eis que subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne, e paravam junto às outras vacas na praia do rio.
4 E as vacas feias à vista e magras de carne comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então, acordou Faraó.
5 Depois, dormiu e sonhou outra vez, e eis que brotavam de um mesmo pé sete espigas cheias e boas.
6 E eis que sete espigas miúdas e queimadas do vento oriental brotavam após elas.
7 E as espigas miúdas devoravam as sete espigas grandes e cheias. Então, acordou Faraó, e eis que era um sonho.
8 E aconteceu que, pela manhã, o seu espírito perturbou-se, e enviou e chamou todos os adivinhadores do Egito e todos os seus sábios; e Faraó contou-lhes os seus sonhos, mas ninguém havia que os interpretasse a Faraó.
9 Então, falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Dos meus pecados me lembro hoje.
10 Estando Faraó mui indignado contra os seus servos e pondo-me sob prisão na casa da guarda, a mim e ao padeiro-mor,
11 então, sonhamos um sonho na mesma noite, eu e ele, cada um conforme a interpretação do seu sonho sonhamos.
12 E estava ali conosco um jovem hebreu, servo do capitão da guarda, e contamos-lhos, e interpretou-nos os nossos sonhos, a cada um interpretou conforme o seu sonho.
13 E como ele nos interpretou, assim mesmo foi feito: a mim me fez tornar ao meu estado, e a ele fez enforcar.
14 Então, enviou Faraó e chamou a José, e o fizeram sair logo da cova; e barbeou-se, e mudou as suas vestes, e veio a Faraó.
15 E Faraó disse a José: Eu sonhei um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que, quando ouves um sonho, o interpretas.
16 E respondeu José a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó.
17 Então, disse Faraó a José: Eis que em meu sonho estava eu em pé na praia do rio.
18 E eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne e formosas à vista e pastavam no prado.
19 E eis que outras sete vacas subiam após estas, muito feias à vista e magras de carne; não tenho visto outras tais, quanto à fealdade, em toda a terra do Egito.
20 E as vacas magras e feias comiam as primeiras sete vacas gordas;
21 e entravam em suas entranhas, mas não se conhecia que houvessem entrado em suas entranhas, porque o seu aspecto era feio como no princípio. Então, acordei.
22 Depois, vi em meu sonho, e eis que de um mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas.
23 E eis que sete espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental brotavam após elas.
24 E as sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas. E eu disse-o aos magos, mas ninguém houve que mo interpretasse.
25 Então, disse José a Faraó: O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de fazer, notificou-o a Faraó.
26 As sete vacas formosas são sete anos; as sete espigas formosas também são sete anos; o sonho é um só.
27 E as sete vacas magras e feias à vista, que subiam depois delas, são sete anos, como as sete espigas miúdas e queimadas do vento oriental; serão sete anos de fome.
28 Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó.
29 E eis que vêm sete anos, e haverá grande fartura em toda a terra do Egito.
30 E, depois deles, levantar-se-ão sete anos de fome, e toda aquela fartura será esquecida na terra do Egito, e a fome consumirá a terra;
31 e não será conhecida a abundância na terra, por causa daquela fome que haverá depois, porquanto será gravíssima.
32 E o sonho foi duplicado duas vezes a Faraó é porque esta coisa é determinada de Deus, e Deus se apressa a fazê-la.
33 Portanto, Faraó se proveja agora de um varão inteligente e sábio e o ponha sobre a terra do Egito.
34 Faça isso Faraó, e ponha governadores sobre a terra, e tome a quinta parte da terra do Egito nos sete anos de fartura.
35 E ajuntem toda a comida destes bons anos, que vêm, e amontoem trigo debaixo da mão de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem.
36 Assim, será o mantimento para provimento da terra, para os sete anos de fome que haverá na terra do Egito; para que a terra não pereça de fome.
37 E esta palavra foi boa aos olhos de Faraó e aos olhos de todos os seus servos.
38 E disse Faraó a seus servos: Acharíamos um varão como este, em quem haja o Espírito de Deus?
39 Depois, disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão inteligente e sábio como tu.
40 Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo; somente no trono eu serei maior que tu.
41 Disse mais Faraó a José: Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito.
42 E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pôs na mão de José, e o fez vestir de vestes de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço.
43 E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai. Assim, o pôs sobre toda a terra do Egito.
44 E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão ou o seu pé em toda a terra do Egito.
45 E chamou Faraó o nome de José Zafenate-Panéia e deu-lhe por mulher a Asenate, filha de Potífera, sacerdote de Om; e saiu José por toda a terra do Egito.
46 E José era da idade de trinta anos quando esteve diante da face de Faraó, rei do Egito. E saiu José da face de Faraó e passou por toda a terra do Egito.
47 E a terra produziu nos sete anos de fartura a mãos-cheias.
48 E ajuntou todo o mantimento dos sete anos que houve na terra do Egito; e guardou o mantimento nas cidades, pondo nas cidades o mantimento do campo que estava ao redor de cada cidade.
49 Assim, ajuntou José muitíssimo trigo, como a areia do mar, até que cessou de contar, porquanto não havia numeração.
50 E nasceram a José dois filhos (antes que viesse o ano de fome), que lhe deu Asenate, filha de Potífera, sacerdote de Om.
51 E chamou José o nome do primogênito Manassés, porque disse: Deus me fez esquecer de todo o meu trabalho e de toda a casa de meu pai.
52 E o nome do segundo chamou Efraim, porque disse: Deus me fez crescer na terra da minha aflição.
53 Então, acabaram-se os sete anos de fartura que havia na terra do Egito,
54 e começaram a vir os sete anos de fome, como José tinha dito; e havia fome em todas as terras, mas em toda a terra do Egito havia pão.
55 E, tendo toda a terra do Egito fome, clamou o povo a Faraó por pão; e Faraó disse a todos os egípcios: Ide a José; o que ele vos disser fazei.
56 Havendo, pois, fome sobre toda a terra, abriu José tudo em que havia mantimento e vendeu aos egípcios; porque a fome prevaleceu na terra do Egito.
57 E todas as terras vinham ao Egito, para comprar de José, porquanto a fome prevaleceu em todas as terras.
Gênesis capítulo 41