Neste capítulo distinguimos uma grande semelhança entre a atuação das personagens envolvidas, e as relações entre Deus Pai, Filho e Espírito Santo e a Igreja:
Abraão é como o rei que celebrou as bodas de seu filho, ou seja, o Pai (Mateus 22:2 e João 6:44).
o servo cujo nome não aparece, como o Espírito Santo que "não fala por si mesmo", leva as coisas do Filho a fim de persuadir a jovem a se tornar noiva dele (João 16:13:14).
também o servo age depois, como o Espírito Santo, enriquecendo a noiva com os dons do Noivo(Gálatas 5:22 e 1 Coríntios 12:7-11).
ainda o servo se comporta como o Espírito Santo, ao trazer a noiva para encontrar-se com o Noivo (Atos 13:4; 16:6,7; Romanos 8:11 e 1 Tessalonicenses 4:14-16).
Rebeca, tirada de sua família, simboliza a igreja chamada para fora, a noiva sem mácula de Cristo (2 Coríntios 11:2, Efésios 5:25-32).
Isaque, é como o Noivo a quem, não tendo visto, a noiva ama mediante o testemunho do servo (1 Pedro 1:8).
Ainda Isaque exemplifica o Noivo que sai para encontrar e receber sua noiva (1 Tessalonicenses 4:14-16).
Abraão já estava bem velho, com 140 anos, e o SENHOR o havia abençoado em tudo; mas agora ele queria uma esposa para Isaque. Não, porém, dentre os cananeus, camitas, entre os quais ele vivia, pois eles levavam sobre si a maldição de Noé (capítulo 9:25).
A solução era encontrar uma moça que fosse de sua própria parentela, semita, e para isso alguém teria de ir procurá-la em sua terra nas proximidades de Harã (capítulos 11:31, 22:20 e 27:43), a mais de 800 quilômetros de distância. O casamento entre familiares era normal e aceitável naquele tempo.
Os pais usualmente escolhiam esposas para os filhos; não podendo ir em pessoa, Abraão mandou o mais antigo servo da casa, possivelmente Eliezer (capítulo 15:2-3), embora seu nome não seja mencionado aqui: significa Deus seu auxílio.
Ao lhe dar essa incumbência, Abraão insistiu para que ele jurasse pelo SENHOR, Deus do céu e da terra, que não tomaria esposa para Isaque dentre as filhas da terra de Canaã. O servo colocou a mão debaixo da coxa de Abraão, costume da época para ratificar, ou selar, esta procuração verbal, da mesma maneira como hoje em dia assinamos papeis diante dum tabelião.
Abraão proibiu-o de levar Isaque para lá com ele: se a escolhida não quisesse vir com o servo, ele estaria desobrigado do seu juramento. Abraão confiava que Deus iria preparar o caminho para que seu servo encontrasse a noiva para Isaque.
Chegando lá, ele foi para o lugar mais apropriado para encontrar as moças: um poço de água. O poço era a fonte de água para a povoação, que naquele tempo não dispunha de água encanada. As moças vinham à fonte com seus cântaros para levar água para suas casas, e havia um bebedouro ao lado onde se despejava água para os animais beberem. Era um bom lugar para encontros, e para fazer amigos.
O servo pediu ao "SENHOR de Abraão" que o acudisse fazendo com que a moça que Ele havia designado para Isaque respondesse de certa forma ao seu pedido de água, indicando solicitude para com ele e seus animais.
Rebeca significa um laço. Ela tinha beleza física, mas o servo queria achar formosura interior. Esta foi encontrada quando ela se prontificou a tirar água para ele e seus dez camelos: os cântaros usados eram grandes e pesados, e era preciso muita água para satisfazer um camelo sedento - até cem litros cada um depois de uma viagem longa.
Ele a recompensou com um pendente de nariz e duas pulseiras, pesando quase 300 gramas de ouro ao todo. Quando ela declarou quem era sua família - a mesma de Abraão - e se prontificou a levá-lo para casa onde ele poderia ser hospedado com seus companheiros e seus animais, o servo se convenceu de que o SENHOR o havia dirigido, e então inclinou-se e O adorou.
Labão, irmão de Rebeca, parece que ficou impressionado com os presentes que o servo havia dado a ela, pois indicavam que ele tinha muita riqueza. Por isso ele saiu correndo para encontrá-lo e convidá-lo para entrar em casa.
Antes de comer a refeição que lhe foi oferecida, o servo insistiu em esclarecer quem ele era - "sou servo de Abraão" - e contar tudo o que havia ocorrido, e como o SENHOR. havia abençoado Abraão e dirigido a ele em sua tarefa. Terminando, ele pediu a Labão e Betuel para confirmarem se iriam usar de benevolência e verdade para com Abraão.
Eles, convencidos da sinceridade e da direção do SENHOR, declararam seu acordo com tudo, e permitiram que ele levasse Rebeca para ser mulher de Isaque. O servo novamente prostrou-se em adoração ao SENHOR, e depois distribuiu presentes a Rebeca, seu irmão e sua mãe. Estes presentes constituíam em uma espécie de dote, que garantia a boa situação financeira de Isaque.
De madrugada, tendo obtido o consentimento de Rebeca, que recebeu a bênção de sua família, eles partiram de volta com ela, acompanhada de sua irmã e ama.
Isaque viu a comitiva quando ele voltava do caminho de Beer-Laai-Roi (um poço dAquele que vive e me vê - capítulo 16:14).
Rebeca, quando lhe disseram que era Isaque, cobriu-se com seu véu. O véu era sinal de recato e respeito, suficientemente grande para envolver tanto o rosto quanto o corpo. Era costume tirá-lo após a cerimônia do casamento.
Após ouvir tudo o que acontecera, Isaque levou Rebeca à tenda que havia sido de sua mãe e ali recebeu-a como sua esposa. Ele a amou e ela o consolou pela morte de sua mãe.
O servo deste relato é modelar, pois:
Não sai sem autoridade (v.2-9).
Vai onde é mandado (v.4-10).
Não faz outra coisa.
É dado a orar e dar graças a Deus (v.12-14, 26, 27).
É sábio para obter seu objetivo (v.17, 18, 21 - veja João 4:7).
Não fala a respeito de si, mas das riquezas de seu senhor e da herança de Isaque (v.24:22, 34-36; veja Atos 1:8).
Apresenta a realidade dos fatos e requer uma decisão clara (v.49).
1 E era Abraão já velho e adiantado em idade, e o SENHOR havia abençoado a Abraão em tudo.
2 E disse Abraão ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía: Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa,
3 para que eu te faça jurar pelo SENHOR, Deus dos céus e Deus da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos quais eu habito,
4 mas que irás à minha terra e à minha parentela e daí tomarás mulher para meu filho Isaque.
5 E disse-lhe o servo: Porventura não quererá seguir-me a mulher a esta terra. Farei, pois, tornar o teu filho à terra de onde saíste?
6 E Abraão lhe disse: Guarda-te, que não faças lá tornar o meu filho.
7 O SENHOR, Deus dos céus, que me tomou da casa de meu pai e da terra da minha parentela, e que me falou, e que me jurou, dizendo: À tua semente darei esta terra, ele enviará o seu Anjo adiante da tua face, para que tomes mulher de lá para meu filho.
8 Se a mulher, porém, não quiser seguir-te, serás livre deste meu juramento; somente não faças lá tornar a meu filho.
9 Então, pôs o servo a sua mão debaixo da coxa de Abraão, seu senhor, e jurou-lhe sobre este negócio.
10 E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu senhor, e partiu, pois que toda a fazenda de seu senhor estava em sua mão; e levantou-se e partiu para a Mesopotâmia, para a cidade de Naor.
11 E fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto a um poço de água, pela tarde, ao tempo em que as moças saíam a tirar água.
12 E disse: Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, dá-me, hoje, bom encontro e faze beneficência ao meu senhor Abraão!
13 Eis que eu estou em pé junto à fonte de água, e as filhas dos varões desta cidade saem para tirar água;
14 Seja, pois, que a donzela a quem eu disser: abaixa agora o teu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos, esta seja a quem designaste ao teu servo Isaque; e que eu conheça nisso que fizeste beneficência a meu senhor.
15 E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, que havia nascido a Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o seu ombro.
16 E a donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem varão não havia conhecido; e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro, e subiu.
17 Então, o servo correu-lhe ao encontro e disse: Ora, deixa-me beber um pouco de água do teu cântaro.
18 E ela disse: Bebe, meu senhor. E apressou-se, e abaixou o seu cântaro sobre a sua mão, e deu-lhe de beber.
19 E, acabando ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os teus camelos, até que acabem de beber.
20 E apressou-se, e vazou o seu cântaro na pia, e correu outra vez ao poço para tirar água, e tirou para todos os seus camelos.
21 E o varão estava admirado de vê-la, calando-se, para saber se o SENHOR havia prosperado a sua jornada ou não.
22 E aconteceu que, acabando os camelos de beber, tomou o varão um pendente de ouro de meio siclo de peso e duas pulseiras para as suas mãos, do peso de dez siclos de ouro,
23 e disse: De quem és filha? Faze-mo saber, peço-te; há também em casa de teu pai lugar para nós pousarmos?
24 E ela disse: Eu sou filha de Betuel, filho de Milca, o qual ela deu a Naor.
25 Disse-lhe mais: Também temos palha, e muito pasto, e lugar para passar a noite.
26 Então, inclinou-se aquele varão, e adorou ao SENHOR,
27 e disse: Bendito seja o SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, que não retirou a sua beneficência e a sua verdade de meu senhor; quanto a mim, o SENHOR me guiou no caminho à casa dos irmãos de meu senhor.
28 E a donzela correu e fez saber estas coisas na casa de sua mãe.
29 E Rebeca tinha um irmão cujo nome era Labão; e Labão correu ao encontro daquele varão à fonte.
30 E aconteceu que, quando ele viu o pendente e as pulseiras sobre as mãos de sua irmã e quando ouviu as palavras de sua irmã Rebeca, que dizia: Assim me falou aquele varão, veio ao varão, e eis que estava em pé junto aos camelos, junto à fonte.
31 E disse: Entra, bendito do SENHOR, por que estarás fora? Pois eu já preparei a casa e o lugar para os camelos.
32 Então, veio aquele varão à casa, e desataram os camelos e deram palha e pasto aos camelos e água para lavar os pés dele e os pés dos varões que estavam com ele.
33 Depois, puseram de comer diante dele. Ele, porém, disse: Não comerei, até que tenha dito as minhas palavras. E ele disse: Fala.
34 Então, disse: Eu sou o servo de Abraão.
35 O SENHOR abençoou muito o meu senhor, de maneira que foi engrandecido; e deu-lhe ovelhas e vacas, e prata e ouro, e servos e servas, e camelos e jumentos.
36 E Sara, a mulher do meu senhor, gerou um filho a meu senhor depois da sua velhice; e ele deu-lhe tudo quanto tem.
37 E meu senhor me fez jurar, dizendo: Não tomarás mulher para meu filho das filhas dos cananeus, em cuja terra habito;
38 irás, porém, à casa de meu pai e à minha família e tomarás mulher para meu filho.
39 Então, disse eu ao meu senhor: Porventura não me seguirá a mulher.
40 E ele me disse: O SENHOR, em cuja presença tenho andado, enviará o seu Anjo contigo e prosperará o teu caminho, para que tomes mulher para meu filho da minha família e da casa de meu pai.
41 Então, serás livre do meu juramento, quando fores à minha família; e, se não ta derem, livre serás do meu juramento.
42 E hoje cheguei à fonte e disse: Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, se tu, agora, prosperas o meu caminho, no qual eu ando,
43 eis que estou junto à fonte de água; seja, pois, que a donzela que sair para tirar água e à qual eu disser: Ora, dá-me um pouco de água do teu cântaro,
44 e ela me disser: Bebe tu também e também tirarei água para os teus camelos, esta seja a mulher que o SENHOR designou ao filho de meu senhor.
45 E, antes que eu acabasse de falar no meu coração, eis que Rebeca saía com seu cântaro sobre o seu ombro, e desceu à fonte, e tirou água; e eu lhe disse: Ora, dá-me de beber.
46 E ela se apressou, e abaixou o seu cântaro de sobre si, e disse: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; e bebi, e ela deu também de beber aos camelos.
47 Então, lhe perguntei e disse: De quem és filha? E ela disse: Filha de Betuel, filho de Naor, que lhe gerou Milca. Então, eu pus o pendente no seu rosto e as pulseiras sobre as suas mãos.
48 E, inclinando-me, adorei ao SENHOR e bendisse ao SENHOR, Deus do meu senhor Abraão, que me havia encaminhado pelo caminho da verdade, para tomar a filha do irmão de meu senhor para seu filho.
49 Agora, pois, se vós haveis de mostrar beneficência e verdade a meu senhor, fazei-mo saber; e, se não, também mo fazei saber, para que eu olhe à mão direita ou à esquerda.
50 Então, responderam Labão e Betuel e disseram: Do SENHOR procedeu este negócio; não podemos falar-te mal ou bem.
51 Eis que Rebeca está diante da tua face; toma-a e vai-te; seja a mulher do filho de teu senhor, como tem dito o SENHOR.
52 E aconteceu que o servo de Abraão, ouvindo as suas palavras, inclinou-se à terra diante do SENHOR;
53 e tirou o servo vasos de prata, e vasos de ouro, e vestes e deu-os a Rebeca; também deu coisas preciosas a seu irmão e a sua mãe.
54 Então, comeram, e beberam, ele e os varões que com ele estavam, e passaram a noite. E levantaram-se pela manhã, e disse: Deixai-me ir a meu senhor.
55 Então, disseram seu irmão e sua mãe: Fique a donzela conosco alguns dias ou pelo menos dez dias; e depois irá.
56 Ele, porém, lhes disse: Não me detenhais, pois o SENHOR tem prosperado o meu caminho; deixai-me partir, para que eu volte a meu senhor.
57 E disseram: Chamemos a donzela e perguntemos-lho.
58 E chamaram Rebeca e disseram-lhe: Irás tu com este varão? Ela respondeu: Irei.
59 Então, despediram Rebeca, sua irmã, e a sua ama, e o servo de Abraão, e os seus varões.
60 E abençoaram Rebeca e disseram-lhe: Ó nossa irmã, sejas tu em milhares de milhares, e que a tua semente possua a porta de seus aborrecedores!
61 E Rebeca se levantou com as suas moças, e subiram sobre os camelos e seguiram o varão; e tomou aquele servo a Rebeca e partiu.
62 Ora, Isaque vinha do caminho do poço de Laai-Roi, porque habitava na terra do Sul.
63 E Isaque saíra a orar no campo, sobre a tarde; e levantou os olhos, e olhou e eis que os camelos vinham.
64 Rebeca também levantou os olhos, e viu a Isaque, e lançou-se do camelo,
65 e disse ao servo: Quem é aquele varão que vem pelo campo ao nosso encontro? E o servo disse: Este é meu senhor. Então, tomou ela o véu e cobriu-se.
66 E o servo contou a Isaque todas as coisas que fizera.
67 E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe, Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe.
Gênesis capítulo 24