Em alguns aspectos, o nascimento de Isaque se assemelha com o de Cristo:
Foi um nascimento sobrenatural: Sara, ao redor dos noventa anos, estéril, e já passada sua menopausa, não podia ter filhos; mas, para Deus nada é impossível, e pela sua fé, Sara recebeu poder para ser mãe, apesar do avançado de sua idade (Hebreus 11:11). O Senhor Jesus também, pelo poder do Espírito Santo, nasceu de uma virgem, sem intervenção de homem, o que é impossível segundo a natureza.
Nasceu no tempo determinado por Deus: Ele soberanamente fixou a data certa (Gênesis 17:21). Assim também o seu Filho veio ao mundo na hora predeterminada por Deus (Gálatas 4:4).
Havia grande expectativa quanto ao seu nascimento, particularmente por parte de seus pais, pois esse filho havia sido prometido pelo SENHOR a Abraão - ele teve que esperar 25 anos. Também o Messias prometido estava sendo aguardado com ansiedade pelo povo de Israel, para cumprimento das promessas de Deus. A espera foi de muitas gerações, a promessa sendo feita milênios antes.
De Isaque viria uma grande nação, que o SENHOR chamaria de "meu povo" (Êxodo 3:10), uma nação terrena. De Cristo, não fisicamente, mas mediante a fé surge a "igreja de Deus", um povo e nação não deste mundo, mas pertencente a uma pátria celeste (Efésios 2:6, 2 Timóteo 4:18, Hebreus 11:16, 12:22).
Ambas as mães a princípio tiveram dificuldade em aceitar a notícia de que iriam engravidar: Sara riu-se, e Maria exclamou: como será isto, pois não tenho relação com homem algum? (Lucas 1:34).
Tanto Isaque quanto Jesus receberam seus nomes antes de nascer, no primeiro caso dado por Deus (Gênesis 17:19), e no segundo por um anjo do SENHOR (Mateus 1:21).
Ambos foram obedientes aos seus pais, até à morte: Isaque com 33 anos de idade aceitou ser morto em sacrifício, mas no último momento Deus interveio, impedindo que isto acontecesse (Gênesis 22:12). O Senhor Jesus, também aos 33 anos de idade, deu, realmente, sua vida como sacrifício pelos pecados de muitos (Hebreus 9:28).
Como todo o recém nascido, ele precisava de leite materno, e Sara teve condições para amamentá-lo. Por isso tudo Sara riu e esperava que quem soubesse também riria com ela: parecia tão absurdo! O nome dado a seu filho (conforme o SENHOR havia determinado) foi Isaque (ele ri).
Em cumprimento à sua aliança com o SENHOR (Gênesis 17:12) Abraão circuncidou seu filhinho aos oito dias.
Calcula-se que o desmame ocorreu no segundo aniversário da criança, celebrado por Abraão com um banquete. Isto nos lembra que, embora devamos desejar ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele nos seja dado crescimento espiritual (1 Pedro 2:2), todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal (Hebreus 5:13-14).
Durante seus catorze anos, Ismael havia gozado de toda a ternura e atenção de seu pai. Mas o seu ciúme se acende com a atenção dada ao pequeno Isaque, e ele reage caçoando do seu irmãozinho.
Isto nos lembra as duas naturezas do crente: antes de nascer de novo, todos temos uma natureza, carnal, pela qual somos controlados; por ocasião da conversão há um novo nascimento em Cristo, quando recebemos outra natureza, espiritual, e então a antiga natureza, carnal, luta contra ela. É então necessário desativar, ou amortecer, a antiga natureza para que a nova possa nos dirigir em tudo. São o velho homem e o novo homem. (Romanos 6:6, Efésios 4:20-24 e Colossenses 3:5-10).
Sara, sempre atenta, vendo o que ocorria, disse a Abraão que ele tinha que expulsar a escrava Hagar e seu filho Ismael de sua família e do seu lar, pois Ismael não tinha direito à herança.
Era uma decisão difícil para Abraão, pois como pai ele amava seu filho Ismael. Misericordiosamente, Deus falou novamente com Abraão, mandando-o fazer o que Sara havia dito, porque a descendência prometida viria através de Isaque; mas Ele ainda faria uma grande nação de Ismael porque também era seu descendente.
Confortado, Abraão se levantou de madrugada e imediatamente despediu Hagar e o menino, dando-lhes pão e água para seu caminho.
De início, Hagar errou pelo deserto, desolada, e quando acabou a água que levava, deixou Ismael embaixo de uma árvore e se afastou, chorando, para não vê-lo morrer. Novamente o Anjo de Deus, compassivo, falou com ela assegurando-a que Deus sabia o que ocorria, e que faria dele um grande povo. A seguir Deus mostrou-lhe um poço onde puderam beber e se abastecer. Deus estava com Ismael, que eventualmente se tornou flecheiro, casou-se com uma egípcia, e morou no deserto de Parã, no nordeste da península do Sinai. Seus descendentes, os árabes, continuam também a viver por ali.
Temos nesta passagem também relatado o tratado que o Abimeleque e o comandante do seu exército fizeram com Abraão. Foi Abimeleque que pediu para Abraão fazer esse tratado com ele, dizendo "Deus é contigo em tudo o que fazes". O tratado tem só duas cláusulas, em que Abraão jurou por Deus:
Não mentir nem a Abimeleque, nem a seu filho, nem a seu neto (Abimeleque queria ter certeza de não ser logrado outra vez).
Usar com Abimeleque e a terra em que habitava daquela mesma bondade com que fora tratado por eles (era justo - bondade deve ser retribuída com bondade).
Abraão não viu problemas em se comprometer desta forma, embora nós possamos censurá-lo por ter feito um juramento - mas lembremo-nos que a lei proibindo tal coisa só surgiu alguns séculos depois.
Abraão ainda reclamou que um poço de água que fora tomado à força pelos servos do Abimeleque (sem o conhecimento deste) lhe pertencia, e entregou sete cordeiras para Abimeleque: aceitando-as este reconhecia que o poço era de Abraão (um poço era de grande valor naquela região semi-árida, particularmente para o proprietário de um grande rebanho) .
Aquele lugar foi então chamado Berseba (poço dos sete, ou poço do juramento) - o nome e o poço estão lá até hoje.
Abraão plantou tamargueiras em Berseba - uma espécie de demarcação do local - e rendeu louvor a Deus pelas bênçãos recebidas. Ele ficou por lá por muito tempo, nessa terra dos filisteus.
1 E o SENHOR visitou a Sara, como tinha dito; e fez o SENHOR a Sara como tinha falado.
2 E concebeu Sara e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha dito.
3 E chamou Abraão o nome de seu filho que lhe nascera, que Sara lhe dera, Isaque.
4 E Abraão circuncidou o seu filho Isaque, quando era da idade de oito dias, como Deus lhe tinha ordenado.
5 E era Abraão da idade de cem anos, quando lhe nasceu Isaque, seu filho.
6 E disse Sara: Deus me tem feito riso; e todo aquele que o ouvir se rirá comigo.
7 Disse mais: Quem diria a Abraão que Sara daria de mamar a filhos, porque lhe dei um filho na sua velhice?
8 E cresceu o menino e foi desmamado; então, Abraão fez um grande banquete no dia em que Isaque foi desmamado.
9 E viu Sara que o filho de Agar, a egípcia, que esta tinha dado a Abraão, zombava.
10 E disse a Abraão: Deita fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com meu filho, com Isaque.
11 E pareceu esta palavra mui má aos olhos de Abraão, por causa de seu filho.
12 Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua semente.
13 Mas também do filho desta serva farei uma nação, porquanto é tua semente.
14 Então, se levantou Abraão pela manhã, de madrugada, e tomou pão e um odre de água, e os deu a Agar, pondo-os sobre o seu ombro; também lhe deu o menino e despediu-a; e ela foi-se, andando errante no deserto de Berseba.
15 E, consumida a água do odre, lançou o menino debaixo de uma das árvores.
16 E foi-se e assentou-se em frente, afastando-se a distância de um tiro de arco; porque dizia: Que não veja eu morrer o menino. E assentou-se em frente, e levantou a sua voz, e chorou.
17 E ouviu Deus a voz do menino, e bradou o Anjo de Deus a Agar desde os céus e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do rapaz desde o lugar onde está.
18 Ergue-te, levanta o moço e pega-lhe pela mão, porque dele farei uma grande nação.
19 E abriu-lhe Deus os olhos; e viu um poço de água, e foi-se, e encheu o odre de água, e deu de beber ao moço.
20 E era Deus com o moço, que cresceu, e habitou no deserto, e foi flecheiro.
21 E habitou no deserto de Parã; e sua mãe tomou-lhe mulher da terra do Egito.
22 E aconteceu, naquele mesmo tempo, que Abimeleque, com Ficol, príncipe do seu exército, falou com Abraão, dizendo: Deus é contigo em tudo o que fazes;
23 agora, pois, jura-me aqui por Deus que me não mentirás a mim, nem a meu filho, nem a meu neto; segundo a beneficência que te fiz, me farás a mim e à terra onde peregrinaste.
24 E disse Abraão: Eu jurarei.
25 Abraão, porém, repreendeu a Abimeleque por causa de um poço de água que os servos de Abimeleque haviam tomado por força.
26 Então, disse Abimeleque: Eu não sei quem fez isto; e também tu mo não fizeste saber, nem eu o ouvi senão hoje.
27 E tomou Abraão ovelhas e vacas e deu-as a Abimeleque; e fizeram ambos concerto.
28 Pôs Abraão, porém, à parte sete cordeiras do rebanho.
29 E Abimeleque disse a Abraão: Para que estão aqui estas sete cordeiras, que puseste à parte?
30 E disse: Tomarás estas sete cordeiras de minha mão, para que sejam em testemunho que eu cavei este poço.
31 Por isso, se chamou aquele lugar Berseba, porquanto ambos juraram ali.
32 Assim, fizeram concerto em Berseba. Depois, se levantou Abimeleque e Ficol, príncipe do seu exército, e tornaram para a terra dos filisteus.
33 E plantou um bosque em Berseba e invocou lá o nome do SENHOR, Deus eterno.
34 E peregrinou Abraão na terra dos filisteus muitos dias.
Gênesis capítulo 21