Em desespero , amargurado com as injustiças do seu sofrimento e as afrontas de seus amigos, e porque não tinha homem para mediar entre ele e Deus, Jó deu vazão à sua reclamação em um discurso endereçado ao próprio Deus. Estava cansado da vida e resolveu dizer exatamente como se sentia, indo diretamente ao assunto.
Implorou que Deus não o condenasse, mas mostrasse o que tinha contra ele. Quando sabemos distinguir o certo do errado, é perfeitamente justo sermos condenados por fazer o que é errado, mas se não temos consciência de ter feito algo de errado, é razoável indagar o motivo da punição. Mais tarde no livro de Deus lhe respondeu sobre isso e mostrou a Jó algo sobre si mesmo, coisa que todos nós precisamos descobrir sobre nós mesmos.
No resto do seu pleito, Jó argumentou em forma de perguntas, cujas respostas parecem óbvias. É como se estivesse afirmando a sua fé e convicções, e pedindo a Deus para lhe dizer em que estava errado, porque o que estava realmente acontecendo com ele não se coadunava com elas.
Apesar da sua santidade e sabedoria, havia muita coisa que Jó ignorava. Da nossa posição no decorrer do tempo estamos em posição imensamente melhor para compreender os caminhos de Deus, escritos em Sua Palavra, que está disponível para a maioria das pessoas a um custo reduzido. No entanto, a maioria das pessoas tem pouco interesse em adquiri-la, e aqueles que o fazem frequentemente negligenciam absorver o conhecimento que ela contém em seu próprio benefício .
Jó tinha razão em invocar Deus para lhe dar mais informações, mas hoje já temos as respostas às suas perguntas principais nas Escrituras. Infelizmente, muitas pessoas fazem perguntas semelhantes hoje porque não procuram as respostas no lugar certo.
Nesta passagem surpreendente a criatura faz expostulação ao seu Criador e O lembra que, tendo criado o homem, Ele assumiu responsabilidades de que não podia escapar honrosamente. A justiça e a santidade de Deus não podiam considerar bom oprimir e desprezar a obra das suas próprias mãos, e ser complacente com o desígnio dos ímpios.
Deus não tem as limitações físicas da visão do homem, mas Jó perguntou a Deus se realmente o via em sua verdadeira condição. Séculos mais tarde, o Filho de Deus veio morar conosco por mais de trinta anos, por isso temos a certeza de que há um homem na glória que nos entende. Devido à sua experiência pessoal em um corpo físico como o nosso Ele sabe, por experiência, exatamente como nos sentimos (Hebreus 2:18, 4:15).
Em seguida, Jó expôs o seu caso. Disse que Deus o tinha sido perseguido de uma maneira mais apropriada para homens mortais do que para Ele, pois sabia que não era mau e que não tinha ninguém para defendê-lo. Agora temos um advogado: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. " 1 João 2:1,2.
Jó precisava de um pouco de humildade, e isso Deus ia lhe dar. Humildade e paciência são qualidades que Deus produz em nossas vidas através de provações dadas para nos experimentar. Deus iria produzir tanto a humildade como a paciência nele, para que séculos mais tarde Tiago escrevesse: ". . . Ouvistes da paciência de Jó,” acrescentando, “e vistes o fim que o Senhor lhe deu, porque o Senhor é cheio de misericórdia e compaixão” (Tiago 5:11). Não é que Jó fosse naturalmente um homem paciente: essa qualidade teria aumentado a sua autoconfiança. Sua paciência se acabou, e estava clamando a Deus com impaciência. Mas quando vemos o "fim que o Senhor lhe deu", isto é, o resultado do lidar do Senhor com ele, então vemos que Deus estava fazendo com fosse mais paciente, e dando-lhe humildade.
Em frustração, Jó chegou à falsa conclusão que Deus estava lá para apanhá-lo. Suposições erradas levam a conclusões erradas. Não devemos tomar as nossas experiências limitadas para tirar conclusões precipitadas sobre a vida em geral. Se nos encontrarmos duvidando de Deus, devemos lembrar que não temos todos os fatos. Deus só quer o melhor para nossas vidas. Muitas pessoas aguentam grande dor, mas acabam descobrindo que um bem ainda maior veio com ela. Quando estivermos em dificuldades, não deveremos supor o pior.
Jó perguntou: Por que Deus permitiu que nascesse? Agora que estava aqui, por que não deixá-lo ter um pouco de conforto, antes que passasse para o esquecimento, onde até mesmo a luz é como a escuridão? Jó era da opinião que após a morte os falecidos iam para um lugar triste e escuro. Não havia punição ou recompensa ali, e não se podia fugir de lá.
Estava de volta para onde havia começado e continuaria a manter esse pensamento durante uma parte do caminho através deste livro. Durante este período de provação, a morte era algo que ele desejava. Sentia que a morte iria colocá-lo fora do seu sofrimento. Seria afastado para longe desse cenário. Iria aceitá-la como o sono, como algo que iria colocá-lo em um lugar de inconsciência.
Não há, porém, nada neste livro para sustentar a doutrina do sono da alma, uma heresia de algumas seitas. O próprio Senhor Jesus disse ao criminoso pendurado em uma cruz ao seu lado: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso." (Lucas 23:43). Neste momento, Jó desejava que nunca tivesse nascido. Queria a inconsciência completa. Não foi o único vulto na história bíblica que fez tal coisa: Elias e Jonas também o desejaram, por razões diferentes. É algo que também desejaríamos, às vezes. Mas é apenas uma ilusão e não serve para superar as nossas dificuldades.
Ninguém morreu por simplesmente desejar; a maioria de nós, quando dizemos que queremos ou preferimos morrer, não estamos falando sério. É apenas uma maneira de falar. Quando realmente enfrentamos a morte, todos geralmente queremos sobreviver. Se Jó tivesse considerado seriamente o assunto, provavelmente também não quereria morrer de verdade. Mas neste momento estava derramando a sua alma e a sua dignidade estava sendo desafiada.
Deus precisava chegar até o seu coração. Muitos dos santos de Deus hoje são orgulhosos, de corações duros que aparecem em momentos de grandes provações e tribulações. Às vezes, Deus tem que lidar conosco como lidou com Jó.
Jó capítulo 10
1 Tenho tédio à minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma:
2 Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo.
3 Tens prazer em oprimir, em desprezar a obra das tuas mãos e favorecer o desígnio dos ímpios?
4 Tens tu olhos de carne? Ou vês tu como vê o homem?
5 São os teus dias como os dias do homem? Ou são os teus anos como os anos de um homem,
6 para te informares da minha iniquidade, e averiguares o meu pecado,
7 ainda que tu sabes que eu não sou ímpio, e que não há ninguém que possa livrar-me da tua mão?
8 As tuas mãos me fizeram e me deram forma; e te voltas agora para me consumir?
9 Lembra-te, pois, de que do barro me formaste; e queres fazer-me tornar ao pó?
10 Não me vazaste como leite, e não me coalhaste como queijo?
11 De pele e carne me vestiste, e de ossos e nervos me teceste.
12 Vida e misericórdia me tens concedido, e a tua providência me tem conservado o espírito.
13 Contudo ocultaste estas coisas no teu coração; bem sei que isso foi o teu desígnio.
14 Se eu pecar, tu me observas, e da minha iniqüidade não me absolverás.
15 Se for ímpio, ai de mim! Se for justo, não poderei levantar a minha cabeça, estando farto de ignomínia, e de contemplar a minha miséria.
16 Se a minha cabeça se exaltar, tu me caças como a um leão feroz; e de novo fazes maravilhas contra mim.
17 Tu renovas contra mim as tuas testemunhas, e multiplicas contra mim a tua ira; reveses e combate estão comigo.
18 Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! se então tivera expirado, e olhos nenhuns me vissem!
19 Então fora como se nunca houvera sido; e da madre teria sido levado para a sepultura.
20 Não são poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu tome alento;
21 antes que me vá para o lugar de que não voltarei, para a terra da escuridão e das densas trevas,
22 terra escuríssima, como a própria escuridão, terra da sombra trevosa e do caos, e onde a própria luz é como a escuridão.