Zofar (“pardal”, a partir da raiz do verbo tagarelar). É a versão masculina de Zípora, o nome da esposa de Moisés. Um comentarista observa que ambos eram adversários inconscientes do julgamento de Deus na carne, mas Zofar era muito zeloso com as supostas obras da carne feitas por Jó. As suas denúncias eram totalmente inapropriadas e inúteis, assim como o gorjeio de um pardal.
Zofar sugeriu que Jó estava querendo se desculpar do seu pecado com palavras. Jó tinha tentado explicar que um homem em seu estado, sofrendo como estava, seria incapaz de simulação, mas Zofar simplesmente não levou isso em conta, e disse que Jó estava usando argumentos para tentar negar a justiça da sua punição. É verdade que existem pessoas hábeis em manipular palavras para convencer os outros daquilo que querem que acreditem, mas este não era o caso de Jó.
Zofar foi menos cortês a Jó do que os outros, mostrou-se totalmente insensível à situação singular de Jó, e com raiva atacou a "indignação santa” dele, dizendo que Jó merecia mais castigo ainda, não menos. Como Elifaz e Bildade, sustentou que Jó estava sofrendo por causa de pecado, e implicou arrogantemente que conhecia a Deus muito mais do que Jó, pretendendo saber o que Deus faria em dada circunstância.
Insistiu que a conversa vazia e arrogante de Jó tinha que ser respondida, e se Jó pudesse ver as coisas da maneira que Deus vê, iria perceber que não estava sofrendo tanto quanto realmente merecia. Foi por causa do seu desconhecimento da grandeza de Deus que Jó questionava a Sua justiça.
Sugerindo que Jó era vão (ou enganoso), Zofar acusava Jó de esconder faltas e pecados secretos. Embora essa implicação de Zofar fosse falsa, ele explicou de forma bastante precisa que Deus sabe e vê tudo.
Muitas vezes somos tentados a pensar: "Ninguém vai saber!" Talvez possamos esconder algum pecado dos outros, mas não podemos fazer nada sem que Deus saiba. Mesmo porque até os nossos pensamentos são conhecidos por Deus, é claro que vai perceber os nossos pecados. Jó sabia disso, assim como Zofar, mas não se aplicava ao seu dilema atual.
Zofar era um dogmático religioso que presumia saber tudo sobre Deus, o que Deus iria fazer em cada caso concreto, por que o faria, e todos os Seus pensamentos sobre isso. De todas as formas de dogmatismo este é o mais irreverente e menos aberto à razão.
Afirmou que se Jó se arrependesse, pedisse perdão a Deus e abandonasse a iniquidade e a maldade, todo o seu sofrimento passaria; viveria uma vida brilhante, seguro na esperança, e descansaria em segurança, não temeria ninguém e muitos procurariam o seu favor.
Em contraste, os ímpios (implicando um Jó impenitente) perderiam sua visão (ele ainda podia ver) e não tinham saída, sua esperança sendo apenas a perda de suas vidas, assim como Jó tinha dito que desejava a morte. Desta forma Zofar concluiu o seu discurso, que na realidade era um ataque à integridade de Jó. Todos os três amigos agora tinham dito o que queriam dizer. A resposta de Jó tornou-se num dos mais longos discursos do livro.
Ressentindo-se profundamente da vaidade e das falsas acusações de seus amigos, Jó disse sarcasticamente "Sem dúvida vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria!"
Tudo o que diziam sobre Deus era bem conhecido e Jó não era inferior a eles em seu conhecimento, como implicavam. Mas os seus amigos agora zombavam dele e o ridicularizavam, a ele cujas orações Deus respondia, pois era justo e íntegro. Precisava de esclarecimento, algo que aqueles que estavam em conforto desprezavam: por que alguém como ele sofria tanto, em contraste com a prosperidade dos ímpios?
Jó precisava de ajuda, compaixão e apoio neste momento, mas em vez disso, seus amigos tratavam-no com desprezo. (Eles assumiam que ele estava sendo punido por algum crime terrível, que ele negou vigorosamente, e então o acusaram de mentir, porque não conseguiam entender. )
A própria natureza, os animais, os pássaros, a terra e os peixes podiam ensinar que a mão do Senhor fez isso a Jó, pois em Sua mão está a vida de todo ser vivente, e o espírito de todo o gênero humano. Mas quem poderia dizer-lhe o verdadeiro motivo?
É natural que a sabedoria e entendimento se acumulem nas pessoas idosas. Tiveram tempo para aprender com os outros e por experiência própria (mas esses amigos de Jó não tinham qualquer explicação adequada para oferecer a Jó, e só podiam recorrer a falsas premissas).
Deus, por outro lado, tem toda a sabedoria, força, conselho e entendimento. O que Ele faz não pode ser desfeito. Em seguida, Jó narra vários exemplos em que se vêm essas características de Deus, e como muitas vezes produzem resultados que para nós são inexplicáveis e paradoxais: tanto o enganado como o enganador estão em Suas mãos; despoja conselheiros, faz de tolos os juízes, afrouxa o poder dos líderes e os coloca em subserviência a outros, despoja os sacerdotes, transtorna os poderosos, emudece os que são dignos de confiança, tira o discernimento dos mais idosos, faz com que os homens mais importantes sejam desprezados, desarma os poderosos, descobre os segredos e os torna conhecidos, mesmo que não estejam mais vivos os que os conhecem, estabelece e destrói as nações, aumenta o seu território ou as leva cativas, tira o entendimento dos líderes e faz com que fiquem completamente desorientados.
Jó capítulo 11:
1 Então respondeu Zofar, o naamatita, dizendo:
2 Não se dará resposta à multidão de palavras? ou será justificado o homem falador?
3 Acaso as tuas jactâncias farão calar os homens? e zombarás tu sem que ninguém te envergonhe?
4 Pois dizes: A minha doutrina é pura, e limpo sou aos teus olhos.
5 Mas, na verdade, oxalá que Deus falasse e abrisse os seus lábios contra ti,
6 e te fizesse saber os segredos da sabedoria, pois é multiforme o seu entendimento; sabe, pois, que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniqüidade.
7 Poderás descobrir as coisas profundas de Deus, ou descobrir perfeitamente o Todo-Poderoso?
8 Como as alturas do céu é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o Seol; que poderás tu saber?
9 Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar.
10 Se ele passar e prender alguém, e chamar a juízo, quem o poderá impedir?
11 Pois ele conhece os homens vãos; e quando vê a iniqüidade, não atentará para ela?
12 Mas o homem vão adquirirá entendimento, quando a cria do asno montês nascer homem.
13 Se tu preparares o teu coração, e estenderes as mãos para ele;
14 se há iniqüidade na tua mão, lança-a para longe de ti, e não deixes a perversidade habitar nas tuas tendas;
15 então levantarás o teu rosto sem mácula, e estarás firme, e não temerás.
16 Pois tu te esquecerás da tua miséria; apenas te lembrarás dela como das águas que já passaram.
17 E a tua vida será mais clara do que o meio-dia; a escuridão dela será como a alva.
18 E terás confiança, porque haverá esperança; olharás ao redor de ti e repousarás seguro.
19 Deitar-te-ás, e ninguém te amedrontará; muitos procurarão obter o teu favor.
20 Mas os olhos dos ímpios desfalecerão, e para eles não haverá refúgio; a sua esperança será o expirar.
Jó capítulo 12:
1 Então Jó respondeu, dizendo:
2 Sem dúvida vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.
3 Mas eu tenho entendimento como, vos; eu não vos sou inferior. Quem não sabe tais coisas como essas?
4 Sou motivo de riso para os meus amigos; eu, que invocava a Deus, e ele me respondia: o justo e reto servindo de irrisão!
5 No pensamento de quem está seguro há desprezo para a desgraça; ela está preparada para aquele cujos pés resvalam.
6 As tendas dos assoladores têm descanso, e os que provocam a Deus estão seguros; os que trazem o seu deus na mão!
7 Mas, pergunta agora às alimárias, e elas te ensinarão; e às aves do céu, e elas te farão saber;
8 ou fala com a terra, e ela te ensinará; até os peixes o mar to declararão.
9 Qual dentre todas estas coisas não sabe que a mão do Senhor fez isto?
10 Na sua mão está a vida de todo ser vivente, e o espírito de todo o gênero humano.
11 Porventura o ouvido não prova as palavras, como o paladar prova o alimento?
12 Com os anciãos está a sabedoria, e na longura de dias o entendimento.
13 Com Deus está a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento.
14 Eis que ele derriba, e não se pode reedificar; ele encerra na prisão, e não se pode abrir.
15 Ele retém as águas, e elas secam; solta-as, e elas inundam a terra.
16 Com ele está a força e a sabedoria; são dele o enganado e o enganador.
17 Aos conselheiros leva despojados, e aos juízes faz desvairar.
18 Solta o cinto dos reis, e lhes ata uma corda aos lombos.
19 Aos sacerdotes leva despojados, e aos poderosos transtorna.
20 Aos que são dignos da confiança emudece, e tira aos anciãos o discernimento.
21 Derrama desprezo sobre os príncipes, e afrouxa o cinto dos fortes.
22 Das trevas descobre coisas profundas, e traz para a luz a sombra da morte.
23 Multiplica as nações e as faz perecer; alarga as fronteiras das nações, e as leva cativas.
24 Tira o entendimento aos chefes do povo da terra, e os faz vaguear pelos desertos, sem caminho.
25 Eles andam nas trevas às apalpadelas, sem luz, e ele os faz cambalear como um ébrio.