Jó disse que já sabia tudo o que seus amigos sabiam, e não lhe disseram nada que não soubera antes.
Também acusou-os de serem forjadores de mentiras e médicos inúteis, pois faziam suposições falsas sobre ele e recomendavam o remédio errado. Eram incapazes de fazer o diagnóstico certo, por isso inventaram algo e lhe deram o tratamento errado .
Muitas das suas ideias sobre Deus eram verdadeiras, mas não se aplicavam à situação de Jó. Estavam certos ao dizer que Deus é justo, bem como ao asseverar que Deus pune o pecado. Mas erravam ao supor que o sofrimento de Jó fora um castigo justo para o seu pecado.
Tomando um princípio verdadeiro fizeram uma aplicação de forma errada, não levando em conta as enormes diferenças de situações humanas. Devemos ter cuidado e compaixão na maneira em que aplicamos a condenação bíblica aos outros, evitando precipitação em fazer julgamento.
Jó quis defender seu caso com Deus, não com eles. Se guardassem silêncio, seriam considerados sábios. Ao falar como fizeram, sua loucura foi exposta. A explicação da ação de Deus que deram não era verdade, e seriam responsáveis a Ele por isso.
Seus argumentos eram fracos e inúteis, portanto se simplesmente ficassem quietos, Jó iria defender seu caso diante de Deus e passar sua vida às Suas mãos. Estava certo que seria justificado, mas mesmo se Deus tirasse a sua vida, continuaria a confiar no Senhor.
Jó pediu a Deus que fizesse duas coisas:
Que retirasse a Sua mão para longe dele. A mão de Deus ou do homem, na Bíblia, é uma figura literária que significa ação de qualquer tipo. Jó, em desespero, estava pedindo a Deus para deixá-lo sozinho, porque sabia que sua aflição vinha de Deus.
E que não deixasse que o temor de Deus o amedrontasse. Jó era um homem corajoso, e sempre confiou em Deus, a Quem ele servia e obedecia. Agora que enfrentava esses terríveis acontecimentos em sua vida, chegara à beira de ter medo do Deus em Quem confiava. Pediu então a Deus que não permitisse que isso viesse a acontecer, para que a sua comunicação com Ele pudesse ser restabelecida. Jó poderia obedecer os mandamentos de Deus, e Deus responder as orações de Jó. Jó sentira que a tribulação a que estava sendo submetido se tornara em barreira à sua comunhão com Deus, da qual gozava antes.
Jó, com a consciência tranquila, mas pensando que nenhum inocente devia sofrer como ele, exigiu saber o que Deus tinha contra ele para tratá-lo desta forma. Poderia ser algo que fez na sua juventude? Será que Deus estava mexendo com ele devido a cada coisinha que fez?
Ele lembrou a Deus que a vida humana é curta e decai como uma coisa podre. É fugaz, frágil e defeituosa, e termina com a morte.
Por que então Deus se incomoda ao ponto de levá-lo a julgamento? Pode Deus limpá-lo dessa forma? Isso é impossível, diz Jó. Deus já determinou quanto tempo ele vai viver, anos e meses, e ele não pode passar desses limites; por isso, "por favor deixe-me descansar em paz" Jó suplica, "antes de chegar ao fim." A vida do homem é como um contrato, quando for concluído termina.
Quando o homem morre e é sepultado ele não tem nenhuma esperança de ressurreição. Onde estará ele? Jó pergunta. Ele não tem esperança de se renovar como as árvores, que se forem cortadas brotarão novamente ao sentir o cheiro da água, porque ele não tem raízes debaixo do solo. Há uma finalidade terrível na morte humana: uma pessoa morta é como um rio que secou .
Um homem pode ter feito um tremendo sucesso por aqui, pode ter sido uma pessoa famosa, e então se foi. Onde está agora? Pode haver alguns monumentos por aí em sua memória. Talvez uma ou duas ruas receberam o seu nome. Que bem faz isso? Quanto representa? Apenas uma memória, se mesmo isso.
O Velho Testamento não nos conta muito sobre a ressurreição dos mortos. Isso não é surpreendente, porque Jesus Cristo ainda não tinha chegado e vencido a morte.
O pessimismo de Jó sobre a morte é compreensível, mas podemos perceber um lampejo da sua esperança de ressuscitar (Jó 14:14). Se apenas Deus pudesse escondê-lo com os mortos e, em seguida, apresentá-lo novamente! Se ao menos pudesse morrer e viver novamente! Quando temos que suportar o sofrimento temos uma vantagem sobre Jó. Sabemos que os mortos ressuscitarão. Cristo ressuscitou, e temos a esperança baseada na promessa de Cristo em João 14:19.
"Morrendo o homem, acaso tornará a viver?" sempre foi uma grande pergunta do homem. Mesmo na morte Jó sabia que Deus iria chamá-lo, e que ele iria responder ao chamado. Em outras palavras, Deus não acabou conosco na nossa morte. Morte não é o fim de tudo. Ouviremos Jó dizer mais tarde : ". . . eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida esta minha pele, então fora da minha carne verei a Deus; vê-lo-ei ao meu lado, e os meus olhos o contemplarão, e não mais como adversário. O meu coração desfalece dentro de mim!" Jó 19:25-27.
Os versículos 15 a 17 são traduzidos assim na Nova Versão Internacional:
“Chamarás, e eu te responderei, terás anelo pela criatura que as tuas mãos fizeram. Por certo contarás então os meus passos, mas não tomarás conhecimento do meu pecado. Minhas faltas serão encerradas num saco; tu esconderás a minha iniquidade.”
Essa tradução é mais coerente com a esperança, expressa nos versículos 14 e 15, de vida após o túmulo ou ressurreição . Daí em diante, em vez de assistir todo o pecado de Jó com severidade, Deus vai protegê-lo contra todo o pecado. Deus vai observar minuciosamente os seus passos, para que não se desviem (1 Samuel 2:09, Salmo 37:23).
Seguindo a mesma interpretação, Jó disse que suas faltas serão encerradas num saco, e sua iniquidade escondida para toda a eternidade, isto é Deus a partir daí não vai pensar mais nos seus antigos pecados. "Cobrir os pecados" é totalmente esquecê-los, perdoá-los completamente (Salmo 32:1 , 85:2 ).
Jó então voltou para os seus pensamentos sombrios quanto ao túmulo, a palavra "mas" marcando a transição das suas esperanças mais brilhantes. Mesmo a montanha sólida cai e desmorona; o homem, portanto, não pode esperar escapar da decadência ou viver novamente no mundo atual, pois Deus destrói essa esperança .
O discurso profundo de Jó neste capítulo ilustra uma grande verdade: ter um conjunto de doutrinas corretas não é suficiente. O conhecimento em que acreditar não é tudo que é necessário para agradar a Deus. A verdade que não é provada pelas experiências da vida pode tornar-se estática e estagnada. O sofrimento pode trazer uma qualidade dinâmica para a vida. Assim como a seca obriga as raízes de uma árvore a se aprofundarem em busca de água, também o sofrimento pode levar-nos além da aceitação superficial da verdade para a dependência de Deus em esperança e vida.
Aqui termina a primeira série de discursos. Jó sempre sustentou que não era uma pessoa má e ficou impressionado com a maneira desagradável em que Deus o tratava. No entanto, firmou-se na sua confiança em Deus.
R David Jones
Jó capítulo 13
1 Eis que os meus olhos viram tudo isto, e os meus ouvidos o ouviram e entenderam.
2 O que vós sabeis também eu o sei; não vos sou inferior.
3 Mas eu falarei ao Todo-Poderoso, e quero defender-me perante Deus.
4 Vós, porém, sois forjadores de mentiras, e vós todos, médicos que não valem nada.
5 Oxalá vos calásseis de todo, pois assim passaríeis por sábios.
6 Ouvi agora a minha defesa, e escutai os argumentos dos meus lábios.
7 Falareis falsamente por Deus, e por ele proferireis mentiras?
8 Fareis aceitação da sua pessoa? Contendereis a favor de Deus?
9 Ser-vos-ia bom, se ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dele, como quem zomba de um homem?
10 Certamente vos repreenderá, se em oculto vos deixardes levar de respeitos humanos.
11 Não vos amedrontará a sua majestade? E não cairá sobre vós o seu terror?
12 As vossas máximas são provérbios de cinza; as vossas defesas são torres de barro.
13 Calai-vos perante mim, para que eu fale, e venha sobre mim o que vier.
14 Tomarei a minha carne entre os meus dentes, e porei a minha vida na minha mão.
15 Eis que ele me matará; não tenho esperança; contudo defenderei os meus caminhos diante dele.
16 Também isso será a minha salvação, pois o ímpio não virá perante ele.
17 Ouvi atentamente as minhas palavras, e chegue aos vossos ouvidos a minha declaração.
18 Eis que já pus em ordem a minha causa, e sei que serei achado justo:
19 Quem é o que contenderá comigo? Pois então me calaria e renderia o espírito.
20 Concede-me somente duas coisas; então não me esconderei do teu rosto:
21 desvia a tua mão rara longe de mim, e não me amedronte o teu terror.
22 Então chama tu, e eu responderei; ou eu falarei, e me responde tu.
23 Quantas iniqüidades e pecados tenho eu? Faze-me saber a minha transgressão e o meu pecado.
24 Por que escondes o teu rosto, e me tens por teu inimigo?
25 Acossarás uma folha arrebatada pelo vento? E perseguirás o restolho seco?
26 Pois escreves contra mim coisas amargas, e me fazes herdar os erros da minha mocidade;
27 também pões no tronco os meus pés, e observas todos os meus caminhos, e marcas um termo ao redor dos meus pés,
28 apesar de eu ser como uma coisa podre que se consome, e como um vestido, ao qual rói a traça.
Capítulo 14
1 O homem, nascido da mulher, é de poucos dias e cheio de inquietação.
2 Nasce como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e não permanece.
3 Sobre esse tal abres os teus olhos, e a mim me fazes entrar em juízo contigo?
4 Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.
5 Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; tu lhe puseste limites, e ele não poderá passar além deles.
6 Desvia dele o teu rosto, para que ele descanse e, como o jornaleiro, tenha contentamento no seu dia.
7 Porque há esperança para a árvore, que, se for cortada, ainda torne a brotar, e que não cessem os seus renovos.
8 Ainda que envelheça a sua raiz na terra, e morra o seu tronco no pó,
9 contudo ao cheiro das águas brotará, e lançará ramos como uma planta nova.
10 O homem, porém, morre e se desfaz; sim, rende o homem o espírito, e então onde está?
11 Como as águas se retiram de um lago, e um rio se esgota e seca,
12 assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus não acordará nem será despertado de seu sono.
13 Oxalá me escondesses no Seol, e me ocultasses até que a tua ira tenha passado; que me determinasses um tempo, e te lembrasses de mim!
14 Morrendo o homem, acaso tornará a viver? Todos os dias da minha lida esperaria eu, até que viesse a minha mudança.
15 Chamar-me-ias, e eu te responderia; almejarias a obra de tuas mãos.
16 Então contarias os meus passos; não estarias a vigiar sobre o meu pecado;
17 a minha transgressão estaria selada num saco, e ocultarias a minha iniqüidade.
18 Mas, na verdade, a montanha cai e se desfaz, e a rocha se remove do seu lugar.
19 As águas gastam as pedras; as enchentes arrebatam o solo; assim tu fazes perecer a esperança do homem.
20 Prevaleces para sempre contra ele, e ele passa; mudas o seu rosto e o despedes.
21 Os seus filhos recebem honras, sem que ele o saiba; são humilhados sem que ele o perceba.
22 Sente as dores do seu próprio corpo somente, e só por si mesmo lamenta.