A destruição causada por gafanhotos, tipo de uma nação inimiga, é descrita pelo profeta como gravíssima. Este inimigo é forte, sem número, com os dentes e as presas como os de leões ferozes, o animal selvagem mais destrutivo conhecido no Oriente Médio nessa época.
O leão é o símbolo da tribo de Judá (Gênesis 49:9); o diabo é comparado a um leão que ruge (1 Pedro 5:8), e o SENHOR Jesus, o Cordeiro de Deus, é também chamado de Leão da Tribo de Judá (Apocalipse 5:5). A videira e a figueira são mencionados: ambos são figuras da nação de Israel (Isaías 5:7, Jeremias 11:16 e Romanos 11:24).
Foi dito anteriormente que os bêbedos não têm mais vinho para satisfazer seus desejos, um exemplo daqueles que insensatamente satisfazem o vício. Mas todos vão participar da tristeza, porque as consequências dessa invasão afetarão toda a população, que será privada da sua subsistência necessária.
Todos devem se lamentar (v.8), como uma noiva lamenta a morte do jovem com quem foi contratada a casar. Isso não pode ser entendido como sendo tão ruim hoje, mas naqueles dias o matrimônio e a geração de filhos trazia grande honra para a mulher: perder um homem com quem estava comprometida para um casamento honroso era um duro golpe para as esperanças e planos de qualquer jovem.
Quanto mais nos agarramos ao nosso conforto material, mais difícil é nos separar dele. Se nunca nos faltou, aceitamos tudo como sendo muito natural. É preciso uma grande calamidade, como uma guerra ou uma devastação como essa que os gafanhotos traziam, para podermos compreender o valor do conforto de que desfrutamos.
Os israelitas eram obrigados a fazer ofertas ou oblações, com diferentes nomes, nos atos de adoração e ação de graças ao SENHOR. Sob o sistema levítico a lei especificava diferentes tipos de oferendas e a apresentação de cada uma:
As ofertas eram originalmente doações de qualquer tipo. Eventualmente passaram a denotar apenas sacrifícios “incruentos” e não os “sangrentos”, ou seja, não envolviam animais, mas apenas farinha ou bolos preparados de forma especial com óleo e incenso (Levítico 2, e 6:14-23). Era um reconhecimento da soberania de Deus e da Sua graça em dar todas as bênçãos terrenas (1 Crônicas 29:10-14, Deuteronômio 26:5-11).
A oferta de libação composta de vinho (Números 15:5; Oseias 9:4) vertido ao redor do altar (Êxodo 30:9). Ela se juntava ao holocausto de cordeiros (Números 6:15, 17, 2 Reis 16:13) sacrificados continuamente duas vezes ao dia (Êxodo 29:40), e outra vez no sábado (Números 28:9), e dias de festa (Números 28:14).
O holocausto foi o primeiro tipo de sacrifício, praticado por Abel (Gênesis 4:3-4), Noé (Gênesis 8:20), Abraão (Gênesis 22:2, 7, 8, 13), e pelos hebreus no Egito (Êxodo 10:25). Em hebraico é chamado por uma palavra que significa "ascendente", era consumido pelo fogo produzindo fumaça com cheiro agradável, vista como subindo para Deus. Embora toda oferta fosse queimada no altar, esta era queimada por inteiro, uma "oferta inteiramente queimada." A lei de Moisés mais tarde determinou as ocasiões e a maneira em que holocaustos deveriam ser oferecidos. Os holocaustos voluntários também eram permitidos (Levítico 1:2 e 3), e foram oferecidos por ocasião do acesso de Salomão ao trono (1 Crônicas 29:21), e da reforma realizada por Ezequias (2 Crônicas 29:31-35). Estas ofertas significavam a total dedicação dos ofertantes a Deus, e esse é o sacrifício mencionado em Romanos 12:1.
Os sacerdotes, também chamados ministros de Deus, que costumavam se alegrar e cantar diante do SENHOR e levar a Ele os abundantes sacrifícios e ofertas do povo, agora deveriam cingir-se de saco, lamentar, uivar, deitar toda noite vestidos de saco. Isso porque as ofertas de cereais e a libação foram cortadas da casa do SENHOR seu Deus: o trigo tinha sido destruído, o suco de uva secara, o azeite faltava, não houve colheita de trigo e cevada, pois a colheita havia perecido.
Mesmo as árvores não tinham escapado: a videira, a figueira, a romeira, a palmeira e a macieira (mais provavelmente a laranjeira que é originária dali), e todas as árvores do campo se secaram: como elas, a alegria esmoreceu entre todo o povo.
Quando o povo tinha os frutos da terra produzidos em sua estação, ele apresentava ao SENHOR o que Lhe era devido, e trazia as oferendas para o altar e os dízimos para aqueles que serviram no altar. Mas quando falharam os cereais para a carne e as uvas para a bebida, o holocausto e a libação também falharam, e isso agravou o sentimento da calamidade ao máximo, porque os sacerdotes não tinham os meios para realizar o seu trabalho: Deus não podia ter seus sacrifícios, nem podiam os sacerdotes se manter.
Embora a lei de Moisés apenas exigisse um jejum nacional, no grande dia da expiação (Levítico 23:26-32), os jejuns públicos nacionais por causa do pecado ou para suplicar o favor divino eram ocasionalmente realizados nessa época (por exemplo, 1 Samuel 7: 6 ; 2 Crônicas 20:3). Estes eram "jejuns de dedicação" um dos quais Joel está agora propondo como uma medida de emergência por causa da calamidade que se abateu sobre o povo: os sacerdotes deviam convocar uma assembleia solene, reunindo os anciãos e todos os habitantes da terra na casa do SENHOR seu Deus, para clamarem a ele.
O clamor ao SENHOR em Sua casa salientava a gravidade da natureza das circunstâncias em que se encontravam.
Na época da dedicação do templo, Salomão orou: "Se houver na terra fome ou peste, se houver crestamento ou ferrugem, gafanhotos ou lagarta; se o seu inimigo os cercar na terra das suas cidades; seja qual for a praga ou doença que houver; toda oração, toda súplica que qualquer homem ou todo o teu povo Israel fizer, conhecendo cada um a chaga do seu coração, e estendendo as suas mãos para esta casa, ouve então do céu, lugar da tua habitação, perdoa, e age, retribuindo a cada um conforme todos os seus caminhos, segundo vires o seu coração (pois tu, só tu conheces o coração de todos os filhos dos homens); para que te temam todos os dias que viverem na terra que deste a nossos pais.” (1 Reis 8:37-40). Deviam agora a clamar ao SENHOR porque é misericordioso, gracioso e quer perdoar. Se viessem a Ele, neste tempo de dificuldade, ele ouviria e responderia as suas orações.
A assembleia solene, ou reunião solene, era o nome dado à convocação realizada no sétimo dia da Páscoa (Deuteronômio 16:8). Era também um festival de encerramento (Isaías 01:13), no oitavo dia da Festa dos Tabernáculos (Levítico 23:36; Números 29:35).
Os gafanhotos geralmente vinham como um castigo de Deus, mas esta praga era uma advertência de Deus. Mais tarde, Joel vai avançar para o que ainda está no futuro, mesmo para nós, o Dia do SENHOR, que será como uma praga de gafanhotos sobre a terra. Os quatro cavaleiros do Apocalipse estão ainda por vir.
A expressão Dia do SENHOR aparece em muitos dos livros dos profetas - no entanto, considerando este como sendo o primeiro a ser escrito, esta é a primeira vez que foi ouvida. Implica em juízo sobre os soberbos e altivos, em cruel destruição e vingança com furor e ira ardente, na destruição dos pecadores e nas recompensas pela controvérsia de Sião, num dia nublado, no tempo dos gentios, nas trevas, no sacrifício do SENHOR. No Novo Testamento é mencionado várias vezes, e o livro do Apocalipse trata em sua maior parte deste dia.
R David Jones
6 Porque sobre a minha terra é vinda uma nação poderosa e inumerável. os seus dentes são dentes de leão, e têm queixadas de uma leoa.
7 Fez da minha vide uma assolação, e tirou a casca à minha figueira; despiu-a toda, e a lançou por terra; os seus sarmentos se embranqueceram.
8 Lamenta como a virgem que está cingida de saco, pelo marido da sua mocidade.
9 Está cortada da casa do Senhor a oferta de cereais e a libação; os sacerdotes, ministros do Senhor, estão entristecidos.
10 O campo está assolado, e a terra chora; porque o trigo está destruído, o mosto se secou, o azeite falta.
11 Envergonhai-vos, lavradores, uivai, vinhateiros, sobre o trigo e a cevada; porque a colheita do campo pereceu.
12 A vide se secou, a figueira se murchou; a romeira também, e a palmeira e a macieira, sim, todas as árvores do campo se secaram; e a alegria esmoreceu entre os filhos dos homens.
13 Cingi-vos de saco e lamentai-vos, sacerdotes; uivai, ministros do altar; entrai e passai a noite vestidos de saco, ministros do meu Deus; porque foi cortada da casa do vosso Deus a oferta de cereais e a libação.
14 Santificai um jejum, convocai uma assembléia solene, congregai os anciãos, e todos os moradores da terra, na casa do Senhor vosso Deus, e clamai ao Senhor.
15 Ai do dia! pois o dia do senhor está perto, e vem como assolação da parte do Todo-Poderoso.
16 Porventura não está cortado o mantimento de diante de nossos olhos? a alegria e o regozijo da casa do nosso Deus?
17 A semente mirrou debaixo dos seus torrões; os celeiros estão desolados, os armazéns arruinados; porque falharam os cereais.
18 Como geme o gado! As manadas de vacas estão confusas, porque não têm pasto; também os rebanhos de ovelhas estão desolados.
19 A ti clamo, ó Senhor; porque o fogo consumiu os pastos do deserto, e a chama abrasou todas as árvores do campo.
20 Até os animais do campo suspiram por ti; porque as correntes d`água se secaram, e o fogo consumiu os pastos do deserto.
Joel, capítulo 1, versículos 6 a 20