Pela terceira vez, depois da morte de Josué, o povo de Israel tornou a fazer o que era mau perante o SENHOR, e Ele os entregou nas mãos dos cananeus (que já não mais estariam na terra se os israelitas houvessem obedecido fielmente ao SENHOR).
Desta vez foi o rei Jabim (Sábio), de Hazor, que subjugou os israelitas. Mais de um século antes, Josué havia derrotado outro rei Jabim de Hazor e destruído esta cidade completamente (Josué 11:1-15). Evidentemente os israelitas permitiram que os cananeus se reorganizassem como nação, reconstruíssem a cidade (que ficava dentro do território de tribo de Naftali), e se fortificassem.
Hazor tornou-se na mais importante cidadela do norte de Canaã, controlando a principal rota comercial. Com isso cessaram as caravanas, e os viajantes tinham que tomar desvios tortuosos, ficando desertas as aldeias em Israel (5:6). O comandante do seu exército, Sísera (Servo de Ra, um deus egípcio), contava com novecentos carros de combate de ferro.
Novamente os filhos de Israel clamaram ao SENHOR e, decorridos vinte anos, veio o livramento. É notável que desta vez o SENHOR usou duas mulheres: Débora (Abelha) e Jael (Cabra Montanhesa).
Débora, casada com Lapidote (Tochas), era profetisa e julgava a Israel naquele tempo. É a segunda profetisa mencionada na Bíblia. A primeira foi Miriã, irmã de Moisés, e as outras foram Hulda (2 Reis 22:14), a falsa Noadia (Neemias 6:14), a esposa de Isaías (Isaías 8:3), Ana (Lucas 2:36) e a falsa Jezabel (Apocalipse 2:20): sete ao todo. Em Atos 21:9 lemos que Filipe, o evangelista, um dos sete diáconos de Jerusalém, tinha quatro filhas que profetizavam, mas não são chamadas de profetisas, provavelmente porque só profetizaram em alguma circunstância especial não mencionada.
No capítulo 5 temos o cântico de Débora e Baraque, louvando ao SENHOR pela vitória, e colocando em forma poética o que havia acontecido. Débora diz que se levantou por mãe em Israel. Como a mãe protege seus filhos e enfrenta corajosamente o que representa um perigo para eles, ela agiu por Israel. Ela foi um dos juizes mais notáveis de Israel, e a terra ficou em paz quarenta anos.
O SENHOR é que a havia escolhido, e na história temos muitos outros exemplos de mulheres notáveis, que tomaram a dianteira quando os homens fraquejavam. Atualmente, porém, no mundo ocidental, o movimento de liberação feminina tem tido o efeito de afastar as mulheres da sua função natural de companheira de seus maridos, dona de casa e educadora de seus filhos, para colocá-las em competição com os homens em todas as profissões, no comércio, na indústria. Estamos pagando caro por isto: divórcios, nascimentos ilegítimos, imoralidade crescente, aumento da criminalidade infantil e adolescente, alcoolismo e uso de drogas, agressividade, são em grande parte devido ao fato que as mães estão abandonando seu lugar no lar e não há quem possa substituí-las adequadamente.
Débora chamou Baraque até onde ela estava, bem mais ao sul, na região montanhosa perto de Betel. Baraque era provavelmente o príncipe, ou líder, da tribo de Naftali, em cujo território se localizava Hazor. Quando ele chegou, ela o instruiu em nome do SENHOR, a reunir no monte Tabor, no território da tribo de Zebulom (vizinha ao sul de Naftali) um contingente de dez mil homens das duas tribos, com a promessa de que o SENHOR lhe daria nas suas mãos Sísera e o seu exército com os seus carros.
Baraque só concordou em fazer isso se Débora fosse junto: Débora era conhecida e respeitada pelo povo e lhe daria a autoridade que lhe faltava no território de outra tribo. Baraque não tinha fé, autoridade, condições morais ou coragem para formar um exército para a libertação de Israel.
Muitos julgam que Baraque era covarde e por isso o SENHOR teve que usar uma mulher para levantar o povo em combate; foi em conseqüência disso que Baraque foi privado da honra da investida contra o inimigo: o SENHOR entregaria Sísera às mãos de uma mulher (Jael).
Débora era uma mulher valente, ansiosa para livrar seu povo do inimigo, e não hesitou em acompanhar Baraque até o norte para juntar seu exército em Quedes de Naftali. O SENHOR havia prometido vitória, e a vitória foi ganha mas Baraque sofreu a vergonha de ver duas mulheres receberem a glória.
O cântico menciona Sangar, o homem corajoso que enfrentou e derrotou seiscentos homens com uma aguilhada de bois: que contraste com Baraque! Débora não teve medo de ir ao norte com Baraque, onde os cananeus aterrorizavam as populações ao ponto de não usarem mais as vias públicas. O cântico também fala da falta de liderança naquele tempo, dos deuses novos que foram sendo inventados e adorados em lugar do SENHOR, como se faz também hoje. Israel estava sem defesa contra os seus inimigos: "não se via escudo nem lança em Israel".
Mas tudo não estava perdido: havia ainda alguns comandantes em Israel, que se ofereceram para combater voluntariamente, e Débora se lembra de mencionar esse fato no seu cântico. Algumas tribos ajudaram Naftali e Zebulon: a tribo de Efraim contribuiu com guerreiros, bem como Benjamim e a meia-tribo de Manassés (Maquir).
Outras, porém, nada fizeram para ajudar: em Rúben, distante, ao sul e do outro lado do Jordão houve opiniões divergentes e muita discussão mas ficaram por lá, entre os currais; de Gade e da outra meia-tribo de Manassés, também do outro lado do Jordão, não foi ninguém; Dã, no litoral do Mediterrâneo, preocupou-se com seus navios e não ajudou; Aser, também no litoral, nada fez; não se sabe ao certo, agora, onde ficava Meroz, amaldiçoada porque não ajudou, mas provavelmente ficava ao norte.
A notícia do ajuntamento israelita e de sua subida pelo monte Tabor correu e chegou aos ouvidos de Sísera, que prontamente convocou seu exército e foi ao encontro dos revoltosos. O caminho melhor para seus carros era o vale do ribeiro Quison, e foi por ali que subiu em direção ao monte com eles e as demais tropas.
Tudo seguiu como o SENHOR havia planejado: Ele enviou uma chuva que, inundando o riacho e o vale arrastaram o exército e os carros de Sísera, neutralizando-os e tornando-os vítimas fáceis dos israelitas (5:21). Foram completamente exterminados.
Mas Sísera, seu comandante, escapou saltando do seu carro e fugiu a pé. Esgotado, procurou refúgio no acampamento de Héber, um queneu, que não havia entrado na peleja, pois havia paz entre o seu grupo e Jabim, rei de Hazor. Os queneus eram descendentes do sogro de Moisés, nômades e simpáticos aos israelitas. Héber se afastou de onde eles viviam, no deserto, e havia levado suas tendas, com sua família, servos e animais para dentro do território de Israel, estando nesta ocasião junto a Quedes, onde o exército israelita se ajuntou.
Jael, esposa de Héber, ofereceu hospitalidade a esse militar exausto, e o pôs a dormir em sua tenda com a promessa de manter vigília contra os seus inimigos. Ele confiou nela por causa da sua aparente bondade. Assim que ele dormiu, usando um martelo ela cravou uma estaca da tenda na sua testa, matando-o instantaneamente, livrando assim Israel desse grande inimigo. Jael foi a heroína do combate, foi abençoada por Débora e declarada bendita entre as mulheres que moram em tendas.
Baraque apareceu em seguida, esperando poder completar sua vitória, mas encontrou o inimigo já morto pela mão de uma mulher esperta. O rei Jabim foi humilhado e não teve mais condições de recuperar o seu domínio sobre os israelitas, acabando por ser exterminado por eles.
O sofrimento da mãe de Sísera também é lembrado por Débora: ele fez mal ao lutar contra o povo de Deus, obedecendo ao comando do seu rei. Sua mãe esperou que voltasse vitorioso da batalha como das outras vezes, mas desta vez ele não voltou.
Capítulo 4:
1 Porém os filhos de Israel tornaram a fazer o que parecia mal aos olhos do SENHOR, depois de falecer Eúde.
2 E vendeu-os o SENHOR em mão de Jabim, rei de Canaã, que reinava em Hazor; e Sísera era o capitão do seu exército, o qual, então, habitava em Harosete-Hagoim.
3 Então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR, porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro e por vinte anos oprimia os filhos de Israel violentamente.
4 E Débora, mulher profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo.
5 E habitava debaixo das palmeiras de Débora, entre Ramá e Betel, nas montanhas de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ela a juízo.
6 E enviou, e chamou a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes de Naftali, e disse-lhe: Porventura o SENHOR, Deus de Israel, não deu ordem, dizendo: Vai, e atrai gente ao monte de Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom?
7 E atrairei a ti para o ribeiro de Quisom a Sísera, capitão do exército de Jabim, com os seus carros e com a sua multidão, e o darei na tua mão.
8 Então, lhe disse Baraque: Se fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei.
9 E disse ela: Certamente irei contigo, porém não será tua a honra pelo caminho que levas; pois à mão de uma mulher o SENHOR venderá a Sísera. E Débora se levantou e partiu com Baraque para Quedes.
10 Então, Baraque convocou a Zebulom e a Naftali em Quedes e subiu com dez mil homens após si; e Débora subiu com ele.
11 E Héber, queneu, se tinha apartado dos queneus dos filhos de Hobabe, sogro de Moisés, e tinha estendido as suas tendas até ao carvalho de Zaananim, que está junto a Quedes.
12 E anunciaram a Sísera que Baraque, filho de Abinoão, tinha subido ao monte Tabor.
13 E Sísera convocou todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todo o povo que estava com ele, desde Harosete-Hagoim até ao ribeiro de Quisom.
14 Então, disse Débora a Baraque: Levanta-te, porque este é o dia em que o SENHOR tem dado a Sísera na tua mão; porventura, o SENHOR não saiu diante de ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil homens após ele.
15 E o SENHOR derrotou a Sísera, e todos os seus carros, e todo o seu exército a fio de espada, diante de Baraque; e Sísera desceu do carro e fugiu a pé.
16 E Baraque os seguiu após os carros e após o exército, até Harosete-Hagoim, e todo o exército de Sísera caiu a fio de espada, até não ficar um só.
17 Porém Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Héber, queneu, porquanto havia paz entre Jabim, rei de Hazor, e a casa de Héber, queneu.
18 E Jael saiu ao encontro de Sísera e disse-lhe: Retira-te, senhor meu, retira-te para mim, não temas. Retirou-se para a sua tenda, e ela cobriu-o com uma coberta.
19 Então, ele lhe disse: Dá-me, peço-te, de beber um pouco de água; porque tenho sede. Então, ela abriu um odre de leite, e deu-lhe de beber, e o cobriu.
20 E ele lhe disse: Põe-te à porta da tenda; e há de ser que, se alguém vier, e te perguntar, e disser: Há aqui alguém? Responde tu, então: Não.
21 Então, Jael, mulher de Héber, tomou uma estaca da tenda, e lançou mão de um martelo, e foi-se mansamente a ele, e lhe cravou a estaca na fonte, e a pregou na terra, estando ele, porém, carregado de um profundo sono e já cansado; e assim morreu.
22 E eis que, seguindo Baraque a Sísera, Jael lhe saiu ao encontro e disse-lhe: Vem, e mostrar-te-ei o homem que buscas. E veio a ela, e eis que Sísera jazia morto, e a estaca, na fonte.
23 Assim, Deus, naquele dia, sujeitou a Jabim, rei de Canaã, diante dos filhos de Israel.
24 E continuou a mão dos filhos de Israel a lutar e a endurecer-se sobre Jabim, rei de Canaã, até que exterminaram a Jabim, rei de Canaã.
Capítulo 5:
1 E cantou Débora e Baraque, filho de Abinoão, naquele mesmo dia, dizendo:
2 Porquanto os chefes se puseram à frente em Israel, porquanto o povo se ofereceu voluntariamente, louvai ao SENHOR.
3 Ouvi, reis; dai ouvidos, príncipes; eu, eu cantarei ao SENHOR; salmodiarei ao SENHOR, Deus de Israel.
4 Ó SENHOR, saindo tu de Seir, caminhando tu desde o campo de Edom, a terra estremeceu; até os céus gotejaram, até as nuvens gotejaram águas.
5 Os montes se derreteram diante do SENHOR, e até o Sinai diante do SENHOR, Deus de Israel.
6 Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, cessaram os caminhos de se percorrerem; e os que andavam por veredas iam por caminhos torcidos.
7 Cessaram as aldeias em Israel, cessaram, até que eu, Débora, me levantei, por mãe em Israel me levantei.
8 E, se escolhia deuses novos, logo a guerra estava às portas; via-se, por isso, escudo ou lança entre quarenta mil em Israel?
9 Meu coração é para os legisladores de Israel, que voluntariamente se ofereceram entre o povo; louvai ao SENHOR.
10 Vós, os que cavalgais sobre jumentas brancas, que vos assentais em juízo e que andais pelo caminho, falai disto.
11 Onde se ouve o estrondo dos flecheiros, entre os lugares onde se tiram águas, ali falai das justiças do SENHOR, das justiças que fez às suas aldeias em Israel; então, o povo do SENHOR descia às portas.
12 Desperta, desperta, Débora, desperta, desperta, entoa um cântico; levanta-te, Baraque, e leva presos teus prisioneiros, tu, filho de Abinoão.
13 Então, o Senhor fez dominar sobre os magníficos, entre o povo ao que ficou de resto; fez-me o SENHOR dominar sobre os valentes.
14 De Efraim saiu a sua raiz contra Amaleque; e após ti vinha Benjamim dentre os teus povos; de Maquir e Zebulom desceram os legisladores, passando com o cajado do escriba.
15 Também os principais de Issacar foram com Débora; e, como Issacar, assim também Baraque foi enviado a pé para o vale; nas correntes de Rúben foram grandes as resoluções do coração.
16 Por que ficaste tu entre os currais para ouvires os balidos dos rebanhos? Nas divisões de Rúben tiveram grandes esquadrinhações do coração.
17 Gileade se ficou dalém do Jordão, e Dã por que se deteve em navios? Aser se assentou nos portos do mar e ficou nas suas ruínas.
18 Zebulom é um povo que expôs a sua vida à morte, como também Naftali, nas alturas do campo.
19 Vieram reis e pelejaram; então, pelejaram os reis de Canaã em Taanaque, junto às águas de Megido; não tomaram ganho de prata.
20 Desde os céus pelejaram; até as estrelas desde os lugares dos seus cursos pelejaram contra Sísera.
21 O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo ribeiro, o ribeiro de Quisom. Pisaste, ó minha alma, a força.
22 Então, as unhas dos cavalos se despedaçaram pelo galopar, o galopar dos seus valentes.
23 Amaldiçoai a Meroz, diz o Anjo do SENHOR; acremente amaldiçoai os seus moradores, porquanto não vieram em socorro do SENHOR, em socorro do SENHOR, com os valorosos.
24 Bendita seja sobre as mulheres Jael, mulher de Héber, o queneu; bendita seja sobre as mulheres nas tendas.
25 Água pediu ele, leite lhe deu ela; em taça de príncipes lhe ofereceu manteiga.
26 À estaca estendeu a sua mão esquerda, e ao maço dos trabalhadores, a sua direita; e matou a Sísera e rachou-lhe a cabeça, quando lhe pregou e atravessou as fontes.
27 Entre os seus pés, se encurvou, caiu, ficou estirado; entre os seus pés, se encurvou, caiu; onde se encurvou, ali ficou abatido.
28 A mãe de Sísera olhava pela janela e exclamava pela grade: Por que tarda em vir o seu carro? Por que se demoram os passos dos seus carros?
29 As mais sábias das suas damas responderam; e até ela respondia a si mesma:
30 Porventura não achariam e repartiriam despojos? Uma ou duas moças a cada homem? Para Sísera despojos de várias cores, despojos de várias cores de bordados; de várias cores bordados de ambas as bandas, para os pescoços do despojo?
31 Assim, ó SENHOR, pereçam todos os teus inimigos! Porém os que o amam sejam como o sol quando sai na sua força. (5-32) 32 E sossegou a terra quarenta anos.
Juizes capítulos 4 e 5