Dois tipos de traidores são revelados nesta passagem das Escrituras:
Em ambas as situações esses traidores profanaram um concerto sagrado: na primeira houve traição ao seu próprio povo, desprezando o convênio de exclusividade com Deus; na segunda houve traição à sua esposa, desprezando o contrato de matrimônio.
A primeira situação é colocada assim: "Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros, profanando o concerto de nossos pais?"
A profecia é dirigida ao povo judeu, lembrando-o da unidade do povo como filhos de um só pai, criados ou preparados por um Deus, com quem havia um convênio solene firmado pelos pais - Abraão, Isaque e Jacó.
Muitos tradutores têm compreendido "pai" como referência a Deus mesmo, como no capítulo 1:6, e por isso usam um "P" em letra maiúscula. Outros o entendem como sendo Abraão, que cabe melhor no argumento pois a nação inteira descende de um só homem (Gênesis 17:5); os israelitas não chamavam Deus de Pai, nem se chamavam "filhos de Deus". No Antigo Testamento o único lugar onde Deus foi chamado Pai é na passagem onde se refere ao Senhor Jesus (Isaías 9:6), e a expressão "filhos de Deus" era reservada para os justos (Gênesis 6:2,4) e para os anjos (Jó 1:6, 2:1, 38:7).
"Criado ou preparado por um mesmo Deus" diz respeito à própria nação, que se originou mediante a concepção milagrosa de Isaque, foi levada ao Egito e milagrosamente preservada e libertada por Deus para ser o Seu povo.
O concerto requeria, entre outras coisas, fidelidade ao Senhor Deus de Israel, e proibia casamentos entre israelitas e cananeus (Deuteronômio 7:3). Todo o povo sofreria se houvesse a desobediência por parte de alguns, que portanto estariam traindo os demais.
Desdenhando o convênio, alguns judeus tinham se casado com a filha de um deus estranho, um eufemismo para uma pagã idólatra. Unida por um único antepassado e criada especialmente por Deus, a nação deveria se manter coesa a fim preservar a honra da sua situação privilegiada. Ela havia profanado o convênio de seus pais porque vivia em desobediência ao comando do Deus dos seus pais.
Israel era santidade para o Senhor (Jeremias 2:3): o SENHOR havia feito concerto com essa nação e a separou para Si para lhe ser por nome e louvor. Em função disto Ele a amava e se deleitava com ela. O santuário colocado em seu meio era santidade para o Senhor, a respeito do qual disse: "Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei." (Salmo 132:14). Mas os que se casaram com estrangeiras idólatras profanaram essa santidade e desprezaram a sua honra.
Cometeram uma abominação por terem se casado com a filha de deus estranho. O mal não era tanto por ser filha de uma nação estranha, pois algumas mulheres não israelitas são mencionadas com grande honra na Bíblia, como Rute e mesmo Raabe. A abominação consistia em casar com a filha de um deus estranho, treinada a servir aos ídolos, à sua disposição, como uma filha fica à disposição do seu pai, e na dependência dele.
Tais casamentos profanos aparecem de tempos em tempos na Bíblia, com conseqüências desastrosas para os povos envolvidos e à nação de Israel, por exemplo, Sansão, Salomão, Acabe, Jeorão.
No livro do Apocalipse lemos a respeito da igreja em Pérgamo, que significa muito casamento e tipifica uma igreja infiel, entre cujas características está o incentivo à transigência e a aliança com o mundo, com suas religiões falsas e os apóstatas da fé cristã, resultando em imoralidade e idolatria. Nosso empenho pela unidade da igreja em Cristo, seu fundador e Pai, deve nos mover a preservar com todo o cuidado a pureza da igreja e nos por em guarda contra toda a corrupção dessa espécie.
Em nível pessoal, somos advertidos contra nos colocarmos em jugo desigual com incrédulos, seja em casamento ou outros empreendimentos coletivos em que nossos padrões de conduta santa cristã poderão estar em jogo. Se amamos o nosso Salvador, sabendo como somos amados por Ele, teremos preocupação em preservar a nossa integridade, e evitar quaisquer alianças que possam por em perigo a comunhão que temos com Ele.
Para preservar a santidade do Seu povo, ao SENHOR é pedido que corte das tendas de Jacó o homem que se casa dessa forma má, plenamente consciente do pecado que está cometendo, e que no entanto traz presunçosamente uma oferta ao SENHOR dos exércitos! Pede-se a Deus que não o conte mais entre o seu povo a fim de que o povo não esteja sujeito à punição por causa dele.
A segunda situação é expressada assim: "o SENHOR foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto."
Concerne ao divórcio, pois em desprezo ao contrato matrimonial que Deus instituiu para o benefício comum da humanidade, eles traiçoeiramente maltrataram e afastaram a sua primeira esposa que tinham da sua própria nação.
Deus exigia que seguissem os Seus princípios, e um deles se acha bem no início, depois da criação da mulher a partir do homem: "deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne." (Gênesis 2:24). O Senhor Jesus explicou que ninguém deve separar o que Deus ajuntou (Mateus 19:4 - 9).
No casamento o homem faz um acordo com a sua noiva, no qual ele jura solenemente lhe dar proteção, fidelidade e amor permanentes e ela lhe jura devoção, fidelidade e sua vida. Tornam-se em uma unidade indivisível, que é o alicerce da família.
O homem que se divorcia da sua mulher é um traidor, desonrando o juramento que fez em seu casamento, e quebrando seu acordo com ela. As lágrimas da mulher traída são vistas por Deus, que foi testemunha do casamento entre eles. A oferta feita no altar por tal homem não será aceita por Deus.
O homem (Adão) recebeu o sopro do espírito de Deus em suas narinas, ao ser formado (Gênesis 2:7). Deus não fez o mesmo com Eva, mas ela foi formada de Adão sendo como ele não só em corpo, mas em espírito, para que tivessem uma descendência consagrada. Diante de Deus eram um só. A unidade formada pelo casamento precisa ser mantida assim como foi a de Adão e Eva, para o bem da família e da descendência.
O homem deve cuidar para não trair a esposa da sua mocidade, porque Deus odeia tal coisa. Segundo somos informados, ao se casar naqueles tempos um homem tomava uma peça da sua veste, como uma capa, e com ela cobria cerimonialmente a noiva, significando que lhe daria a sua proteção. Deus aqui estava dizendo que quem repudia a sua mulher ao invés de proteção está dando violência com a sua veste.
Espiritualmente, o divórcio veio quando Israel deixou o seu Deus para adulterar com ídolos. Deus se divorciou daquela nação por causa disso (Jeremias 3:8).
10 Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros, profanando o concerto de nossos pais?
11 Judá foi desleal, e abominação se cometeu em Israel e em Jerusalém; porque Judá profanou a santidade do SENHOR, a qual ele ama, e se casou com a filha de deus estranho.
12 O SENHOR extirpará das tendas de Jacó o homem que fizer isso, o que vela, e o que responde, e o que oferece dons ao SENHOR dos Exércitos.
13 Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choros e de gemidos; de sorte que ele não olha mais para a oferta, nem a aceitará com prazer da vossa mão.
14 E dizeis: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto.
15 E não fez ele somente um, sobejando-lhe espírito? E por que somente um? Ele buscava uma semente de piedosos; portanto, guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja desleal para com a mulher da sua mocidade.
16 Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio e aquele que encobre a violência com a sua veste, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, guardai-vos em vosso espírito e não sejais desleais.